terça-feira, 16 de março de 2010

Lênin, Trotsky, Gramsci e a revolução latino-americana no século XXI

Por Silvia Santos*

A ofensiva ideológica do neoliberalismo, sobretudo durante a década de 90, a derrubada das ditaduras estalinistas na ex-URSS e no leste europeu, a restauração capitalista nesses países, na China e no Vietnã, e o processo, já muito avançado no mesmo sentido, em Cuba, trazem a necessidade de retomar o pensamento dos principais teóricos do marxismo.

Novas correntes surgiram, em sua interpretação a queda do Muro de Berlim significou, também, o enterro do marxismo e do leninismo. Outra vertente confundiu socialismo com estalinismo e acabou por decretar o fim da possibilidade de alcançar uma nova sociedade a partir da socialização dos meios de produção.

É importante voltar nosso olhar sobre as experiências mais importantes e a teoria, para resgatar, atualizar ou modificar pontos cardinais das elaborações dos marxistas revolucionários. Assim como, para verificar o tanto de "novo" que trazem as "novas" teorias. Não temos a pedante pretensão de abranger essa titânica tarefa neste texto. Mas, sim, contribuir com nossa visão em torno da atualidade de alguns aspectos que consideramos fundamentais nas elaborações teóricas de Lênin, Trotsky e Gramsci, vinculando-as aos desafios presentes para os revolucionários.

Os dois primeiros, como dirigentes da primeira revolução socialista triunfante e do primeiro estado operário da história da humanidade. Gramsci, líder revolucionário italiano, que desde os sinistros porões dos cárceres fascistas, contribuiu com o pensamento revolucionário frente aos desafios que, sobretudo, apresentavam os regimes da democracia burguesa. Escolhemos três aspectos entre os muitos que caracterizam a gigantesca obra desses grandes marxistas para instigar à tarefa de retomada dos mestres no debate: a teoria marxista do Estado, a Revolução Permanente, e o conceito de hegemonia.
Nosso objetivo é ajudar na avaliação se, depois da queda do Muro e do fato incontestável que não houve mais revoluções proletárias triunfantes que inaugurassem a construção do socialismo, continuam válidas essas formulações e programas. Se continuam sendo um guia para ação dos militantes nas fileiras do marxismo revolucionário. Tomaremos como base histórica as experiências e os processos na nossa América Latina. Passados cinquenta anos da Revolução Cubana, devemos nos perguntar por que, na América Latina, não houve outra "Cuba". Outro país onde se efetivasse uma ruptura política e econômica com o imperialismo, se expropriasse a burguesia e se iniciasse o caminho do socialismo, mostrando para o mundo índices categóricos de superação das mazelas clássicas do capitalismo, em quesitos básicos como saúde, educação, moradia, trabalho, etc.

Por que a Nicarágua, da revolução de 1979, que derrubou Somoza e quebrou o aparelho do Estado burguês, não avançou em direção a uma nova Cuba? Ao contrário, por que, retrocedeu e deixou de ser um país independente para voltar ao status de semicolônia, um dos países mais empobrecidos do continente? Para onde vai finalmente a Venezuela, com seu proclamado "Socialismo do Século XXI"?

Para responder, consideramos o instrumental metodológico e teórico dos temas escolhidos, a teoria do Estado, a Revolução Permanente e a contribuição sobre hegemonia, referências indispensáveis, assim como para a continuidade da luta por um projeto revolucionário no continente.

Como militantes socialistas e revolucionários nossa luta política e prática têm como objetivo ajudar a repetir, em nossa América Latina, uma, duas, muitas Cubas, rompendo com o imperialismo, expropriando à burguesia, através da mobilização e da auto-organização dos trabalhadores e do movimento de massas. Que acabe com o Estado capitalista, instaure um governo dos trabalhadores e do povo, e, com a democracia operária, inicie o caminho da construção do socialismo a serviço do desenvolvimento da revolução mundial.

A teoria marxista do Estado

"Para nós não se trata de reformar a propriedade privada, mas de aboli-la; não se trata de atenuar os antagonismos de classes, mas de abolir as classes; não se trata de melhorar a sociedade existente, mas de estabelecer uma nova".

Em agosto de 1917, em pleno curso do processo revolucionário, frente aos enormes desafios colocados, Lênin, com inigualável capacidade, formulou o trabalho conhecido como "O Estado e a Revolução", demonstrando de forma cabal a unidade entre teoria e prática. Às vésperas da luta pelo poder, era imprescindível uma caracterização precisa do Estado que se pretendia conquistar e destruir. Era necessário, também, demarcar terreno com as posições oportunistas, recuperando, atualizando e sistematizando a teoria marxista em relação ao Estado.


*Silvia Santos é da Execuntiva Nacional do PSOL.

Nenhum comentário: