por Júlio Araújo Miragaia
Generalizar e tratar todos os que vaiaram Dilma no domingo como elitistas é extremamente equivocado. Da mesma forma como dizer que a greve dos caminhoneiros era feita pelo empresariado. Generalizar, aliás, tem sido a especialidade do governismo para, numa tentativa desesperada, blindar Dilma e seu débil segundo mandato. A verdade é que começa uma situação de instabilidade no país e o governo do PT e seus braços nos movimentos sociais não tem controle sobre a situação (ainda bem!).
Algumas matérias mostram claramente que a bronca da população com o governo não foi apenas nos bairros mais nobres dos centros urbanos. O que ocorre de fato é que uma grande parcela da classe média está consciente das consequências do ajuste fiscal de Dilma-Levy que virá para a maioria da população: inflação, ataques a direitos trabalhistas, previdenciários, reajuste de tarifas e todo um pacote de maldades sobre os trabalhadores.
A verdadeira burguesia (banqueiros, latifundiários, empreiteiros e derivados) são os que mais ganham com o atual governo. É um governo que chamam de seu. Já é lugar comum que Dilma está governando com a agenda econômica de dar inveja em Aécio Neves e no PSDB.
Nas manifestações de junho de 2013 o governo também tratou de generalizar os que iam as ruas como de direita, fascistas e tantos outros “istas” que pudessem proteger Dilma e os governantes da primeira onda de rejeição.
A lista dos envolvidos na Operação Lava-jato desnudou as promíscuas relações do senado e câmara com empresários e levantou o que estava encoberto no pós-eleição: o descrédito da população com os principais partidos do regime (PT,PMDB, PP, DEM, PSDB e cia.). Todos com algum grau de envolvimento com a farra de propinas.
Os primeiros meses de 2015 tiveram várias greves e lutas salariais importantes e que continuam em curso, como a radicalizada rebelião no Paraná e categorias como rodoviários, metalúrgicos ou professores. Todos esses setores da classe enfrentam também de forma direta ou indireta o ajuste fiscal do governo.
Qualquer declaração machista, como os insultos de” vaca” ou “vagabunda” que sofreu Dilma durante seu pronunciamento no domingo, devem ser veementemente condenados, mas também não podem ser usados para escamotear o verdadeiro debate e problemas que nos deparamos.
A conjuntura está virando com uma velocidade cada vez maior. Independente dos resultados em números de pessoas nos atos, dos dias 13 e 15, ambos acabam por desgastar de alguma forma o governo. Não em razão de suas direções: uma governista e outra um setor da oposição de direita.
Sobretudo porque há uma disposição de ir à rua para questionar o regime, lutar por salário, derrotar a corrupção, reduzir as tarifas e tantas outras pautas. O que se enxerga no horizonte é que as pautas das duas manifestações e suas direções que não representam uma alternativa a atual situação tendem a ser atropeladas nos próximos dias. Junho volta a pulsar, expurgar e rejeitar o velho.
Há de se construir para já um novo dia de lutas que paute a derrota do ajuste fiscal, punição aos corruptos e também derrotar a falsa polarização dos políticos da ordem (PT-PSDB) que há mais de 20 anos governam o país a serviço dos de cima. A esquerda não-governista e suas direções precisa estar alinhada a esse processo e ser parte dele. Caso contrário, a tendência é ser atropelada também.
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Júlio Araújo Miragaia é escritor, poeta e jornalista. Edita o blog Rubra Pauta e lançou em 2014 seu livro de estréia: O estrangeiro de pedras e ventos.
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