quinta-feira, 20 de junho de 2013

Que tempos são esses, que não se pode fotografar a verdade?

"Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
(...)" Bertolt Brecht
Ana Ignacio, no R7:

Sérgio Silva foi atingido no olho durante a cobertura de manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São PauloArquivo Pessoal
Fotógrafo ferido em protesto caminhou por 40 minutos até hospital: “era uma dor insuportável”

Sérgio Silva trabalhava na cobertura do ato e foi socorrido por professor que estava no local

Sérgio Silva foi atingido no olho durante a cobertura de manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo

Silva foi atingido no olho por uma bala de borracha no momento em que a Polícia Militar entrou em confronto com manifestantes na região da rua da Consolação com a rua Maria Antônia, no centro de São Paulo. Após ser ferido, um professor que estava no local ofereceu o primeiro socorro a Silva.O fotógrafo freelance Sérgio Silva está acostumado a cobrir manifestações. Em seus três anos como fotógrafo profissional, trabalhou em diversos atos, inclusive em protestos promovidos pelo Movimento Passe Livre. No entanto, ele diz que nunca viu algo parecido com o que ocorreu na última quinta-feira (13).
— Ele foi um anjo da guarda, me tirou da confusão. Caminhamos da rua Caio Prado até o hospital Nove de Julho, ele me carregando nos braços, meu olho sangrando. Nenhum policial me socorreu, nenhuma ambulância me socorreu. Passei uns 40 minutos andando, sofrendo muito, era uma dor insuportável.
Silva conta que conseguiu perceber que a bala veio da direção da tropa policial que estava parada no cruzamento da rua da Consolação com a Maria Antônia, mas afirma que não se pode "culpar" a PM pela truculência. Em sua opinião, o que ocorreu foi uma ordem severa por parte do Estado. 
— Quando começou o confronto com os manifestantes eu procurei me afastar porque eu estava no meio do fogo cruzado. Procurei abrigo atrás de uma banca de jornal e tinham muitas pessoas correndo nessa direção, fugindo das bombas e dos gases. Nesse momento eu quis saber de onde estavam vindo essas bombas e quando sai de trás da banca fui atingido e perdi a noção do que estava acontecendo. Veio da tropa, mas não sei dizer que policial atirou e acho que isso nem é o mais importantes. Nem a PM é o mais importante, porque eles estão ali seguindo ordens. O Estado é o maior responsável. 
No momento em que percebeu que estava machucado, o fotógrafo pensou em sua família e em sua profissão.
— Foi só desespero. Pensei na minha família, minha filha, na minha profissão. Meu olho é meu instrumento de trabalho!
Futuro
Silva teve alta do hospital H Olhos, local em que estava internado desde a madrugada de sexta-feira (14) na manhã de sábado (15). Segundo o fotógrafo, o laudo passado pelos médicos ainda não indica se ele irá recuperar a visão – ou parte dela.
— Meu olho está muito inchado, muito machucada por dentro. Preciso esperar desinchar, fazer nova avaliação. É um processo lento. Hoje, minha visão é nula com o olho esquerdo.
Casado com uma jornalista e pai de uma menina de sete anos, Silva se recupera do ocorrido em sua casa. Ele ainda não sabe se irá mover alguma ação, mas foi orientado por advogados que o Estado pode ser responsabilizado por seu ferimento. Enquanto isso, apenas um plano.
— Minha vontade é continuar na minha profissão. É o que eu gosto, o que eu sei fazer, mas preciso saber se tenho condições físicas. Se eu tiver, mesmo com um olho só eu vou continuar.

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