Na
esteira da endemia que explodiu em Rondônia com as obras das usinas de
Jirau e Santo Antonio, Belo Monte também está se tornando um vetor de
crimes de violência sexual contra a criança e o adolescente. Segundo
dados do Conselho Tutelar de Altamira, somente no primeiro trimestre
deste ano já foram registrados 32 casos, o que significa uma projeção
para o final do ano de mais de 100 ocorrências – em 2009, foram
denunciados 28 casos e em 2010, 42.
“Isso são apenas os casos registrados. Sabemos que há muitos outros
que acabam não sendo denunciados; e que, via de regra, as projeções são
sempre menores do que as estatísticas mostram. De toda forma, isso já
duplica a demanda e a necessidade de atendimento”, explica a
conselheira Lucenilda Lima. Segundo a conselheira, Altamira não tem
estrutura para sustentar “um empreendimento monstruoso como esse. O
conselho tutelar é a porta de entrada de todos os problemas que chegam
no município. Somos 5 conselheiros pra 106 mil habitantes no maior
município do mundo. E um carro velho que vive mais quebrado do que
funcionando”, desabafa.
Lucenilda explica que em 2009 o Conselho realizou 2440 atendimentos.
Em 2010, o numero subiu para 2518 casos. Já no primeiro trimestre de
2011, 890 ocorrências foram registradas, jogando para 3200 o número de
atendimentos até o final do ano – crescimento de 27%. “As empresas e
governos envolvidos nesta obra, enfiada goela abaixo, são responsáveis.
Tratam a cidade na base do descaso”, conclui.
De acordo com o professor da UFPA e especialista em direitos humanos,
Assis Oliveira, o ano de 2009 foi marcado pelo início do processo de
implementação de Belo Monte. “Já se notou um crescimento [da violência
contra crianças e adolescentes] a partir daí – e agora com as obras, é
tão acelerado que as instituições não tem capacidade para suportar a
demanda”, explica.
Modelo
Segundo o professor, não é somente em Belo Monte que ocorrem casos de violência sexual, aumento de vício por drogas, e aumentos da violência das próprias crianças e adolescentes. “Isso se dá em locais onde ocorrem grandes projetos como este. No Rio Madeira, dados da Plataforma Dhesca demonstraram aumento de 208% nos casos de estupro desde o início da obra. Esse aumento não se dá por uma questão local. Está ligado a um modelo de desenvolvimento, que tem por trás uma série de violações de direitos”, diz Assis.
Ele sustenta que o aumento da migração é uma das hipóteses que
explicariam este tipo de contexto. “A maioria são homens, que vem
trabalhar em ritmo intenso, a semana toda nos canteiros de obras e tem o
final de semana para se divertir. Por diversão, entenda-se bebidas e
exploração sexual – coisas que envolvem a criança e o adolescente”.
Outra questão séria são as famílias que estão sendo desalojadas dos
seus locais de vivência tradicional, das periferias, acrescenta Assis. O
empobrecimento dessas famílias, o aumento do custo de vida – de
alimentos a aluguéis -, tudo isto tem levado à precarização e
marginalização das famílias. “Muitas vezes, a solução que se acha é o
ingresso das crianças no trabalho infantil – e um deles é a
prostituição”.
Por fim, Assis aponta que não houve um processo democratizante, onde
as crianças e adolescentes pudessem se manifestar e marcar opinião sobre
Belo Monte. “As crianças tem opinião, elas vivenciam essa ação – e
devem ser levadas em conta”, avalia.
Para os movimentos sociais de Altamira, a principal preocupação são
as condições e o ambiente oferecido às crianças em longo prazo. “Como
será o futuro delas na nossa região? Está provado que o governo não está
garantindo as políticas públicas necessárias para segurar a onda de
migrações e o aumento populacional. As creches, centros de internação,
escolas e outros aparelhos que temos já não dão conta nem da nossa
demanda. E obviamente não darão conta dos conflitos, sobretudo nos
próximos cinco anos, quando a população tenderá a explodir, caso Belo
Monte ainda não tenha sido barrada até lá”, afirma a coordenadora do
Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Antonia Melo. “E estamos falando de
direitos que deveriam ter sido garantidos há muito tempo nessa região, e
só agora os governos falam desses direitos. Porque você tem um grande
projeto que desperta interesse, leis que não funcionam e uma falsa
fiscalização do que deveria se estar fazendo para que a obra pudesse
estar acontecendo”, conclui.
Um comentário:
issso e horrivel eu sou contra a violencia sexual
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