Por André Borges/Valor Econômico |
Cacique Arnaldo Koba Munduruku: “Vamos para o enfrentamento, o Tapajós não vai sofrer como sofre hoje o Xingu” |
Não houve acordo. O governo teve uma pequena amostra, na semana
passada, da resistência que enfrentará para levar adiante seu projeto de
construção de hidrelétricas ao longo do rio Tapajós, uma região isolada
da Amazônia onde vivem hoje cerca de 8 mil índios da etnia munduruku.
Um grupo de líderes de aldeias localizadas no Pará e no norte do Mato
Grosso, Estados que são cortados pelo rio, esteve em Brasília para
protestar contra ações de empresas na região, que realizam levantamento
de informações para preparar o licenciamento ambiental das usinas.
Os índios tiveram uma reunião com o ministro de Minas e Energia
(MME), Edison Lobão. Na mesa, os projetos da hidrelétricas de São Luiz
do Tapajós e de Jatobá, dois dos maiores projetos de geração previstos
pelo governo. Lobão foi firme. Disse aos índios que o governo não vai
abrir mãos das duas usinas e que eles precisam entender isso. Valter
Cardeal, diretor da Eletrobras que também participou da discussão,
tentou convencer os índios de que o negócio é viável e de que eles serão
devidamente compensados pelos impactos. Os índios deixaram a sala.
Para o cacique Arnaldo Koba Munduruku, que lidera todos os povos
indígenas da região do Tapajós, o resultado do encontro foi negativo.
“Nosso povo não quer indenização, nem quer o dinheiro de usina. Nosso
povo quer o rio como ele é”, disse Koba ao Valor. “Não vamos permitir
que usinas ou até mesmo que estudos sejam feitos. Vamos unir nossa gente
e vamos para o enfrentamento. O Tapajós não vai sofrer como sofre hoje o
rio Xingu”, afirmou o líder indígena, referindo-se às complicações
indígenas que envolvem o licenciamento e a construção da hidrelétrica de
Belo Monte, em Altamira (PA).
Numa carta que foi entregue nas mãos do secretário-geral da
Presidência, ministro Gilberto Carvalho, os índios pediram “que o
governo brasileiro respeite a decisão do povo munduruku e desista de
construir essas hidrelétricas”. No mesmo documento, os índios cobram
agilidade na investigação da morte de Adenilson Kirixi Munduruku, que
foi assassinado com três tiros em novembro do ano passado, na região do
Teles Pires, rio localizado no norte do Mato Grosso e que forma o
Tapajós, em sua confluência com o rio Juruena.
Os índios se negaram a assinar um documento apresentado pela
Presidência, que previa compromissos a serem assumidos pelo governo, por
entenderem que se tratava de uma consulta prévia já atrelada ao
licenciamento das usinas do Tapajós. “Viemos até aqui para cobrar a
punição pelo assassinato de nosso irmão, mas vimos que a intenção do
governo era outra. Ele queria mesmo era tratar das usinas, mas não
permitimos isso”, disse o líder indígena Waldelirio Manhuary Munduruku.
“Não vamos nos ajoelhar. Não haverá usinas, nem estudos de usinas.
Iremos até o fim nessa guerra.”
No balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) divulgado
na semana passada, o cronograma de São Luiz do Tapajós e de Jatobá
estabelece o mês de setembro para conclusão dos estudos ambientais das
usinas. O levantamento de informações na região começou a ser feito pela
Eletrobras há pelo menos um ano e meio. Analistas ambientais e técnicos
da estatal têm enfrentado resistências na região para colher
informações dos moradores.
O grupo de empresas que o governo reuniu em agosto do ano passado
para participar da elaboração dos estudos dá uma ideia do interesse
energético que a União tem no Tapajós. Com a Eletrobras estão Cemig
Geração e Transmissão, Copel Geração e Transmissão, GDF Suez Energy
Latin America Participações, Endesa do Brasil e Neoenergia
Investimentos.
Com as usinas de São Luiz e Jatobá, o governo quer adicionar 8.471
megawatts de potência à sua matriz energética. O custo ambiental disso
seria a inundação de 1.368 quilômetros quadrados de floresta virgem,
duas vezes e meia a inundação que será causada pela hidrelétrica de Belo
Monte. O governo diz que é pouco e que, se forem implementadas todas as
usinas previstas para a Amazônia, menos de 1% da floresta ficaria
embaixo dӇgua.
Fonte: http://amazonia.org.br/2013/02/ind%C3%ADgenas-amea%C3%A7am-guerra-para-barrar-hidrel%C3%A9tricas-no-rio-tapaj%C3%B3s/
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