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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

A matança não para no Pará. Jatene é o grande culpado

Chacina de Belém: movimentos sociais e familiares de vítimas protestaram em 2014 pedindo justiça. Foto: Mário Quadros
Esses dias o povo de Belém viu a "maior chacina" do último período: 29 mortes, com a vítima que acaba de falecer no Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência. Mortes ocorridas em menos de 24h, num movimento que sucedeu imediatamente a morte do soldado da Ronda Tática Metropolitana (ROTAM), Rafael da Silva Costa, 29 anos.

Ontem vi o triste e revoltante relato do estudante da Universidade Federal do Pará (UFPA) e militante do PSOL, Adriano Mendes, dando conta da dor pela qual passa sua família: em menos de cinco meses, ele perde seu 2° primo assassinado por criminosos que agem impunemente no estado. Quadrilhas perigososas que envolvem policiais e que comandam milícias e grupos de extermínio, principalmente na Região Metropolitana de Belém (RMB).

As chacinas, o genocídio, a matança ocorrem todos os dias. Dezenas, centenas de mortes. Gente trabalhadora, honesta, estudante. Os únicos crimes que cometeram são os de viverem na periferia, serem pobres e pretos.

Semana passada uma amiga querida me relatou com o coração partido que seu irmão, igualmente jovem, negro, trabalhador, morador do Riacho Doce, bairro do Guamá, havia sido brutalmente morto por homens encapuzados, que atiram com técnicas de quem recebeu treitamento militar e que estavam no tenebroso carro preto. Já famoso por fazer matança impunemente nos bairros pobres da capital.

O fato é que essa situação já fogiu, há muito, ao controle. O Sistema de Seguranca Pública é ineficiente. As investigações são morosas. Só para exemplificar o nível da barbárie, praticamente ninguém foi punido em decorrência da chacina de 4 de novembro de 2014, quando mais de dez pessoas foram mortas a esmo  nas horas que se seguiram ao assassinato do Cabo Pet (que estava afastado de suas funções na PM), que segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias e Grupos de Extermínio no Pará da Assembleia Legislativa do Estado, tinha envolvimento com esses grupos criminosos.

O governador Simão Robson Jatene (PSDB), o secretário de estado de segurança pública, o comandante geral do estado maior da PM e o delegado deral de policícia civil são os grandes responsáveis por essa onda de crimes e violências que ocorrem na Região Metropolitana de Belém (RMB). Mas não os únicos. As corregedorias das polícias, o Ministério Público Militar e do Estado, assim como a Justiça também contribuem para esse quadro, quando a gente vê a impunidade seguir firme no Pará.

A sociedade anda apavorada com esse genocídio diário. Mas é necessário passar do medo a luta. Tomar as ruas, fazer protestos e marchar contra os responsáveis por essa matança. Não podemos ficar contando nossos mortos e sofrer com a notícia de quem foi o próximo. É preciso ir à luta!

Editado às 11h43, 01/02/2017.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Famílias homenageiam vítimas de chacina durante marcha em Belém

pPor Alexandre Yuripor Alexandre Yuri
Onze pessoas foram assassinadas entre os dias 4 e 5 de novembro de 2014. Ato marcou um ano da data e cobrou esclarecimento de assassinatos.
por Alexandre Yuri, para o G1 PA
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Vanda Mendes perdeu o irmão na chacina e protestou contra a violência na capital. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
"Eduardo nunca deu trabalho no colégio, nunca teve problemas com ninguém, não tem nome sujo na polícia. Era morador de periferia, mas tinha tudo para ser feliz", lamentou, emocionada, a dona de casa Maria Auxiliadora Galúcio, durante o ato realizado na noite desta quarta-feira (4) em Belém para marcar um ano da chacina que vitimou 10 pessoas após o assassinato do cabo da Polícia Militar Antônio Marcos da Silva Figueiredo no bairro do Guamá. Entre as vítimas estava Eduardo Felipe Galúcio Chaves, neto criado como filho por Maria Auxiliadora.
A dona de casa conta que, na noite de 4 de novembro de 2014, estava no pátio de sua casa no bairro da Terra Firme e viu a chegada de motoqueiros encapuzados em sua rua, mas não imaginava que eles tirariam a vida de Eduardo. O jovem, com 16 anos na época, foi atingido por cinco tiros pouco antes das 22h e morreu no local, a metros de sua casa.
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Larissa Viana lamentou a perda do primo Eduardo.
(Foto: Alexandre Yuri/ G1)
"O meu primo perdeu a vida injustamente. Ele foi deixar a namorada a casa dela, pegaram meu primo no canto de casa como se ele fosse um bandido, um marginal, não deram nem chance de ele se defender. Dói muito lembrar dele porque o Eduardo era uma ótima pessoa. Meu primo faz muita falta para mim. ", conta Larissa Viana, prima da vítima.
Minutos depois da morte de Eduardo, ainda no bairro da Terra Firme, Bruno Barroso Gemaque também foi baleado nas proximidades de sua casa. Segundo Meire Gemaque, tia da vítima, o rapaz de 20 anos estava em uma bicicleta com a namorada e também foi abordado por homens encapuzados em motocicletas. "Era um rapaz muito família, trabalhava no transporte alternativo. Ceifaram a vida do meu sobrinho por nada", disse Meire.
Bruno levou quatro tiros e chegou a ser socorrido por amigos, mas Meire conta que viaturas da Polícia Militar fecharam as vias do bairro e o rapaz não conseguiu chegar no hospital a tempo. A namorada do jovem, que presenciou o baleamento, se isolou após o ocorrido. "Ela não quer falar, se distanciou da gente. Ela foi dar o depoimento na polícia e depois disso ela sumiu. Ficou com medo de represálias", conta Meire.
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Jessica Cabral homenageou o irmão Jeferson na
caminhada. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
Jeferson Cabral, de 27 anos, também foi homenageado por familiares durante a marcha. Ele foi atingido por três tiros durante a ação de motoqueiros encapuzados no bairro da Terra Firme. "Meu irmão era uma pessoa muito especial para mim. Me ajudava, ajudava a minha mãe, não tinha vícios. Minha mãe sofre muito, porque nada justifica o que aconteceu. Ele não era bandido, era um rapaz trabalhador", lamenta Jessica Cabral, irmã de Jeferson.
Uma das vítimas baleadas na noite do dia 4 chegou a ser socorrida, como Allersonvaldo Carvalho Mendes, atingido por cinco tiros no bairro da Terra Firme. "Allerson", como era chamado pelos amigos, ficou internado no Hospital Metropolitano, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, mas não resistiu e morreu às 18h do dia 5.
"Ele tinha deficiência mental e o que ele gostava era de estar com os amigos e estar brincando, principalmente de pipa. Era uma pessoa alegre, amiga, carinhosa e perdeu a vida desse jeito. Sem fazer mal a ninguém, vieram e tiraram a vida dele. Ele nem sabia porque estava morrendo", conta a irmã de Allerson, Vanda Mendes.
Ato 1 ano da chacina em Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Ana Maria cobrou explicações para a morte do filho
Marcus Murilo. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
Ana Maria Ferreira Barbosa participou da caminhada trajando uma camisa em homenagem ao filho Marcus Murilo Ferreira Barbosa, de 20 anos. "Ele era muito prestativo, trabalhava e estudava, ganhava o dinheiro dele para se manter e não mexer nas coisas de ninguém. Ele atravessou a rua para comer um churrasco, os caras chegaram e deram seis tiros nele", diz a mãe da vítima, morto no bairro do Marco por volta de 22h30.
Alex dos Santos Viana, morto no bairro Parque Verde, e Jean Oscar Ferro dos Santos, assassinado no bairro do Jurunas, tiveram seus nomes lembrados em cartazes e palavras de ordem durante a caminhada, mas seus familiares não participaram das homenagens no ato. De acordo com a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), os familiares temiam represálias e alguns deles chegaram a se mudar da cidade.
Para Alberto Pimentel, da coordenação da SDDH, a resposta dada pelas autoridades de segurança pública do Estado ainda é insuficiente. "Ainda está muito aquém da resposta que os familiares precisavam, seja do ponto de vista da assistência que essas famílias precisam, seja do ponto de vista de dar uma resposta efetiva ao problema central que está colocado nesta questão, que é a atuação de grupos de extermínio na região", comenta Alberto.
Uma das participantes mais emocionadas do ato foi Liliane Araújo, irmã de Nadson Araújo, morto na madrugada do dia 5 no bairro do Jurunas. "No dia 3 ele tinha completado 18 anos, ele ia comemorar no sábado, estava tão feliz. Dia 4 mataram ele", lamentou Liliane. "Ele conversava com uma amiga. Pararam as motos e mandaram eles sentarem. Ele nem esperava o tiro, porque morreu de lado", relata a irmã.
Ato 1 ano chacina Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Ato foi encerrado em frente ao Mercado de São
Brás. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
Por volta de 2h da madrugada do dia 5, a última vítima da chacina foi registrada no bairro do Tapanã. Marcio Santos Rodrigues, de 22 anos, foi baleado quando chegava em casa após sair com amigos. "Ele era um rapaz muito tranquilo. Nós somos, sim, de família pobre, mas ele não tinha nenhum envolvimento com drogas, com roubo. É por isso que eu não consigo, até hoje, digerir essa história", diz Janete Rodrigues, irmã da vítima.
Janete conta que o caso abalou a família, principalmente os pais, já idosos. "Desde essa noite, infelizmente, nossas vidas não estão sendo mais as mesmas, e nunca mais vão ser. Nós temos que viver hoje com isso, com essa dor, esse vazio". O ato foi encerrado em frente ao Mercado de Brás, com uma mostra da exposição organizada por familiares com fotos e peças de roupas das vítimas.
Investigação
As mortes aconteceram depois do assassinato do cabo da PM Antônio Figueiredo, suspeito de liderar uma milícia no bairro da Terra Firme. Uma CPI criada para investigar os crimes concluiu que integrantes da Segurança Pública participam de grupos de extermínio no Pará. A Promotoria de Justiça Militar indiciou 14 PMs. A corporação abriu investigação contra nove policiais. Os processos também não foram concluídos.
"Não temos nenhuma dúvida que há um grupo de extermínio e eu me arriscaria a dizer que há um grupo de milícia sim no estado do Pará. E eu não só acompanho essa chacina que aconteceu aqui na área metropolitana, mas de vários outros casos que tenho monitorado e acompanhado pela ouvidoria em outros municípios e regionais”, afirmou a ouvidora da Secretaria de Segurança Pública, Eliana Fonseca.
Na manhã desta quarta, a Polícia Civil informou que concluiu apenas três inquéritos do total de 11 que foram abertos para investigar os assassinatos e a possível relação entre as mortes e o homicídio do cabo da PM Antônio Figueiredo.
"Pela complexidade da investigação, 11 homicídios, dos quais sete foram praticados em menos de uma hora, eu digo que na investigação nós estamos bastante avançados. Temos
três inquéritos com definição de autoria, ouvimos mais de 90 pessoas nesses inquéritos, requisitamos 31 perícias e conseguimos prender essas 8 pessoas", afirma Rilmar Firmino, delegado geral da Polícia Civil do Pará.
O caso corre em segredo de Justiça. Segundo o delegado geral, do total de oito presos, apenas um conseguiu a liberdade provisória e foi comprovada a ligação entre a morte do PM e alguns dos assassinatos.
"Nós podemos asseverar que existe ligação entre as três mortes, e dessas, duas mortes foram praticadas por pessoas ligadas ao cabo Figueiredo. Um é um policial militar da ativa que estava afastado para tratamento de saúde, o outro preso é um policial militar da reserva e dois são pessoas civis ligadas ao PM. Não podemos opinar em relação à investigação, temos que individualizar a conduta e apontar a materialidade, não podemos fazer ilações", esclareceu Firmino.
Ato 1 ano chacina Belém (Foto: Alexandre Yuri/ G1)Vítimas foram homenageadas na Praça do Perário ao final do ato. (Foto: Alexandre Yuri/ G1)
 Fonte: G1 PA.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Os desafios depois da Marcha da Maconha em Belém e no Pará

Centenas de pessoas ocuparam as ruas do centro de Belém no último domingo, dia 17, para participar da terceira edição da Marcha da Maconha.



por Júlio Miragaia

Os manifestantes se concentraram na Praça da República, percorreram as ruas do comércio da capital paraense e terminaram o trajeto da passeata em frente ao complexo do Ver o Peso, onde está sendo realizada a Ocupação Solar das Artes. 

Com cartazes, faixas, palavras de ordem, canções e outras formas de expressão, os participantes pediam uma nova política de drogas, o fim do tráfico, do assassinato da população negra e pobre das periferias e o direito ao cultivo e a utilização da maconha para fins medicinais e recreativos.  

Durante o trajeto, a Marcha passou ainda pela Praça Waldemar Henrique, local onde é realizado no mesmo período, todos os anos, o Tributo a Bob Marley, evento organizado por vários grupos e coletivos do movimento reggae. 

Balanços e perspectivas

De acordo com os membros da comissão organizadora, o balanço da realização dessa edição da Marcha da Maconha é positivo. Marcus Benedito, servidor da Sespa e integrante da coletivo que impulsionou a ação, avalia que a marcha de Belém foi uma das mais politizadas do país. “Política no sentido de dar nome aos bois e dizer que a atual política de drogas mata pobre todo dia”, dispara o ativista.

“Fizemos duas marchas antes dessa”, explica Benedito. Uma em 2011, durante o Fórum Social Mundial de Belém e outra em 2012, intitulada Marcha da Liberdade”, explica. Devido a ação no STF, questionando a constitucionalidade da Marcha, os grupos que a organizavam preferiram mudar o nome da atividade para não correr riscos. Porém, a inciativa em seu conteúdo utilizava as mesmas palavras de ordem e cartazes da luta pela legalização. 

A maioria dos organizadores faz parte de grupos que debatem as drogas ou os direitos humanos, são estudantes da UFPA, UEPA, militantes de movimentos sociais, de partidos de esquerda e anarquistas. A expectativa dos ativistas que deram continuidade ao evento, organizado pela última vez há três anos atrás, é manter um calendário anual de atividades, ingressar na Frente Paraense de Drogas e Direitos Humanos e levar de fato  o debate para a sociedade.

A Psicóloga Flávia Danielle, que também está a frente do movimento expressa que a marcha é só um momento de visibilidade. “Nossa meta é aumentar o público quantitativa e qualitativamente para os próximos anos”, conta. “Queremos também levar esse debate para os bairros. Tivemos o apoio de entidades significativas que lutam pelos Direitos Humanos e queremos ampliar isso”, prossegue Flávia. 

“Esperamos levar esse debate para a sociedade e fazer frente a essa política de drogas que extermina a juventude negra e periférica, lutando por um dos seus principais pilares que é uma nova política de drogas”, expõe a psicóloga.

Desafios para além da Marcha: a realidade da política de drogas e o sistema prisional
Os desafios dos ativistas e da vanguarda organizadora da Marcha da Maconha, para além de estabelecer um caráter permanente para esse que é um debate que deve ser encarado com seriedade na sociedade, é trazer a tona os efeitos colaterais da atual política de drogas no país e como a mesma se materializa no Estado do Pará.

A Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe) divulga mensalmente relatório que demonstra em números o perfil e os principais dados da população carcerária atual. No último relatório, do mês de março, é informado pela instituição que o tráfico de entorpecentes é uma das principais causas da superlotação do sistema. Até a publicação do último relatório, foi registrado que um total de 3.716 pessoas estão presas, seja em regime fechado ou regime aberto, tipificados pelo crime de tráfico de entorpecentes no Estado. Desses, 3.181 são homens e 535 são mulheres. 

Em relação ao total da população carcerária, esse índice é muito maior, proporcionalmente, em detentas do sexo feminino do que do sexo masculino. A população carcerária total da Susipe é de 12.872 presos. São 12.106 homens e 766 mulheres. Ou seja, de um total de 766 internas, 535 estão presas por tráfico. É mais de 60% da população carcerária do sexo feminino.

Outro dado revelador fornecido pela Susipe é a idade e a cor dos que cumprem pena. Tem entre 18 e 29 anos, 8.411 presos, o que equivale a 65,68% dos internos. São negros e pardos 10.694 presos, ou seja, 84,14% do toal de internos da superintendência.  

Fazer com que esses dados sejam elementos de reflexão e ação para uma mudança efetiva é parte do enorme desafio não só para os participantes da Marcha da Maconha, mas para o conjunto da sociedade paraense. Ainda de acordo com dados do levantamento mensal da Susipe, o Pará tem a 9º maior população carcerária do país. Além disso, tem sido cada vez mais uma constante as rebeliões de um sistema que está mais do que falido, não ressocializa seus apenados e a atual política de drogas contrbui expressivamente para o inchaço dos presídios e o avanço da barbárie.  

O tratamento do usuário pelo Estado


Sobre o tratamento do usuário, o papel do estado também tem ido na contra mão da forma como o mundo tem visto a dependência química. Flávia explica que esse é um assunto que está sendo muito debatido internacionalmente.

“Vemos vários países alterando suas leis tanto no sentido de descriminalizar o usuário como no sentido de legalizar o comércio, uso e cultivo da Maconha. No Brasil, temos uma lei de drogas (11343/06) que por muitos é vista como um avanço, já que separa o que seria o usuário de drogas, não visto mais como criminoso, do dito traficante”, esclarece. A psicóloga, porém, assinala que essa é uma lei que gera dúvidas sempre, pois abre brecha para múltiplas interpretações.

“Ela (a lei) não amarrou o que seria considerado um usuário e o que seria um traficante, ficando a critério do juiz ou outro agente da lei definir isso se baseando em condições sociais, contexto e motivações e o resultado disso foi o aumento considerável do número de prisões tipificadas como tráfico”, explica.

Política de saúde mental


A política de saúde mental é também um problema. Flávia conta que a quantidade de Centros de Atenção Psicossocial de Ácool e outras Drogas (Caps ad) não é suficiente para atender a demanda populacional do Estado. “Não dá para dizer que existe uma Rede de Apoio em Saúde (RAS). Não por responsabilidade dos trabalhadores que vivem as mazelas do descaso, mas por uma falta de gestão mesmo”, desabafa. 

Nesse cenário, vemos a multiplicação das comunidades terapêuticas que, administradas por instituições religiosas, recebem vultuosos investimentos do Ministério da Saúde, mesmo não atendendo as especificações técnicas, estruturais, profissionais e, principalmente, de interesse na saúde das pessoas que possuem algum problema em virtude do uso de substâncias seja lícitas ou ilícitas.

As comunidades terapêuticas são um mercado altamente lucrativo para essas indústrias religiosas. “O presidente do CONED-PA é dono e defende piamente as comunidades terapêuticas, ludibriando e sem se preocupar com a saúde de pessoas que se tornam dependentes químicas por diferentes motivos, sendo a droga mais um subterfúgio”, diz Flávia. 

“Nós defendemos o investimento em saúde substitutiva, implantação de uma RAS eficiente e pela adoção da Redução de Danos, pois essa é uma política que respeita a pessoa e trabalha com ela e por ela”, explica a organizadora da Marcha. 

Para Marcus Benedito, o tratamento diferenciado é dado também pela questão de classe. “O tratamento difere não pela droga, mas pela cor de pele e classe social. Para negros e pobres é tiro, porrada e bomba. Para jovens de classe média é psicólogo e advogado”, comenta.

Violência e tráfico no Pará

Marcus também comenta sobre a recente onda de violência na capital paraense que culminou na chacina de dezenas de pessoas na primeira senana de novembro do ano passado. “A chacina de novembro, na verdade, foi uma extrapolação do que ocorre todo dia. Em Belém, Marabá, Abaetetuba ou Rondon do Pará, locais distantes uns dos outros, mas onde já ocorreram chacinas e, segundo o Relatório da CPI da Assembleia Legislativa das Milícias e Grupos de Extermínio, "A cultura organizacional da corporação Polícia Militar favorece a formação no interior de seus batalhões de grupos e organizações criminosas". 

De fato, a guerra as drogas virou uma verdadeira guerra aos pobres, negros e favelados. Todos os dias os jornais noticiam de quase dezenas de pessoas mortas e presas. Os dados da Susipe, acima, materializam precisamente o significado dessa guerra. 

Na verdade é a população, principalmente a da periferia, a verdadeira vítima dessa guerra entre milicianos e traficantes. “Por isso da necessidade de se legalizar as drogas. Todas elas. Para acabar com essa guerra, dar o direito a quem quer plantar, regulamentar, porque tem que ter qualidade e tratar quem busque tratamento, como o SUS já busca desenvolver através dos CAPS Ads”, explica Marcus.

Considerações para as próximas Marchas e para os próximos tempos


O que foi tentado ilustrar nesse texto são ainda elementos incipientes, mas que objetificam provocar um debate. É preciso seguir, fortalecer e impulsionar a Marcha da Maconha em Belém. Os inúmeros problemas apresentados, como consequência da política de drogas, demonstra que esse é um assunto que deve chegar de forma qualificada para o conjunto da sociedade e que não se resolve com a atual política de encarceramento e criminalização da população pobre.

Avançar, para além da Marcha, como bem propõe seus organizadores na edição desse ano, e unificar essa luta com as demais pautas dos movimentos sociais é um desafio que deve ser uma consequência sob responsabilidade não apenas de uma ou outra pessoa, mas do milhões de habitantes da Região Mteropolitana de Belém e de todos os municípios do Estado. 

Finalizo essa pequena contribuição parabenizando os que resistem e fizeram valer a edição desse ano e concluindo que todas e todos devemos dar nossa colaboração para que a legalização aconteça. Fazer uma Marcha da Maconha em Belém,parecia algo distante e utópico há um tempo atrás. Hoje, foi possível colocar cerca de 150 pessoas nas ruas. Como diria Eduardo Galeano, a utopia vai servindo para que caminhemos. E quando vemos, não estamos mais no mesmo lugar.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O Sindicato: O Negócio por trás do barato

do blog DocVerdade

(Canadá, 2007, 104min. - Direção: Brett Harvey)
Leve, irreverente e filosófico. Este premiadíssimo filme lançado em 2007, após dois anos de pesquisas do diretor Brett Harvey, acabará de vez com o seu preconceito em relação a um dos mais velhos mitos criados no ocidente.

Você sabia que o cigarro nos EUA mata cerca de 430 mil pessoas levando mais vidas que a cocaína, a heroína, o crack, o álcool, assassinato e acidente de carro juntos? E que ainda assim recebe subsídios do governo?
Você sabe quantas mortes foram registradas pela maconha? Resposta: Nenhuma.

Estudos realizados com a maconha comprovam que ela não deveria ser proibida, não é maléfica e nem tampouco vicia, mas mesmo assim o governo norteamericano a proíbe, destroçando a vida de cerca de 750 mil pessoas anualmente, que são presas ou tem suas vidas marcadas pela justiça pelo resto da vida. Isso se transformou numa indústria de presídios, que hoje estão sendo privatizados nos EUA, levando muito dinheiro dos contribuintes.

Mesmo assim, você sabia que a proibição das drogas não faz o consumo diminuir e além disso faz aumentar a criminalidade, o tráfico de armas e a corrupção policial?

Mas se a maconha é inofensiva, por que ela é proibida?


Talvez a resposta seja as propriedades medicinais da erva, que combate, pelos estudos científicos, cerca de 200 doenças conhecidas tais como: Artrite, Glaucoma, Epilepsia, distrofia muscular, esclerose múltipla, depressão, ansiedade, dor crônica, hepatite C e câncer entre outras. Será que as farmacêuticas que lucram cerca de US$ 750 bilhões todo ano nos EUA gostariam que ela fosse aprovada?

É o que O Sindicato: O Negócio por trás do barato debate com o seu público.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Queremos ver os jovens vivos | Infográfico



O Brasil é o país onde mais se mata no mundo, superando muitos países em situação de guerra. Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas. Destas, 30.000 são jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% são negros. 

A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados.
Mais absurdo que estes números, só a indiferença. 

A morte não pode ser o destino de tantos jovens, especialmente quando falamos de jovens negros. 

As consequências do preconceito e dos estereótipos negativos associados a estes jovens e aos territórios das favelas e das periferias devem ser amplamente debatidas e repudiadas. 

O destino de todos os jovens é viver. 
Você se importa? 
Eu me importo ! 

Quero que as autoridades brasileiras assegurem aos jovens negros seu direito a uma vida livre de preconceito e de violência. E priorizem políticas públicas integradas de segurança pública, educação, cultura, trabalho, mobilidade urbana, entre outras. 

Eu quero ver os jovens vivos! 
Chega de homicídios!

Assine aqui:

Anistia Internacional

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Um submarino na ALEPA

O Soldado Tércio (PROS), membro da Polícia Militar do Estado do Pará (PMEPA), eleito nas últimas eleições deputado estadual, entrou como um submarino em comissão de organizações dos direitos humanos na Assembléia Legislativa do Estado do Pará (ALEPA).
Ele solicitou participar junto da Comissão dos movimentos sociais, que na última terça-feira, 11, tomou as ruas do centro da capital paraense e foi até a ALEPA exigir a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Milícias; ao chegar na reunião com seis deputados, os únicos a esperar o movimento, o Soldado disse uma pérola: "Não têm policiais envolvidos em milícias". 

Uma vergonha!

O futuro deputado teve ainda o desplante de dizer que se a gente podia sair de casa e estava ali protestando, era "porque tem a polícia para proteger a população nas ruas". 
Não negamos que haja população na rua, mas semana passada vimos a página da Ronda Tática Ostensiva Metropolitana (ROTAM) no Facebook publicar após o assassinato do Cabo Figueiredo, vulgo Pet, que a tropa estava com "sangue nos olhos e a faca nos dentes". Todos os jornais do país publicaram o print do perfil de um sargento da ROTAM, o qual conclama os amigos de farda a irem às ruas, pois eles só iriam para o velório de seu colega, após fazer "eles [supostos responsáveis pela morte do Pet] chorarem pelos seus mortos".

Em ato nesta última terça-feira (11/11), haviam dezenas de famílias e professores de luto protestando, justamente porque perderam seus entes queridos na mesma noite em que a ROTAM e o sargento convocaram uma "resposta". Essa foi mais uma noite de terror e horror em Belém. Capítulo de uma insana guerra aos pobres, disfarçada de guerra às drogas. 

Relatórios da Organização das Nações Unidas, o Anuário Brasileiro da Violência, relatórios da Ouvidoria Geral do Estado do Pará e da Corregedoria de Polícia são contundentes: a maior parte dessas mortes são praticadas por policiais, os maus, infelizmente.

Sabemos que existem bons policiais (a maioria), nas polícias, mas Soldado Tércio, nunca mais apareça em nossas atividades e protestos para negar o que todo mundo sabe: que há milícias e que elas tem sim, envolvimento de policiais, e acima de tudo: que há um genocídio da população pobre, negra, favela e jovem de nosso estado e do país!