terça-feira, 30 de agosto de 2011

Caiu o ditador Kadafi! Todo poder às milícias! Fora ingerências do imperialismo! Avançar na Democracia!

Do blog do Miragaia:


Todo poder às milícias populares na Líbia! Fora intervenção imperialista!


Por Miguel Ángel Hernández*

Desde que o povo tunisiano se alçou contra a ditadura pró-imperialista de Ben Alí um poderoso processo revolucionário se pôs em marcha em todo o Mahgreb e Oriente Médio, colocando em xeque ditaduras e monarquias da região. Com a queda do ditador Mubarak no Egito, a revolução dá um salto importante e cambaleia ainda mais o maltratado poder do imperialismo, em pleno processo de retirada do Iraque e Afeganistão. Protestos massivos e insurrecionais populares explodem em Bahrein, Yêmen, Jordânia, Síria e Líbia. A maioria das organizações operárias e de esquerda árabes se colocam do lado dos povos em luta e defendem suas demandas. Em todo esse processo só o chavismo e uma parte do estalinismo se atrevem a colocar-se do lado das ditaduras. Por essa razão o debate sobre as revoluções árabes, e particularmente sobre a revolução líbia adquire muita importância na Venezuela.

Kadafi, um lacaio do imperialismo


Recordemos que a primeira reação de Chávez ante a explosão revolucionária foi consultar aos ditadores da Líbia e Síria sobre a situação regional. No caso do Egito incluso até um chamado a canalizar as demandas populares pela via da institucionalização da ditadura. Uma posição reacionária em toda sua linha. Assim como Chávez, o ditador líbio Muammar Kadafi condenou os levantes populares na Tunísia e Egito dizendo que o povo devia esperar pela realização de eleições nesses países para resolver suas exigências. Evidentemente, os chefes dos estados burgueses são alérgicos a revolução. Não tardou em eclodir a revolução na Líbia e as manifestações populares foram reprimidas com brutalidade pela ditadura. Houve avaria do aparato repressivo e administrativo do Estado líbio, o qual passou a uma guerra civil. Esta é a origem do conflito que esta semana alcança seu ponto culminante nas ruas de Trípoli e Sirte.


É preciso esclarecer uma vez mais que Kadafi não é o “Simón Bolívar da África”, como o batizara Chávez ao condecorá-lo com uma réplica da espada de El Libertador em Caracas. Mas sim o “Calígula da Líbia”, um ditador enlouquecido que abandonou suas posições independentes dos anos 70 e 80 para dar um giro na última década e entregar seu país as transnacionais imperialistas. Além de desnacionalizar o petróleo e o gás, deu as costas para a luta palestina, cooperou com a “luta contra o terrorismo” dos ianques e converteu seu país em um campo de concentração de imigrantes africanos detidos em sua rota para a Europa. Tantos méritos contrarrevolucionários acumulou que em poucos anos se converteu em sócio de notórios direitistas europeus como Berlusconi, Blair, Zapatero e Sarkozy. Até Condolezza Rice, a assassina dos povos afegão e iraquiano o visitou em Trípoli.

Revolução Popular ou invasão?


A continuidade que guarda a revolução líbia com o conjunto do processo revolucionário árabe é inocultável. A mobilização popular nesse país africano eclode ao mesmo tempo que em quase todo o mundo árabe, estimulado pelo triunfo popular na Tunísia e também com as mesmas consignas sociais e políticas que no resto dos países da região que são sacudidos pela chamada “primavera árabe”. Desde reivindicações políticas de caráter democrático como a liberação dos presos políticos, a liberdade para organizar sindicatos, grêmios independentes e partidos políticos, até reivindicações sociais como distribuição de renda mais igualitária, contra o desemprego, contra o alto custo dos alimentos. Certamente um quadro que não corresponde em nada a caricatura divulgada pelo governo venezuelano o qual sustenta que a revolta líbia não seria uma genuína insurreição popular e sim obra de “mercenários a serviço do imperialismo”, cujo propósito seria “entregar o petróleo líbio as transnacionais.



A atual ministra venezuelana da juventude Mary Pili Hernández, entrevistou em primeiro de março deste ano através da Unión Radio, o correspondente Reed Lindsay, da Telesur, que deixou um contundente testemunho acerca do caráter popular e anti-imperialista do levante popular na Líbia. Disse Lindsay: “Há provas contundentes de que o governo de Kadafi ordenou a suas forças de segurança disparar nos manifestantes desarmados e disparar para matar... O que nos perguntamos é por que o presidente da Venezuela apoia a este governo de Muamar Kadafi? É algo que nos perguntamos em vários lados, por que o presidente venezuelano e outros mandatários da América Latina que estão a favor dos processos sociais estariam apoiando a um ditador que dispara contra seu próprio povo. (Os rebeldes) Não querem a intervenção dos EUA, dizem que morrerão lutando contra a ditadura de Kadafi ou contra os EUA... Os mesmo protagonistas da rebelião dizem que não tem nada haver com os EUA, não querem nada com a Europa. É algo muito importante destacar porque aqui se veem pessoas de todas as classes sociais, trabalhadores profissionais, médicos, engenheiros, mulheres, crianças, é sem dúvida uma rebelião popular”.



Esse testemunho retrata de maneira impecável o sentimento do povo insurreto, que esperava contar com o apoio dos governos latino-americanos que dizem ser “anti-imperialistas”. Mas ao invés disso encontraram um Chávez que apoia e segue apoiando de maneira incondicional o ditador pró-imperialista Kadafi. Não se pode perder de vista que as mesmas massas que se levantaram em fevereiro e tomaram armas, são as que seguem combatendo hoje. Esse esclarecimento é necessário tendo em vista que algumas organizações de esquerda sustentam que o caráter da rebelião líbia mudou e desapareceu todo elemento progressivo nela a partir da intervenção imperialista. Por acaso a intervenção imperialista fez desaparecer aos combatentes líbios ou esvaziou suas motivações originais? Claro que não, mas tal é a versão sustentada por algumas organizações que inclusive se reivindicam marxistas, todo um lamentável exemplo de sectarismo e esquematismo.



Os revolucionários estão obrigados a ir além de uma superficial e falsa identificação entre os movimentos de massas e suas direções. Desta maneira, por exemplo, respaldamos a luta do povo hondurenho contra o golpe de estado e exigimos a restituição das liberdades democráticas nesse país e acompanhamos a reivindicação de que fosse restituído a presidência Manuel Zelaya, apesar de que sabemos que Zelaya é um terratenente liberal a quem não apoiamos politicamente em absoluto. Também lutamos nas ruas em 13 de abril de 2002 para derrotar o golpe fascista sem que nos impedisse o fazê-lo o programa nacionalista burguês de Chávez, que não compartilhamos. Igualmente na Líbia chamamos a apoiar a luta do povo que se alçou contra a ditadura, sem confiar na direção do Conselho Nacional de Transição (CNT) e rechaçando rotundamente a intervenção imperialista da OTAN.

A intervenção imperialista e o petróleo líbio


Os socialistas revolucionários rechaçam clara e contundentemente, desde o primeiro momento a intervenção imperialista na Líbia, pois esta tem um propósito contra revolucionário. Não poderia ser de outra maneira. No entanto, é importante desmontar as mentiras daqueles que apoiam a Kadafi com o argumento de que o imperialismo quer apoderar-se do petróleo líbio. Em sua coluna de opinião “Reflexões”, de 4 de março deste ano, o próprio Fidel Castro retrata a Kadafi como um aliado do imperialismo que se encarregou de privatizar o petróleo e as mais importantes empresas públicas:



"É um fato irrefutável que as relações entre EUA e seus aliados da OTAN com a Líbia nos últimos anos eram excelentes, antes de surgir a rebelião no Egito e na Tunísia. Nos encontros de alto nível entre Líbia e os dirigente da OTAN nenhum destes tinha problemas com Gaddafi. O país era uma fonte segura de abastecimento de petróleo de alta qualidade, gás e inclusive potássio. Os problemas surgidos entre eles durante as primeiras décadas haviam sido superados. Abriram-se ao investimento estrangeiro setores estratégicos como a produção e distribuição do petróleo. A privatização alcançou a muitas empresas públicas. O Fundo Monetário Internacional exerceu seu beatificado papel na implementação destas operações. Como é lógico, Aznar esteve cheio de elogios a Gaddafi e depois Blair, Berlusconi, Sarkozy, Zapatero e até o meu amigo o rei da Espanha desfilaram diante do olhar de zombação do líder líbio. Estavam felizes".


Longe de permitir o imperialismo de apoderar-se dos recursos que Kadafi já havia entregado, a rebelião líbia envolve perdas substanciais para as multinacionais: a produção petroleira das empresas imperialistas na Líbia não voltará ao nível de 1,6 milhões de barris diários, índice da taxa de produção antes da rebelião, mas até dentro de dois ou três anos segundo as estimativas mais otimistas. E isso é no caso de que o governo que suceda Kadafi mantenha em pé os contratos assinados pelo ditador.



Vai contra toda lógica o argumento de que a rebelião foi fabricada pelo imperialismo para “apoderar-se do petróleo”. A este argumento falacioso se somam outros como o de que Kadafi se converte em anti-imperialista devido aos bombardeios da OTAN e que os mesmos bombardeios convertem as milícias rebeldes na infantaria da OTAN.


Temos visto que estamos diante de uma rebelião popular genuína, que objetivamente afeta os negócios imperialistas que tem um conteúdo subjetivo anti-imperialista. A isto devemos acrescentar que na agenda do povo rebelde se encontra a nacionalização do petróleo.



Tal como explicava em fevereiro o jornalista Robert Dreyfuss, diário inglês, The Nation: "Com Bahrein, a base da presença militar dos EUA no Golfo Pérsico sendo sacudido e as sementes da rebelião no Kwait, a rebelião na Líbia poderia provocar o ressurgimento do nacionalismo árabe que aponta ao controle dos recursos petroleiros no Oriente Médio. Com Trípoli, a capital Líbia em chamas e Bengasi e a maior parte do leste líbio já nas mãos dos rebeldes, há informações de que as propriedades de ENI e outras empresas petroleiras que operam na Líbia poderiam ser nacionalizadas por um novo governo".


Esses relatórios dos territórios libertados pelos rebeldes criaram um enorme nervosismo nos governos europeus e ianque. Além de descartar que a intervenção fosse para “apoderar-se do petróleo líbio”, também podemos dispor das desculpas cínicas apresentadas na resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, acerca da “proteção a população civil”. O sentido da intervenção imperialista foi evitar dois cenários catastróficos para os interesses das multinacionais: o primeiro uma guerra prolongada que impediria a normalização a médio prazo dos negócios que anteriormente garantira a ditadura de Kadafi; o segundo cenário muito pior é de uma revolução triunfante que sob o impulso avassalador das milícias populares nacionalizaria o petróleo e terminaria com a era de entreguismo aberta por Kadafi. Enquanto a forma da intervenção, valendo-se de bombardeios e não de uma invasão terrestre, esta tem haver com dois elementos muito importantes: o rechaço aberto nas filas rebeldes a presença invasora e o debilitamento político, econômico e militar do imperialismo, que atravessa uma aguda crise econômica, instabilidade social em seus próprios países e vem de derrotas no Iraque e Afeganistão.

Abaixo a ingerência imperialista, todo poder as milícias populares


A evolução da guerra civil líbia na última semana indica que é iminente a destruição das forças da ditadura e a queda do kadafismo. No entanto, a revolução não termina com a saída do ditador. Se aprofundará a luta interna nas fileiras rebeldes pelo destino que terá a revolução. A direção do Conselho Nacional de Transição (CNT) está conformada pela oposição burguesa e por ex-funcionários do regime de Kadafi e buscam manter as relações com o imperialismo e os mesmos termos de entreguismo que caracterizaram a ditadura. Eles tem claramente muitos combatentes, tal como demonstra o seguinte testemunho de um correspondente militante nas filas rebeldes, no mês de junho:“Em nosso grupo temos claro que se a direita chegasse a tomar o controle , junto as tropas da OTAN, quando terminar esta batalha, seria o começo de outra. Este sentimento está muito arraigado nos companheiros é que aqui sabemos na linha de fogo nem um só desses ex-funcionários que saem na mídia. Nenhum deles está com seu corpo enfrentando-se com as tropas kadafistas...”


Ante a queda da ditadura pró-imperialista por parte do povo, é necessário que os revolucionários se solidarizem com o povo rebelde, denunciando sem nenhuma ambiguidade que as intenções do CNT serão de sequestrar e congelar a revolução, pactuar com o imperialismo e impedir que se materializem as reivindicações democráticas, sociais e econômicas e anti-imperialistas do povo combatente que heroicamente terminou com o pesadelo kadafista. Propomos claramente que quem deve governar são as milícias populares, que são necessárias as mais amplas liberdades de organização sindical e partidária para os trabalhadores e o povo, dissolução da guarda pretoriana da ditadura e desenvolver um júri popular para seus chefes. Controle absoluto por parte do estado dos recursos petroleiros e gasíferos, entregues as multinacionais imperialistas pela ditadura e colocar essa indústria nas mãos dos trabalhadores e técnicos; repatriar as reservas internacionais que Kadafi entregou aos países europeus e desconhecer as dívidas adquiridas por este com a banca internacional.


Como dizem muitos combatentes líbios, o fim da batalha contra Kadafi é o começo de outra batalha, desta vez contra a ingerência imperialista e a política conciliadora e negociadora do CNT. O caminho dos revolucionários é seguir apoiando a justa luta do povo líbio, para que seu exemplo se estenda a Bahrein, Yêmen, Marrocos, Síria e o resto do mundo árabe.
 
* Secretário Geral do partido Unidad Socialista de Izquierda (Venezuela).

Fonte: http://rubrapauta.blogspot.com/2011/08/todo-poder-as-milicias-populares-na.html
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Caiu o ditador Kadafi! Todo poder às milícias populares! Fora ingerências do imperialismo!!
Expropriação das empresas de petróleo a serviço da população!
Controle da produção na mão dos trabalhadores e trabalhadoras!
Avançar com a democracia!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Você acha mesmo que nessa queda do Kadafi não há ingerência do Imperialismo?