Na noite passada autoridades iranianas faziam planos para impedir que o funeral de um importante clérigo dissidente se transformasse em um novo foco catalizador de protestos por parte do movimento oposicionista do país.
No passado o grande-aiatolá Hossein-Ali Montazeri, o mais importante clérigo dissidente do Irã, foi escolhido para ser o sucessor do aiatolá Ruhollah Khomeini, o líder da revolução islâmica.
Mas ele desentendeu-se com o regime e nos últimos meses vinha sendo um crítico aberto do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, condenando a repressão pós-eleitoral por parte das forças de segurança contra as manifestações que se seguiram à disputada eleição presidencial de junho último.
Em julho, Montazeri tornou-se a voz dissidente mais graduada a contestar as credenciais religiosas e políticas de Khamenei, descrevendo-as como "inválidas", e também a afirmar que o Irã estava sob regime militar. Membros do escritório de Montazeri em Qom, a cidade religiosa 140 quilômetros ao sul de Teerã, disseram ao "Financial Times" que o aiatolá morreu devido a um ataque cardíaco e que ele seria enterrado na cidade na manhã de hoje.
Segundo relatos não confirmado, a segurança em Qom foi reforçada, enquanto milhares de apoiadores de Montazeri e seguidores vindos de Teerã, Isfahan e da terra natal do clérigo, Najafabad, convergiam para a cidade. Houve também relatos em websites reformistas de que algumas pessoas foram impedidas de viajar a Qom e de que tropas de choque ocuparam as ruas.
Entre os indivíduos que disseram que comparecerão aos funerais estão Mehdi Karroubi e Mir-Hossein Moussavi - as duas principais figuras da oposição -, que perderam a eleição recente para o atual presidente fundamentalista, Mahmoud Ahmadinejad. A reeleição de Ahmadinejad gerou protestos sem precedentes da história de 30 anos do regime islâmico.
Montazeri apoiou a oposição ao dar várias declarações desafiadoras contra os julgamentos de políticos reformistas e criticar o assassinato de manifestantes e o uso da tortura em prisões. Analistas dizem que as declarações de Montazeri constituíram-se em uma dor de cabeça para o regime, e que houve preocupações quanto à possibilidade de um movimento civil mais radicalizado voltar-se para ele em busca de orientação. Na noite passada o líder supremo expressou as suas condolências, embora tivesse acrescentado que oferecia as suas bênçãos devido ao fracasso de Montazeri no "grave teste" que este enfrentou nos dias finais da vida de Khomeini.
Isso foi uma referência ao forte desentendimento entre os dois homens em 1989, quando Khomeini e Montazeri discutiram depois que este último se opôs à execução em massa de milhares de prisioneiros políticos no país. Em uma última carta a Khomeini, o seu ex-colega chamou-o de "ingênuo" e disse que ele não era mais o seu representante. Em 1997, Montazeri foi colocado sob prisão residencial e, embora tivesse sido libertado em 2003, ele continuou a criticar o governo.
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