Gastos com viagens internacionais aumentam 360% no Governo Jatene. Integrantes da comitiva da viagem do governador a Paris gastaram por dia na capital francesa mais de 1 salário mínimo – ou mais do que recebe a maioria da população paraense por um mês inteiro de trabalho. Solenidade de entrega de certificado ao Pará durou apenas 60 minutos, mas viagem de Jatene&cia durou mais de uma semana. Em 3 anos, viagens internacionais do Governo já consumiram quase R$ 2 milhões.
por Ana Célia Pinheiro, em seu blog A Perereca da Vizinha
A estonteante Paris, capital da França... |
...E Melgaço, no Pará, o município de pior IDHM do Brasil: viagem do governador Jatene a Europa para receber pedaço de papel provoca ira da oposição. Foto: EDUCOM |
É um vidão maravilhoso, regado a muito Moët&Chandon – e quem paga é você, desalentado contribuinte.
Na semana passada, o tucano Simão Jatene, que governa o Pará, estado que possui o terceiro pior Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil, viajou até a esfuziante Paris, a 7.412,43 km de Belém, a capital do estado, para receber um pedaço de papel: o certificado da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) de que o Pará é área livre da febre aftosa.
É verdade que o certificado é importantíssimo para que o estado (dono do quinto maior rebanho do país) possa turbinar ainda mais as suas exportações.
Mesmo assim, a viagem de Jatene provocou espanto: afinal, até agora ninguém conseguiu encontrar um só motivo administrativo de peso para que o governador viajasse a Europa, para receber um documento que poderia ser enviado pelo correio (ou até mesmo por email).
Daí as especulações oposicionistas de que o real motivo da viagem seria a gravação de imagens televisivas, para a campanha de reeleição de Jatene. Em outras palavras: uso da máquina para propaganda eleitoral.
O deslocamento a Paris provocou gastos com diárias e passagens aéreas para o governador e pelo menos mais 7 pessoas: os secretários de Comunicação e de Agricultura, Daniel Nardin e Andrei Castro; o diretor-geral da Adepará (Agência de Defesa Agropecuária), Sálvio Freire, e mais dois diretores da instituição, Ivaldo Santana e Gláucio Galindo; o tenente-coronel Cesar Mello (ajudante de ordens de Jatene); e o assessor especial Mário Moreira.
E embora tudo tenha sido pago com dinheiro público, ninguém ainda sabe dizer ao certo quanto custou.
No entanto, é bem possível que a visitinha à capital francesa tenha consumido pelo menos R$ 80 mil.
E como a solenidade de entrega do certificado durou apenas 60 minutos, isso quer dizer que a despesa ficou em R$ 1.333,33 por minuto para os cofres públicos paraenses – ou muito, mas muito mais do que os R$ 0,33 centavos que Jatene investe por dia, por cidadão do Pará.
E mais: a maioria da comitiva de Jatene recebeu por dia, para gastar em Paris, mais de 1 salário mínimo – ou mais do que recebe a esmagadora maioria da população paraense por um mês inteiro de trabalho.
R$ 80 mil e uma semana de viagem para apenas 60 minutos.
Segundo o portal Transparência Pará, só as diárias de cinco integrantes da feliz comitiva (o secretário de Agricultura, Andrei Castro; o assessor especial Mário Moreira e os servidores da Adepará Sálvio Freire, Ivaldo Santana e Gláucio Galindo) ficaram em R$ 33.583,48. Mas ainda faltam as diárias do secretário de Comunicação, Daniel Nardin, e do ajudante de ordens, que até ontem, estranhamente, não constavam no portal.
No entanto, caso Nardin e o ajudante de ordens tenham recebido, cada um, o mesmo que o secretário de Agricultura (que foi o menos aquinhoado: apenas R$ 5.232,20), só aí os gastos com diárias devem ter ficado em mais de R$ 44 mil – sem contar as despesas de alimentação e hospedagem do governador.
Assim, é muito provável que só com alimentação e hospedagem essa viagem a Paris tenha custado aos cofres públicos mais de R$ 50 mil.
Já as passagens aéreas de Jatene e dos outros 7 integrantes da comitiva devem ter ficado, mesmo a precinhos camaradas, em mais de R$ 30 mil: no site da CVC, o pacote mais em conta para 6 pessoas, de Belém a Paris em classe econômica, com paradas e duração de uma semana (ida em 7 de junho e retorno no dia 14) fica em R$ 23.779,49 – ou cerca de R$ 4 mil por passageiro.
Outro problema é a duração da viagem: a entrega do certificado ocorreu no último dia 29, durante uma cerimônia que durou apenas uma hora (veja abaixo a programação da assembleia geral da OIE).
Mesmo assim, o tour do governador&comitiva pela badaladíssima Paris se estendeu, ao que parece, por mais de uma semana (ele recebeu autorização da Assembleia Legislativa para se ausentar do país entre 24 de maio e 1 de junho. Além disso, as diárias dos integrantes da comitiva já publicadas no portal da Transparência se referem, em geral, a uma viagem de 23 a 31 de maio).
E mais: a Perereca vasculhou os sites dos governos de 7 outros estados que receberam, junto com o Pará, no dia 29, esse certificado de área livre de aftosa (Alagoas, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte).
No entanto, não há notícia do comparecimento de qualquer governador àquela solenidade, a exceção de Simão Jatene.
Todos os demais estados mandaram a Paris, quando muito, o secretário de Agricultura. Os demais integrantes das comitivas estaduais foram empresários e lideranças do setor agropecuário, que não tiverem, pelo menos até onde se sabe, passagens, alimentação e hospedagens pagas com dinheiro público.
Um aumento de 360% em viagens internacionais.
O pior, porém, é que a viagem de Jatene a Paris é apenas a ponta de uma inexplicável gastança em viagens internacionais.
Só nos últimos três anos, os gastos com viagens internacionais já consumiram mais de R$ 1,9 milhão.
Pior: enquanto as despesas totais do Governo com diárias, passagens e locomoção cresceram 32,42% entre 2010 e o ano passado, os gastos só com viagens internacionais aumentaram, no mesmo período, 360,82%. Isso mesmo: 360,82%.
E tudo isso em um estado que, além de possuir alguns dos piores indicadores sociais do Brasil e de amargar a lanterninha de investimentos da Região Norte, ainda vive anunciando cortes de gastos – o que quase sempre atinge, apenas, os ganhos do funcionalismo público, como aconteceu, há alguns meses, com a Gratificação de Tempo Integral (GDI).
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