quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Reportagem de O Globo sobre agressão homofóbica sofrida pelo companheiro e camarada Juninho em Niterói

Violência Silenciosa


Silaedson Silva Júnior, de 28 anos, caminhava pela Avenida Visconde do Rio Branco, Centro, na madrugada do último dia 5, quando percebeu que estava sendo seguido por três rapazes. Homossexual, o estudante de Letras da UFF, acabara de deixar a Praça Leoni Ramos onde conversava com amigos. Assustado, Júnior apertou o passo, mas não demorou para ser alcançado pelo trio. 

— Começaram a me xingar de viadinho. Corri, mas um deles conseguiu me pegar. Ele me deu socos e chutes. Achei que me mataria. Um carro passou, e ele se assustou. Consegui fugir até a UFF do Valonguinho, onde fui ajudado por um segurança. 
Levantamento feito pela Superintendência de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria de Estado Assistência Social e Direitos Humanos(SuperDir/SEASDH) revela que nos últimos dois anos as delegacias de Niterói, São Gonçalo, Maricá e Itaboraí registraram 69 ocorrências de crimes motivados por homofobia. Niterói lidera o número de ocorrências na região com 30 casos (44%). 
Segundo o Grupo Diversidade Nacional (GDN), ONG de Niterói que defende direitos LGBT, esse número ainda não reflete a realidade. A instituição estima que a cada semana pelo menos um caso como o de Júnior acontece na cidade. 
— Infelizmente ainda existe uma dificuldade para registrar. Muitos policiais não estão preparados e acabam debochando das vítimas. Existe um resistência em incluir a homofobia nos registros. Quem é agredido teme sofrer constrangimentos nas delegacias — diz Vinicius Rocha, do GDN, que, junto com o Diretório Central dos Estudantes da UFF, realizou ato contra a homofobia em frente à Cantareira, na última quinta-feira. 
Júnior diz que só conseguiu registrar a agressão homofóbica na 76 DP com a presença de seu advogado. 
— O inspetor me perguntou três vezes se a agressão tinha sido mesmo por homofobia. O motivo foi esse porque todos os xingamentos eram relacionados com minha sexualidade. 
Vítima de ameaça e injúria, o professor X, de 32 anos, não conseguiu incluir a motivação no registro das agressões sofridas há um mês. 
— Fui bem atendido, mas o registro acabou sendo só de ameaça por falta de elementos que identificassem os agressores. Fui cercado por um grupo de rapazes na porta da minha casa. Disseram que me bateriam se eu passasse na calçada. Um deles ficou me mostrando o órgão genital e me xingando. Foi horrível. Depois disso, minha casa apareceu toda pichada com palavrões. Fui obrigado a me mudar.

Agressões na saída da Cantareira
O entorno da Praça Leoni Ramos, em frente à Cantareira, ponto de encontro LGBT de Niterói, é apontado como o local com mais casos de homofobia. A maioria das agressões a gays e lésbicas em Niterói acontece nas ruas próximas à praça. Segundo moradores e comerciantes do local, um grupo de jovens está circulando pela região com o objetivo de atacar homossexuais. 

— O grupo é formado por quatro rapazes que aparentam cerca de 25 anos. Eles são moradores do bairro e estão sempre rondando, provocando, xingando. Isso começou há cerca de um ano. A praça é patrulhada até certo horário, mas durante a madrugada, as agressões acabam acontecendo nas redondezas — afirma a dona de um dos bares da praça, que pediu para não ser identificada.

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