terça-feira, 25 de novembro de 2014

Chacina em Belém: não foi uma foto, é um filme

Marcus Benedito, especial para o Jornalismo B

Era final da noite de 3 de novembro e início da madrugada do dia 4 e de todos os cantos da cidade chegavam notícias de uma carnificina. Não havia como contestar que algo de muito tenebroso se abatia com maior rigidez nos bairros do Guamá, Terra-Firme, Canudos, Marco, Jurunas e Jardim Sideral. Dezenas de mortos, moradores de bairros pobres assassinados indiscriminadamente pela Polícia Militar do Pará depois da morte de um policial.

Os mais citados pela imprensa e reconhecidos oficialmente pela Secretaria de Segurança Pública do Pará como sendo os locais onde ocorreram homicídios com as mesmas (ou parecidas características), que vitimaram onze pessoas: dez civis e um cabo da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam) da Polícia Militar do Estado do Pará (PMEPA).

Protesto em Cametá/PA contra violência da PM. Foto: Tadeu Sanches
Quem mora em muitos municípios do Pará sabe que existem, sim, milícias atuando. Foi a matança de jovens, negros, pobres, moradores de áreas periféricas, que fez, por exemplo, mais de mil pessoas tomarem as ruas de Cametá, cidade a 200 km da capital do estado, na última sexta-feira (7). Para uma população que tem cerca de 45 mil pessoas vivendo na sede, uma grande parcela tirou o nó da garganta e foi para as ruas protestar contra a violência, principalmente a institucional, a que tem agentes da segurança pública envolvidos.

Os relatos a seguir dizem muito do ocorreu nestes últimos dias, na banhada de sangue Belém do Pará. Fatos que exigem das autoridades e dos movimentos sociais organizados, bem como de toda a sociedade, uma resposta contunde. Fatos que explicam os porquês de se lutar pela desmilitarização da PM. Fatos que explicam os porquês da necessidade de se legalizar as drogas, como vem ocorrendo nos Estados Unidos, forma eficaz de se deter a guerra aos pobres e o extermínio da juventude negra.
As políticas de higienização social remontam, em Belém, aos fins do século XIX, com as políticas de “sanitarização” ementadas pelo intendente Antônio Lemos. Materializaram-se na forma de demolições de cortiços, assim como através da edição do reacionário e excludente Código de Postura do Município e, para garantir sua pérfida execução, cria-se a Guarda Municipal de Belém.

Os pobres, negros, mulatos, descalços, desempregados, gente vista como “vagabunda”, caboclos, etc., não mais podiam transitar nos mesmos espaços que a burguesia e os barões da Belle Époque. Virou crime apanhar uma simples manga doada por uma robusta no Largo da Pólvora (atual Praça da República). O que ocorre hoje são ações proporcionadas pelo estado, que seguem a mesma lógica de Lemos, mas que adquiriram mais horror, ódio, violência e preconceito de classe.

Filme de terror

Alguns blogs e periódicos, como o Jornal do Brasil, publicaram matérias informando que a própria Rotam chegava a assumir de forma “extra oficial”, inclusive através de gravações de conversas pelo citado aplicativo de mensagens, que naquela madrugada do dia 4, após a morte do “Cabo Pet”, o que se viu em Belém foram cenas de um filme do pior terror, e o número de homicídios de civis pode ter variado entre 35 a 42 mortes.
Coincidência ou não, no dia 2 de novembro foram divulgados os dados publicados na edição 2013 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os quais “reforçam a sensação de que vivemos em uma sociedade fraturada e com medo; aflita diante da possibilidade cotidiana de ser vítima e refém do crime e da violência”.

Ele traz uma terrível constatação que os jornais estamparam nessa semana: em cinco anos, a polícia do Brasil matou mais pessoas do que a polícia dos Estados Unidos nos últimos 30 anos.

Para mais informações sobre a situação em Belém, leia a postagem A guerra na periferia, do blogueiro Lúcio Flávio Pinto.


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