Pronunciamento na Câmara, do deputado federal Ivan Valente (PSOL/SP), dia 25/02, sobre o silêncio da mídia e das autoridades brasileira acerca do chamado caso "SwissLeaksHSBC".
por Ivan Valente
Desde meados de fevereiro tem circulado na imprensa mundial o vazamento
de uma vasta documentação revelando que a filial do HSBC na Suíça foi
cúmplice de uma série de crimes financeiros. As informações foram
vazadas por Hervé Falciani, ex funcionário do próprio banco, que acusou o
HSBC de criar um sistema de auto enriquecimento através da evasão de
divisas e lavagem de dinheiro, tudo à
custa da sociedade. Os dados estão de posse do Consórcio Internacional
de Jornalismo Investigativo - ICIJ (International Consortium of
Investigative Journalism). A operação foi batizada de “Swissleaks”.
Trata-se do maior vazamento de dados bancários da história, algo em
torno de US$ 120 bilhões – o equivalente a 340 bilhões de reais na taxa
atual de câmbio, correspondendo ao período de 2005 a 2007, envolvendo
106 mil clientes de 203 países, que tinham depositado nas contas
secretas do HSBC suíço.
Mas a prática criminosa do HSBC parece
não estar restrita a sua filial suíça. Segundo o jornal britânico “The
Guardian”, o próprio presidente-executivo do HSBC, Stuart Gulliver, que
veio recentemente a público prometer “reformar o banco”, escondeu
milhões de libras em uma conta na Suíça por meio de uma empresa no
Panamá. Ou seja, uma farra financeira que envolve, além dos clientes de
má procedência, os próprios executivos do HSBC. Pratica esta que
certamente tem contribuídos para engordar os lucros do bancos, que em
2014 foram em torno de 13 bilhões de libras.
O Brasil é o
quarto país em número de clientes que constam nos documentos vazados
pela ICIJ, com 8.667 potenciais sonegadores, que somam um montante de
aproximadamente 8 bilhões de dólares - quase 20 bilhões de reais. Os
nomes dos brasileiros ainda não foram amplamente divulgados. Apenas o
jornalista do UOL, um dos brasileiros vinculados ao ICJI, recebeu a
lista, que teria sido encaminhada à Receita Federal para averiguação.
Fernando Rodrigues divulgou apenas 11 pessoas da lista de brasileiros
até agora, segundo ele ligadas ou citadas de alguma forma no escândalo
da Operação Lava. Entre os nomes divulgados por Rodrigues estão o
ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, delator na Operação Lava Jato e
que já havia revelado ter mantido valores no HSBC, oito integrantes da
família Queiroz Galvão, o empresário Júlio Faerman (ex-representante da
holandesa SBM) e o doleiro Henrique Raul Srour.
Outros nomes
como o de Robson Tuma fariam parte da lista - segundo o jornalista Luis
Nassif o endereço do ex-deputado ((Avenida Cauaxi 189, ap 203,
Alphaville, Barueri) aparece na lista do HSBC. Ou do banqueiro Edmond
Safra, do Banco Safra, e a família Steinbruch, dono da Vicunha e da CSN,
segundo o jornalista Miguel do Rosário. “O Banco Safra foi o banco
usado pela Globo para comprar os dólares que enviaria às Ilhas Virgens
Britânicas, quando se envolveu naquela “engenhosa operação” para
adquirir os direitos de transmissão da Copa de 2002 sem pagar os devidos
impostos”, afirma o jornalista.
Mas apesar da grande dimensão
do escândalo, e do fato do Brasil ocupar o quarto lugar na lista de
potenciais sonegadores, há hoje em nosso país um silêncio sepulcral da
grande mídia sobre o assunto, assim como dos líderes da oposição de
direita e do próprio governo. Talvez porque muitos dos seus façam parte
da lista, além do fato óbvio de que não há por parte destes segmentos
muita disposição em enfrentar os ricos e poderosos, suspeitos de estarem
envolvidos até o pescoço no maior escândalo financeiro que se tem
conhecimento.
Até agora, só o que temos de concreto são
declarações de intenções dos órgãos do governo brasileiro de que os
documentos serão analisados, mas numa morosidade que beira a paralisia. A
Receita Federal, por exemplo, divulgou uma nota de esclarecimento,
afirmando que estava investigando o caso, apenas três meses após ter
recebido a lista das mãos do jornalista Fernando Rodrigues, da UOL -
único jornalista brasileiro membro da ICIJ que recebeu os dados do
vazamento.
A sociedade brasileira precisa pressionar o governo
e o parlamento para que a apuração deste escândalo se dê de forma
imediata, com a divulgação pública dos nomes comprovadamente envolvidos
nos crimes financeiros de sonegação e evasão fiscal. Da mesma forma, a
mídia deve colocar em prática seu discurso em defesa do direito à
informação, com a divulgação do fato e da lista de brasileiros com
contas secretas na suíça. Uma informação que, aliás, já deveria ter sido
solicitada oficialmente pelo governo Brasileiro, por envolver questões
de interesse nacional.
É um absurdo que os partidos da base do
governo e da oposição de direita, com o evidente apoio da grande mídia,
falem em “ajustar as contas públicas” por meio de corte de gastos
sociais e redução de direitos trabalhistas enquanto os mais ricos que
sonegam impostos e guardam suas fortunas em paraísos fiscais permanecem
impunes.
A economia de R$ 18 bilhões anunciado pelo Ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, por meio da restrição de direitos como o
seguro desemprego, seguro defeso, pensão pós-morte e auxílio doença,
representa menos do que o montante de 20 bilhões de reais guardadas por
brasileiros nas contas secretas do HSBC suíço. Isso num quadro em que o
governo e seu ministro da fazendo não tem qualquer disposição para
adotar medidas redistributivas fundamentais, como é o caso da Reforma
Tributária de caráter progressivo e a taxação das grandes fortunas.
Em contra partida, nos últimos dois anos, o governo federal deixou de
receber, a título de renúncia fiscal, R$ 200 bilhões de reais devido às
isenções concedidas ao setor empresarial, que foram beneficiados pela
redução de alíquotas, isenção de IPI e desonerações.
Exigimos a
apuração imediata do escândalo do HSBC, com a adoção de todas as
medidas legais cabíveis para garantir a punição dos sonegadores e o
ressarcimento dos recursos aos cofres públicos.
Muito obrigado.
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