Esposa, filhos e amigos do pedreiro Amarildo protestam contra seu desaparecimento pela PM da UPP/Rocinha. |
Advogado procura uma pessoa que, segundo moradores da Rocinha, presenciou o pedreiro sendo torturado por PMs, com saco na cabeça
Por Marcelo Gomes, para O Estado de S.Paulo
Uma testemunha teria visto um homem pardo, trajando
apenas short, sendo torturado dentro dos limites da Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) da Rocinha, em 14 de julho, dia em que o pedreiro
Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, desapareceu. Essa pessoa, que fez o
relato a moradores da favela, está sendo procurada pelo advogado João
Tancredo, que representa a família de Amarildo.
Segundo essa testemunha, a vítima estava deitada no chão, com a
cabeça coberta por um saco plástico, e pedia ajuda. A vítima estaria
cercada por policiais militares.
Dias após o sumiço, houve um protesto em que moradores da Rocinha
fecharam a Autoestrada Lagoa-Barra exigindo a apuração do caso. Durante o
ato, surgiu o boato de que o pedreiro poderia estar enterrado numa área
de mata da parte alta da favela. Após a manifestação, parentes de
Amarildo, acompanhados por outros moradores e PMs da UPP, foram ao local
indicado, mas nada foi encontrado. Um líder comunitário, que pediu para
não ser identificado, contou nessa segunda-feira, 5, ao Estado
ter ouvido de uma moradora que, horas depois dessa busca, ela viu
policiais circulando pela mata carregando sacos plásticos pretos, que
foram colocados numa viatura da PM.
"Nossa maior dificuldade é convencer essas pessoas a prestar
depoimento. Moradores que conversaram com as testemunhas dizem que estão
amedrontadas, com medo de serem mortas como queima de arquivo. Já
oferecemos abrigo fora da favela, mas ainda não foi suficiente para
fazê-las falar", diz o advogado João Tancredo, que entrou no caso
representando a família de Amarildo a pedido da ONG Rio de Paz.
Morte presumida. O advogado ajuizou nessa
segunda-feira uma ação de declaração de morte presumida de Amarildo. "É
uma declaração para casos em que não há corpo. A lei estipula prazo de 5
anos para se declarar a morte presumida de alguém.
Entretanto, em condições excepcionais, como num acidente aéreo em que
as vítimas não são resgatadas, o prazo não precisa ser respeitado. "A
polícia não nega que levou Amarildo para a UPP. E o fato concreto é que
não há registro dele saindo de lá. A família tem certeza de que ele está
morto", afirmou o advogado. Tão logo saia a declaração, a família vai
ingressar com uma ação de indenização contra o Estado.
Quatorze PMs da UPP da Rocinha prestaram depoimento durante toda essa
segunda-feira na Divisão de Homicídios (DH), que investiga a suposta
morte de Amarildo. Sete dos PMs já haviam sido ouvidos pela 15ª DP
(Gávea), que investigou o sumiço do pedreiro nos primeiros 15 dias.
A
reportagem do Estado teve acesso ao relatório em que o
delegado Orlando Zaccone, da 15ª DP, faz um balanço das investigações. O
documento foi encaminhado ao delegado Rivaldo Barbosa, da DH, na última
quinta-feira, 1.
Em depoimento na 15ª DP, o soldado Douglas Roberto Vital Machado,
conhecido na Rocinha pelo apelido Cara de Macaco, disse que Amarildo foi
levado para averiguação porque se parecia com um traficante conhecido
por Guinho. A versão foi confirmada pelo comandante da UPP, major Edson
Santos, que disse que o pedreiro chegou ao local por volta das 19h15 do
dia 14 de julho. Segundo o oficial, após ser constatado que Amarildo não
estava entre as pessoas com prisão decretada pela Operação Paz Armada,
desencadeada na véspera, ele foi liberado e saiu da UPP rumo à escadaria
que leva à localidade Dionéia. Santos disse ainda que a câmera que
poderia ter filmado a saída de Amarildo da UPP estava quebrada em razão
de uma queda de energia.
Após parentes de Amarildo denunciarem publicamente o sumiço do
pedreiro, Machado e outros três PMs que levaram o pedreiro à UPP foram
transferidos para a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), no
Complexo do Alemão (zona norte), enquanto durarem as investigações.
Anistia. O secretário-geral da Anistia
Internacional, Salil Sheety, criticou nessa segunda-feira, 5, o "uso
excessivo da força policial" e a impunidade dos crimes cometidos por
agentes de segurança no Brasil. "O caso Amarildo é um exemplo recente.
Faz três semanas que a pessoa desapareceu e não há informações sobre o
que aconteceu. Outro exemplo foi a morte de nove moradores da Maré e de
um policial. E a reação da polícia foi, novamente, o uso excessivo da
força. O que acontece nesse país é que raramente a violência policial é
investigada. A impunidade policial é norma, não exceção", afirmou.
DEU NA IMPRENSA INTERNACIONAL:
Brasil: ¿Dónde está Amarildo?
Cientos de personas exigieron explicaciones la noche del jueves en Rocinha, popular favela de Rio de Janeiro, por la desaparición de Amarildo de Souza, un albañil de 42 años detenido hace casi dos semanas por la policía.
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