quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Nova York: "Foda-se a supremacia branca", entoaram centenas de estudantes contra Trump

“No ban. No registry. Fuck white supremacy!”: os secundaristas tomaram as ruas de NY contra Trump

Protesto contra Trump nas ruas de Nova York. Foto: Molly Crabaplle
por Eduardo Protázio, para o site da Juventude Vamos à Luta
“Nenhuma proibição. Nenhum registro. Foda-se a supremacia branca!”, “Nenhum ser humano jamais será ilegal!”… Essas e outras palavras de ordem e cantos eram entoados por milhares de jovens, amplamente estudantes de diversas escolas de Nova York no último dia oito (clique aqui para assistir vídeo), numa contundente resposta ao republicano Donald Trump e sua política nacionalista, anti-imigração, racista, cuja uma das maiores expressões é a ordem executiva assinada pelo presidente norte-americano que estabelece a construção de um muro em 3200 kilômetros na fronteira México-EUA, dando sequência aos 1000 km de muro da vergonha construídos pela gestão do democrata Bill Clinton. 
Dentre outras ações, defende a ampliação e modernização do poderio militar genocida, prática já aplicada anteriormente por Bush e Obama, afora as práticas de tortura que pretende estabelecer no país. Um regresso!
Sem dúvidas o dia 8/2 foi uma resposta necessária. Tal como tem se dado desde a sua vitória eleitoral, passando pelo dia da posse e os seguintes, com grandiosas manifestações pelo mundo inteiro, centrada em uma pauta que se estende às reivindicações em defesa dos direitos humanos em geral, especificamente a pauta das mulheres, do movimento negro e LGBT, bandeiras erguidas majoritariamente por jovens.
Juntar os explorados e oprimidos do mundo numa onda contra Trump e o imperialismo!
Aproveitar o 8 de março e unificar as lutas contra os governos! 
É fundamental que todos estes setores já em luta contra o novo chefe-imperialista convoquem o conjunto da classe trabalhadora para uma forte luta unificada, para que não se iludam e se mobilizem contra as mentiras feitas durante a campanha eleitoral. O magnata dizia que atuará ao lado dos trabalhadores na garantia do emprego, por exemplo, quando na realidade, por trás de sua máscara, servirá aos interesses daqueles com quem sempre esteve abraçado, os agentes do mercado financeiro, os banqueiros e multinacionais de Wall Street, conforme apontará a reforma tributária que brevemente será anunciada.
No último dia 13 dezenas de milhares de mexicanos saíram às ruas, num grandioso movimento contra o Muro e a anti-imigração, que ficou tido como a unificação do México, o que foi extremamente importante. Este fato serve como mais um belo exemplo de que as mobilizações precisam se intensificar e crescer, diante de um programa de esquerda, contra a opressão e os ataques dos governos, para cada vez mais abalar as estruturas do governo Trump e seus agentes imperialistas.
Por tudo isso é que está sendo organizada uma poderosa manifestação em todo o mundo, aproveitando o dia internacional de luta das mulheres, para se organizar uma paralisação internacional das trabalhadoras e trabalhadores, atingindo diretamente os que lhes superexploram. Diversos artistas, ativistas sociais e organizações políticas estão impulsionando este chamado. Devemos ampliá-lo.
É preciso exigir aqui no Brasil que as maiores centrais sindicais, como a CUT, CTB, Força Sindical, bem como as direções das entidades estudantis, da UNE, UBES etc., convoquem e construam esta paralisação nas categorias em que atuam. Ainda no Brasil, o dia 8 será um importante preparativo para o dia 15/2, este último sendo chamado como um dia de luta e paralisação nacional contra Temer e toda crise social a que passa o país. Portanto, é imprescindível que os setores da esquerda combativa, como CSP-CONLUTAS e Intersindical somem-se neste chamado, e convoquem paralisação nos dias 8 e 15 de março. Nenhum passo para trás, a juventude mostra o caminho.
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Eduardo Protázio é poeta, escritor, estudante de Letras da Universidade do Estado do Pará (UEPA), militante da Juventude Vamos à Luta e colunista do Além da Frase.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Direito à informação ameaçado

Imprensa brasileira denuncia censura no caso de Marcela Temer

Foto: Folhapress
por Juliana Gonçalves, para o The Intercep BR
A semana começou com um grave ataque à liberdade de imprensa no Brasil. A pedido do Palácio do Planalto, a Justiça Brasileira ordenou que os jornais Folha de São Paulo e O Globo retirassem do ar as matérias que mencionam a tentativa de extorsão sofrida pela primeira-dama Marcela Temer. O advogado Gustavo do Vale Rocha – que também é subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República – argumentou que a divulgação do material seria uma conduta “criminosa e atentatória de direitos fundamentais”, e que os veículos de imprensa teriam ignorado tal aspecto, “apenas para aumentar o número de acesso a seus sites e venda de suas edições impressas”.
Entidades que representam a imprensa brasileira lançaram notas de repúdio à censura. A Associação Brasileira de Jornalismo investigativo (Abraji) diz reivindicar a anulação da absurda decisão da 21ª Vara Cível de Brasília. Impedir repórteres de publicar reportagens é prejudicial não apenas ao direito à informação, como também ao papel do jornalista de fiscalizar o poder público.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) também repudiaram o caso como censura prévia. As entidades consideram “a decisão judicial um cerceamento à liberdade de imprensa e esperam que a sentença seja revista ou reformada imediatamente, garantindo aos veículos de comunicação o direito constitucional de levar à população informações de interesse público”.
Um dos objetivos da criação do The Intercept era defender e apoiar a liberdade de imprensa em todo o mundo, e, por isso, publicou os materiais censurados para que possam ser analisados pelo público.
Folha recorreu da decisão, que qualifica como “inaceitável”. Taís Gasparian, advogada do jornal, entrou com um agravo de instrumento destinado ao presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O texto lembra que “as informações do episódio do hackeamento já são há muito conhecidas”.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

No dia 8 de março de 1917 as trabalhadoras russas incendiaram o mundo!


por Joice Souza

Você já deve ter ouvido a história de como surgiu o 8 de março. A partir da década de 60, em meio à guerra fria, circulou e se consolidou a versão de que o dia internacional das mulheres trabalhadoras foi instaurado em função da morte de 129 operárias norte-americanas durante uma greve em 1857, em um incêndio provocado por seus patrões.

No entanto essa história nunca ocorreu. Ela é fruto de uma confusão ou talvez de uma das maiores fanfics do stalinismo mundial. Esse mito nos levou a relembrar o 8 de março como o dia em que operárias foram queimadas vivas, a greve derrotada e a burguesia saia vitoriosa esmagando, com a força física, os métodos da classe.  Mas essa história é um mito! Há publicações fartas que demonstram que essa narrativa é fruto de um conjunto de informações desencontradas e confusão de datas. 

As operárias tomavam as ruas no inicio do século XX

Claro o mito da greve de 1857 possui vários elementos verdadeiros.  De fato, em 1910 a comunista Clara Zetkin propôs ao congresso da Segunda Internacional Comunista a fixação do dia internacional de lutas das mulheres trabalhadoras a ser comemorado no dia 29 de março. O “womans day" era realizado nos EUA com grandes marchas organizadas por mulheres  desde o inicio do século XX sempre entre fins de fevereiro e início de março, tendo como pauta o direito ao voto, melhores salários e condições de trabalho, jornada de trabalho, etc. 

O “DIA DA Mulher” ganhava força no inicio do século à medida que ganhava força a participação das trabalhadoras no movimento operário. Segundo Aleksandra Kollontai, o número de trabalhadoras sindicalizadas  saltou de pequenos grupos dispersos em fins do século XIX para formar “um poderoso exército de mais de um milhão de mulheres socialistas" em 1913.

Não fomos incendiadas. Incendiamos o mundo!

Também é verdade que o fato que consolidou em 1922 o oito de março como Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras foi uma importante marcha de operárias em greve. Porém, essa greve não foi derrotada por um incêndio. Teve início em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário juliano) o poderoso levante de trabalhadoras (e trabalhadores) de Petrogrado  iniciado por operárias tecelãs, que atropelaram a orientação da direção do partido  bolchevique de não realizar greve, num levante espontâneo, que segundo Trotsky, deu o pontapé à primeira etapa da Revolução Russa: a chamada revolução de fevereiro.

Era o dia internacional das mulheres (que na época não tinha data fixa). A socialdemocracia russa preparava panfletos. A Rússia explodia em greves num novo ascenso operário que desde 1915 rompia com o período de refluxo e derrotas vividos durante cinco anos. Mesmo assim as direções do movimento operário haviam desaconselhado a realização de greve por acreditar que “não eram momentos propícios à hostilidade" e agitavam a necessidade de uma “ação revolucionária”, porém sem data determinada. Mas quando amanheceu o dia 23 de fevereiro, as fábricas têxteis do bairro de Vyborg não funcionaram.

Contrariando a orientação de suas direções, operárias tecelãs entraram em greve e enviaram comissões a outras categorias. As direções, de início a contragosto, acompanharam a marcha. Leon Trotsky nos fala sobre esse episódio nos primeiros capítulos de seu livro História da Revolução Russa escrito em 1930:

“De fato, estabeleceu-se que a Revolução de Fevereiro foi desencadeada por elementos da base que ultrapassaram a posição das suas próprias organizações e que a iniciativa foi espontaneamente tomada por um contingente do proletariado explorado e oprimido mais que todos os outros – as trabalhadoras do têxtil, cujo número, deveria-se pensar, devia-se contar muitas mulheres soldados. (...) O número de grevistas, mulheres e homens foi, nesse dia, cerca de 90 000. (...) Em diversos bairros apareceram bandeiras vermelhas cujas inscrições atestavam que os trabalhadores exigiam pão, mas não queria mais autocracia nem guerra. O 'Dia das Mulheres' tinha conseguidoEle estava cheio de entusiasmo e não tinha causado vítimas." (TROTSKY, 1930)

Aquele 23 de fevereiro não terminaria ali. Nos dias seguintes mais operários/as se juntavam às manifestações, as forças policiais se dividiam entre a repressão e a simpatia ao movimento e as palavras de ordem por pão, paz e terra ecoavam pelas ruas de Petrogrado.

Importante destacar que o levante de Petrogrado não foi um levante só de mulheres desprezado pelos homens, como defendem setores do pós-modernismo sempre que querem problematizar um suposto papel secundário das mulheres na revolução. A greve do dia 23 foi um poderoso dia de levante de trabalhadoras e trabalhadores impulsionado por um de seus setores mais precarizados, as tecelãs, contra o absolutismo do Czar e que atropelou e arrastou consigo uma direção que inicialmente estava vacilante. No texto mulheres militantes nos dias da Revolução de outubro, Aleksandra Kollontai fala sobre o papel das mulheres. Dele, destaco o seguinte trecho:

As mulheres que participaram na Grande Revolução de Outubro – quem eram elas? Indivíduos isolados? Não, havia multidões delas; dezenas, centenas e milhares de heroínas anônimas que, marchando lado a lado com os operários e camponeses sob a Bandeira Vermelha e a palavra-de-ordem dos Sovietes, passou por cima das ruínas do czarismo rumo a um novo futuro. (...) No ano de 1917, o grande oceano de humanidade se levanta e se agita, e a maior parte deste oceano feito de mulheres… Algum dia a história escreverá sobre as proezas dessas heroínas anônimas da revolução, que morreram na Guerra, foram mortas pelos Brancos e amargaram incontáveis privações nos primeiros anos seguintes a revolução, mas que continuou a carregar nas costas o Estandarte Vermelho do Poder Soviético e do comunismo. (Kollontai, 1927)

Essas trabalhadoras conquistaram o que nenhuma democracia burguesa havia dado até então. O Estado Revolucionário garantiu igualdade política e jurídica a mulheres e homens, o direito ao divórcio e ao aborto, a construção de creches, restaurantes e lavanderias públicas e consolidou  em 1922 o dia  8 de março como Dia Internacional das Mulheres em alusão a greve das tecelãs de Petrogrado.

A Revolução Russa foi um divisor de águas nas lutas feministas do início do século XX, pois de um lado as trabalhadoras em todo o mundo abraçavam o socialismo e reivindicavam para si conquistas das trabalhadoras soviéticas; por outro lado, as mulheres burguesas se lançavam em defesa de sua classe, pois lutavam por questões pontuais: igualdade de gênero, desde que isso não significasse perder seus privilégios. Muitas foram às associações, clubes e grupos de mulheres (em geral da alta-sociedade) contra o comunismo, fundados naquele período.

Infelizmente, o triunfo do stalinismo e a burocratização do estado soviético, a partir de 1923, interrompeu esse processo de (auto) libertação das mulheres antes que ele se completasse, revertendo diversas conquistas das mulheres e jogando o 8 de março no esquecimento por décadas. Somente nos anos de 1960 é que o Dia Internacional da Mulher veio a ser retomado: tanto pelo stalinismo mundial, que o resgatou já com o mito da greve de 185, como pela burguesia em 1975, quando a ONU reconheceu oficialmente a data buscando dar respostas ao novo ascenso da luta das mulheres que se gestava naquele período.

Seguir o exemplo das tecelãs de Petrogrado! Viva a luta das mulheres! Viva a Revolução Russa!

100 anos após a Revolução, o capitalismo mostra sua face patriarcal na Rússia: em janeiro deste ano foi aprovada a lei que descriminaliza a violência doméstica e em todo o mundo a crise capitalista atinge com mais força as mulheres superexploradas e oprimidas.  Poderosos levantes de mulheres explodem no mundo contra o patriarcado e relembrar a história do 8 de março, dia em que iremos mais uma vez às ruas, é muito importante para demonstrar que essa data não é sobre a burguesia e seus métodos assassinos e cruéis, nem sobre repressão. É sobre o poder das mulheres trabalhadoras e seus métodos. O 8 de março é um dia para ir à luta e incendiar o mundo como o fizeram as tecelãs em 1917.
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Joice Souza é jornalista e militante da tendência sindical Combate - Classista e pela Base.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Situação temerária: Senado aprova MP do Ensino Médio

Estudantes protestam na Av. Paulista contra a Reforma do Ens. Médio. Outubro/2016. Foto: Alexandre Maretti.
por Marcus Benedito

Em meio a crise do sistema penitenciário brasileiro e do sistema de segurança pública no Espírito Santo (ES), Rio de Janeiro (RJ), Pará (PA) com 3 policiais militares mortos esta semana e dezenas de civis executados no ano de 2017, os nada honoráveis parlamentares em Brasília seguem aprovando medidas que representam históricos retrocessos, como foi a aprovação hoje em turno único do Senado da medida provisória (MP) 746, que institui a Contrarreforma do Ensino Médio.

O governo Michel Temer (PMDB/PSDB) comemorou a aprovação. O vampiro vibra quando se apossa do banque de sangue. 
Os movimentos sociais de docentes, servidores e estudantes repudiaram tal medida. O dirigente da juventude Vamos à Luta e estudante de Geografia da Universidade Federal do Pará  (UFPA), Eziel Duarte, falou que se trata de um retrocesso sem precedentes, que "viola a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, precariza a formação, piora o ensino e reduz postos de trabalho, na medida que diversas disciplinas perderão caráter obrigatório".

De fato, essa absurda Contrarreforma acabou com a obrigatoriedade nos três anos de ensino médio de disciplinas fundamentais para a formação do pensamento crítico e para as humanidades. Estão nessa guilhotina as disciplinas de História, Geografia, Artes, Educação Física, Filosofia e Sociologia. Outras, como Música e Teatro, sequer foram citadas. E olha que música é preconizada na LDB.

O caso é de muita gravidade. Como tudo que faz, o ilegítimo presidente Michel Temer não passa de retórica quando fala dessa contrarreforma do ensino médio. O que ela faz é atingir drasticamente a qualidade do que vai ser ensinado e aprendido nas escolas do país e pavimenta o caminho da educação pública para a privatização. Tudo para engordar os tubarões de ensino e os banqueiros.

Fecha escola, abre presídio

Ao introduzir a figura do "professor de notório saber", o que se pretende na verdade é acabar com a formação crítica e com as licenciaturas, interferindo na qualidade e condições de trabalho docente. 

Esse processo, diferentemente do que foi anunciado pelo Ministério da Educação, não aumentará a carga horária, mas o contrário. O que acarretará também na diminuição das vagas em concursos públicos e postos de trabalho de qualidade social. Foi por isso que o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), se apressou em anunciar a catástrofe que é o fechamento de 65 escolas públicas no estado.

O PSOL entrou, logo que o governo anunciou de forma autoritária e unilateral a MP 746 em setembro de 2016, com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no Supremo Tribunal Federal questionando a proposta do governo.

Sobre ela, fez importante reflexão, em artigo no site Justificando, o professor Zacarias Gama:
"É uma proposta de reforma muito temerária, porque não apenas mexe no formato de oferecimento do ensino médio, no banimento da formação integral, mas nomeadamente na espantosa “remoção da ‘sociedade’ do seio das recentes tendências educativas modernas”. Conforme Ball nos diz, a educação está, cada vez mais, sujeita às “prescrições e assunções normativas do economicismo e do tipo de cultura na qual a escola passa a existir”. Esta reforma imposta autoritariamente por um instrumento de força, sem nenhum debate com a sociedade, aparentemente pragmática e livre de ideologia, coloca um ponto final no debate sobre princípios educativos promovido pela sociedade e mais tijolos na construção do que os liberais e neoliberais vêm chamando de Sociedade e Economia do Conhecimento. Conforme Ball disse é a “colonização das políticas educativas pelos imperativos das políticas econômicas”.

Unir as lutas

A população e os servidores têm demonstrado nos massivos e combativos atos no RJ e agora com a histórica luta das famílias (e a greve) dos policiais militares do ES, que compreenderam que só a luta muda a vida para melhor. 
Sexta-feira, 10, protesto idêntico de familiares de PM's ocorrerá em Belém. A saída está marcada para a avenida 25 de Setembro, atrás do Bosque Rodrigues Alves e rumará ao Palácio dos Despachos (sede do governo). 

Ótimo momento para todos os trabalhadores e movimentos sociais do estado se unirem a eles e demais indignados, para protestarem contra essa nefasta medida provisória do ensino médio, assim como para repudiar a calamidade na saúde pública, a matança nas periferias, os absurdos aumentos no IASEP e IPTU, bem como para lutar por melhores condições de trabalho e melhores salários em todas as categorias.
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Atualizado às 13h19, de 09/02/2017

Condução noturna


por Eduardo Protázio


Lançaram um roedor ao meio fio

- Sequer  esta é a pior parte! -

Lançado

Abatido

E abalado

Um roedor lançado ao meio fio

Em meio às grades que davam acesso à calçada 

a espera da condução noturna

Pés e pernas conviviam tranquila e pacientemente

no breve momento que este relato se apropriava da cena.

Por pouco alguém pisaria no finado roedor

desmantelando de vez as suas tripas

 e esbugalhando suas bolas oculares

Por pouco!

Um roedor fora lançado ao meio fio

Apunhalado por uma ou duas pauladas na caixa craniana 

( Ou na torácica talvez )

Contundentemente,  esta não é a pior parte!

O convívio pacífico com aquilo que representa qualquer roedor urbano hospedado em bueiros e valas comuns

comuns à pobreza e indignação

São amostras de que a barbárie e a miséria

Aparentemente 

Foram naturalizadas à indignidade humana

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Eduardo Protázio é estudante de Letras e militante da Juventude Vamos à Luta.
Ilustração: Steve Cutts.

Última edição às 21h38 - 09/02/2017 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Globalização de muros

Vamos falar sobre as barreiras do capital, do colonialismo e da xenofobia? É urgente!

Imagem: site Viva a Palestina
por Tailson Silva*

O nosso mundo atual, em que pese o discurso político dos ideólogos do capitalismo e da globalização, está recheado de barreiras que afetam de formas distintas os povos do mundo, mas que tem no projeto de acumulação capitalista o seu principal motor de desenvolvimento. Não tem como discutir o mundo atual sem traçar alguns paralelos sobre o processo de globalização e seus respectivos reflexos em nossa sociedade global.

A globalização é um dos processos de aprofundamento internacional da integração econômica, social, cultural e política, impulsionado em grande parte pela revolução industrial que aprofundou o avanço da técnica, reduzindo custos e modernizando os meios de transporte e comunicação dos países. O Fundo Monetário Internacional identifica quatro aspectos básicos da globalização: comércio e transações financeiras, movimentos de capital e de investimento, migração e movimento de pessoas e a disseminação de conhecimento. É notório que a globalização provocou a diminuição de fronteiras e barreiras para a circulação de mercadorias, capitais e informações, mas será que o mesmo ocorreu para a circulação dos seres humanos?

Outro elemento de contradição da globalização é a inclusão desigual em que os povos dos países subdesenvolvidos estão inseridas dentro do atual mercado capitalista mundial. Onde devido aos anos de saque das riquezas a partir do colonialismo europeu na América, Ásia, África e Oceania, e também de acordo com a atual divisão mundial do trabalho, os países desenvolvidos estabeleceram as primeiras barreiras aos povos do mundo subdesenvolvido: a barreira econômica! Onde segundo o geografo Milton Santos, produziram-se os espaços do mandar e do fazer.

Se não fossem só as barreiras econômicas, ainda existem as barreiras físicas espalhadas pelo planeta. Eduardo Galeano em 2006, escreveu o texto “Muros” descrito na integra abaixo:
“Muro de Berlim era a notícia de cada dia. Da manhã à noite líamos, víamos, escutávamos: o Muro da Vergonha, o Muro da Infâmia, a Cortina de Ferro... Por fim, esse muro, que merecia cair, caiu. Mas outros muros brotaram, continuam a brotar, no mundo, e ainda que sejam bem maiores que o de Berlim, deles fala-se pouco ou nada.
Pouco se fala do muro que os Estados Unidos estão a alçar na fronteira mexicana, e pouco se fala do arame farpado de Ceuta e Melilla. Quase nada se fala do Muro da Cisjordânia, que perpetua a ocupação israelita de terras palestinianas e daqui a pouco será quinze vezes mais longo do que o Muro de Berlim. E nada, nada de nada, se fala do Muro de Marrocos, que desde há vinte anos perpetua a ocupação marroquina do Saara ocidental. Este muro, minado de ponta a ponta e de ponta a ponta vigiado por milhares de soldados, mede sessenta vezes mais que o Muro de Berlim. Por que será que há muros tão altissonantes e muros tão mudos? Será devido aos muros da incomunicação, que os grandes meios de comunicação constroem em cada dia?”

O que Galeano escreveu há 11 anos é de uma atualidade impressionante. Há muitos muros do capital pelo mundo e que hoje não se falam nos meios de comunicação por se chocar com a ordem do capital vigente. Muitos na época em que escreveu este texto e o que talvez Galeano não imaginava é que hoje em dia não só esses mesmos muros ainda existem, como muitos outros surgiram ou se ampliaram.

Atualmente o mundo está cercado de muros, bloqueios econômicos, cercas e leis anti-imigração, tais quais as cercas na Europa (Hungria, Sérvia, Eslovênia e Áustria) para impedir a entrada de refugiados; o muro na fronteira dos Estados Unidos com o México para impedir a entrada de imigrantes latinos; os muros da colonização sionista na Palestina histórica; entre tantos muros no mundo, como nas cidades de Ceuta e Melilla na Espanha, no Marrocos, na fronteira da Arábia Saudita com o Iraque, na fronteira da Índia com Bangladesh e outros.

Talvez os muros mais simbólicos atualmente são os muros do apartheid e da colonização sionista na Palestina: 230 km na fronteira com o Egito; na fronteira com a Síria na altura das Colinas de Golã; na Cisjordânia, totalizando 760 km que separam o Estado de Israel da Cisjordânia, separam também a parte Ocidental de Jerusalém da parte Oriental, assim como separa as colônias sionistas dos territórios palestinos dentro da Cisjordânia e o muro de 30 km na fronteira com a Jordânia. Que servem para separar os colonos sionistas do povo palestino, ao passo que também servem para usurpar as terras dos palestinos. Tudo isso a serviço da total colonização sionista da Palestina.

Mas, não é só de muros e cercas que o capitalismo vive. Ainda há os bloqueios econômicos impostos por países imperialistas e colonialistas, como no caso de Cuba e Irã, assim como o nefasto bloqueio econômico de Israel a Faixa de Gaza. Bloqueio que é um método usado pelo sionismo contra a resistência Palestina e que em 2013 segundo dados da OCHA (Escritório das Nações Unidas para Assuntos Humanitários) atingia cerca 1,7 milhões pessoas e destruiu cerca de 120 mil empregos. Onde cerca de 300 mil palestinos da Faixa de Gaza (Um quinto da População da área) viviam com cerca de US$ 1 por dia (Dólar). Segundo a ONU, o bloqueio a Faixa de Gaza provocou o empobrecimento ainda maior, da população palestina da área, assim como a escassez de alimentos, água, energia, medicamentos, materiais de construção (fundamentais para reconstrução da região) e combustíveis que são constantemente impedidos de entrar em Gaza sem autorização de Israel. A situação de Gaza após os bombardeios de 2014 tornou-se ainda muito mais dramática.

Se não bastassem muros, cercas, bloqueios ainda tem as leis xenófobas e anti-imigração como o decreto de Trump que prevê a suspensão total, durante 120 dias, do programa de admissão de refugiados, assim como o congelamento, por três meses, da entrada no país de pessoas provenientes de sete países muçulmanos: Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen. Ou os planos de acolhimento de refugiados da União Europeia, que limitaram em 2015 a apenas 120 mil o número refugiados a serem acolhidos, que deveriam ser divididos entre os países membros, meta que sequer foi cumprida pelos arautos das ideias de “liberdade de locomoção” dos seres humanos.

Barreiras econômicas, muros, cercas, bloqueios e leis xenófobas e anti-imigração: Quando as barreiras do capitalismo não são econômicas, elas são físicas. E nossa resposta dever ser a derrubada de todos esses governos e barreiras a serviço do capital e contra os povos do mundo.
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Tailson Silva é professor de Geografia da rede pública, militante da CST/PSOL e colunista do Além da Frase.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A matança não para no Pará. Jatene é o grande culpado

Chacina de Belém: movimentos sociais e familiares de vítimas protestaram em 2014 pedindo justiça. Foto: Mário Quadros
Esses dias o povo de Belém viu a "maior chacina" do último período: 29 mortes, com a vítima que acaba de falecer no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência. Mortes ocorridas em menos de 24h, num movimento que sucedeu imediatamente a morte do soldado da Ronda Tática Metropolitana (ROTAM), Rafael da Silva Costa, 29 anos.

Ontem vi o triste e revoltante relato do estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA) e militante do PSOL, Adriano Mendes, dando conta da dor pela qual passa sua família: em menos de cinco meses, ele perde seu 2° primo assassinado por criminosos que agem impunemente no estado. Quadrilhas perigososas que envolvem policiais e que comandam milícias e grupos de extermínio, principalmente na Região Metropolitana de Belém (RMB).

As chacinas, o genocídio, a matança ocorrem todos os dias. Dezenas, centenas de mortes. Gente trabalhadora, honesta, estudante. Os únicos crimes que cometeram são os de viverem na periferia, serem pobres e pretos.

Semana passada uma amiga querida me relatou com o coração partido que seu irmão, igualmente jovem, negro, trabalhador, morador do Riacho Doce, bairro do Guamá, havia sido brutalmente morto por homens encapuzados, que atiram com técnicas de quem recebeu treitamento militar e que estavam no tenebroso carro preto. Já famoso por fazer matança impunemente nos bairros pobres da capital.

O fato é que essa situação já fogiu, há muito, ao controle. O Sistema de Seguranca Pública é ineficiente. As investigações são morosas. Só para exemplificar o nível da barbárie, praticamente ninguém foi punido em decorrência da chacina de 4 de novembro de 2014, quando mais de dez pessoas foram mortas a esmo  nas horas que se seguiram ao assassinato do Cabo Pet (que estava afastado de suas funções na PM), que segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias e Grupos de Extermínio no Pará da Assembleia Legislativa do Estado, tinha envolvimento com esses grupos criminosos.

O governador Simão Robson Jatene (PSDB), o secretário de estado de segurança pública, o comandante geral do estado maior da PM e o delegado deral de policícia civil são os grandes responsáveis por essa onda de crimes e violências que ocorrem na Região Metropolitana de Belém (RMB). Mas não os únicos. As corregedorias das polícias, o Ministério Público Militar e do Estado, assim como a Justiça também contribuem para esse quadro, quando a gente vê a impunidade seguir firme no Pará.

A sociedade anda apavorada com esse genocídio diário. Mas é necessário passar do medo a luta. Tomar as ruas, fazer protestos e marchar contra os responsáveis por essa matança. Não podemos ficar contando nossos mortos e sofrer com a notícia de quem foi o próximo. É preciso ir à luta!

Editado às 11h43, 01/02/2017.