quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Crônica de uma cidade arrasada II


Belém do Pará é uma cidade sitiada. Carro preto, carro prata. Homens encapuzados. Não adianta correr. Como dizem na quebrada, "é sal colorau". Expressão para o fim. Neste caso, de vidas. Dezenas e dezenas delas. Ano passado, segundo levantamento de matéria nesta semana do jornalista Carlos Méndes para O Estado de São Paulo, no Pará foram quase duas mortes por dia. O quinto estado mais violento do país. Na matéria, o promotor de justiça militar, Armando Brasil, falou que o povo está com medo. Óbvio ululante...

O povo está com medo e revoltado. Ninguém aguenta mais tanto abandono e descaso. A segurança pública é de responsabilidade, em primeira instância, do governador Simão Jatene (PSDB). Mas isso não isenta de responsabilidade o mandatário mor do país, do presidente da República fraco e ilegítimo, Michel Temer (PMDB). Contudo, o prefeito pode contribuir (e muito!) para reduzir o índice de violência e sofrimento físico, psíquico e social da população do município. Mas éo que nem de longe se presencia em Belém, no Pará e no Brasil.

A foto acima, do sofá e do lixo, fiz hoje de manhã na Conselheiro Furtado com Guerra Passos. É mais uma prova da violência a que o povo de Belém está submetido. Cotidianamente. 
Um sofá ainda em aparente bom estado. Quantas histórias guardaria? Não foi parar a toa ali. Quem deixaria ele quase no meio de uma avenida da capital? 

Acertou quem disse a chuva. Mas a chuva só não explica. A chuva sempre caiu. Como é comum a gente ver os mais velhos dizerem: "aqui não enchia". E se enche é porque tem um responsável. Ou vários. O povo e a chuva são vítimas.

Zenado Coutinho (PSDB), prefeito de Belém,  violenta a população quando faz propaganda eleitoral enganosa, um verdadeiro estelionato eleitoral. Violenta quando tem pedido definitivo de cassação de seu mandato por parte do Ministério Público Eleitoral do Estado. Violenta quando deixa de manter as coletas regulares de lixo, quando não oferece formas sustentáveis de coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos. 
Zenaldo, Jatene, Temer, violentam o povo de todas as formas. 

Poderia ser a foto de um presídio tomado pelas facções. Poderia ser a imagem de mais um corpo estendido. Mas é de um sofá e seus amigos entulgos. Um sofá que deveria estar descansando o corpo de algum trabalhador. Que recebeu visitas. De tantas histórias para contar. Quem sabe? Hoje é mais um grande candidato a ser casa de parasitas. Ou, de repente, pega carona na próxima enxurrada até o canal mais próximo. De repente rola entupir o esgoto. Ser parte decadente de mais caos e violência para o povo.

Povo esse que não deve ficar assitindo a banda e o sofá passando, o carro preto e prata mantando, a polícia comandando milícia e o político desviando dinheiro público da saúde, educação, saneamento e segurança. As eleições passadas, com o inédito e surpreendente número de abstenções, votos nulos e brancos em todo o país, são a expressão do descontentamento dos brasileiros. 

Eles já cansaram desse velho Regime Político. As Jornadas de Junho de 2013 estão na história para corroborar com isso.
É a cara de um povo que aos poucos descobre que, como diria Fagner, "Pra ser feliz no lugar / Pra sorrir e cantar / Tanta coisa a gente inventama / Mas o dia que a poesia se arrebenta / É que as pedras vão rolar". 
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Editado às 22h25 de 25/01/2017.

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