sexta-feira, 11 de setembro de 2009

DROGAS: reprimir ou legalizar?


Do Blog Inimigos do Rei
tonY pachecO

Com a Cidade do Salvador assistindo nas ruas ao tiroteio entre a Polícia e o tráfico de drogas, nossa capital finalmente se insere no debate global: drogas devem ser legalizadas ou reprimidas com violência?
Para começar este debate temos que entender primeiro do que estamos falando.
Em termos comportamentais, drogas sempre existiram, desde os tempos das cavernas e sempre existirão, pois o problema é existencial, como diria Camus: não se pode exigir do ser humano que se mantenha 100% sóbrio, todo o tempo, num planeta no qual ele é jogado sem sua autorização prévia e no qual a natureza se encarrega de fazê-lo sofrer do primeiro sopro de vida até o último.
Podemos distrair o ser humano com religião, com amor, com ideologias, com o consumismo, com causas nobres. Mas sempre haverá um momento no qual ele se dará conta do absurdo da existência: a ausência de sentido em tudo que se faz.
O homem é a consciência do caos que é o mundo.
Daí, muitos e muitos se drogam. Para amortecer a angústia.
Visto isto, vamos ver o que é a droga, atualmente, como economia.

BILHÕES E BILHÕES

Mente quem diz, como a ONU, que sabe o volume de dinheiro que o tráfico de drogas movimenta: como é tudo clandestino, ninguém sabe ao certo. Nem os traficantes.
Segundo estimativas, o movimento seria de mais de 300 bilhões de dólares por ano, isto é, um terço do Produto Interno do Brasil, que é o décimo país mais rico do mundo. E 300 bilhões de dólares é mais do que o PIB somado de quase 100 países.
É muito, muito, muito dinheiro.
E sem imposto nenhum legal. Só a propina que se dá a juízes, policiais e políticos. Na economia global, o tráfico perde para a indústria de computadores (450 bilhões dólares), mas deixa a máfia legal da indústria farmacêutica no chinelo, pois esta só movimenta míseros 206 bilhões de dólares anuais.
E o narcotráfico é um fabuloso empregador (claro que seus empregados morrem cedo, mas isso é por causa da disputa com a polícia do Estado repressor). Só na Bolívia emprega 300.000 agricultores nas plantações de coca.
No Brasil, não se tem estatísticas, mas todo mundo conhece alguém que trafique drogas no seu prédio, na sua escola, no seu local de trabalho. É gente para dar de pau... Talvez empregue mais que o setor bancário e a indústria automobilística.
Os Estados Unidos, maior consumidor de drogas ilícitas do mundo, gastam 30 bilhões de dólares por ano (com este dinheiro eles transformariam todos os bolivianos em cidadãos ricos para sempre) com a repressão ao tráfico e, segundo Gore Vidal, em sua magnífica obra “Kalki”, é o DEA (departamento de controle de drogas), o maior centro de corrupção por traficantes no mundo. Compreensível.

COLAPSO ECONÔMICO

Diante dos números expostos, chegamos a uma conclusão: se numa hipótese remota, num mundo ideal, os órgãos repressores conseguissem acabar com o tráfico de drogas no mundo, através da prisão dos consumidores e dos vendedores (traficantes), o planeta seria colocado numa crise econômica de dimensões inimagináveis.
Não só por causa dos supostos 300 bilhões de dólares (claro que se pode multiplicar isso por várias vezes) que deixariam de girar na economia, mas por causa dos milhões de pessoas que ficariam sem emprego de uma hora para outra e outros milhões que iriam surtar de forma violenta pelo absenteísmo.
É uma coisa para se pensar.

E SE LEGALIZASSE?

Simplesmente se tornaria um mercado igual ao das bebidas alcoólicas ou de produtos farmacêuticos.
A maior parte dos traficantes não escaparia do Fisco, isto é, os produtores e vendedores teriam que pagar impostos e com estes impostos, o Estado poderia fazer as propagandas contrárias ao consumo (como faz todo dia contra o álcool e o cigarro).
Mas, principalmente, o Estado teria dinheiro para pagar os altos custos do tratamento dos viciados.
Do jeito que está é que é impossível. O consumo e o tráfico só fazem aumentar. Não pagam imposto algum e nós, que não fumamos nem cheiramos ainda temos que pagar os custos do tratamento, da repressão e, por tabela, da corrupção, pois não é o filho do vizinho que consome. É o nosso filho também.

QUEM É CONTRA LEGALIZAR?

Quem trabalha, mesmo, firmemente, contra a legalização de todas as drogas são dois grupos de pessoas: os traficantes, claro, pois é mais barato subornar autoridades e manter o tráfico crescendo do que pagar 70 a 80% de impostos, como fazem as indústrias de cigarro e bebidas.
Eu disse 70 a 80%. De cada 10 reais que um litro de vodka custa, 8 reais vão para as mãos do governo.
De cada 5 reais de uma carteira de cigarros, 3 reais e 50 centavos vão para o governo.
É disso que os traficantes querem escapar: impostos. Só isso.
O outro setor social que é radicalmente contra a legalização é aquele formado pela rede de corrupção do Estado: Executivo, Legislativo, Judiciário, Polícia etc. etc. Nos EUA, por exemplo, é tanta gente nas esferas de poder que é condenada por envolvimento com o tráfico de drogas que já não se sabe se o centro dos cartéis é na Colômbia ou nos próprios EUA...
Os prepostos do Estado que vivem de corrupção patrocinada pelos narcotraficantes sabem que se as drogas forem legalizadas, os impostos serão pesados como os do cigarro e do álcool e, aí, o produtor e o vendedor não pagarão mais propina.
Deu para entender?

ESTE É O MUNDO REAL

Espero que alguém me contradiga e diga que não é nada disso.
Mas, para citar palavras de um amigo, “é disso que se trata”.
Se se quer entender o que está acontecendo em Salvador, no Rio, São Paulo ou Nova York, tem que entender que este é o mundo real: ou legaliza ou vai piorar. E muito.
Mas, piorar para nós, a maioria, que nem consumimos cocaína nem recebemos propina de plantadores de maconha.
Com drogas ilegais as cidades tendem a virar um verdadeiro inferno de gangues disputando pontos de venda planeta afora.

Não é só quem viver que verá, pois quem vive já está vendo.

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