sábado, 20 de fevereiro de 2010

PSOL com perfil fundacional e de combate ao PT não combina com Martiniano

Por Michel Oliveira - Diretório Nacional do PSOL

e Diego Vitello – Executiva Estadual PSOL RS


O primeiro debate entre os pré-candidatos do PSOL, realizado no Rio de Janeiro, foi bastante positivo. Sobretudo, para o amplo setor que defendeu candidatura própria. Assim, de cara, a candidatura de Plínio e de Babá entraram em cena muito fortalecidas. O local escolhido para o evento não poderia ser mais significativo: a sede o SINDSPREV, um dos sindicatos que constrói o Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (CONCLAT), processo no qual o PSOL atua de forma protagonista por meio de sua militância sindical.

Inúmeros textos circulam no partido após o debate, revelando, em especial, a tônica de grande preocupação por parte dos apoiadores da campanha de Martiniano. Fato que se justifica tendo em vista a falta de entusiasmo que recebeu sua pré-candidatura no interior do PSOL. Vários dos ex-aliados do bloco de Robaina/Martiniano/ Heloisa, por exemplo, hoje, apóiam Plínio. Caso do Deputado Gianazzi (SP) e de Milton Temer, no Rio de Janeiro. Também se verifica que, mesmo entre a militância de base de suas correntes, há um grande reconhecimento por Babá e seu papel dos tempos iniciais de enfrentamento para construção do partido. Sobressai, o visível desconforto de Martiniano e de seus apoiadores pela derrota política que sofreram na linha de apoiar Marina, aspecto fundamental, a nosso ver. Piorando a situação, Heloisa Helena, após assinar a carta de lançamento de Martiniano, declarou nos jornais que segue apoiando e torcendo por Marina Silva.

Assim, compreendemos a instabilidade no interior da campanha de Martiniano e os motivos que os levam a tentar polemizar, dessa forma, contra Babá e o camarada Plínio. Incluindo certo grau de despolitização. Além de estimularem entre os militantes de suas correntes inverdades e até calúnias, por exemplo, que a CST se liga à direita fascista na Venezuela, o que não vem acompanhado de qualquer fundamentação e só revela a extrema fragilidade política e ideológica dos que a lançaram. Este tema, vamos abordar em breve em outro texto. Porém, desde já chamamos o mais amplo debate político, com base nos fatos da realidade da luta de classes latino-americana, e não em amálgamas infundados, tão semelhantes aos usados ao longo de décadas pelo estalinismo.


Combate ao PT e defesa do projeto fundacional do PSOL com Marina Silva?!?!

No debate do Rio de Janeiro, Martiniano repetiu o que está em sua carta de lançamento: que a política de apoio à Marina Silva do PV é uma continuidade da linha fundacional do PSOL. Nada mais falso.

Apesar de Roberto Robaina dizer que esse debate já está encerrado, a candidatura de Martiniano faz um balanço altamente positivo das negociações com Marina e, pelo visto, pretende repetir essa “tática” em outros momentos. Esse é o motivo que torna fundamental essa discussão em nossa Conferência Eleitoral.

No primeiro debate, Martiniano chegou a ponto de igualar o processo de ruptura do PT em 2005, com a saída de Marina do PT em 2009. Nada mais fora da realidade.

Em 2005, após o mensalão, estivemos diante de um processo de ruptura de esquerda que fortaleceu o PSOL por meio da entrada de inúmeros parlamentares, figuras públicas, tendências e dirigentes do movimento social. Logicamente, trazendo para o PSOL debates sobre o programa e o estatuto de fundação.

Em 2009, assistimos a saída de Marina e do senador Flavio Arns do PT. Os que romperam em 2005 vieram para o PSOL, os de 2009 foram para o PV e para o PSDB!!! Ou seja, não se tratou de uma nova onda de ruptura de esquerda após o PT ter apoiado Sarney no Senado.

Marina Silva, no PT não era de esquerda. Saiu do Ministério reivindicado a política do governo. Saiu do PT dizendo que não romperia com o governo Lula. Reivindica a política econômica de FHC. Em sua gestão no MMA dividiu o IBAMA a serviço das madeireiras e fez o projeto de concessões florestais para privatizar a Amazônia. Sua campanha é financiada por multinacionais como a Pirelli e por empresas que exploram os povos tradicionais da Amazônia, como a Natura. Como combater Lula, Dilma, e a falsa polarização, com uma candidata assumida de perfil Tucano-Petista?

Entregar nosso patrimônio à Marina Silva na eleição 2010 era contra, totalmente contra o projeto fundacional do PSOL. Era contra o combate implacável ao PT. No entanto, ainda hoje Martiniano justifica essa política que, uma vez aplicada, liquidaria de vez o projeto fundacional do PSOL.

Martiniano e Robaina criticam Plínio pelas declarações de que o governo Lula foi melhor que o de FHC. Sem dúvida, é um debate importante, pois a marca do PSOL foi igualar os irmãos siameses, não existindo mal menor, entre o PT e o PSDB. Esse foi um dos motivos pelos quais criticamos os dirigentes do PSOL que votaram em Lula e nos candidatos petistas no segundo turno de 2006. Pelo mesmo motivo seria injustificável o voto de Luciana em Tarso Genro do PT caso haja segundo turno nas eleições de outubro no RS.

Robaina critica Plínio por não assinar suas matérias nos jornais como Psolista. Sem dúvida esse é outro debate importante. Robaina escreve que não aparecer como PSOLISTA “não é próprio da linha fundacional, que tem como marca afirmar o partido, sua sigla, sua capacidade dirigente” (Resposta de Roberto Robaina a Juliano Medeiros). Mas, nos dois casos, Robaina esquece que sua política, juntamente com Martiniano, foi a de NÃO apresentar o PSOL nas eleições 2010. Era de votar no “43” do PV, e não no 50 do PSOL. Essa política, uma vez aplicada, impediria o combate ao PT de Lula e Dilma.

Apoiar Marina, diluir o PSOL no PV, não passa do que Chico de Oliveira classificou de “oportunismo e falta de visão estratégica”. É também resultado da ação de quem não tem vocação para construir um partido de massas com o perfil de fundação do PSOL. A linha foi um desastre que só favoreceu aos nossos adversários, pois só teremos candidato após a Conferência, o que atrapalha nossa política eleitoral.

Vale lembrar que Robaina e Martiniano organizaram um ato com a presença de Heloisa e o delegado Protógenes no Rio de janeiro, onde os materiais de convocação não falavam uma linha contra Lula ou sequer de denúncia do governo.

A pergunta que se impõe ainda é: o que Roberto Robaina e Martiniano dizem da declaração de Heloisa apoiando Marina do PV? Heloisa se dispôs, e isto é o cúmulo de desrespeito às instâncias, a construir o programa de governo de Marina do PV!

Não há como negar que a instabilidade política e ideológica dos líderes desse bloco gera esses fenômenos. Heloisa segue na linha de apoio a Marina, pelos argumentos construídos para justificar essa política no semestre passado. Afirmava-se que a nossa base social se agruparia ao redor do suposto movimento desencadeado por Marina e que não poderíamos nos isolar desse processo. Declarava-se que o maior perigo era a pressão do sectarismo e do propagandismo expresso na política de candidatura própria. E, supostamente, se garantiria nossa independência por meio de nossos candidatos a governador.

Na eleição 2010, o debate central será a Presidência da Republica, ou seja, o projeto nacional que devemos contrapor a Dilma e a Serra. Porém, Robaina o reduzia a uma disputa de estado a estado, ao mesmo tempo em que orientava o apoio nacional ao PV! Ainda mais, Roberto Robaina chegou a escrever que “assim como Heloísa Helena foi a tentativa de quebrar a falsa polarização entre o PT e o PSDB nas eleições 2006, agora Marina Silva terá objetivamente esse papel”. (O panorama do PSOL e a tática eleitoral 2010).

De nossa parte, não aceitamos que exista uma campanha nacional do PSOL paralelamente a uma campanha psolista para Marina/PV em Alagoas ou qualquer outro estado. Seguir apoiando Marina Silva, quando o PSOL terá candidato “não é próprio da linha fundacional, que tem como marca afirmar o partido, sua sigla, sua capacidade dirigente”.


A fundação do PSOL, o combate ao PT e candidatura de Martiniano

Um dos argumentos para a defesa de Martiniano é “desenvolver o trabalho iniciado com a fundação do PSOL” e combater “de forma consequente o PT e Lula”. Nada mais falso.

Quando fundamos o PSOL nosso partido tinha em seu programa e estatuto um claro perfil de classe. Nosso programa de fundação marca firmemente que o PSOL resgata a independência política dos trabalhadores, combate as alianças com os patrões. Nosso estatuto proíbe o financiamento privado das multinacionais.

Esse dois aspectos foram jogados na lata de lixo na campanha de Porto Alegre, dirigida pelo MES. Lá, a companheira Luciana Genro, se aliou ao PV. Pior, recebeu dinheiro da GERDAU, contrariando a posição de todos os demais setores da Executiva Nacional do PSOL. Recebeu dinheiro ainda de outros patrões: a Taurus, a rede Zaffari. Perguntamos se isso é fortalecer o estatuto e programa de fundação do PSOL? Esta é política coerente defendida por Martiniano?

Martiniano defendeu a coligação com o PV em Porto Alegre. O mesmo PV que, no Rio, há vários anos, coliga com o PSDB. O PV que, em São Paulo, está com Serra e Kassab. O PV que foi o último partido a sair do governo Arruda. O PV, fisiológico que, ao mesmo tempo, alia-se com o PT nos estados e nível nacional. Isso nada tem haver com a política fundacional do PSOL.

Ainda sobre a campanha gaúcha, Roberto Robaina e a direção do MES incluíram o Ministro da INjustiça do Governo Lula, o Tarso Genro, no programa eleitoral de Porto Alegre! Isso ajuda a combater o governo?

Não cremos que todo ecletismo teórico de Robaina seja capaz de produzir uma resposta satisfatória para essa pergunta. Mas nesse ponto a palavra está com ele, ainda que o silêncio, nesse caso, fosse o melhor, pois, é impossível combater Lula e o PT, ao lado de Tarso Genro. O mesmo Tarso Genro que assumiu a presidência do PT após o mensalão!

Até agora a justificativa para aparecer na TV com um MINISTRO PETISTA é a frágil desculpa de que Tarso Genro é pai de nossa deputada Luciana Genro. No entanto, não há nenhuma obrigação de que o pai ou mãe da candidata apareça nos programas eleitorais. Se o pai de Luciana Genro fosse do PSDB ligado a Yeda, temos certeza de que não apareceria no programa do PSOL de Porto Alegre. Trata-se de uma opção política. Tarso é ainda um dos poucos dirigentes do PT com peso na população e foi levado para favorecer eleitoralmente Luciana por puro cálculo eleitoral. Nessa pragmática decisão não se levou em conta a necessidade de combater implacavelmente o PT e seus dirigentes que iludem e oprimem o povo.

No entanto, o abandono do projeto de fundação e a desistência de combater o PT são mais profundos. Na campanha, Luciana Genro declarou que Tarso Genro do PT, foi “o melhor prefeito que a cidade já teve”, apoiando explicitamente o modo PETISTA de governar.

Do mesmo modo, como combater o PT e Lula votando em suas candidaturas nas presidências da Câmara e do Senado? Martiniano apoiou a linha errada de nossos parlamentares que, ao invés, de se apresentarem como força política independente, votaram nos candidatos do mensalão e dos atos secretos.


“Sectarismo e dogmatismo” na campanha do Babá...?

Roberto Robaina afirma que a campanha de Babá só sairia fortalecida caso não criticasse Martiniano. Caso se afaste da “linha justa” ditada por ele nossa campanha se anularia. Porta-se assim como se fosse o depositário de toda a “sapiência” da esquerda socialista mundial. Talvez por isso o mau hábito de imputar a outros a responsabilidade pelos desastres que comete. Vide caso do “Delegado do Povo”, quem embalado pelo prestígio do PSOL, foi parar no PCdoB, do governo Lula. Aí, sim, a tática, baseada no impressionismo político, se anulou completamente.

Prossegue em seu texto e declara que a CST é “dogmática e sectária”. Dogmatismo e sectarismo por ser contra que o PSOL receba R$ 100 mil da GERDAU! Dogmatismo e sectarismo por ser contra aliança com Marina do PV de Zequinha Sarney, o PV do Serra e do PSDB do Rio! Dogmatismo e sectarismo por ser contra que o PSOL vote em Aldo Rebelo no Congresso, o mesmo Aldo chefe do congresso do mensalão! Dogmatismo e sectarismo por ser contra que o Ministro da Justiça do GOVERNO LULA, do PT apareça no programa do PSOL!

Sectária e dogmática mesmo, além de auto-proclamató ria, é a declaração de Robaina de que “Martiniano, aliás, é o único pré-candidato que percebe a importância de Heloisa Helena” (O debate dos pré-candidatos do PSOL). Um absurdo, pois quase todas as correntes do PSOL defenderam que o melhor nome para 2010 era Heloisa. Ela não é candidata por vontade própria. A direção do MES e do MTL são as únicas que justificam que nossa maior figura pública seja candidata ao Senado de Alagoas, fato que diminui o espaço do PSOL nas eleições.


Com Martiniano, o PSOL vota até no PV

Por meio da análise da prática política dos integrantes da candidatura de Martiniano Cavalcante vimos inúmeros exemplos da rendição à pressão lulista e sua alta popularidade. Em inúmeras situações concretas observamos a receita integral de como não combater o PT e o governo Lula. Eles são protagonistas de exemplos do que não se deve fazer em 2010.

O projeto original, de fundação, foi abandonado por esses dirigentes em nome do eleitoralismo mais pragmático. Com eles o rosto do PSOL seria substituído pela cara do PV. A política de fundação é trocada pela máquina de calcular, pela matemática do tempo de TV e do coeficiente eleitoral.

Comprova-se que o perfil fundacional do PSOL e o combate implacável ao PT não combinam com a campanha de Martiniano.

Para desenvolver esse debate é muito importante a participação da militância nos debates entre os três pré-candidatos. As plenárias de eleição de delegados, assim como as conferências estaduais são também altamente apropriados para isso. Desse modo, politizando nossa militância, mobilizando a base do partido poderemos derrotar essa política de liquidação do PSOL. Esse é o caminho para resgatar de verdade o programa fundacional do PSOL, o PSOL das origens

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