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É um assombro o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, do PT. Do PT? Eclode uma greve, uma agitação, uma passeata, qualquer ato de resistência de trabalhadores, índios, estudantes ou até funkeiros de ostentação e o ministro petista faz questão de aparecer em triste papel. O de adversário das mobilizações, de guardião da ordem, xerife patético.
A última aconteceu nesta semana, durante a greve dos metroviários de São Paulo. Greve de trabalhadores para arrancar reivindicações da estatal paulista. Pois não é que de novo, sem ser chamado, seu nome nem sequer lembrado, o ministro inconveniente apareceu para oferecer apoio ao governador tucano Geraldo Alckmin, contra os metroviários? “Seja por que for, o governo do estado pode contar com o apoio instrumental do governo federal”, proclamou pela rádio CBN.
José Eduardo Cardozo é o cara que mais lê jornais. Mas lê mal –sabe de nada, inocente. Devia frequentar um pouco mais as ruas para aprender. No dia 1º de junho, um domingo, leu a manchete sensacionalista do “Estado de S.Paulo”: “Black blocs prometem caos na Copa com ajuda do PCC”. Dentro, no jornal, a frase, proferida por um –repetindo, apenas um!-- suposto black bloc, cara que teria 34 anos, sem rosto, sem nome: “A gente tem certeza de que o crime organizado, o PCC, vai causar o caos na Copa, e a gente vai puxar para o outro lado”.
Lá veio o como sempre impertinente ministro. Sem uma informação a mais, sem um questionamento quanto à qualidade da notícia publicada, toda “off the records”, proferiu a platitude: “É inadmissível a união pelo crime. [...] É inadmissível que pessoas queiram se associar ao crime para fazer reivindicações”.
Pronto! Acabava de vir da boca de um petista a imperdoável associação do movimento reivindicatório à criminalidade. Para um partido que nasceu das greves operárias dos anos 1970 e 80, trata-se de um passo e tanto!
Há um ano, o ministro já envergonhava a militância do PT. Foi no dia 12 de junho, quando colocou a Polícia Federal para investigar manifestantes contra o aumento das tarifas de ônibus no Rio de Janeiro e em São Paulo. Queria dar uma mãozinha para as descontroladas e violentas polícias dos governadores Sergio Cabral e Geraldo Alckmin lidarem melhor com a mobilização.
O resultado foi o que se viu: milhões nas ruas, gritando contra o PT, PSDB, Dilma, Alckmin, Cabral –sem distinção.
Cardozo gosta de dizer que sua “alma mater” é a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Quer dizer, foi lá que ele concluiu sua graduação, em 1981. O currículo Lattes, entretanto, não vai muito além disso. Consta que, em 1993, ele apresentou a dissertação do mestrado, também pela PUC. E só. (E diz-se que ele ainda quer ser indicado ministro do STF!)
Sem votos (em 2009, chegou a anunciar que desistia de cargos eletivos), Cardozo mantém-se à tona graças ao bom relacionamento com a presidente Dilma e ao fato de ser o “corajoso” que faz o discurso da ordem, embora ninguém lhe dê ouvidos e muitos petistas o desprezem.
Agora, a ação mais nefasta do ministro é o desmonte da Funai (Fundação Nacional do índio), subordinada ao Ministério da Justiça. Reclamada pelo agronegócio, a extinção da Funai vem sendo feita aos poucos. Exemplo: repousam sobre a mesa de Cardozo e da presidente 37 documentos de demarcação de terras indígenas que lhes foram enviados pela Funai.
Em vez de assinar (os governos do PT foram os que menos assinaram demarcações desde Collor), Cardozo acaba de inovar. Reverteu 85% das terras indígenas guaranis de Mato Preto (Rio Grande do Sul), que ele mesmo havia reconhecido.
A agricultura ficou com 3.585 hectares e os índios com 634 hectares. Para um partido que nasceu reivindicando Justiça para todos, a intervenção de Cardozo na cena política é afrontosa. Pede pra sair, ministro!
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