terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Barros Barreto, uma tragédia anunciada



Imagem do reboco que caiu do teto da ala feminina. Enviada por WhatsApp. 
Atualizado às 21h23, 10/01/2017

No início da tarde de domingo, 08/01, desabou parte do reboco de concreto do teto do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB). Desta vez  no lado oeste do terceiro andar. Justamente na área externa da ala feminina, setor de infectologia. O HUJBB pertence a Universidade Federal do Pará (UFPA), assim como o HU Bettina Ferro de Souza (HUBFS - referência regional em otorrinolaringologia e oftalmologia). Ambos estão sob a administração da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares  (Ebserh).

Referência nacional em doenças tropicais e regional em HIV/Aids, o Barros Barreto é o reflexo do caos que vive a saúde e a educação públicas no estado do Pará. Tudo acentuado por sucessivas administrações superiores incompetentes, omissas e imorais.

Desde que o ex reitor Carlos Maneschy conseguiu aprovar de forma autoritária, e em uma questionada votação on line (via email) do Conselho Superior Universitário (CONSUN), a adesão dos dois hospitais da instituição à adminitração da EBSERH (no ano de 2015), as coisas só pioraram nos dois estabelecimentos.

Ebserh é privatização e precarização

Sancionada em dezembro de 2011 pela presidenta Dilma Rousseff (PT), a Lei 12.550 estabelece a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (empresa pública de direito privado). Desde então o que tem se atestado nos HU's pelo país é uma queda drástica nos serviços prestados a população e precarização das condições de trabalho dos servidores e prestadores de serviço desses estabelecimentos. No Hospital Universitário da Universidade Federal do Ceará, desde a adesão a Ebserh, 50% dos leitos foram fechados. No HU da Universidade Federal do Triângulo Mineiro as cirurgias eletivas foram reduzidas em 33%. Dados de 2015. No HUJBB cerca de metade dos leitos do hospital estão sem uso. São dados da Federação dos Servidores das Universidades Federais Brasileiras (FASUBRA) e do Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior (SINDTIFES).

Esse quadro de ataques e redução de atendimentos não é por falta de demanda. Todos os dias assistimos ao desespero de quem precisa conseguir uma internação nesses hospitais.

Tragédia anunciada


Sobre os problemas do hospital e a queda do reboco do teto, falamos com a técnica de enfermagem do HUJBB e diretora do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições de Ensino Superior (Sindtifes/PA), Zila Camarão. Ela fez um comovente e revoltante desabafo do quadro caótico pelo qual passa o estabelecimento de assistência à saúde, de ensino, pesquisa e extensão no qual trabalha.

Sobre a queda do reboco do teto, Zila Camarão  diz que os diretores do HUJBB consideram esses episódios tão comuns, que a única providência tomada é fastar os cacos do local. Apesar da EBSERH ter captado R$ 17 milhões no ano de 2016, que deveriam ser investidos em melhorias do HUJBB e HUBFS. 

"A Ebserh e o reitor transformaram o Barros e o Bettina em verdadeiros cabides de emprego para seus apadrinhados", relata a sindicalista. Estão criando vários cargos desnecessários com salários altíssimos, como o cargo de gerente de hotelaria. "Pra quê gerente de hotelaria? Basta falar com qualquer servidor ou acompanhante de usuário aqui para saber que não existe roupa de cama e nem banho." Aliás, faltam alguns medicamentos, insumos básicos material técnico. As vezes falta água potável e/ou copos descartáveis. 

Crise

O Além da Frase conversou com vários servidores em distintos momentos do ano passado e agora nesse episódio da queda do teto. Estivemos em protestos, paralisações e greves. Percorremos os corredores e enfermarias do HUJBB. Sabemos que tem gente de todo canto do estado e até de fora. Em busca de cura. De apoio. Alento. As queixas são muito parecidas. Os acompanhantes e funcionários compram marmitas de fora. Os pacientes se aproveitam disso e também injerem dessas refeições. O que ompromete o tratamento, a dieta e representa risco patológico.

No dia 19/12/2016 no HU João de Barros Barreto, 12 homens encapuzados e com armas de grosso calibre rederam os vigilantes e servidores da portaria. Foram até a entrada principal do hospital, local onde estão os caixas eletrônicos de dois bancos. Não conseguiram abrir os caixas e saíram sem levar nada, porque o maçarico deles não funcionou até o final. Ninguém ficou ferido. Resta aguardar o inquérito aberto na Polícia Civil.

Em uma reunião com o reitor Emanuel Tourinho sobre a segurança no hospital, a representante do Sindtifes lembrou o magnífico das promessas de campanha. "Se elas tivessem sido cumpridas, a gente não estava passando por esses problemas", ressaltou a servidora. Tourinho assumiu há cerca de 120 dias. 

O caos nos hospitais universitários do Pará tem nomes, CNPJ e endereço. É o antigo e atual reitor. São os diretores biônicos impostos pela EBSERH. O Barros Barreto, não é de hoje que o sindicato, servidores e usuários denunciam, é um barril de pólvora. 

Há 4 anos caiu novamente o reboco do teto. Em outra ala. Três pacientes se feriram. Há enfermarias que quem ameça cair são os aparelhos de ar condicionado. Em outros lugares estão caindo água, de infiltrações no teto. Só não cai o número de apadrinhados e aliados do reitor que são remanejados da UFPA para os HU's para desenvolverem sabe-se lá o quê e receberem altos salários e gratificações da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. 

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