quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Polícia brasileira matou mais do que a americana em três décadas

Fonte: Foto
A 8ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra a urgência de elaborarmos uma política de segurança que acabe com a lógica da guerra às drogas e do enfrentamento para se basear na garantia de direitos, nos investimentos em inteligência e no respeito aos Direitos Humanos.
Essa tragédia cotidiana ganhou corpo no relatório que será [foi] divulgado no dia 11 de novembro. São números de guerra: em apenas cinco anos, a polícia brasileira matou mais do que a americana em três décadas. Foram 11.197 mortes, o equivalente a seis por dia. Nos Estados Unidos, repito, em 30 anos, ocorreram 11.090 – média de uma pessoa por dia.
Ao humanizar esses números, é preciso lembrar que a “guerra às drogas” não é propriamente uma guerra contra as drogas. Não se ​combate coisas; como nas demais guerras, o alvo são pessoas, nesse caso os inimigos são os marginalizados, negros, os desprovidos de poder, moradores das periferias e favelas brasileiras.

Segundo a Anistia Internacional, 30 mil jovens entre 15 e 29 anos são mortos por ano no país. Destes, 77% são negros. Essas pessoas são duas vezes alvo da violência do Estado. Primeiro, ao não terem seus direitos mais elementares respeitados. Segundo, por serem a grande maioria das vítimas da ação letal estatal.
​Como nesse jogo cruel não há vencedores, ​a mesma pesquisa mostrou que o Rio de Janeiro, desde 2012, é o Estado onde mais morrem policiais no Brasil, ocorreram 104 homicídios. Nos últimos cinco anos, a quantidade de policiais assassinados cresceu, foram 1.170. Em 2013, houve 490 mortes , 43 a mais do que no ano anterior.

Precisamos colocar a defesa dos Direitos Humanos no centro da agenda do debate sobre Segurança Pública.​ É preciso afastar a “militarização ideológica da segurança pública​”, para iniciar a desmilitariza​ção​ ​da PM e desenvolver modelos de treinamento que priorizem o respeito aos direitos civis e a proteção da vida. A lógica do trabalho policial não deve mais ser o combate e a eliminação inimigos.
A desmilitarização é o caminho para melhorar as condições de trabalho dos PMs, valorizar a carreira, democratizar a instituição e melhorar a formação. Para que os policiais convivam com a democracia, é preciso que exista democracia e respeito dentro da corporação.
“Soma-se a esse esforço também a necessidade de ultrapassar estigma que o Policial Militar é o único responsável por esse quadro, deixando intocadas as ações do Ministério Público e do Poder Judiciário, de governantes e legisladores, da mídia e da sociedade como um todo, que o reafirma e incentiva.”
Além disso, precisamos de uma política de drogas que ponha fim ao ciclo de violência e ​planeje uma política de redução de danos, de campanhas educativas, que leve o problema para o âmbito da saúde pública e retire o poder dos traficantes. Não se trata de incentivar ou banalizar o uso de entorpecentes, mas de responder a uma pergunta crucial: preferimos que este comércio seja controlado pelo tráfico ou pelo Estado?
Não podemos assistir a esta tragédia de braços cruzados nem adotar medidas que recrudesçam ainda mais o ciclo de violência.
(Fonte: http://www.marcelofreixo.com.br/2014/11/11/policia-brasileira-matou-mais-do-que-a-americana-em-tres-decadas/)

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