quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"Mãos ao alto! R$ 2,00 é um assalto!"

Está provado que só a luta muda a vida para melhor. Gostaria de poder contribuir com minhas impressões, pois estive participando dessas mobilizações e na Comissão que negociou ontem na Prefeitura a realização de uma Audiência, mas agora estou sem tempo. O importante é que trata-se de um fato histórico. A Prefeitura corrupta de Duciomar Costa e o não menos facínora Mário Martins e CIA tiveram uma derrota HISTÓRICA. Resta seguirmos mobilizados até derrotar esse projeto de assalto ao povo pobre. Não margem para aumento da tarifa, ainda mais com a manutenção do "reajuste" do mínimo para R$ 145,00 ontem no apodrecido Senado, bem abaixo da inflação. Um verdadeiro crime contra a população!
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Nota do Coletivo Vamos à Luta:
Vitória da população - Aumento da passagem é barrado

Na manhã dessa quarta-feira, 23/02, os trabalhadores, a juventude e movimento popular de Belém obtiveram uma grande vitória na luta em defesa do transporte público de qualidade. Pela primeira vez a Prefeitura não consegue aplicar junto com o Sindicato das Empresas de Transportes de Belém ($ETRAN$BEL) o aumento no valor da tarifa de ônibus na região metropolitana. Esse ano a proposta dos empresários era que o valor da passagem subisse dos atuais R$ 1,85 para R$ 2,15, um aumento de 16%.

O movimento estudantil da capital paraense vem protagonizando desde o início do ano um conjunto de ações e mobilizações contra esse ataque. Foram feitas diversas colagens de cartazes pelo centro da cidade, feitas também panfletagens e agitações em pontos de grande circulação com o objetivo de dialogar com a população sobre a gravidade do aumento para o bolso dos trabalhadores e da falta de qualidade do transporte coletivo na cidade. No dia 03/02 foi realizado o primeiro ato de rua, onde o resultado do mesmo foi a garantia por parte da prefeitura da realização de audiência pública no dia 23/02.

Apesar da prefeitura ter confirmado presença no dia anterior quando os manifestantes chegaram na audiência o local não estava disponível para que houvesse a mesma. A prefeitura tentou de todas as formas fazer com que ela não ocorresse, alegando não ter a planilha de custos dos empresários e pedindo para remarcar. Os presentes não aceitaram a falta de respeito do prefeito Duciomar Costa e organizaram passeata percorrendo o centro de Belém. Estudantes da UNAMA, de cursinhos, sindicalistas de várias entidades e movimentos populares marcharam até a sede da mesma. Depois de longa reunião ficou acordado pela administração do município que não haverá aumento da passagem de ônibus até a conclusão dos estudos que estão sendo feitos pela Companhia de Transportes de Belém (CTBEL) e que no dia 29/04, haverá audiência pública para se debater a situação do transporte e da tarifa de ônibus.

Essa é uma grande vitória de toda a população contra esse ataque dos empresários de ônibus. O Coletivo Estudantil Vamos à Luta tem sido protagonista desse processo em Belém junto com o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (SINTSEP-PA), o Sindicato dos Rodoviários de Ananindeua e Marituba (SINTRAM) e com o DCE UNAMA. Recentemente construímos um fórum conjunto com outras entidades para fortalecer essa mobilização. A vitória é parcial e é preciso que haja muita mobilização até a nova audiência no dia 29/04. Entretanto é um fato inédito que a $ETRAN$BEL junto com a Prefeitura não tenham conseguido aumentar a passagem. A CTBEL nunca fez um estudo sobre a situação do transporte. Isso só se deu porque houve mobilização. Parabéns a todos que participaram dessa luta até aqui. Agora é seguir mobilizado, para não deixar que haja nenhum aumento esse ano. Vamos à Luta!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Contra o assalto de @Duciomar, Mário Martins e CIA, todos à audiência pública

Audiência discute situação do transporte em Belém

Nessa quarta-feira (23) será realizada uma audiência pública para discutir a situação do transporte público na região metropolitana de Belém. O tema central do evento será a recente proposta do Sindicato das Empresas de Transportes de Belém (SETRANSBEL) em reajustar o valor do preço da passagem de ônibus dos atuais R$ 1,85 para R$ 2,15. A audiência acontece no Cine Olympia a partir das 9h.
 De acordo com Rayssa Machado, do Coletivo Estudantil 'Vamos à Luta', o fórum deliberou por tratar também de outras pautas que são fundamentais para se discutir a qualidade do transporte na cidade, como por exemplo, a renovação da frota que é velha, sendo que a tarifa no ano passado foi reajustada com esse argumento, a meia-passagem para os estudantes de cursinhos que são estudantes como qualquer outro e melhores condições de trabalho para os rodoviários.
 A estudante diz ainda que é necessário uma posição oficial da prefeitura sobre o reajuste, pois a recente declaração da Companhia de Transportes de Belém (CTBEL) era de que o órgão fará estudo que levará de um a seis meses e que ao final irá decidir sobre o aumento. 'Quer dizer que mês que vem podem concluir que devem aumentar a passagem. Não aceitamos essa postura, por isso estamos construindo esse fórum, que queremos que dele participe não só estudantes, rodoviários e demais sindicalistas, mas também os trabalhadores do transporte alternativo e moto taxistas', completou Rayssa.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Magnífico texto sobre a luta que tem derrubado ditaduras

A Revolução Árabe

Por Silvia Santos*

Protestos que derrubaram ditador da Tunísia.
“Todas as revoluções são impossíveis até se tornarem inevitáveis”. Leon Trotsky

As revoluções na Tunísia e no Egito confirmam a magnífica definição de Trotsky. Começou a Revolução Árabe, um verdadeiro terremoto de consequências ainda imprevisíveis. A queda de Mubarak é um primeiro grande triunfo do movimento de massas e uma grave derrota do imperialismo norte-americano, europeu e de seu agente, o Estado de Israel.
 
Toda a revolução nos obriga a acompanhar os acontecimentos à luz da teoria e da experiência anterior. Junto à solidariedade e ao entusiasmo, surgem as necessárias análises e propostas elaboradas por estudiosos políticos, organizações e militantes de toda a parte, com o fim de aportar ao processo revolucionário. Nossas reflexões somam-se às contribuições já apresentadas no PSOL, por Pedro Fuentes e Israel Dutra (Tunísia e Egito: uma revolução democrática percorre os países árabes) com o qual fizeram um curso de formação. Vamos nos deter, sobretudo, no caráter da revolução e do programa, uma vez que, na proposição dos autores, a perspectiva do processo revolucionário é de inevitavelmente se deter nas conquistas democráticas, para o qual defendem como única tarefa e método para avançar o da Assembleia Constituinte, conclusão com a qual discordamos e chamamos a debater.
 
1 - Marco internacional: a hegemonia norte-americana em decadência
 
Somente no marco da situação mundial é possível entender o processo revolucionário aberto no norte de África. Concordamos que “os Estados Unidos atravessam a pior etapa de sua decadência”, como afirmam os companheiros. Existe uma profunda unidade entre esse processo, a derrota militar dos EUA no Iraque, o pântano que se tornou a intervenção no Afeganistão, a impossibilidade de derrotar as massas palestinas. Se a isso somamos a crise econômica, que não conseguem superar, pois existe uma luta tenaz do movimento de massas mundial contra os planos de austeridade, teremos o quadro que explica a brutal crise da hegemonia imperialista. Isso não significa que tenha surgido outro poder hegemônico. Mas o determinante é que este marco mundial possibilita que eclodam processos revolucionários.

Concordamos com o jornalista e blogueiro egípcio Hossam el-Hamalawy** o qual afirma ter sido a Tunísia o “catalisador” pois existiam condições objetivas para o levante. Fala das “greves operárias desde 2008, da invasão ao Iraque, da Intifada al-Aqsa.... Das mobilizações do ano 2000 em apoio aos palestinos... esse é o marco que foi gerando as condições”.

Também surgiram comparações com a revolução iraniana de 1979 que derrubou o Xá Rezah Pahlevi, ou com as revoluções nos antigos países “comunistas” do leste europeu ou com a queda das ditaduras latino-americanas. Em relação à revolução de 79 no Irã destacamos uma diferença importante em relação ao Egito: enquanto aquela derrotou às forças armadas do regime, no Egito ainda agora continuam no poder, e pretendem liderar a chamada transição até as eleições, com o apoio dos EUA. Não por acaso sua primeira medida foi declarar que mantinham todos os acordos internacionais, em especial com Israel. Ou seja, não foi derrotado o aparelho militar do antigo regime; avalia-se que o golpe maior foi sobre o serviço secreto. Além do que no Egito o movimento islâmico tem menos peso do que este movimento teve e tem no Irã. Já o que diferencia o Egito da queda das ditaduras latino-americanas e dos regimes estalinistas é o marco mundial: a crise da hegemonia imperialista, as derrotas sofridas no terreno militar, político e econômico às quais se soma, agora, a perda de seu principal bastião na região, depois de Israel, Concretamente, o movimento de massas mundial e a revolução árabe em particular enfrentam um imperialismo enfraquecido (não menos agressivo), o que possibilita avançar nas lutas anti-imperialistas e anticapitalistas.

2 – A composição social da revolução

Como toda revolução contra uma ditadura, sua composição é heterogênea. Mas em todas elas, os que enfrentam e doam sua vida nessa luta, seu motor fundamental, são os setores populares. Classe média baixa, trabalhadores, desempregados, jovens sem futuro, junto com profissionais liberais, filhos da classe média alta e até de setores burgueses. Mas, não é a burguesia a protagonista, pois ainda que existam setores contrários à ditadura, treme ao ver o povo mobilizado, pois sabe que pode terminar se voltando contra ela como classe. É consciente que em um processo revolucionário, se sabe onde começa, não onde termina.

Na Tunísia e no Egito tem sido importante a participação da classe trabalhadora. Os internacionalistas têm a tarefa de ajudar a superar as informações propositais de setores da mídia burguesa que falam da importância das redes, mas ignoram ou querem ignorar o peso e o papel dos trabalhadores nesses processos revolucionários, precisamente porque estão empenhados em que não tenham nenhum papel. Enfatizamos a seguir trechos que extraímos da mídia alternativa, que merecem ser lidos com atenção e divulgados para combater às limitadas, e muitas vezes falsas, análises burguesas.

O site Rebelion.org de 10/02, à respeito da Tunísia publicou uma entrevista com Hamma Hammami, secretario geral y porta voz do Partido Comunista dos trabalhadores Tunesinos (PCOT), realizada por Myriam Martin e Coralie Wawrzniak do NPA [... “Inclusive se os dirigentes sindicais da UGTT colaboravam com o regime, seus membros eram sindicalistas militantes o que possibilitou que chegada a hora das greves, os sindicatos pudessem se somar... Em muitas cidades os trabalhadores manifestam frente às sedes das UGTT locais (cuja direção nacional está estreitamente vinculada ao partido de governo) exigindo que se declare a greve. Em outros casos a UGTT se somou às paralisações para evitar perder o controle... aconteceu não somente em regiões de históricas insubordinações operárias como o porto de Sfax ou a região mineira de Gafsa. A luta operária se estende a todo o país.. abrange federações como correios e educação... mas também à maioria dos sindicatos].

Hamma Hammami, afirma também que “ainda que faltassem um programa e uma organização central, o movimento não é verdadeiramente espontâneo no sentido de “ausência de toda organização e de toda consciência”. Não. Há uma consciência política nascida de uma acumulação de lutas nos últimos vinte anos. Por exemplo, a sede da UGTT na cidade de Redeyef é agora o palácio de governo”.

Nizar Amami, sindicalista, porta voz da liga da Esquerda Operária da Tunísia, (Rebelion, 01-02-11 – Wassim Azreg – NPA) afirma que “[...a esquerda sindical, algumas federações e regionais da UGTT estão hoje no coração do processo revolucionário. Não por acaso são vários anos que foram convocadas greves sem o acordo do secretário geral... Desde o começo das manifestações a ação dos militantes sindicais das federações de professores, de alguns setores da saúde, dos setores de correios, se combinou à dos advogados e dos estudantes da União Geral dos Estudantes de Tunez (UGET)]. No Egito, relata: [...Com a volta ao trabalho em 06/02 em diversas cidades houve greves e ocupações de fábricas. Os protestos laborais se intensificaram em Suez, com a participação dos trabalhadores têxtis... Em Mahalla mais de 1500 trabalhadores da empresa Abu El-Suba se manifestaram bloqueando a estrada. Na cidade de Quesna, 2000 trabalhadores da empresa farmacêutica Sigma se declaram em greve exigindo melhores salários e a destituição dos diretores. No Cairo, mais de 1500 trabalhadores da limpeza manifestaram por aumento salarial a contratação definitiva e a destituição do presidente da administração. Estão em greve os trabalhadores das telecomunicações... Em Suez ocuparam a têxtil Suez Trutst. Mil trabalhadores da fábrica de cimento Lafarge em Suez estão em greve. exigindo a formação de um sindicato e declarando apoio à revolução. Os trabalhadores do cimento de Tora começaram a protestar pelas condições de trabalho... a agencia de notícias oficial publicou: “os empregados detiveram o vice presidente do sindicato de trabalhadores egípcio e exigem sua imediata renuncia... em 8 fevereiro os professores universitários marcharam para a praça em apoio à revolução... os jornalistas se reuniram na sede do sindicato para pressionar pela destituição do seu dirigente sindical...os trabalhadores da ferrovia estão em greve... ao menos duas fábricas da produção militar em Weleyn estão em greve. Milhares de trabalhadores petroleiros estão marchando para o Ministério do Petróleo... os trabalhadores de Ghazlk Mahalla também estão em greve...]

Já em seis de fevereiro, o mesmo jornalista e blogueiro Hossam el-Hamalawy declarava: “Há quatro focos de luta econômica: uma siderúrgica e uma fábrica de fertilizantes em Suez; uma têxtil em Mansoura que em greve demitiram o gerente e estão autogestionando a empresa; também tem uma gráfica no sul do Cairo Dar al-Matabi onde também expulsaram o gerente e estão em autogestão... Os três sindicatos independentes (o da arrecadação de impostos; o dos técnicos de saúde e o de aposentados) manifestaram frente a governamental Federação Egípcia de Sindicatos, exigindo o indiciamento de seu presidente por corrupção e o direito a formar sindicatos livres... O Manifesto dos trabalhadores do Metal e do Aço em Helwan, propõe as seguintes demandas: - a imediata saída de Mubarak e de todos os elementos do regime – confisco da fortuna e das propriedades de todos os corruptos – a criação de sindicatos independentes e a preparação de conferências para eleger e formar suas organizações – a recuperação das empresas publicas, sua nacionalização e participação dos trabalhadores e técnicos na sua administração - formação de comitês para assessorar os trabalhadores nos locais de trabalho e supervisionar a produção, distribuição e os preços e salários – a convocação a uma assembleia constituinte de todas as classes populares e tendências para aprovar uma nova constituição e a eleição de conselhos populares sem aguardar as negociações com o regime atual”.
Protesto contra ditadura do Egito.

3 - A luta é por liberdade, trabalho e pão

A mobilização de massas que derrubou Mubarak significa somente uma Revolução Democrática, que se detém na queda do ditador, cuja perspectiva é lutar pela Assembleia Constituinte, e dessa forma se concretizará a independência nacional, estando impossibilitada de ir além? Acreditamos que não. Concordamos: a derrubada de uma ditadura é uma tarefa democrática, como também o é a independência do imperialismo ou a reforma agrária. São tarefas democráticas anti-imperialistas. Mas devemos considerar que o motor da revolução nos países do norte de África não é somente a falta de liberdade, mas contra o desemprego, a pobreza, pelo “pão”, enfim, contra todas as consequências da brutal crise econômica que castiga o povo trabalhador e, sobretudo, a sua juventude. Também, não podemos falar simplesmente de uma revolução democrática, sem analisar que está enfrentando um inimigo capitalista e imperialista (Mubarak, EUA, Israel, etc.) e não de um inimigo feudal. Por isso é objetivamente anticapitalista. Não achamos correto o texto dos companheiros quando depois de afirmar que as demandas por trabalho e salário se combinam com a luta contra a autocracia, define que as “principais bandeiras são Abaixo Mubarak e Assembleia Constituinte” e, portanto... a revolução é democrática. As revoluções democráticas nesta época imperialista são revoluções anticapitalistas objetivas, pelo inimigo que enfrentam e pelas forças sociais que a levam adiante, que não são os burgueses e sim os setores populares (classe média baixa) e os trabalhadores, os desempregados, a juventude. Está mais correta a definição do Manifesto das 28 organizações presentes no Congresso do NPA: “Estas revoluções não só abrem caminho para demandas democráticas que acabam com as ditaduras, como também ao questionamento dos sistemas econômicos capitalistas que são as causas de tanta injustiça. As reivindicações sociais estão no coração destas insurreições”.

4- A queda de Mubarak e a dinâmica das classes

Com a queda de Mubarak, abre-se uma nova etapa com tarefas democráticas a concluir, como derrotar a transição pactuada pelo imperialismo com centro nas forças armadas, e derrotar o novo governo de Ghanouchi na Tunísia. Quem define bem este novo momento é outra vez o jornalista Hossam el-Hamalawy: “suponho que se nosso levante tem êxito e Mubarak cai, aparecerão divisões. Os pobres vão querer ir a posições muito mais radicais, impulsionar a redistribuição radical da riqueza e combater a corrupção, enquanto que os denominados reformistas querem por o freio, pressionar por mudanças “por cima” e limitar um pouco os poderes, mas manter alguma essência do Estado.” Não conhecemos este jornalista, mas com certeza fez uma boa síntese da dinâmica das classes formulada por Trotsky na Revolução Permanente.

Não avaliamos que continue o movimento de forma heterogênea e unificada lutando pela Assembleia Constituinte. O imperialismo busca negociar e pacificar a região, mas não através de “uma democracia burguesa clássica”. Existe uma frente objetiva entre o imperialismo ianque e europeu, o Estado de Israel e os governos árabes reacionários, a alta oficialidade e a cúpula das forças armadas – fundamentais em 30 anos de regime - as empresas imperialistas e os grandes empresários locais que buscam preservar a todo custo a integridade das forças armadas através de algum arremedo de democracia burguesa. Setores pequeno burgueses, partidos e movimentos conciliadores com certeza também buscarão desmobilizar e depositar uma quota de confiança nos militares. A “divisão” a que se refere Hossam fica fácil de ver nos jornais brasileiros. Em14/02 informam das inúmeras greves (entre elas a dos policiais) que tomam conta do Egito e dos chamados do Exército a finalizá-las pelo bem da economia, a Folha.com relata: “Anteriormente nesta segunda-feira, o Exército do Egito pediu por solidariedade nacional, exortou a trabalhadores para que façam seu papel para reavivar a economia do país e criticou ações de greve, após muitos empregados terem sido encorajados pelos protestos que derrubaram o ditador Hosni Mubarak a demandar melhores salários.”


5 – É necessário um programa de transição

Como militantes socialistas e internacionalistas, escrevemos sobre uma revolução para aproximar o debate e ver como podemos ajudar a avançar e contribuir teórica, política e praticamente com as gigantescas tarefas que tem pela frente o povo egípcio. Qual é o programa de transição possível, visto que se trata de combinar “tarefas econômicas e políticas”, sobretudo, agora que caiu Mubarak? Deveriam os militantes socialistas, por exemplo, intervir no Movimento 6 de abril, para ajudar a desenvolvê-lo vinculado às demandas do movimento, visto que expressa um poder dual embrionário? Fortalecer os sindicatos independentes que estão nascendo? Os comitês de bairro? Sem dúvida deveriam apostar e apoiar as greves dos trabalhadores! A luta pela abolição da lei de emergência, a liberdade para estabelecer partidos e a libertação dos prisioneiros políticos! Devem ser fortalecidos todos os organismos de massas para lutar por uma alternativa de poder dos de baixo, para garantir o salário, o pão, a expropriação da riqueza de Mubarak e sua família, a renacionalização das empresas privatizadas e a nacionalização dos setores fundamentais da economia! Defender a necessidade de chamar os soldados e a tropa a se organizar, exigir seu direito a livre organização, para ganhá-los ao lado do povo separando-os da alta oficialidade! É decisivo chamar a impedir qualquer negociação com o antigo regime e suas forças armadas, financiadas pelos EUA! Denunciar que as Forças Armadas pretendem “modificar” a Constituição ignorando o povo! Chamar à luta para confiscar todos os bens do partido de governo! Lutar para impor as liberdades democráticas mais amplas, julgar os torturadores e assassinos, exigir que sejam respeitados os direitos humanos! Para impor a imediata ruptura com o sionista e racista Estado de Israel e garantir uma Assembleia Constituinte livre e democrática que reorganize o país a serviço da maioria do povo trabalhador! Para garantir estas tarefas tem cada vez mais importância as greves dos trabalhadores e as lutas dos setores populares. Não seria necessário que o central de uma proposta socialista fosse o chamado a que continuem se mobilizando em torno de um programa com as características acima? A maioria das demandas aqui propostas estão desenvolvidas em diversos textos, como o da Frente Democrática 14 de janeiro da Tunísia, ou formuladas parcialmente nas diversas greves. Do nosso ponto de vista, aqui reside a maior limitação na proposta do texto levado à escola de formação do MES (corrente do PSOL). Pois não levanta nenhuma bandeira nem tarefa, a não ser Assembleia Constituinte, ainda que apareça escrito que a revolução combina tarefas econômicas e políticas.

O texto define que a revolução somente poderá avançar para uma democracia radical parecida com América Latina, nacionalista, ou seja, a um processo semelhante ao venezuelano. Por isso, a única tarefa que propõem é a de eleições para uma Assembleia Constituinte definida como objetivo a alcançar e também o caminho para se chegar à independência do imperialismo, sendo que no texto não se assinala a necessidade de continuar a mobilização e as greves. Para que não fiquem dúvidas, o texto dos companheiros completa: “quem levantar hoje as bandeiras do socialismo está descontextualizado, pois a revolução é democrática”. E esclarecem que, somente se o processo revolucionário cumpre a etapa de libertação nacional, numa etapa posterior se poderá entrar numa dinâmica socializante.

Achamos oportuno lembrar que nem a revolução russa se fez com a bandeira do socialismo, mas com as de PÃO, PAZ E TERRA, assim que nem queremos entrar nessa polêmica, pois não estamos defendendo que no Egito a revolução se faz agitando essa bandeira.

Como o texto não fala concretamente da situação e das reivindicações do povo trabalhador e dos setores populares, dos processos reais que estão ocorrendo, da dinâmica de quem serão os verdadeiros protagonistas das lutas que estão por vir após a queda de Mubarak, nada disto, concluímos que os autores confiam que poderá a independência nacional ser realizada pelas forças armadas, daí a comparação com a Venezuela de Chávez? A conquista da independência nacional nada teria a ver com a luta da classe trabalhadora pela sua libertação, estaria completamente isolada da luta pelo socialismo à qual se chegaria numa etapa posterior. Esta se converte assim numa etapa obrigatória e compete a setores burgueses, pequeno-burgueses e militares dirigi-la visto que, na análise, a classe trabalhadora não cumpre nem pode cumprir papel importante neste processo. Apoiam-se no fato real da não existência de uma direção revolucionária socialista. Mas a conclusão não é que se abrem condições excepcionais para construí-la, mas a inviabilidade de qualquer avanço para lutar por uma saída de fundo do ponto de vista de classe, utilizando um método fatalista e determinista. A nosso ver, uma saída tipo Nasser traz todas as contradições do nacionalismo burguês.

Novamente, retomamos o Manifesto das 28 Organizações presentes no Congresso do NPA que ao invés de desvincular as tarefas anti-imperialistas das socialistas como faz o texto do MÊS, coloca: “Isto significa que os povos da Tunísia e do Egito, as forças que desejam abrir o caminho anti-imperialista e socialista nos seus próprios países, necessitam da solidariedade e o apoio ativo dos revolucionários e dos movimentos anti-imperialistas, sociais, sindicais do mundo inteiro”.

Protestos contra ditador na Líbia.
6 – Revolução democrática e revolução permanente

O texto faz importante referência às teses da Revolução Permanente de L. Trotsky. Essa formulação da dinâmica revolucionária combina diversos aspectos como o papel e a dinâmica das classes, as tarefas a cumprir e o movimento dialético do processo internacional. Demonstramos com diversos exemplos que a dinâmica de classes é uma até a queda da ditadura, e se abre uma nova quando o velho regime cai. Sobre as tarefas, já vimos, por exemplo, que o Manifesto dos trabalhadores do Metal e do Aço combina diversas reivindicações e consignas; o mesmo se dá na declaração da Frente Democrática 14 de janeiro da Tunísia, um programa e combinação de tarefas, não somente Assembleia Constituinte. E se observamos as greves que estão acontecendo por salário, condições de trabalho e pela remoção dos diretores das empresas, veremos que longe de resumir a luta à Assembleia Constituinte, estas assumem e combinam cada vez mais tarefas claramente anticapitalistas com as democráticas. A dinâmica internacional da revolução está mais do que demonstrada nas lutas contra os governos e contra a fome que se alastram nos países do norte da África; nas mobilizações de muitos países do mundo festejando a queda de Mubarak; na influência que prevemos terão os imigrantes africanos na Europa que luta e resiste contra o ajuste, todos processos que retroalimentam a crise econômica, política e militar do imperialismo. Infelizmente, os autores confiam em que os países da ALBA são o ponto mais avançado da solidariedade internacional e os consideram parte dos socialistas latino-americanos, sendo que nenhum dos seus governos antes da queda de Mubarak teve a coragem de se pronunciar pela queda do sanguinário ditador, nem manifestaram solidariedade com os heroicos povos africanos e menos ainda romperam relações com os ditadores da Tunísia e Egito, calando de uma forma covarde. A verdadeira solidariedade está sendo nos fatos levada adiante pelos povos árabes que lutam contra suas respectivas ditaduras e contra os planos de fome; pelos trabalhadores e o povo que resiste na Palestina e vibram com os primeiros triunfos da Tunísia e do Egito; pelas massas que na Europa enfrentam os planos de ajuste e os governos que os aplicam, por todos aqueles que lutam sem trégua contra o imperialismo e os governos capitalistas nacionais, sem depositar confiança em salvadores da pátria, mas confiando cada vez mais nas suas próprias forças. Estas mobilizações extraordinárias com certeza não agitam a bandeira do socialismo, mas na prática sua luta é infinitamente anti capitalista e internacionalista, ou seja, com dinâmica socialista. Somente desta maneira, o movimento de massas irá superando o atual vazio de direção revolucionária e criando o fator subjetivo imprescindível: um partido socialista e revolucionário.

É importante rever a origem de Mubarak e o que aconteceu com o governo e o movimento nacionalista burguês no Egito. Mubarak não “brotou” de um desconhecido processo reacionário. Mubarak, assim como Anwar El- Sadat, seu antecessor, foram expressão da degeneração do movimento nacionalista burguês liderado por Nasser. Esse, foi o inspirador do golpe de estado de 1952 que terminou com a monarquia, obteve a retirada das tropas inglesas, fundou com Síria a República Árabe Unida. Em 1956 nacionalizou o Canal de Suez que provocou a invasão por parte de Inglaterra, França e Israel para recuperá-lo, mas foram derrotados no momento de maior apogeu do movimento nacionalista burguês. Na guerra dos seis dias de 1967, Nasser foi derrotado pelo exército sionista e faleceu em 1970. Todos foram do movimento criado por Nasser, cujo sucessor imediato foi Sadat, de quem Mubarak era vice. Sadat foi quem assinou em 1978 os acordos de Camp David com os EUA sendo o primeiro país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Assim o nasserismo completou seu ciclo de ascenso, decadência e queda. Nasser, como todos os regimes de países independentes sob o estado burguês, apoiou-se no movimento de massas para enfrentar o imperialismo e aos setores burgueses vinculados. Mas com o perigo do movimento de massas passar por cima, se apoiou nas forças armadas tanto para enfrentar ao imperialismo quanto para frear e controlar as mobilizações populares. Assim também, com o mesmo objetivo, criou organizações sindicais controladas por dirigentes adictos ao governo. Ou seja, medidas progressivas como a reforma agrária, a nacionalização ou a sindicalização, foram feitas “por cima” sem permitir iniciativas independentes dos trabalhadores e camponeses. Esta é a razão estrutural, de classe, que faz com os governos nacionalistas burgueses que chegam até conseguir a independência política do seu país em relação ao imperialismo, fracassem e acabem sendo derrotados ou capitulem frente à pressão imperialista.

Publicado em http://cstpsol.com/viewnoticia.asp?ID=148 dia 17/02/2011 às 16:05:38
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*Silvia Santos é membra da Executiva Nacional do PSOL.

**Hossam el-Hamalawy é um jornalista e blogueiro -3arabawy-. Mark Levine, professor da Universidade da Califórnia Irvine, conseguiu contatar Hossam a través de Skype para conseguir um informe de primeira mão sobre os fatos que se desenrolam no Egito. Traduzido do inglês para Rebelión por Germán Leyens e revisado por Caty R.

Mal menino, o prefeito de Manaus, na mira do PSOL

Marinor representará criminalmente contra Amazonino
A senadora Marinor Brito, líder do PSOL no Senado Federal, anunciou hoje que ingressará com uma representação na Procuradoria Geral da República contra o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, pelo suposto crime de preconceito quanto a migrante e discriminação.

O prefeito virou manchete dos principais jornais após discutir com uma moradora, durante visita a uma área de risco na capital amazonense. A moradora questionava como a comunidade poderia ajudar nas ações do Executivo, no que o prefeito respondeu: “Não fazendo casa onde não deve”. A mulher rebateu dizendo que as pessoas somente moravam no local por falta de condições e, em resposta, ouviu “então morra, morra”. Ao saber que a moradora era do estado do Pará, o prefeito disse: “então pronto, está explicado”.

Segundo a senadora, a suposta atitude preconceituosa do prefeito reforça o preconceito da sociedade com relação aos migrantes, especialmente as pessoas originárias do estado do Pará, colocando-as em situação de inferioridade em relação aos demais brasileiros.

Fonte: Assessoria de Imprensa
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Do Espaço Aberto:

Está certa a senadora.
Não apenas está certa, como merece apoio de todos - independentemente de partidos - por representar criminalmente contra Amazonino Mendes.
Ele, como qualquer um de nós, tem o mais absoluto direito de dizer o que pensa, de externar os seus preconceitos, de cometer os seus despautérios e as suas incontinências verbais.
Mas ele, como qualquer um, também deve assumir as responsabilidades pelo que diz livremente.
E se o que disser livremente constituir eventualmente um crime, precisa pagar por isso.

Está certo que uma representação a mais, uma representação a menos não fará muita diferença para esse cidadão, que já foi chamado de uma pororoca de escândalos.
Mas ninguém deve desistir de tentar contê-lo.
Contê-lo pela força da lei.
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Comentário que postei no Espaço Aberto, e como os outros, não deve ser liberado lá:

Amazonino Mendes, que muitos em Santarém dizem ser um dos ávidos defensores do Estado do Tapajós por onde gostaria de se candidatar a governador e/ou prefeito da cidade, envolveu-se em mais um escândalo vergonhoso.


Essa figura abjeta, que em 1983 como prefeito indicado pelo governador Gilberto Mestrinho, reajustou em 100% a tarifa dos coletivos e reprimiu movs. sociais e estudantes de forma violenta; de inúmeros escândalos de corrupção, denúncias no TCU, TCE/AM, MPF/AM, etc...

Agora tem mais 15 minutos de fama pela sua notável desenvoltura discriminatória, segregatória e apologética ao preconceito contra os paraenses. Um verdadeiro crime!
Espero que o povo de Manaus e do Amazonas um dia se livre desse oligarqua "xenófobo".
Agora, como não há pororoca no Amazonas, a Veja poderia tê-lo chamado de 'Potoca' de corrupção. Pois Amazonino, além de corrupto, não passa de um grande 'potoqueiro', ou seja, mentiroso.

Abraços

Marcus Benedito.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Revolução árabe e mulçumana: Pedras que cantam

A Primavera, pode até tardar, mas não falha. Os acontecimentos da Tunísia, Iêmen, Egito, Argélia, Jordânia e Irã não são processos soltos. Isso todo mundo sabe. A ligação entre eles e suas semelhanças são muito próximas, mas não só entre eles. Podemos dizer, que ao seu modo, todas essas lutas nos diferentes países respondem à uma questão que é comum enm todos os cantos do planeta. Respondem à crise do capital.

Realmente, diante da resposta que a classe tabalhadora e juventude ainda tem pra dar à essa crise imunda dos cima, a crise econômica de 2008/09 não passará de uma marolinha, mas dessa vez quem terá que pagar por ela são os magnatas e governos corruptos responsáveis pelo caos planetário que geram catástrofes que podem ser vistas do espaço.

A burguesia não pode mais seguir mandando porque seus projetos de rapina ameaçam o planeta. Todas as lutas no mundo árabe e mulçumano, como as da Europa ano passado, são um belo exemplo de como poderemos conquistar vida mais digna, o fim da tirania, mas é necessário não parar, como todas elas, temos que avançar nas lutas em todo o mundo até o socialismo. (M.B.)

"Pra ser feliz num lugar pra sorrir e cantar tanta coisa a
gente inventa, mas no dia que a poesia se arrebenta
É que as pedras vão cantar." Fagner
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A onda de protestos populares se estende pelo mundo islâmico
El Paiz - Ángeles Espinosa

Em Sanaá (Iêmen)

Vários países do Oriente Médio viveram na segunda-feira manifestações inspiradas nos recentes levantes populares no Egito e na Tunísia. De Teerã (Irã) a Sanaá (Iêmen), passando por Manama (Bahrein), centenas de jovens desafiaram a polícia ou milicianos para demonstrar seu descontentamento com o poder e exigir governos representativos. No Irã, onde as autoridades quiseram assimilar as revoltas árabes à Revolução Islâmica que as levou ao poder há 32 anos, os críticos do regime voltaram a sair à rua 14 meses depois que a repressão calou seus protestos. Dezenas deles foram detidos.

"Segundo testemunhas, as forças de segurança prenderam dezenas de manifestantes em diversas partes de Teerã", informou na segunda-feira à noite o site Kaleme, do líder de oposição Mir Hosein Musavi. Entre os detidos também esteve durante quatro horas o cônsul da Espanha em Teerã, Ignacio Pérez-Cambra.

Milhares de pessoas desafiaram a proibição oficial e responderam à convocação "em apoio às populações do Egito e da Tunísia", lançada na semana passada pelo próprio Musavi e por Mehdi Karrubi. Ambos continuam contestando a reeleição do presidente Mahmud Ahmadinejad em 2009, mas não haviam ousado convocar um novo protesto desde 11 de fevereiro do ano passado, quando fracassou seu apelo a manifestar-se pelo aniversário da revolução. Durante os seis meses anteriores, cerca de 80 pessoas foram mortas, centenas feridas e milhares detidas em uma onda repressiva sem precedentes desde os primeiros anos da República Islâmica.

Agora Musavi e Karrubi aproveitam o entusiasmo com que o regime abraçou as revoltas árabes para tentar recuperar o ímpeto perdido, ou pelo menos deixar claro o cinismo dos governantes. Desde que triunfou o levante na Tunísia, muitos jovens iranianos se perguntaram: por que a Tunísia podia e o Irã não? A resposta foi encontrada na segunda-feira. À diferença da Tunísia e do Egito, onde os militares decidiram não disparar contra os cidadãos, o monopólio da força no Irã é exercido pela Guarda Revolucionária, os temidos "pasdaran", uma espécie de exército ideológico cuja fidelidade ao regime está fora de dúvida.

Muitos ativistas criticaram que a convocação tenha sido feita com tanta antecedência. "Deram-lhes tempo suficiente para se preparar e abortar qualquer tentativa", afirmou no último fim de semana uma jovem profissional que simpatiza com os reformistas. De fato, as forças antidistúrbios esperavam os manifestantes desde antes das 15 horas e, de acordo com depoimentos colhidos pelas agências de notícias, os agentes dispararam gás lacrimogêneo para impedir que chegassem à Praça de Azadi (Liberdade). Também constataram que milicianos da força Basij percorriam as ruas em motos.

"Por volta das 17 horas, quando saía do meu trabalho na área de Fatemi, ouvi disparos. Algumas pessoas disseram que tinham sido para o ar, outras que havia feridos e inclusive mortos. Eu não vi, mas havia muitos policiais antidistúrbios", relatou a este jornal um jovem engenheiro que se surpreendeu ao ver mais gente que de costume na rua. "Parecia que estavam esperando algo", afirmou.

No início os manifestantes foram se reunindo em silêncio, mas pouco a pouco começaram a ouvir-se gritos de "Morte ao ditador" e "Hosein já, Mir Hosein", que se generalizaram durante os protestos de 2009. Alguns inclusive queimaram latões de lixo.

As forças de segurança também cercaram as residências de Musavi e Karrubi para impedir que pudessem participar da manifestação, segundo informaram seus sites. "Inclusive ameaçaram os seguranças de Musavi de não permitir que saíssem da casa por qualquer meio", afirma o site Kaleme, dando a entender a tensão.

Os dois dirigentes estão em virtual detenção domiciliar desde os protestos de 2009, mas na última quinta-feira as autoridades reforçaram a segurança em torno da casa de Karrubi e inclusive cortaram seu telefone depois que ele deu uma entrevista pela Internet ao "New York Times". O chefe do Poder Judiciário, Sadegh Larijani, reconheceu que não foram detidos para que não se transformassem em heróis, e que a decisão não está nas mãos dos juízes, mas do "líder supremo".

Como vem sendo habitual desde as eleições de 2009, as autoridades iranianas proibiram que a mídia estrangeira credenciada no Irã participasse da convocação. Por isso a informação é muito fragmentada e fica difícil estimar o alcance do protesto. Além de Teerã também houve manifestações em Isfahan, Shiraz, Rasht, Mashad e Kermanshahr, segundo diversos depoimentos. A agência Reuters informou sobre "dezenas de detenções" em Isfahan, a terceira cidade do país. À noite voltaram-se a ouvir os gritos de "Allah-u Akbar" (Deus é o maior) dos terraços da capital.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Artistas engrossam a luta contra Belo Monte

Os atores Marcos Palmeira, Dira Paes, Leticia Spiller, Brita Brazil e Victor Fasano foram alguns dos que enviaram declarações de apoio aos manifestantes que protestaram nesta terça, dia 8, contra a hidrelétrica de Belo Monte em Brasília. As declarações foram lidas junto com o anúncio das 604.317 assinaturas colhidas por diversas petições contra a usina.Veja os depoimentos:

Marcos Palmeira
Sou contra a usina de Belo Monte pelo impacto que vai causar na região, além de não ser a solução para a nossa energia. Até quando vamos sucatear nossos rios em nome de um progresso que nunca chega? Precisamos de alternativas sustentáveis! Tinhamos o Xingu como marco da preservação no Brasil e agora o “progresso” chegou de vez para poluir a região e aumentar o desequilíbrio ambiental, causando mais pobreza e desigualdade! Basta de hipocrisia!
Pela preservação do Brasil!

Dira Paes

Nós brasileiros não podemos nos omitir diante da situação absurda da exploração indevida da nossa Amazônia. O Rio Xingu jamais poderia ser ameaçado pela construção da barragem de Belo Monte. É um absurdo, que em pleno ano de 2011 ainda estejamos degradando o que nos resta da grande reserva ambiental do Planeta. Em troca de uma energia destrutiva e desrespeitosa, onde a fauna, a flora e o ser humano são desconsiderados da sua importância fundamental e da preservação de todo um ecossistema e do SER Amazônico
Letícia Spiller


Não se pode usar como álibi o progresso, quando milhares de pessoas estão morrendo por negligenciarem o desmatamento e a mudança do curso de rios. Milhares de pessoas estão desabrigadas , sem teto, ou pior ainda, soterradas. É a natureza que grita, e ainda teimamos em fingir que não escutamos…

Mas com certeza o buraco é muito mais embaixo e atravessa décadas de indiferença e acobertamento por parte do governo em geral e autoridades. Para onde vão nossos impostos? Não existe progresso em meio à tanta corrupção. Não vai adiantar nada a construção de mais uma usina. Temos é que ajudar a preservar o coração e o pulmão do mundo, que é o que nos dá a vida! Não existe nada mais valoroso do que isso!

Convido a todos a fazer parte deste consórcio de vida: A Natureza ajuda a gente, a gente ajuda ela. Coragem e paz.

Brita Brazil

Hoje, dia 8 de Fevereiro de 2011 é um marco na historia do Brasil. Dia em que indígenas, agricultores, ribeirinhos e outros seres que amam, respeitam ou dependem do RIO XINGU para sua própria sobreviência (contando com a vida animal e vegetal que, se pudessem estariam com vocês gritando também), estão reunidos para dizer NÃO à Hidroeletrica BELO MONTE.
Infelizmente, não estou aí em corpo físico com vocês (mas sim em alma) , só por não estar hoje no Brasil. Participei desta luta, ao meu modo, no Rio de Janeiro, conscientizando e pedindo assinaturas de artistas que nos apoiaram na defesa do RIO XINGU tais como Marcos Palmeira, Luis Melodia, Lucelia Santos,Vitor Fasano, Nizo Neto, Letícia Spilller e outros que não puderam vir por seus compromissos profissionais, não puderam estar presentes, mas que enviaram um grande abraço para todos que estão na defesa do RIO XINGU. Da minha parte, mando meu carinho e admiração prinicipalmente àqueles q resistiram às tentações corruptas de Empresas que querem comprar a idéia que é necessario construir esta obra fora de época e de moda, que representa um anti-progresso, um atraso para o planeta Terra, num momento em que preservar a Natureza usando formas alternatives, reais e possiveis para se obter energia elétrica, é a solução.

A Usina de Belo Monte é uma vergonha, uma afronta à inteligencia humana, um abuso de poder, um desrespeito e impunidade à Natureza e aos seres que fazem parte desta área e de outras afetadas por este projeto. Meu grande respeito AOS GUERREIROS RAONI e a MEGARON, representando a força KAIAPÓ, e a todos outros indígenas, ecologistas (brasileiros e estrangeiros), ribeirinhos, agricultores, e voluntarios anônimos, que dão suas vidas defendendo nosso Brasil, nossa Natureza, nossa idéia de preservação.

PROGRESSO É ACEITAR A ENERGIA EÓLICA E SOLAR, QUE ESTÃO PRONTAS PARA SEREM USADAS. Ou será que o lema de nossa bandeira -Ordem e Progresso- não está mais valendo? FORÇA!

Victor Fasano
Eu tinha ainda meus dezenove anos quando tive contato pela primeira vez com a gigantesca obra da barragem de Itaipu. Fiquei muito impactado ao saber das terras férteis que seriam alagadas, famílias desalojadas, grandes florestas de mata Atlântica destruídas, uma queda d’água chamada Sete Quedas que rivalizava com Iguaçu em beleza, além de inúmeras espécies animais!

É incrível que décadas depois se insista na construção de grandes barragens afetando o meio ambiente, seus povos e espécies, bem como suas belezas naturais que deveriam ser símbolos nacionais. No entanto, projetos mirabolantes continuam proliferando país afora! Tantas alternativas energéticas mais modernas e baratas estão à disposição, mas obras faraônicas construídas com dinheiro do contribuinte ainda são opção.

Enquanto diversos países começam a destruir velhas barragens porque se mostraram ineficazes e causaram a morte de rios antes esplendorosos como o rio Colorado. Ou até mesmo quando recentemente ouvimos do governo chinês que se já não tivesse custado tanto e o projeto não estivesse tão adiantado, desistiriam da barragem das Três Gargantas no Yang-Tsé- que pretende ser a maior usina hidroelétrica do mundo. Ainda assim, nós vamos adiante com imprudências.

Sou contra Belo Monte pois sou contra a destruição de qualquer floresta, destruição de qualquer população indígena e sua cultura, contra a ignorância de alguns governantes que afirmam de peito estufado que temos o direito de destruir nosso meio ambiente porque ele é nosso, nos pertence.

Também sou contra o mau emprego do dinheiro público, a insistência de não ouvir a comunidade científica e suas descobertas, contra as licenças ambientais vergonhosamente emitidas por órgãos que deveriam assegurar saúde aos ecossistemas brasileiros já tão ameaçados. Ainda sou contra a destruição de qualquer curso d’água, seja ele apenas um pequeno riacho ou um rio de proporções bíblicas, pois desse sistema surge o bem mais importante da Terra! Para todos os homens, todas as espécies, enfim, todos os seres vivos – a água. Abaixo Belo Monte!

Fonte: Xingu Vivo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A casa caiu!

Eis que a verdade começa a surgir. A cada divulgação de imagens e gravações de conversas telefônicas que desnundaram o câncer apodrecido no poder do governo do Distrito Federal, e que levariam à prisão do então governador José Roberto Arruda (ex-DEMo), eu disse aqui neste blog, que isso não era nem a ponta do iceberg; que quando começasse a surgir as caixas e outras tantas falcatruas não ficaria pedra sobre pedra nos podres poderes de muitos estados, municípios e governo federal. Aqui no Pará essa política do assalto aos cofres públicos sempre foi levada muito a sério... Ana Júlia (PT), Duciomar (PTB) e tantos outros que promovem e promoveram a farra com recuros públicos, deveriam estar em no presídio de Americano. Pedro Paulo (ex-governador do Amapá), Roberto Goes (Prefeito de Macapá) e o presidente do TCE do Amapá, por muito menos, estão no presídio ou lá estiveram.

Infelizmente a Justiça tem tardado perenemente no Pará.

E agora eis que a podridão do governo Ana Júlia começa a vir à tona!
Enquanto ela negava reajuste digno, plano de cargos e salários aos servidores, saúde e educação de qualidades, e nos ofertava o caos na segurança (tudo sob sórdida alegação de falta de recuros); percebemos com essas investigações que dinheiro até que tem, mas seguia (e segue) sendo desviado e dividido entre meia dúzia de parasitas que a cada turno administram as chaves do cofre. O povo, vendo a banda passar. (M.B.)
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Ex-governadora é citada em gravações de fraudes


A cada dia, novos lances surgem no rastro do milionário esquema montado dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) para liberar licenças e planos de manejo em troca de dinheiro de empresas madeireiras que atuam no Estado. As investigações feitas pela Polícia Federal (PF) já duram mais de dois anos e o inquérito deve ficar concluído até o final deste mês. Quinze pessoas são investigadas, incluindo servidores, madeireiros, despachantes, advogados e políticos.

Em conversas telefônicas grampeadas com ordem judicial, a ex-governadora Ana Júlia Carepa (PT) tem seu nome citado por dirigentes da Sema como supostamente interessada em desbloquear projetos de empresas que tinham problemas no órgão. Numa das gravações, o servidor Dionísio Gonçalves de Oliveira que, segundo a PF, representava na Sema os interesses de Sebastião Ferreira Neto, o “Ferreirinha”, presidente do Águia Futebol Clube, de Marabá, reclama com o padrinho o tratamento que está recebendo de Cláudio Cunha, secretário adjunto do órgão ambiental.

Dionísio Oliveira, que se gabava nas conversas interceptadas de dar dinheiro para todo mundo no órgão que facilitava a vida de seus clientes e que em vista disso era respeitado a ponto de servidores “tremerem nas bases” à simples citação de seu nome, diz para “Ferreirinha” nessa gravação que se os projetos de manejo forem aprovados eles (Oliveira e “Ferreirinha”) receberiam R$ 800 mil e que R$ 300 mil “ficariam para a chefa”. Segundo a PF, ambos se referiam à liberação de dinheiro para a campanha de Ana Júlia.

Os projetos citados na conversa eram sete, todos com pendências e irregularidades, mas que seriam liberados imediatamente. Só de propina renderiam R$ 2 milhões. Em outra gravação, o secretário de Meio Ambiente, Edivaldo Pereira da Silva, que substituiu no cargo o investigado Aníbal Picanço, liga para o gerente Fernando Diniz e cobra a liberação do Cadastro de Exploradores e Consumidores de Produtos Florestais (Ceprof), afirmando que era um pedido da governadora.

MADEIREIRAS

A suposta interferência de Ana Júlia seria a favor de duas madeireiras. Diniz responde que um projeto já tinha sido liberado, mas o outro ainda dependia de numeração que a governadora não havia fornecido.

A investigação da PF comprovou que centenas de projetos tiveram laudos forjados. Além disso, vistorias fajutas de campo em planos de manejo eram realizadas sem que os técnicos da Sema saíssem de seus gabinetes em Belém. Bastava pagar entre R$ 5 mil e R$ 7 mil para que isso fosse feito. Quem não pagasse propina não tinha o plano aprovado. E quem já tinha também era obrigado a pagar, sob pena de não ter o plano assinado pelo secretário.

Ouvida pelo DIÁRIO, Ana Júlia Carepa negou que tenha feito pedidos para liberação de projetos de madeireiras. “Estou acostumada em ver meu nome usado em vão por terceiros. A federal (PF) já prendeu um homem que usava o nome do Marcílio (Marcílio Monteiro, ex-marido de Carepa, ex-chefe do Ibama no Estado e ex-secretário no governo dela).

Esse homem, cujo nome a ex-governadora disse não lembrar, se fazia passar por Marcílio quando ele era chefe do Ibama. “Eu fui acusada levianamente e depois se viu que era má fé. A imprensa nunca disse a verdade. É leviandade acusar alguém sem provas”. Ana Júlia disse ainda que em seu governo deu todo apoio para que a PF realizasse investigações na Sema. Sobre as conversas que envolvem seu nome, reiterou que jamais fez pedido para uma atividade irregular. “A minha postura em relação ao meio ambiente sempre foi aberta”. E arrematou dizendo que em quatro anos de governo teve todas as contas aprovadas, inclusive as de campanha eleitoral.

CONCLUSÃO DE INQUÉRITO

As investigações feitas pela Polícia Federal (PF) já duram mais de dois anos e o inquérito deve ficar concluído até o final deste mês. Quinze pessoas são investigadas, incluindo servidores, madeireiros, despachantes, advogados e políticos.

Liberação de cadastro a mando de Ana Júlia

O secretário de Meio Ambiente, Edivaldo Pereira da Silva, que substituiu o investigado Aníbal Picanço, liga para Fernando Diniz sobre a liberação do Cadastro de Exploradores e Consumidores de Produtos Florestais (Ceprof) a pedido da então governadora Ana Júlia Carepa, segundo gravação da PF. Eles mantêm o seguinte diálogo:

Edivaldo - Aqueles Ceprofs da governadora já saiu (sic) todos?
Fernando- Ela não me falou qual é o número, porra.

Edivaldo - É aqueles do Índio, que o Índio apareceu aí contigo, porra.
Fernando- Não, aquele já saiu, porra.

Edivaldo - Aquele é da governadora.
Fernando- Não, ali eu lhe disse que era o seguinte: que eram dois Ceprofs que ela queria que fosse desbloqueado, mas ela não chegou a me passar o número, era isso que (inaudível) está aí com ela, porra.

ANÁLISE DA PF

Edivaldo, secretário da Sema, pergunta para Fernando sobre desbloqueio de Ceprof a mando da governadora. Em diálogos anteriores, Fernando afirma que mantém seu acesso ao sistema para resolver “demandas” do governo. A análise dos diálogos pode chegar à conclusão de que se trata de pedidos irregulares de pessoas ligadas ao governo ou apoio político. Há, na melhor das hipóteses, advocacia administrativa de vez que foi burlado a tramitação legal para beneficiar indivíduos ligados a servidores públicos.

“Uns R$ 300 mil lá pra chefa”
Dionísio Oliveira reclama ao telefone para Sebastião Ferreira, o “Ferreirinha”, que não consegue entrar no gabinete do secretário para que ele libere sete planos de manejo, porque tem “uns caras que passam na frente de todo mundo e ficam lá por horas”. Estressado, ameaçando largar a campanha eleitoral e prometendo ficar na porta para ser atendido de qualquer maneira quando sair alguém, eles travam uma longa conversa. Destaque para o seguinte trecho:

Ferreirinha- Ela pegou o nosso. Vai sair esse nosso? (referem-se a uma servidora encarregada de agilizar um dos processos de interesse da dupla).
Dionísio- Vai sair. Tá com quinze minutos que eu vim de lá da sala dela. Tô aqui no gabinete esperando. Vou voltar lá daqui a pouco, acho que ela termina no máximo às 11:30. Aí tem essa porra e mais seis que já tá na agulha, que não tem mais coisa (nenhuma pendência). Isso aqui é daquele jeito que te falei. Se não ficar nós dois aqui, assim igual daquele outro lá, não sai.

Ferreirinha- Deixa eu te dizer. O Everaldo (Everaldo Martins, ex- chefe da Casa Civil do Estado) tá aqui em Marabá. Eu tive uma conversa com ele agora. Fiquei de voltar novamente.
Dionísio- Hum, hum..

Ferreirinha- Como o Puty (deputado federal eleito Cláudio Puty) furou em tudo que foi acordo que fez com a gente, tem uns municípios que os caras não querem apoiar ele de jeito nenhum. Eu quero ver se eu acerto umas despesas de uns municípios pra ele bancar e as pessoas de lá apoiar ele e eu.
Dionísio- Tá certo, porra. Concordo, concordo, porque o que nós estamos passando...

Ferreirinha- Aí, se fizer essa parceria ele é capaz de interferir aí, nessa e resolver algumas coisas pra gente. Tu lembra que a governadora falou que ele (Puty) resolvia coisas para ela?
Dionísio- Hum, hum.

Ferreirinha- Pode ser que ele defira lá.
Dionísio- Então vamos fechar. Tu não diz tudo, diz só um pouco, entendeu? Diz só um pouco, não diz todos os projetos. O que te falo mesmo, cara, se na semana que vem esses sete projetos PMFS for resolvido é no mínimo uns R$ 800 mil que entra. No mínimo, no mínimo, né, porque os sete dá mais de R$ 2 milhões, mas no mínimo R$ 800 mil entra pra nós, já de adiantamento. Só que, porra, os caras não enxergam isso, né? Porque aí nos tira (sic) uns R$ 300 mil lá pra chefa (segundo a PF provavelmente a governadora Ana Júlia), e fica com o outro, porra, pra poder aliviar.

Ferreirinha- Eu acho que eu vou fazer o negócio com esse cara, lá. E o negócio de Santarém tá marcado para sexta-feira, 10 h da manhã. Acho que é tu que vai nessa lá de Santarém.

Fonte: Diário do Pará

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Viva a Revolução Árabe! Solidariedade ao povo egípcio!

Fora Mubarak!

Tradução Michel Oliveira e Priscila Guedes

Multidões exigem a queda de Mubarak. Nem o toque de recolher, nem a repressão policial pararam a mobilização. Cortaram telefones celulares e internet, para impedir a coordenação e difusão da luta, mas também não adiantou.

O exército saiu às ruas, supostamente para garantir o toque de recolher ordenado pelo ditador, produzindo a morte de quase 300 egípcios. Mas o poder da mobilização foi tão grande que o aparato militar de fato terminou dividido, quando militares de baixa patente confraternizaram com os manifestantes, dançando e cantando. Subindo nos tanques gritavam que o povo e o exército são um só.

O povo do Egito está nas ruas denunciando o desemprego, a inflação, o preço do pão, do leite em pó e lutando para derrubar a ditadura, no poder há quase 30 anos. Em 1º de fevereiro aconteceu a marcha do “milhão” em meio a uma greve geral. Milhões ocuparam as praças do Cairo e de todo Egito. A contundência das ações levou a que Mubarak, o principal aliado do imperialismo Ianque na região, e país chave para proteger Israel, esteja contra a parede. Numa tentativa desesperada para desmontar a mobilização e negociar, anunciou que terminará seu mandato em setembro e que não se apresentará nas eleições. Porém a resposta das massas mobilizadas foi contundente: “Fora!”, “Fora!” e decidiram seguir nas praças.

A revolução árabe está em marcha
Após o triunfo da revolução democrática na Tunísia, os povos árabes seguem mobilizando-se contra a fome e as ditaduras pró-imperialistas. Crescem as lutas no Yemen e Jordânia.

As massas árabes estão fartas de miséria, repugnantes desigualdades sociais (a fortuna de Mubarak é calculada em US$ 40 bilhões), corrupção e as ditaduras. Encabeçado pela pequena Tunísia e agora pelo poderoso Egito, está em marcha um processo revolucionário nos países árabes. No Yemen (pequeno porém importante aliado dos Ianques) e Jordânia (uma monarquia que capitulou há muito tempo a Israel) crescem as mobilizaçoes. O descontentamento já se extende a outros países como Argelia, Líbia, entre outros.

A queda do ditador tunisiano foi o primeiro sinal do início de um processo revolucionário no mundo árabe, que detonou o descontentamento contra Mubarak. No dia 25 aconteceu o “dia da ira”. Centenas de milhares de manifestantes tomaram as ruas do Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades. Desde então, nem a repressão da polícia (com mais de 300 mortos), que foi obrigada a retroceder na maior parte das cidades, nem as “promessas” de Mubarak conseguiram deter o processo revolucionário.

Os egípcios reclamam contra a pobreza, o desemprego e a ditadura

Após 30 anos de ditadura de Mubarak, quase a metade da população é analfabeta e pobre; a maior parte sobrevive com 2 dolares por dia e recebe comida subsidiada. O desemprego supera 30% e entre os menores de 30 anos chega a 90%. Milhões de jovens com títulos universitário e formação profissional não tem nenhuma oportunidade de conseguir trabalho digno, são ambulantes e se alimentam só de pão. Nos últimos anos se instalaram grandes fábricas das multinacionais, para explorar mão-de-obra barata. Uma pequena minoria de milionários desfruta dos ingressos de turismo e da exportação do petróleo e algodão.

De várias formas se exige liberdades democráticas, mas também se luta contra pobreza e o desemprego. Ou seja, a crise mundial capitalista e os planos de ajuste também tem sua expressão no Egito e nos países árabes. Isso explicaria que as consignas religiosas islâmicas não tenham maior presença. A maior força política do país é a Irmandade Muçulmana, que teve 20% dos mandatos legislativos de 2005, quando pactuou com Mubarak sua apresentação. Não apoiou o início da mobilização e depois deu um tímido apoio pedindo calma.

As sedes do partido do governo são destruídas e queimadas no Cairo e outras cidades. Os cassinos Al Lail e Andalus e o Hotel Europa foram saqueados. Uma infinidade de veículos policiais são incendiados com coqueteis molotovs. Diante do temor do desabastecimento houve saques de alimentos. Nos bairros surgem comitês populares, em alguns casos junto com militares, para proteger as casas da ação de delinquentes e a multidão impediu que grupos de provocadores e assaltantes atacasse o Museo do Cairo.

A classe trabalhadora egípcia tem um papel importante na mobilização, como ocorreu na Tunisia. Há anos vem enfrentando o governo e os empresários atraves de greves. Desde dezembro de 2006 produziram-se as maiores e mais duradouras ondas de greves desde a década de 1940. Começaram com os operários texteis na cidade de Mahalla no delta do Nilo, centro da maior força proletária da região, com mais de 28000 trabalhadores.

O jornalista e blogueiro egípcio Hossam el-Hamalawy declarava a Al-Jazeera que “durante os últimos anos a revolta estava no ar. Assim surgiram os primeiros passos para conquistar sindicatos independentes da corrupta burocracia sindical da ditadura. Agora os trabalhadores são chave na greve geral contra Mubarak”.
O regime ditatorial de Mubarak, peça chave do imperialismo Ianque

O triunfo da revolução democrática na Tunísia foi muito importante, porém a revolução iniciada no Egito é de vital importância tanto para o imperialismo como para os povos do mundo.

Egito é o país árabe mais povoado e um dos poucos que reconhecem Israel. Mubarak é um aliado incondicional dos Ianques e de Israel, e seu regime parece ser o último bastião de um movimento político que passou do nacionalismo ao pró-imperialismo.

Nos anos cinquenta, o presidente Gamal Abdel Nasser encabeçou o nacionalismo árabe e enfrentou a presença invasora do sionismo na Palestina. Em julho de 1956 nacionalizou o estratégico Canal de Suez, que permite o acesso aos portos europeus do mediterrâneo ao petróleo do Golfo e aos produtos asiáticos baratos. Pouco depois, derrotou as tropas israelenses, inglesas e francesas, quando tentaram recuperá-lo na “guerra de Suez”.

O declínio daquele nacionalismo burguês abriu caminho a uma grande traição e a capitulação ao imperialismo ianque. Em 1978, em Camp David, a residência do presidente dos EUA/Anwar Sadat – sucessor de Nasser – assinou com Menajem Beguin um acordo, impulsionado por Jimmy Carter, reconhecendo o Estado de Israel (que devolveu os ricos territórios petroleiros da penísula do Sinai, ocupados desde 1967). A liga Árabe repudiou o acordo e Egito ficou isolado. Em 1981, um militante do fundamentalismo islâmico executou Sadat, que foi sucedido por Hosni Mubarak. Desde então, ele encabeça um regime cada vez mais corrupto e repressor, aliado incondicional e estratégico do imperialismo, para enfrentar o Irã e proteger Israel.

Por esse motivo, Mubarak recebe uma multimilionária ajuda militar do EUA, cujo poderio utiliza para colaborar com o sionismo, no bloqueio a Faixa de Gaza. Isto explica a solidariedade e apoio que recebeu tanto da monarquia da Arábia Saudita como do traidor Mahumed Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina. Todos temem que a queda de Mubarak provoque uma nova Intifada Palestina e o levante dos demais povos da região.
Obama e a crise do imperialismo

Obama está diante de um grande dilema. Como manter um regime aliado a seus interesses, se Mubarak for obrigado a fugir?. Não é um problema menor, pois quando realizou seu giro em 2009, com uma “mensagem” ao mundo árabe, utilizou o Cairo para fazer seu pronunciamento.

Sua derrota no Iraque e Afeganistão seguiu o debilitando na região. Nos Estados Unidos aconteceram numerosas mobilizações em apoio ao povo egípcio. Nada lhe assegura que uma “sucessão” com o “designado” vice-presidente, ex-general Omar Suleimán, restabeleça a calma. Tem sua grande arma de pressão sobre o exército pelos milhões de dólares que envia ao país, porém a cúpula militar se distancia de Mubarak.

Após 30 anos de férrea ditadura, salvo o partido islâmico da Irmandade Muçulmana, não há líderes ou organizações reconhecidas de oposição.

Aparentemente, poderia ser um “candidato” para uma “transição” o físico nuclear Mahamed el Baradei, prêmio Nobel da Paz em 2005, que foi diretor do Organismo Internacional de Energia Atômica, apoiado pelos EUA. Apesar da publicidade que os jornais dão a Baradei, ele até agora não possui um grande apoio popular. No Egito e no mundo árabe tornou-se conhecido em 2003, pois junto com o sueco Hans Blix, liderava as inspeções da ONU no Iraque e questionou as supostas “provas” sobre a existência de armas de destruição em massa nas mãos de Saddam Hussein. Essa foi a colossal mentira que utilizou Bush pai para “justificar” sua invasão ao Iraque. Porém Baradei é essencialmente um dirigente político liberal, moderado e pró-imperialista, que não representa nenhuma saída de fundo para satisfazer as demandas de quase 80 milhões de egípcios.

Obama oscila entre sustentar o ditador Mubarak e buscar uma saída negociada entre o exército, Baradei e a Irmandade Muçulmana, que chamou o alto comando militar à negociar uma transição política “pacifica”. O imperialismo busca evitar o perigo de uma mudança política radical, anti-EUA e anti-sionista.

Em síntese, nas ruas, não só está em jogo que o povo egípicio consiga melhorar suas condições de vida, senão também dar um grande golpe à influência do imperialismo ianque sobre o mundo árabe e à sustentação de Israel.
Solidariedade ao povo egípcio

Nessas horas decisivas o povo do Egito segue mobilizado, disposto a chegar até a derrubada do ditador Mubarak.

Diante da passividade e o apoio dos soldados à mobilização, Mubarak lançou nas ruas grupos aliados da ditadura que buscam esmagar a mobilização. Os enfrentamentos crescem. A luta exige que os trabalhadores e o povo egípcio se organizem para se defender desses bandos assassinos. E que se convoque aos soldados e aos militares de baixa patente a que contribuam com essa tarefa, formando comitês de soldados para coordenar a defesa da mobilização revolucionária contra a ditadura.

A mobilização nas ruas mostrou um imenso vazio de direção. Porém ao calor da luta se expressa de fato um esboço de duplo poder, e apostamos em seu desenvolvimento, com os comitês de vigilância nos bairros, os sindicatos e organizações juvenis que impulsionam a mobilização, para que se unifiquem na perspectiva de que avançe um poder alternativo operário e popular, em que não tenham espaço as direções reformistas e conciliadoras com a rançosa oligarquia egípcia e o imperialismo norte-americano.
No mundo cresce o repúdio a Mubarak e as expressões de solidariedade com o povo do Egito. A UIT-QI se soma a estas mobilizações e chama a aprofundar a solidariedade ativa para derrubar o ditador. Chamamos a mais ampla unidade de ação para realizar marchas e ações em frente as embaixadas e consulados de Egito.

Exigimos aos governos de todo mundo e, em especial, aos de Hugo Chavez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Cristina Kirchner e Dilma Rousseff a que abandonem a passividade e que rompam relações com Mubarak e todos os ditadores que oprimem aos povos árabes e sustentam junto ao imperialismo o invasor Estado de Israel.

Abaixo Mubarak! Mobilização até que caia!

Unidade Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional UIT-QI
02/02/2011