sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A Hydro promove barbárie em Barcarena

São gravíssimos os fatos que ocorrem em Barcarena, ao lado de Belém, capital do Pará. Não é de hoje que a região sofre com os grandes projetos instalados em Vila do Conde, no município de Barcarena, às margens de um dos mais fantásticos ecossistemas do planeta: a baía do Rio Pará ou do Marajó.
Desde quando o então governador Jader Barbalho (PMDB) se vendeu para os japoneses interessados nos incentivos dados pelos militares para que indústrias neocolonizassem a Amazônia. Vieram os grandes projetos mineros siderúrgicos. Indústria pesadíssima. Verdadeiros dragões encravados no coração da floresta e de seus rios e lagos. Para que o mega parque de alumina e alumínio pudesse existir ao largo de um destruidor mega porto, era necessário fazer energia. Por isso o show de horrores e corrupção que está aí: usina hidrelétrica de Tucuruí. Uma das três maiores do mundo. E Barcarena abrigou o maior complexo industrial da Amazônia Legal. Explorando e adoecendo seu povo, poluindo tudo, matando tudo.
Hoje a Albrás/Alunorte está sob o controle da multinacional norueguesa Nosrk Hydro e a Hydro patrocina mais do que diz sua propaganda fajuta na TV com o A-HA. No olho da pororoca estão as populações tradicionais. Tal qual a canadense Belo Sun (com os dentes prontos para rapinar o ouro do Xingu), que patrocina a violência e o abuso às liberdades constitucionais, ao passo de invadirem um seminário na Universidade Federal do Pará (UFPA), agredindo a renomada Prof. Dra. Rosa Acevedo Marin, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) desta instituição, a Hydro e tantas outras empresas não se milidram quanto a prática de crimes.
Para isso contam com as elites locais, os governos e seu aparato repressor.
É o que várias comunidades vem denunciando há tempos. Mas agora as coisas ficaram muito mais evidentes. As multinacionais já não conseguem comprar todo mubdo. Como também já não conseguem mais calar a voz do povo indignado São mais de 60 comunidades tradicionais que sofrem de forma direta os impactos da forma criminosa como estas indústrias vem desenvolvendo suas atividades na Vila do Conde e região.
É o que veremos na matéria abaixo do renomado repórter Carlos Mendes publicada em seu blog Ver-O-Fato. É preciso denunciar e lutar contra esses abusos. O governador Jatene, o secretário de segurança pública, o comando da Polícia Militar do Estado do Pará e a Hydro serão responsabilizados se algo vier a ocorrer contra a vida e dignidade das liderenças comunitárias de Barcarena.

LÍDER COMUNITÁRIA QUE DENUNCIOU HYDRO FAZ OCORRÊNCIA DE INVASÃO DE DOMICÍLIO CONTRA CAPITÃO DA PM E 5 MILITARES

por Carlos Mendes

A líder comunitária de Burajuba, em Barcarena, Maria do Socorro Costa da Silva, há tempos está jurada de morte por forças poderosas que atuam naquele município, hoje transformado em lixeira de empresas multinacionais.

Ne véspera do Natal, sem qualquer ordem judicial, a casa de Socorro foi invadida por policiais militares comandados pelo capitão Gama e um soldado identificado por José, além de outros 4 militares. Eles alegaram, para entrar no domicílio sem o consentimento dos proprietários, violando a Constituição Federal, que estavam à procura de um indivíduo não identificado.

 Segundo boletim de ocorrência registrado na Corregedoria da Polícia Militar por Socorro Silva, os militares interrogaram os moradores sobre os pertences da casa, acusando-os de ter muitas coisas. Socorro não estava na residência na hora da invasão.

Ha cerca de 15 dias, Socorro e o líder comunitário Bosco de Oliveira estiveram no programa "Linha de Tiro", ao vivo, transmitido habitualmente toda quinta-feira à noite pelo Facebook e na página do Ver-o-Fato, denunciando a empresa norueguesa Hydro por crimes ambientais. Eles também já fizeram outras denúncias pela imprensa contra grandes grupos multinacionais, como Bunge e Imerys, por poluição de rios, igarapés e matas da região.

"Já tive minha casa invadida por seis vezes e até hoje sofro ameaças de morte", afirmou Socorro. Por outro lado, Bosco Oliveira também já foi vítima de atentado a bala e invasão de domicílio e tem sido alvo de "armações" de policiais que a todo custo tentam incriminá-lo, sem provas.

 Proteção e denúncia

 O advogado Ismael Moraes, defensor das 60 comunidades de Barcarena, informou ao Ver-o-Fato que, baseado no BO feito por Socorro Silva à corregedoria da PM irá solicitar garantias de vida para ela e para Bosco Oliveira, denunciando a invasão de domicílio à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e à Promotoria Militar para que sejam tomadas providências.

De acordo com Moraes, a responsabilidade pelas perseguições aos líderes comunitários é do governo Simão Jatene, que nada tem feito para apurar os crimes denunciados pelas entidades e movimentos sociais de Barcarena. Nota do blogue: o Ver-o-Fato não conseguiu falar com os militares citados no BO de dona Socorro Silva, mas abre espaço para que eles se defendam e apresentem suas versões dos fatos acima publicados, já objeto de investigação pela Corregedoria da PM.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Tem um filme por trás da foto


por Marcus Benedito 

Uma imagem. Milhões de interpretações e palavras. Mas o assombro maior é porque é um garotinho preto. E os assombrados já têm um estereótipo montado. Pretinho, sem camisa. No frio do mar gelado. Abobalhado ao mirar os fogos. Pobre, lascado. É o que pensaram. No outro plano, os de branco. Curtindo a virada. Aperentemente ignoram o menino. Importando-se mais com suas autoimagens, autoretratos, festa entre amigos. 
O fato é que, infelizmente, a maioria que não nutre qualquer carinho ou preocupação para com os meninos pretos, que vestem berbudão, andam descalços, sem camisa, se viu de alguma forma nesta foto do Lucas Landau. Que aliás, disse não ter lucrado um centavo com ela. Pelo menos “até encontrar o menino e/ou seus pais”. Mas o mais importante que tudo isso é a cotidiana constatação de que a pobreza existe. A violência cotidiana existe. 
Na virada do ano, em Belém, foram executados por bandidos num carro preto, pelo menos 5 meninos. 5 adolescentes. Precisa dizer a cor do tom de pele deles? Pretos. De famílias humildes. Bairros periféricos. Uma verdadeira guerra aos pobres. Genocídio da juventude negra. Motivo de campanha permanente da Anistia Internacional com o tema “Queremos nossos jovens negros vivos!”. 
Enquanto filas se formam na Flórida (EUA) para comprar maconha para fins recreativos, um estrondoso avanço contra a falida “guerra às drogas”, o Brasil detém uma das maiores populações carcerárias do planeta. Mais de 600 mil pessoas. Fruto da perniciosa Nova Lei de Drogas sanciona por Lula da Silva em 2004. Mais de 40% se quer foi julgado. Maioria esmagadora acusado de tráfico de maconha. Nos depósitos desumanos chamados prisões país afora. Maioria jovens. Precisa dizer o tom da cor da pele deles. Quase todos pretos. Pobres. Sem defensores públicos, tampouco advogados. Distantes das vistas do Conselho Nacional de Justiça. Todo mundo sabe que essa barbárie existe. Mas nos órgãos competentes e principalmente nos governos e parlamentos quase ninguém faz nada. E a crise se grava. 
Explodem nas ruas e rebelioes em penitenciárias superlotadas país afora. Jovens, réus primários. Pegos com quase nada de birra. Juntos a mestres do crime organizado. Combinação explosiva. Tragédia pura. O fato, novamente, é que tudo isso comprova que os meninos pretos, de bermudão, sem camisa, descalços e de estômago vazio existem aos milhões neste país. Vulneráveis a todo tipo de aliciamentos e perigos. Principalmente do tráfico, exploração e abuso sexual. 
Segundo o IBGE, em recente pesquisa divulgada, são 54 milhões de pessoas que vivem com menos de R$ 340 por mês. 54 milhões de brasileiros vivendo na miséria absoluta. Precisa dizer a cor do tom da pele deles? Maioria esmagadora de pretos e pardos. Nas ruas, sem carinho, sem atenção. Torço para que este maravilhado garotinho na foto não esteja nesta condição. Mas tem uma grande chance de estar. Ainda mais ali em Copacabana. Rodeada de comunidades de gente trabalhadora, honesta, pobre e preta. 
A foto do Landau foi muito além da imagem. Mexeu com os indivíduos. Como o próprio disse: possibilitará “várias interpretações”. Muitas legítimas. Outras carregadas de hipocrisia. Principalmente quando partem de veículos de comunicação e pessoas racistas, preconceituosas com a classe trabalhadora e que fecham o vidro do carro quando um menino de bermudão, pretinho e descalço vai vender uma balinha ou pedir algum trocado. E nós seguimos com um filme de terror diário para ser vencido. O filme da discriminação, desemprego, violência e tortura, que atingem, principalmente, o povo preto e pobre. 
Por isso nos cabe arregaçar as mangas e ir à luta contra esse regime apodrecido, governado por corruptos, num sistema excludente. Seis brasileiros controlam a metade das riquezas deste país. Precisa dizer a cor do tom da pele deles? Todos brancos. Magnatas. Com suas coberturas. Lá de cima, assistindo a todo esse panavoeiro. Resolutos. Pouco se lixando para os mais de 13 milhões de desempregados deste país. Para os 12 mil que perderam o emprego só em novembro/2017 devido a contrarreforma Trabalhista. Só pensam em seus lucros e dividendos. 
Meia dúzia de bilhardários responsáveis pela legião de homens e mulheres sobrevivendo na indigência e subemprego. Romper essa lógica é o caminho para ver além da foto. E o #ForaTemer e a greve geral não poderão ser meros coadjuvantes nesse roteiro. São condições fundamentais para nos livrarmos desse regime apodrecido e melhor acompanhar e proteger os milhões de meninos e meninas pret@s, que não tiveram a condição de terem suas vidas possivelmente mudadas, fruto de uma fotografia polêmica na última passagem de ano. 
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Marcus Benedito é servidor público no Pará e militante da CST/PSOL. Publicado originalmente no site da CST/PSOL.