quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O liberalismo da privação

por Eduardo Protázio

Está lá: nos co-LE-ti-VOS metropolitanos manifestam-se altas doses do individualismo
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Chega à parada, para!
Em meio a outros tantos, aguarda
Espera... O tráfego cessa. Nada.
O sol nessa hora já pela
o suor já mela aquela bela blusa social
"água!!!!", alguém apela em voz baixa.
Avista-se de longe o grande quilópode do reino dos metais vir d'encontro
Se aproxima. Todos que pela espera espreitam-se, também, apertam-se
Alguém vislumbra uma fila (que é pra melhor organizar a subida)
Outros não pensam assim
Empurrar, espremer, lhes parece ser parte de uma disputa necessária
Tudo a despeito do tempo. Espaço. Salário. Do ponto, a não-falta.
Enfim, da parada sobem todas.
Pelo interior o calor afaga
O espaço comprime
E a Dona Generosa dessa vez não veio - ficou de ir à missa e por lá quedou-se -
Uns se entreolham
Buscam ajuda... 
com as compras do mercado, quiçá
com a bolsa de pesados valores
Uma pasta ou a criança que cansa.
Outros, no entanto, estes por ora sentados, fogem as suas retinas
escondem em cortinas
de cinismo ou na vergonha de apenas ajudar.
Ao que consta: se conta que o liberalismo as tornou privadas de noção
impedidas de razão
à ração e ao repetido maquinário fadadas estão
Liberou serotonina de solidão, o desapego se fez
privou da compaixão, sensatez
assim, lhes acumulou egoísmo e a dita-liberdade - apenas dita - se esvaiu, em vão...
Então, no âmago da competição esquecem: o único que não vai no busão, o patrão, lhes faz acreditar nessa falácia-ilusão.
De fato, o modelo atual - vendido e liberado nas bancas de revista, na tevê e nuvens do mercado - provou e (des)incorporou dos dias-a-dias até o "e aí, como vão?"
Transformou-se, portanto, num belo e asqueroso: liberalismo da privação.
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Eduardo Protázio é estudante, membro do coletivo Vamos à Luta e militante da Corrente Socialista dos Trabalhadores, tendência interna do PSOL.

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