sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Milton Temer responde à Luciana Genro

Minha querida.
Muito obrigado pela deferência do envio do texto que toca em todas as questões fundamentais da candidatura Marina. Candidatura, aliás, que em um primeiro momento, aceitei discutir, esperançoso que ela nascera de uma ruptura logo depois desmentida. E vou a ele, por partes, pedindo permissão para enviar cópia a alguns de nossos mais próximos.

1 - Vamos admitir, o que acho impossível, tendo em vista o histórico confirmado pelas movimentações até agora implementadas pela campanha Marina, que ela viesse a aceitar alguns de nossos pontos na questão climática(até ai teríamos problema, por serem notórias as opções pelo "capitalismo social" que ela materializou nas "filiações" de alguns grandes empresários). Porque não acredito que ela venha a incorporar críticas à política econômica ou à forma assistencialista com que se implementam as políticas sociais no governo Lula. O que ganhamos com isso, com respeito à simbologia e aos objetivos do Partido, depois da campanha eleitoral? Vamos gerar uma concorrente, minimizada, da simbologia HH? Com que objetivo?

2- Caso ela não incorpore essa pauta, absolutamente insuficiente, saída da decisão da Executiva, o que faremos? Vamos cair de pau? Vamos desperdiçar energia com quem já declarou publicamente não ser contra Dilma nem contra Serra? Com que legitimidade entramos no combate à falsa dicotomia verdadeira, já decretada, e na qual Marina não vai passar nem perto, diferentemente do que fez HH em 2006? Vamos sair para a candidatura própria inteiramente rendidos aos segmentos menos interessados na política real que ocupam espaços importantes em nosso partido?

3 - E caso ela incorpore? Como faremos campanha, tendo em vista que seus principais mentores se dividem -- interna e externamente -- entre Dilma e Serra no segundo turno?

4- Passo agora, para não te tomar muito tempo, a questões práticas, independentemente da visão ideológica. Acho fundamental, não só a reeleição da atual bancada federal, mas também, a ampliação do nosso efetivo de deputados federais. Mercadante, com sua emenda estabelecendo condições drásticas para nós de participação de candidatos a postos majoritários em debates de TV, já deixou claro que não é só a velha direita que tenha interesse na cláusula de barreira que excluiria a esquerda combativa de representação no Parlamento. A nova direita, a lulista, também já se integrou na tarefa. E te pergunto. O que ganhamos com a entrega de nosso tempo de TV no horário presidencial à Marina? Tempo de TV que, para ser negociado, é dez vezes menor do que o tempo que teríamos caso apresentemos candidato (porque aí, pelo tempo igualmente distribuído a todos, teríamos bem mais que os 7 segundos a que teremos direito com os deputados atuais)? Sumimos do horário político em que se disputa modelo de sociedade e deixamos o espaço aberto a Zé Maria -- que em campanha presidencial, como bem demonstrou na que já disputou não se mostra nada sectário -- que desta vez não terá o Lula para neutraliza-lo pela esquerda. Sumimos e nos entregamos a quem não fará sequer referência ao caráter predatório da política macroeconômica desse governo, nem à sua submissão total aos banqueiros, empreiteiros e ao grande capital especulativo.

5- Na questão Heloísa Helena têm outras dúvidas. Não dou como favas contadas a certeza de que a candidatura HH represente garantia de oito anos de mandato contra três meses de campanha presidencial. Até porque uma campanha presidencial de peso não se encerra nela mesmo. Lula é prova. Espero estar profundamente equivocado -- até torço muito para isso, mas estou com imensa preocupação na conjuntura de Alagoas. O crime político organizado vai dar, de barato, vitória eleitoral a HH, contra a aliança hoje consolidada entre Renan e Collor? Temos tempo de TV e recursos materiais para garantir à nossa Heloisa condições mínimas de disputa, tendo em vista o que ela enfrentará a partir do assassinato de seu principal operador no interior do Estado?

Não, minha queridíssima Luciana. Essa operação, longe de nos manter na política real, vai simplesmente nos submeter a riscos grandes com respeito aos espaços já conquistados. E, pior; vai igualar aos outros partidos. Porque não serão poucos os que nos olham com simpatia que perguntarão: por que apoiar Marina, tão próxima de Serra, se já havíamos reconhecido, com a fundação do PSOL, não haver mais espaços para a disputa interna no PT, onde está a verdadeira base social que queremos conquistar?

Vamos continuar essa discussão, minha brava e corajosa guerrilheira. Mas estou com um gosto amargo na boca, lembrando frase do Carlos Nelson Coutinho, no primeiro debate de que participou no PSOL-RJ: "só espero, daqui a dez anos, continuar na direita do PSOL". Carlos Nelson está com candidatura própria. Assim como boa parte de nossa base aliada na academia da UFRJ. Tenho medo de ele não ter que esperar dez anos para, como no PT, se sentir fora do ninho.

Beijo grande, do admirador e amigo, Milton Temer.

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