terça-feira, 7 de abril de 2015

Educação SIM, cadeia NÃO! Vamos à Luta contra a redução da maioridade penal!


por Eziel Duarte e Mariana Nolte

No dia 31 de março, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara parecer favorável à admissibilidade da PEC 171/93 que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Ainda que a decisão ainda não seja definitiva e precisa passar pelos deputados federais e senadores através da Câmara e do Senado, a votação na CCJ já é o primeiro passo de um brutal ataque à juventude brasileira. Esse fato se torna ainda mais absurdo quando vemos que 60% dos deputados que votaram a favor da PEC estão sendo investigados por crimes e que tudo indica que os presidentes da Câmara e do Senado, os corruptos Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos do PMDB, estão envolvidos no esquema de corrupção que está saqueando e privatizando a Petrobras. Os bandidos de colarinho branco que desviam dinheiro das escolas, hospitais e sonegam impostos estão a solta e agora querem penalizar a juventude por um problema pelo qual eles mesmos são responsáveis!

A juventude pobre e negra penalizada

“Se o jovem sabe que vai ser punido, não irá cometer um crime” é parte do discurso pró-PEC 171/93. No entanto, segundo a Secretária Nacional de Segurança Pública, apenas 0,9% dos crimes são cometidos por adolescente de 16 a 18 anos e, considerando apenas homicídios e tentativas de homicídio, o percentual cai para 0,5%. Ou seja, um discurso que não expressa os dados da violência no Brasil e que tenta mascarar a realidade da juventude, principalmente os jovens pobres e negros.

Na prática, adolescentes já são encarcerados pelo sistema “socioeducativo” que são, na verdade, verdadeiras prisões. Quase 60% dos “menores infratores” não estudavam na época que cometeram o primeiro crime, 75% já usavam drogas e, no Rio de Janeiro, por exemplo, 95% dos internos não completaram o ensino fundamental. Jovens entre 18 e 24 anos são 30% dos presos no país e o problema da violência não foi resolvido. Além disso, 61% dos encarcerados no Brasil são negros, sendo que 66% da população que “vive” nos presídios sequer concluíram o ensino fundamental.

Punir ou educar?

Quando analisamos o crime cometido por um menor, a tendência é de observarmos apenas a foto do ato infracional e não o filme completo que irá revelar a causa e o efeito que levou esse jovem a cometer crimes. No entanto, esses dados colocam a nu o coração do problema. Se à juventude são negados direitos sociais fundamentais como educação e saúde públicas, gratuitas e de qualidade, moradia e saneamento básico, o Estado a empurra para o colo do crime organizado e do narcotráfico, pois não lhe dá outra opção. A condição de miséria social produzida pelos governos é que gera a violência.

Hoje a política para juventude pobre e negra é a bala no peito nas favelas, é o “baculejo” e uma voltinha de camburão talvez para nunca mais. Essa realidade ficou evidente na última semana com a morte de Eduardo, menino de 10 anos, e de mais três jovens menores de idade, no Complexo do Alemão (RJ), durante operação da Polícia Militar. Fatos como esse, que fazem parte do cotidiano dos trabalhadores, trabalhadoras e jovens nas favelas, fazem com que o Brasil seja o país que mata 82 jovens por dia sendo que 77% são negros.

Os responsáveis tem nome, sobrenome e partido político 

O governo Dilma (PT/PMDB/PCdoB) que tem em sua base aliada o corrupto PP de Jair Bolsonaro (PP), que diz que “bandido bom é bandido morto”, é também responsável, junto com os governadores e prefeitos, pelas mortes desses jovens e pela falência do sistema educacional. Dilma e o PT não só governam com aqueles que bradam a volta do regime militar, mas apoiam e compõem governos como o de Pezão (PMDB) no RJ, que aplicaram uma política de (in)segurança pública que mata meninos como Eduardo todos os dias nas favelas. Foi Dilma quem autorizou no ano passado, no mesmo dia em que se completavam 50 anos do Golpe Militar, a invasão do Exército ao Complexo da Maré que até hoje permanece lá reprimindo, sequestrando, torturando e matando moradores. Também não podemos esquecer que, para a realização da Copa da FIFA, milhares de famílias foram removidas dos terrenos onde estavam suas casas para dar lugar a estádios e estacionamentos. Perguntamos à presidenta: onde estão hoje essas crianças e jovens que perderam sua moradia?  Além disso, o ajuste fiscal de Dilma e Levy que já retirou direitos trabalhistas através das MPs 664 e 665 e já cortou R$7 bilhões da educação -  em um total que pode chegar a R$111 bilhões de todas as áreas sociais - tem seu principal alvo a juventude pobre e negra, agravando dados como o que afirma que apenas 1% dos jovens moradores das periferias entram na universidade (pesquisa da UFPA).

Ocupar as ruas contra a redução da maioridade penal e contra o ajuste fiscal

Como diz o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), a juventude precisa estar no banco das escolas e não no banco dos réus. Por isso, é necessária uma ampla mobilização, nas ruas e nas redes, dos estudantes, trabalhadores e suas entidades, movimentos e associações de bairros, mandatos parlamentares etc. para barrar de vez essa PEC que ataca que ataca os direitos da juventude. 

Também é necessário derrotar o ajuste fiscal e os cortes de verbas nas áreas sociais de Dilma e Levy que já está aprofundando a crise social que afeta principalmente a juventude que o Congresso Nacional quer colocar nas cadeias. É necessário suspender o pagamento da dívida pública que corrói 47% do nosso Orçamento para encher o bolso dos banqueiros e investir todo esse dinheiro em educação, saúde e moradia para dar vida digna à juventude e pôr fim à violência. Precisamos dar um basta à violência policial, às UPPs e à militarização das favelas que está assassinando os nossos jovens e apoiar todas as lutas dos moradores das periferias que estão se revoltando contra essa realidade!
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Eziel Duarte é militante do Vamos à Luta UFPA e Mariana Nolte é da CST-PSOL RJ


Fonte do texto: http://vamosalutanacional.blogspot.com.br/
Fonte da charge: http://soumaisenem.com.br/noticias/reducao-da-maioridade-penal-possivel-tema-de-redacao-no-enem

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