terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Venezuela: Rechaçamos a repressão do governo e ações de gangues armadas

Nota do Partido Socialismo e Liberdade da Venezuela

Três mortos, cerca de 70 feridos, um número similar de presos em Caracas e em outras cidades é o saldo da jornada de protestos convocada por setores da MUD no dia 12 de fevereiro, produto do enfrentamento ente manifestantes, grupos paramilitares e efetivos de corpos repressivos.

Mesmo não participando dessa mobilização, porque discordamos das principais consignas e da agenda dos dirigentes que a convocaram, repudiamos energeticamente a repressão exercida contra os manifestantes, assim como a utilização de coletivos armados como contingente de choque para dispersar os manifestantes.

Defendemos irrestritamente o direito democrático dos trabalhadores e do povo de protestar e exercer a liberdade de se expressar politicamente na rua. No marco das instituições burguesas que nos governam, todos os ataques aos direitos democráticos que se concretizam nesses momentos foram ensaiados contra os trabalhadores, camponeses e indígenas, tal como aconteceu com os petroleiros, trabalhadores de Sidor, a luta dos Yukpa em Perija, e em outros casos.

Nosso partido exige a liberação imediata de todos os presos na marcha do dia 12, assim como os estudantes e outras pessoas presas por protestar. Exigimos à Justiça, Defensoria do Povo e ao aparato judicial, que investiguem os atos de violência e que se faça justiça para as vítimas dessas ações e seus familiares.

Está claro que existe um apagão informativo por parte dos veículos de comunicação estatais e privados, que limita o acesso à informação, uma situação foi denunciada por esses comunicadores sociais, como foi o caso dos trabalhadores de Ultimas Notícias que debateram em assembleia a censura que os quais estava sendo submetidos.

O descontentamento se massifica

Existe um enorme descontentamento popular com as medidas econômicas de ajuste implementadas pelo governo diante do agravamento dos sintomas de uma crise que tem gerado inflação, desabastecimento a níveis alarmantes, produto de uma política que durante 15 anos somente beneficiou as multinacionais, banqueiros e importadores. Essa situação explica uma participação massiva da população nas marchas realizadas na quarta feira passada em diversas partes do país.

O povo trabalhador está sendo asfixiado economicamente, enquanto a banca e as multinacionais, assim como os grandes importadores e corruptos se forram com os rendimentos do petróleo. Esta festa se evidencia no roubo de 20 bilhões em CADAVI por meio de empresas fantasmas, cobertas pelo manto da impunidade tecido pelo próprio governo. Altíssimos preços, um desabastecimento que ronda 30% segundo o último informe do BCV, míseros salários abaixo da canastra básica e a implementação a conta-gotas de um ajuste, cuja primeira medida é a desvalorização aplicada no começo de ano, mas que com segurança incluirá mais medidas, como o aumento da gasolina, congelamento de contratos coletivos, aumento nas tarifas dos serviços públicos, dentre outras, os fatos desmente toda a propaganda oficial a sobre uma “suposta transição ao socialismo”. Diante da ausência de Chavez, cujo prestigio e carisma permitiam impor medidas antipopulares com menorresistência, Nicolas Maduro e Diosdado Cabello vem enfrentado um grande descontentamento em sua própria base chavista.

Em rigor, com essas medidas econômicas implantadas pelo governo, este decidiu descarregar a crise sobre os ombros dos trabalhadores e do povo.

Não podemos ser carne para o canhão da burguesia opressora

Não obstante, as recentes manifestações estão sendo dirigidas por Leopoldo Lopéz e seu partido Vontade Nacional, junto com Maria Corina Machado e Antonio Ledezma, que representam o setor mais à direita da MUD. Nesse sentido, devemos deixar claro que rechaçamos que este setor pretenda aproveitar a representação da maioria do povo descontente com o governo e manipule os estudantes e setores importantes da população em função de sua política pró-imperialista e pró-patronal, no marco de suas disputas interburguesas com o setor da MUD encabeçado por Henrique Capriles, aproveitando o mal-estar genuíno que existe no seio dos trabalhadores e do povo venezuelano.

Com Vontade Popular, Primeiro Justiça, AD, Copei, UNT e os demais partidos que integram a MUD, não tem saída diante da grave crise que atinge os trabalhadores e o povo. Esses partidos tem acordo com a desvalorização, em não aumentar os salários, assim como manter as empresas mistas no setor petroleiro. Estão dispostos a abrir ainda mais a economia as multinacionais e continuar os rentáveis negócios que tem favorecido aos banqueiros e importadores durante os últimos 15 anos. 

Por uma política de independência de classe diante do governo e da MUD

É necessário articular as lutas dos trabalhadores e do povo com o objetivo de organizar uma alternativa independente do governo, que falsamente se proclama socialista, enquanto beneficia as multinacionais e empresários e ao mesmo tempo criminaliza os trabalhadores petroleiros, sidoristas, os que lutam por seus contratos coletivos, os trabalhadores de empresas privadas como Toyota, persegue os Yukpa, os pemones e a toda iniciativa de luta autônoma colocando em evidencia sua aliança estratégica com os capitalistas. Mas essa saída também deve ser independente da MUD e do setor de Leopoldo López. Não nos resta a menor duvida de que si eles estivessem no poder aplicariam as mesmas medidas de ajuste que aplica Maduro. Não é em vão que são continuadores da política de AD e Copei no passado.

Só os trabalhadores e o povo pobre poderão dar a reposta a grave crise econômica que passamos, devemos mobilizar de maneira independente e exigir: um aumento geral de salário; igualar o salário-mínimo a canastra básica e revisão a cada 3 meses para reajustar de acordo com a inflação; pela eliminação do IVA, contra a desvalorização e a política fiscal monetária que se traduz em altíssima inflação; pela defesa dos contratos coletivos; moradia; acesso a saúde publica de qualidade; contra a corrupção, contra exploração carbonífera em Perijá, contra a criminalização dos protestos.

Exigimos a nacionalização de 100% do petróleo e da indústria petroleira, sem empresas mistas nem multinacionais e que a renda do petróleo se coloque a serviço da satisfação das necessidades mais urgentes da população, assim como para impulsionar o desenvolvimento de um modelo econômico alternativo, sob o controle democrático dos trabalhadores. 

Por um encontro sindical e popular de setores em luta

Neste sentido, nosso partido coloca que é urgente que a Unidade de Ação Sindical, onde participam a Unete de Marcela Máspero, C-cura e outras correntes sindicais, assim como o FLEC da costa carabobenha, Fusbec, Rubén González de Ferrominera Orinoco, Coalición Siderúrgica e outras agrupações sindicais e populares convoquem de imediato um Encontro Nacional Sindical e Popular de setores em luta que discuta um plano econômico e social de emergência, assim como um plano de mobilização nacional em defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo.

Nós trabalhadores devemos levantar nossa voz e nossas propostas, independente do governo e da MUD, articulando com diversas organizações comunitárias, camponesas, indígenas impulsionando um plano de luta nacional que desde os de baixo dê as respostas, sem falsos atalhos, a grave crise que atravessa o povo.

Tradução: Lucas Barbosa
Fonte: http://www.cstpsol.com/viewnoticia.asp?ID=507

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