Raimundo Pereira de Melo diz ter indicado o local onde estão dois guerrilheiros do Araguaia, mas busca foi feita em outros pontos.
O ex-secretário de Direitos Humanos Nilmário Miranda rebate acusação e diz que todos os lugares indicados por Melo foram vasculhados.
Soldado que atuou na repressão à guerrilha do Araguaia, Raimundo Pereira de Melo, 55, indicou à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência, em 2004, os locais onde estariam enterrados dois guerrilheiros em Xambioá (TO). Segundo ele, de forma deliberada, as buscas ocorreram em áreas diferentes das que apontara.
Pereira de Melo disse ter ficado claro não haver interesse do governo em encontrar os restos mortais de Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão) e Valquíria Afonso Costa. "Eu mostrei para o pessoal da Secretaria de Direitos Humanos e do Ministério da Justiça os pontos exatos das valas onde estavam os corpos dos guerrilheiros, uma ao lado da outra. As buscas aconteceram a 5 m dali. Eu mostrei isso a eles e não me deram atenção. Claramente não queriam achar nada", disse.
As escavações na antiga base militar de Xambioá ocorreram em março de 2004. Pereira de Melo e os colegas Josian José Soares e Antônio Adalberto Fonseca foram levados ali pela Secretaria de Direitos Humanos para mostrar as covas.
Acompanhado por especialistas, o então secretário de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, não localizou os restos mortais dos guerrilheiros que nos anos 60 e 70 foram enviados ao Araguaia pelo PC do B. Cerca de 60 deles constam da lista oficial de desaparecidos.
Da lista constam Osvaldão e Valquíria. Pereira de Melo diz que ficou vigiando por 16 noites a cova de Osvaldão, em 1974. Ao lado dele estaria sepultada Valquíria. "Existe um lado [do governo] que não quer mostrar. Eu falei para o dr. Nilmário que estavam escavando no ponto errado. Ele só me disse: "Tá ótimo Raimundo, é ali mesmo". Vimos que era tudo uma palhaçada e fomos embora", disse.
Nilmário Miranda diz que nunca duvidou de Pereira de Melo, mas que não foi possível achar nada: "As dificuldades eram enormes. Aquilo era um matagal. Não havia condições de reproduzir as condições do lugar como eram mais de 30 anos antes". Segundo ele, todas as áreas indicadas foram escavadas. Um radar de profundidade monitorou o terreno, em busca de ossadas. Nada surgiu.
Miranda disse que não foi alertado pelo ex-soldado sobre buscas em lugar errado: "Não teve nada disso. Com todo o respeito, não tínhamos nenhuma indicação, a não ser a dele. Esquadrinhamos um perímetro de 50 m por 30 m. Depois, aumentamos o perímetro".
Segundo ele, o próprio Pereira de Melo perdera as referências: "Não senti qualquer má-fé, senti que havia nele o desejo de ajudar. Mas quando chegamos ao lugar não senti segurança alguma nele", declarou.
Segundo ele, o próprio Pereira de Melo perdera as referências: "Não senti qualquer má-fé, senti que havia nele o desejo de ajudar. Mas quando chegamos ao lugar não senti segurança alguma nele", declarou.
Jobim é chamado de "coronel" em seminário em SP
O ministro Nelson Jobim (Defesa) foi alvo de críticas ontem em seminário sobre direitos humanos em São Paulo pela forma como vem conduzindo a comissão que irá realizar buscas corpos de guerrilheiros e militares desaparecidos no Araguaia.
Chegou a ser chamado de "coronel" pelo professor da USP Dalmo Dallari, que sugeriu que Jobim "refizesse o curso de direito".
O ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) fez críticas à posição do colega por deixar de fora famílias de vítimas, Ministério Público Federal e a OAB.
"O Brasil não pode perder a chance de fazer uma operação dessa envergadura e, por uma questão de preconceito, por falta de percepção completa do contexto, deixar de incorporar a esse trabalho representação legal", disse.
Vannuchi afirmou que teria ontem uma reunião com Jobim e o presidente da República para tentar envolver seu ministério e a Comissão sobre Mortos de Desaparecidos Políticos nas buscas, que ocorrerão em julho.
Foto: Arquivo José Antônio de Souza Perez. Os corpos de João Carlos Haas e de outro guerrilheiro são observados pelo soldado Vantuir (esq.), pelo sargento Perez e um médico.
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