terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Um ex-capitão preso. Um capitão em Davos. As milícias e os Bolsonaro: o que a foto não mostra?

Publico matéria especial da repórter do The Intercept Brasil​, Cecília Oliveira, onde ela mostra as estreitas ligações envolvendo um ex-capitão do BOPE e um major da PM, presos na manhã desta terça-feira (22/01), com as milícias, grilagem de terra, Queiroz, a execução da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL), e a famiglia Bolsonaro. Fatos extremamente graves, gravíssimos!, que exigem uma resposta contundente do judiciário, mas que só ocorrerá se a população tomar as ruas e exigir cadeia para todos os culpados, corruptos e para preparar um grande 08 de Março feminista e de luta para por abaixo todas políticas criminosas do governo Bolsonaro (PSL-PRTB-DEM) que visam retirar direitos da classe trabalhadora, da juventude, indígenas, quilombolas, LGBT's, negros(as) e povo pobre.


AS LIGAÇÕES DOS BOLSONARO COM AS MILÍCIAS

Quanto mais se descobre, mais próxima fica a relação da família com milicianos do RJ. E ela vai bem além de medalhas e homenagens. Agif/Folhapress.
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“HOJE É NO AMOR!”. A cena do miliciano Major Rocha felizão em um churrasco, em que ele comemora com tiros para o alto os quatro anos do centro comunitário em “Rio das Rochas”, no filme Tropa de Elite 2, é um bom retrato da realidade das milícias no Rio de Janeiro. “É tudo nosso!”, ele grita. Mas um dia a casa cai. E foi o que aconteceu hoje, quando o Ministério Público e a Polícia Civil anunciaram a prisão de cinco milicianos acusados de grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro. Não era a intenção – mas, por tabela, a operação, batizada de Intocáveis, também esbarrou em dois suspeitos da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Um deles, preso na operação, é o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira. Segundo a polícia, ele é grileiro nos bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena e chefe da milícia de Muzema, no bairro do Itanhangá – de onde o carro usado no assassinato de Marielle partiu. O outro é Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras e ex-policial do Batalhão de Operações Especiais, o Bope, que está foragido. Expulso da PM por envolvimento com um dos principais clãs da máfia do jogo do bicho no Rio, o ex-capitão investiu na carreira de mercenário, trabalhando para bicheiros, políticos e para quem mais pagasse bem.
O envolvimento do ex-caveira com o assassinato da vereadora e seu motorista foi revelado pelo Intercept na semana passada. Ao menos seis testemunhas citam o policial como o assassino. A escolha da arma, o uso de munição de uso restrito e a competência técnica na execução do crime apontaram para o Bope ainda em maio de 2018.
Diga-me com quem andas e eu te direi quem és
Devido ao ótimo “perfil técnico”, em 2005 Adriano Magalhães da Nóbrega recebeu a medalha Tiradentes, a mais alta honraria do Legislativo fluminense, por indicação do então deputado estadual, hoje senador eleito, Flávio Bolsonaro, do PSL, o filho 02 de Jair Bolsonaro. O ex-caveira também recebeu outras duas honrarias, de louvor e congratulações por serviços prestados à corporação, por atuar “direta e indiretamente em ações promotoras de segurança e tranquilidade para a sociedade”.
Flávio Bolsonaro também condecorou o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, que recebeu moção honrosa quando já era investigado como um dos autores de uma chacina de cinco jovens na antiga boate Via Show, em 2003, na Baixada Fluminense.
Quando estourou o escândalo do Coaf, Queiroz – velho amigo da família Bolsonaro – se escondeu em Rio das Pedras, reduto miliciano.
Os dois são suspeitos de integrar o “Escritório do Crime”, um grupo de extermínio apontado como responsável pelo assassinato da vereadora Marielle Franco. Quatro PMs ligados ao grupo já foram presos. Pereira será julgado em 10 de abril deste ano. O grupo é acusado ainda de extorsão de moradores e comerciantes, agiotagem e pagamento de propina.
Segundo o MP, o grupo de milicianos presos na operação Intocáveis agia na região das comunidades de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Foi justamente para lá que Fabrício Queiroz, o ex-PM e ex-assessor do senador eleito do PSL Flávio Bolsonaro foi se esconder depois que estourou o escândalo sobre sua movimentação financeira suspeita.
O Coaf detectou uma movimentação de R$ 7 milhões, incompatível com a renda do ex-assessor. O dinheiro era depositado por outros assessores de Flávio Bolsonaro e de seu pai, Jair Bolsonaro. A primeira-dama Michelle Bolsonaro chegou a receber um cheque de R$ 24 mil de Queiroz. Já Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos suspeitos no valor de R$ 2 mil cada.

Família, a sagrada base de tudo

A preocupação de Flávio Bolsonaro com a família é tocante. Além de arranjar emprego para a esposa e filhas de Fabrício Queiroz – uma delas como assessora fantasma de seu pai –, ele empregou também a mãe e a esposa do ex-Bope Adriano Nóbrega. Sim, o mesmo que é apontado como um dos assassinos de Marielle Franco.
A mãe do ex-policial, Raimunda Veras Magalhães, também é sócia de um restaurante que fica longe da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, mas em frente à do Banco Itaú onde foram feitos 17 depósitos em dinheiro vivo na conta de Queiroz. A esposa de Adriano seguiu o fluxo da família e também fez depósitos para o ex-motorista. As duas são citadas nas movimentações suspeitas detectadas pelo Coaf.
Flávio Bolsonaro segue a cartilha de dizer que “não sabia de nada”. Nem do que faziam seus próprios funcionários.
Assim como “certos petistas”, Flávio Bolsonaro disse em nota que não sabia de nada e que, devido às últimas notícias, se sente perseguido. “Quanto ao parentesco constatado da funcionária, que é mãe de um foragido, já condenado pela Justiça, reafirmo que é mais uma ilação irresponsável daqueles que pretendem me difamar”. O senador eleito jogou no colo do ex-assessor Queiroz a responsabilidade pelas indicações de seus assessores. Seu ex-funcionário aceitou de bom grado, enviando até uma nota à imprensa esclarecendo que, de fato, conhecida o ex-caveira Adriano e foi o responsável por indicar suas parentes para trabalhar para Bolsonaro.
Flávio ostenta no próprio Instagram sua foto com o pai, Jair Bolsonaro, e com os PMs Alan e Alex, presos na operação Quarto Elemento. Divulgação
É possível que Flávio Bolsonaro também não soubesse a ficha técnica de outros dois policiais que participaram de sua campanha e foram presos na Operação Quarto Elemento, também desencadeada pelo Ministério Público, que investigava uma quadrilha de policiais especializada em extorsões. Pode ser que ele também não soubesse que, de acordo com o MP, a milícia de São Gonçalo organizou um ato de campanha em favor do Coronel Salema, seu colega de partido, eleito deputado estadual com quase 100 mil votos.
Ah, essa última é difícil de negar: além dos dois terem feito campanha juntos, Flávio Bolsonaro chegou a anunciar: “mais um guerreiro ao nosso lado!”. Parece que agora está ficando claro a qual lado ele estava se referindo.

O Mecanismo

Orgulhosa de ser militarista, a dinastia Bolsonaro nunca escondeu seu apreço pela milícia, grupos de paramilitares formados por ex-policiais, PMs, bombeiros e agentes penitenciários que torturamroubamtraficamdominam economicamente, grande parte do Rio de Janeiro.
Flávio Bolsonaro já propôs inclusive a legalização desses grupos paramilitares. No início de seu segundo mandato na Assembléia Legislativa do Rio, em 2007, ele votou contra a instalação da CPI das milícias, que entrou em pauta após um grupo de milicianos torturar por horas a fio uma equipe de jornalistas do jornal O Dia. A justificativa? Milícias não eram tão ruins assim e as pessoas são muito felizes em áreas dominadas por paramilitares.
“Sempre que ouço relatos de pessoas que residem nessas comunidades, supostamente dominadas por milicianos, não raro é constatada a felicidade dessas pessoas que antes tinham que se submeter à escravidão, a uma imposição hedionda por parte dos traficantes e que agora pelo menos dispõem dessa garantia, desse direito constitucional, que é a segurança pública”, disse à época, na Alerj.
Em casa a banda toca nesse ritmo. Em 27 anos de discursos como deputado na Câmara, o pai Jair Bolsonaro defendeu milicianos “do bem” e grupos de extermínio pelo menos quatro vezes. A primeira, em 2003, ao defender grupos de extermínio:
“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio, porque no meu Estado só as pessoas inocentes são dizimadas.”
Em 2008, ao criticar o relatório final da CPI das Milícias, Bolsonaro disse que “não se pode generalizar” ao falar de milicianos. Na época, a CPI pediu o indiciamento de 266 pessoas, entre elas sete políticos, suspeitas de ligação com grupos paramilitares no Rio.
“Querem atacar o miliciano, que passou a ser o símbolo da maldade e pior do que os traficantes. Existe miliciano que não tem nada a ver com “gatonet”, com venda de gás. Como ele ganha 850 reais por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade. Nada a ver com milícia ou exploração de “gatonet”, venda de gás ou transporte alternativo. Então, Sr. Presidente, não podemos generalizar.”
Quando foi relembrado sobre este apreço pelas milícias durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro fez a egípcia e se disse desinteressado no tema. “Hoje em dia ninguém apoia milícia mais não. Mas não me interessa mais discutir isso”, disse.
Jair Bolsonaro, vale lembrar, foi o único presidenciável a não se manifestar sobre a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes. E Flávio Bolsonaro foi o único deputado que votou contra a vereadora assassinada receber a medalha Tiradentes como uma homenagem póstuma.
No fim das contas, o brasileiro parece ter eleito o Major Rocha achando que estava votando no Coronel Nascimento. Talvez seus eleitores precisem assistir à Tropa de Elite de novo.
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Sindicato inicia mobilização contra ataques de Bolsonaro aos direitos dos trabalhadores

O Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado do Pará (SINTSEP-PA), estará realizando assembleia geral dos filiados dia 24/01/2019 contra mais um ataque do governo Jair Bolsonaro (PSL-PRTB-DEM). Trata-se de portaria do governo que corta o adicional de insalubridade de várias categorias do funcionalismo público federal.

Em 22 dias de novo governo, o que temos visto são medidas que contrariam a expectativa de milhões de eleitores que apostaram na mudança e no combate à corrupção. Pelo contrário, além das denúncias de envolvimento de familiares do presidente em esquemas de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito, os atos do governo ultrarreacionário de Bolsonaro têm sido criminosos, como o Decreto que tira da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a prerrogativa de demarcação de terras indígenas e as transfere para as mãos de rapina do agronegócio (Ministério da Agricultura); o absurdo Decreto que facilita a posse de armas; a ameça de nomeação de 11 reitores biônicos de universidades federais, atacando o preceito constitucional da autonomia universitária, assim como a proposta ultra liberal da Reforma da Previdência.

A luta contra a Reforma da Previdência e o fim da insalubridade já movimentam os servidores federais e diversas categorias da iniciativa privada e servidores públicos. A promessa das centrais sindicais, que se reuniram no último dia 15/01/2019 em São Paulo, é de organização de plenária nacional, estaduais e o idicativo de lutas, greves e paralisações para combater os ataques de Bolsonaro e Paulo Guedes, seu super ministro da Economia.

Serviço:
Assembleia Geral dos filiados do SINTSEP-PA contra a retirada do adicional de Insalubridade. Dia 24/01, às 17h30. Local: sede estadual da entidade. Endereço: Tv. Mauriti, 2239, Marco, Belém-PA.

Qual a relação de Flávio Bolsonaro com o “Escritório do Crime”?

Imagem do Facebook.
por Luciana Genro

É escandalosa a notícia de que a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, um dos comandantes do “Escritório do Crime”, milícia suspeita do assassinato de Marielle Franco, eram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro, até novembro de 2018. A mãe do capitão foi, inclusive, uma das que fez repasses para Fabrício Queiroz, o ex-assessor de Flávio, hoje senador eleito e que tenta de todo o jeito se livrar dessa investigação.

Além disso, Adriano Magalhães Nóbrega e Ronald Paulo Alves Pereira, major da PM, integrante da mais perigosa milícia do Rio de Janeiro e os principais alvos da operação que prendeu nesta terça cinco suspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle, foram homenageados por Flávio Bolsonaro quando ele era deputado estadual no Rio. Na época, o major já era investigado por participar de uma chacina de quatro jovens.

Leia matéria de O Globo clicando aqui.
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Luciana Genro é deputada estadual eleita pelo PSOL/RS.

Rapper militante que enfrenta o sistema nas rimas e nas ruas lança nova música

Imagem: Divulgação.
By Hitchcock

por Joice Souza

Enxergar a vida como um filme do “mestre dos suspenses” é a realidade dos meninos das quebradas de nossa cidade, onde o racismo institucional, a PM, a própria universidade, os “mal-entendidos” os colocam o tempo todo na condição de vilões inocentes (os personagens acusados injustamente que precisam provar sua inocência encontrando os verdadeiros culpados). 

Imagem: Divulgação.
Daniel ADR  já encontrou o verdadeiro vilão e apontou suas armas para o sistema capitalista: é militante trotskista e rapper que faz de sua música uma denúncia constante ao extermínio da juventude negra nas periferias.

Suas letras cortam e sangram, transbordam a sensibilidade nem sempre tão perceptível no dia-a-dia com esse leonino chato com quem eu milito e passo boa parte do tempo.

O roteiro do filme de sua vida é ousado: o menino do Guamá que decidiu mudar o mundo ao invés de virar estatística. 

Essa espectadora aqui torce pelo final feliz. 

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Daniel ADR no Instagram: @_daniel_adr

Joice Souza é jornalista.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Repudiamos a extradição de Cesare Battisti

Cesare Battisti, na sede da polícia boliviana em Santa Cruz de La Sierra.  AFP
Neste sábado, 12 de janeiro, em Santa Cruz da Serra, Bolívia, foi detido Cesare Battisti. E num processo sumário, como se estivesse em meio de uma guerra ou grave perigo, o governo boliviano encabeçado por Evo Morales o entregou à polícia italiana, ainda que não exista acordo de extradição entre esses dois países.
Cesare Battisti, julgado à revelia, foi condenado a prisão perpetua pela justiça italiana, depois que um ex-companheiro do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) organização na qual militavam, se acolheu à delação premiada e lhe atribuiu os supostos crimes cometidos há mais de 30 anos. Por tanto foi uma condenação sem direito a defesa, sem provas confiáveis e em ausência do acusado.
Na época, lembrada como “anos de chumbo”, temendo pela sua vida, procurou refúgio na França, onde recebeu proteção sob a Doutrina Mitterrand. Derrubada essa doutrina por posteriores governos de direita, Battisti, depois de passagem pelo México, entrou no Brasil onde foi detido em março de 2007. Posteriormente, o governo petista lhe concedeu status de refugiado político. Depois das idas e vindas de diferentes recursos, em 13 de dezembro de 2018, o ministro do STF Luiz Fux, determinou sua prisão e no dia seguinte o ilegítimo presidente de Michel Temer assinou sua extradição.
Mais uma vez, Battisti, que em um de seus livros declarou que desde 1978 tinha abandonado a luta armada, teve de fugir. Desta vez para Bolívia, onde procurava asilo político. Porém, o “progressista” governo Evo Morales, não somente não lhe concedeu asilo, como o entregou de forma sumária às autoridades do direitista governo italiano que ameaça fazer cumprir a condenação de prisão perpetua com “restrição da luz solar” tal como dita a condenação pronunciada em tempos que vigorava uma legislação de exceção questionada por vários juristas italianos.
A CST, como parte de uma corrente internacional se opõe às ações guerrilheiras como política estratégica e à utilização de métodos terroristas isolados das massas trabalhadoras, não compactua com as políticas defendidas pela organização na que militava Cesare. Porém, rejeitamos a condenação da Battisti pelo estado repressor italiano dos “Anos de Chumbo”. É evidente que esse processo foi uma verdadeira fraude. No processo inicial de 1979, quando Battisti foi detido, não lhe foi atribuída qualquer relação com esses crimes cometidos pela sua organização, ainda que fosse condenado a 12 anos de prisão. Porém, 10 anos depois, na sua ausência, sem direito a defesa, todos esses crimes lhe foram atribuídos por um “arrependido” o que derivou na prisão perpetua.
Repudiamos a atuação dos governos de Brasil e Bolívia que se colocam a serviço da justiça de um regime que não oferece garantias de defesa, como o encabeçado pelo Ministro italiano Matteo Salvini. Enquanto não são julgados os graves crimes de estado cometidos durante a ditadura militar, o governo Bolsonaro compactua com Evo Morales na extradição de Cesare Battisti. Não podemos aceitar uma condenação à revelia por supostos crimes narrados por um arrependido que foi premiado por sua delação. Junto às organizações sindicais que assinam o manifesto da CSP-Conlutas, repudiamos a extradição e exigimos amplo direito de defesa para Cesare Battisti!
14/01/2019 - CST/PSOL