Vale leva nossas riquezas, deixa os buracos, as doenças, o caos social e a destruição ambiental. Foto: Salviano Machado |
Um dos segredos mais bem guardados da área econômica do governo Simão Jatene é finalmente revelado: a atual gestão
está desviando os recursos arrecadados com a Taxa de Controle,
Acompanhamento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (TFRM), mais
conhecida como Taxa Mineral, pelo Estado junto às empresas mineradoras e
que vem sendo cobrada desde o ano passado. A prática de Jatene
configura crime de responsabilidade fiscal e improbidade administrativa.
O governo não diz o que faz com o dinheiro.
Em vez de investir os milhões arrecadados com a taxa em ações de fiscalização e controle
da atividade minerária realizada no Pará, o governo tucano vem usando o
dinheiro para o pagamento de Despesas de Exercícios Anteriores (DEA),
dívidas que já deveriam ter sido pagas, mas que passaram para anos
seguintes, e de serviços e obras de empresas de engenharia realizadas em
municípios no interior. Algumas fontes consultadas pelo DIÁRIO afirmam que até o pagamento de salários do funcionários foram feitos com esses recursos.
O DIÁRIO apurou junto a empresas
mineradoras que o governo arrecada, por mês, entre R$ 30 e R$ 32
milhões com a taxa, sendo que apenas a Vale é responsável por quase 90%
desse montante. A taxa entrou em vigor em maio de 2012. Tirando por essa
média de arrecadação mensal, o Estado recebeu até agora cerca de R$ 600
milhões das mineradoras. Hoje o minério de ferro representa 95% da
arrecadação do Estado. Pará e Minas, juntos representam 75% da produção
mineral brasileira.
O Projeto de Lei (PL) Ordinária 215/ 2011,
que cria a TFRM e o Cadastro Estadual de Acompanhamento e Fiscalização
das Atividades de Pesquisa, Lavra, Exploração e Aproveitamento de
Recursos Minerários (CFRM), foi aprovado por unanimidade dia 13/12/11 na
Assembleia Legislativa do Estado. Além do Pará, Amapá, Minas Gerais e
Mato Grosso do Sul adotaram a cobrança das empresas mineradoras.
O artigo 2° do projeto diz que o fato
gerador da TFRM é “o exercício regular do poder de polícia conferido ao
Estado sobre a atividade de pesquisa, lavra, exploração e
aproveitamento, realizada no Estado, dos recursos minerários”, e que
esse poder será exercido pela Secretaria de Estado de Indústria,
Comércio e Mineração (Seicom) para “planejar, organizar, dirigir,
coordenar, executar, controlar e avaliar as ações setoriais relativas à
utilização de recursos minerais e à gestão e ao desenvolvimento de
sistemas de produção, transformação, expansão, distribuição e comércio
de bens minerais”, além de “registrar, controlar e fiscalizar as
autorizações, licenciamentos, permissões e concessões para pesquisa,
lavra, exploração e aproveitamento de recursos minerários; controlar,
acompanhar e fiscalizar as atividades de pesquisa, lavra, exploração e
aproveitamento de recursos minerários; e defender os recursos naturais”.
No dia 22 de fevereiro de 2013, o deputado
Martinho Carmona (PMDB), que relatou na Comissão de Finanças da casa o
PL que criou a TFRM, protocolou no Palácio dos Despachos ofício
solicitando que o governo informasse o quanto o Estado havia arrecadado
até então e onde os recursos haviam sido aplicados. Em 24 de abril
passado o governador respondeu ao pedido, informando que em 2012 foram
arrecadados R$ 538 milhões e, de janeiro a março desse ano, mais R$ 74
milhões, “sendo aplicados em controle, acompanhamento e fiscalização,
segurança e infraestrutura da atividade mineral, até o momento, R$ 38
milhões, estando o saldo não aplicado depositado em conta bancária
específica, com o objetivo de dar suporte a obras em andamento e em
processo licitatório”.
Ocorre que o governador não detalhou onde
nem como esses recursos foram aplicados, e tampouco detalhou os
processos licitatórios. O Ministério Público e o Tribunal de Contas têm
meios de investigar essa questão.
DESVIOS
O DIÁRIO teve acesso a uma
consulta feita no último dia 26 no Balancete Geral do Estado referente
ao saldo de dezembro de 2012 e que mostra que dos R$ 538 milhões que
Jatene diz ter arrecadado com a taxa em 2012 só restavam R$
159.501.591,73. Fica o mistério: onde foram parar os quase R$ 378
milhões arrecadados em 2012 com a taxa?
O jornal foi mais fundo e conseguiu obter as
informações contidas no Sistema Integrado de Administração Financeira
para Estados e Municípios (Siafem), através da fonte de receita da Taxa
Mineral (código 03003245) e descobriu vários pagamentos feitos pelo
governo com o recurso para uma empresa de engenharia nos meses de março,
maio, julho e setembro, totalizando R$ 1.059.809,51. O Balancete Geral
Consolidado do Estado mostra ainda que de janeiro a agosto desse ano o
governo já havia arrecadado R$ 188.047.466,72 das empresas mineradoras.
O certo é que até o momento não se tem
notícias de nenhuma ação de planejamento , organização e controle por
parte do governo Jatene no que diz respeito à exploração dos recursos
minerais, conforme previsto em lei. Ao contrário dos impostos que podem
ser aplicados pelo governo onde se fizer necessário, as taxas quando
criadas têm que corresponder a uma contrapartida de serviços a serem
feitos pelo agente público. No caso da Taxa Mineral, o montante
arrecadado só pode ser utilizado pelo Estado para gerir a exploração
mineral.
O DIÁRIO enviou e-mail à
Secretaria de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom) pedindo detalhes
do valor arrecadado (mês e ano) e onde os recursos da taxa foram gastos
até o momento, mas a resposta mais uma vez foi evasiva. “O Governo do
Estado já se manifestou sobre este assunto, e as respostas enviadas
foram usadas em matéria publicada no próprio DIÁRIO DO PARÁ do dia 11 de
setembro último”.Na ocasião a secretaria informou que “os recursos
arrecadados devem ser usados para as ações de planejamento, registro,
controle e fiscalização das atividades minerais em todas as suas
dimensões, isto é, desde a pesquisa, até a lavra, passando pelo
beneficiamento, o transporte e o descarte”.
A Seicom disse ainda que tem desenvolvido
ações de fiscalização em várias regiões do Estado e promete para “breve”
a implantação do primeiro núcleo de fiscalização em Marabá.
(Diário do Pará)
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