O Dia Latino-Americano pela Legalização do Aborto na América Latina e Caribe de 2011 foi marcado no Brasil por uma blogagem coletiva convocada pelas Blogueiras Femenistas e por um tuitaço (esforço concentrado na rede social e microblog Twitter) que manteve a hashtag #legalizaroaborto em 1º lugar nos Trending Topics Brasil – como expressão mais citada no Twitter – durante quase todo o dia.
Se
por um lado o esforço virtual das feministas nas redes sociais foi um
sucesso, não podemos dizer o mesmo dos demais meios de comunicação que
sequer citaram o dia 28 de setembro, e isso vale também para a ampla
maioria das chamadas redes da imprensa alternativa. Basta fazer um busca
rápida no google para comprovar. Afora o próprio Blogueiras Feministas
juntamente com os blogues individuais que atenderam ao chamado da
blogagem coletiva, apenas a Revista Fórum – que republicou um texto da
jornalista Karol Assunção, da Adital e um texto excelente do Túlio Vianna – e a Rede Brasil
Atual – registrando a atividade das feministas em São Paulo – deram
atenção ao assunto. Para os demais, passou batido.
O movimento feminista tem
apenas três datas durante o ano em que concentra esforços e organiza
coletivamente atividades e ações unificadas para terem o mínimo de
destaque. São elas o 8 de Março – Dia Internacional da Mulher -, o 28 de
setembro e o 25 de novembro – Dia Latino-americano de luta pelo fim da
violência contra a mulher -, e até as pedras sabem disso. Não dar
destaque vendo toda essa movimentação e barulho que fizemos é uma opção e
sabemos disso.
Sabíamos também que a
grande imprensa não tocaria no assunto. Afinal, para uma imprensa
preconceituosa (vide o mico internacional pago no dia anterior com o
título de Doutor Honoris Causa do Instituto Sciences Po, da França,
concedido ao ex-presidente Lula) e com recortes claros de classe, não
faz sentido divulgar uma luta que se preocupa com a vida de mulheres
pobres e negras, as grandes vítimas de abortos mal feitos no país. Além
de ser um assunto polêmico pelo seu viés moralista e religioso, sabemos
que a grande imprensa só o usa quando lhe é útil, como no caso da
campanha eleitoral de 2010 em que a então candidata Dilma Rousseff foi
“acusada” de defender a legalização do aborto e criou-se um clima de
pânico em torno da questão.
Mesmo sabendo que o
assunto só foi explorado por um erro monumental da coordenação da
própria candidata, que respondeu oficialmente num dos programas de tevê a
um spam (a versão eletrônica dos boatos, algo muito comum em todas as
campanhas eleitorais), o resultado para as mulheres e para a luta pela
descriminalização do aborto no Brasil foi desastroso. O movimento
feminista tem muito a recuperar nessa luta específica do aborto e
demonstra estar disposto a isso. Falta apenas conseguirmos colocar o
bloco pró-legalização do aborto na rua, tal e qual estamos fazendo com a
marcha das vadias (slutwalk) – passeatas pelo fim da violência contra
mulher, pelo direito de nos vestirmos como quisermos e pelo direito ao
nosso corpo. Quem sabe não esteja aí o viés, o ponto comum, entre essas
duas lutas tão necessárias do movimento feminista.
Os links dos principais
posts que circularam através da hashtag#legalizaroaborto e #AbortoLegal (hahstag usada pelos demais países
latino-americanos) estão no post Blogagem Coletiva Pela Descriminalização e Legalização do
Aborto do Blogueiras Feministas. Além deles tivemos dois
guest posts no blog Escreva Lola Escreva – “Fiz um aborto e não sofri” e “Fiz um aborto e quero respeito” -, um post
excelente da Cynthia Semiramis “pela legalização do aborto” e o excelente texto do
Dr. Drauzio Varella sobre “a questão do aborto“:
“Não há princípios morais
ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de tantas meninas e
mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o
abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a
respeito do instante em que a alma se instala num agrupamento de células
embrionárias, quando quem está morrendo são as filhas dos outros.”
Nesta blogagem coletiva o
destaque vai para o texto da jornalista Amanda Vieira, que questionou: “e o desejo de ser mãe, onde fica?“, e chamou a
atenção para o fato de que essa mesma sociedade que proibe o aborto e
condena milhares de mulheres à morte por abortos mal feitos (as pobres e
negras, porque as ricas e brancas o fazem confortavelmente assistidas
em clínicas sofisticadas) não dá nenhuma assistência à maternidade.
No tuitaço, um destaque
especial ao Leonardo Sakamoto e ao Drauzio Varellaque
além de manterem o bom humor, passaram o dia juntos conosco na hashtag
respondendo a verdadeiros absurdos e argumentando sem rebaixar o debate
ao nível das acusações que nos foram feitas.
*Niara
de Oliveira é jornalista
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