Não importa a orientação sexual do jogador. Não importa se a foto acima é apenas uma brincadeira entre amigos. Emerson Sheik rompeu a barreira da intolerância, um dos comportamentos mais marcantes do futebol brasileiro. O atacante zombou de todos aqueles que enxergam as relações amorosas tão inflexíveis quanto o 4-4-2 que o técnico insiste em escalar. Sheik, ao dar o “selinho” no amigo, namorado, parente, afim, deu uma voadora na hipocrisia hasteada por torcedores, dirigentes e até mesmo colegas de profissão.
Héteros e gays sempre jogaram no mesmo time, assim como o craque e o perna de pau. Mas nunca foi permitida qualquer manifestação que colocasse em dúvida a “masculinidade” dos jogadores. E formamos uma legião homofóbica que prega apelidos jocosos, expulsa jogadores, torna a discussão necessária em mais um retrocesso.
Na última vez que o assunto veio à tona, o desfecho foi desastroso. Uma declaração infeliz de um dirigente do time rival, e Richarlyson virou inimigo de torcedores do seu próprio clube. Deu entrevista para o Fantástico. Negou ser gay, como quem se defende de uma acusação. Apresentou às pressas uma namorada, capa de revista masculina, e o semblante de puro constrangimento. Um episódio que não trouxe qualquer evolução da mentalidade doentia de uma sociedade que entende o sexo como uma regra de 3.
E claro que já existem centenas de corintianos a pedir a saída de Sheik. Uma turba de imbecis a clamar palavras de ódio. Estão lá apenas para apontar o dedo e dizer quem tem o direito ou não de jogar no Corinthians. Ignoram a liberdade de expressão. Ignoram o respeito. Ignoram a Democracia Corintiana, a vanguarda de um clube absolutamente identificado com as massas populares. Covardes com ingresso numa mão e a estupidez na outra.
Mas ficam as réplicas sinceras de torcedores de dezenas de clubes, que aplaudiram o drible mais desconcertante da carreira do jogador. Emerson Sheik, que já colecionou páginas de jornais por adotar uma macaca e por se ver envolvido em denúncias de adulteração de documentos e contrabando de carros, hoje ganha todas as atenções por um simples gesto. O beijo. Algo tão comum e universal quanto o futebol.
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