A foto acima mostra imagem de idosa chegando em carro fúnebre ao PSM, no dia em que a diretoria do Sindmepa fazia vistoria.
Enquanto quatro representantes do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa) faziam uma vistoria no Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, na travessa 14 de Março, no setor de urgência e emergência os pacientes sofriam com a falta de médicos, maqueiros e de funcionários para atender. Na manhã de ontem, até carro da funerária teve que levar pacientes ao PSM por causa de falta de ambulância no Serviço Móvel de Urgência (Samu).
Com quadro de desmaios, a estudante Joveniana Teixeira de Menezes, de 17 anos, chegou na unidade de saúde. Acompanhada dos pais, a garota foi levava ao PSM de táxi, pois foi solicitada uma ambulância através do número 192, mas não chegou. Já no pátio do PSM, nenhum funcionário da unidade de saúde foi socorrer a paciente, que continuava com sucessivos desmaios. Joveniana só poderia entrar depois que a mãe preenchesse a ficha do hospital. Com a piora da menina, a mãe, desesperada, carregou a filha no colo e a colocou para dentro. Isso somente depois que populares pressionaram para que a adolescente fosse atendida, chegando inclusive a quase quebrar a porta de entrada do setor de urgência e emergência.
Com a falta de serviços eficazes na área de saúde pública, até carro de funerária acaba assumindo outras funções. Foi o que aconteceu depois que o Samu se negou a ir buscar Francisca Alves Albuquerque, de 78 anos, e levála até o PSM da 14 Março. De acordo com a filha dela, Francisca Albuquerque Ferreira, a idosa tem problemas cardíacos e reumatismo infeccioso. Por causa disso, já não anda mais, come ou senta. “Nós não tínhamos como trazê-la de táxi por causa do estado dela e a atendente do Samu disse que eles só atuam em resgate, por isso ela não poderia ser atendida pelo serviço”, disse a filha.
Diante das dificuldades de locomoção, a única alternativa dos familiares foi chamar o carro de uma funerária, que a levou até o PSM. A senhora teve que ir deitada no chão, em cima de um colchão improvisado, para que o impacto fosse menor. “A gente está esperando um leito há mais de uma semana na Santa Casa, que é onde ela faz tratamento há três anos. Não posso ficar com ela desse jeito em casa. Eu implorei para que fossem buscar a minha mãe, mas ninguém ali se comove com nada. As pessoas não estão nem aí”.
Welington Lima de Souza, de 34 anos, com tuberculose, está internado no PSM da 14 de Março e aguarda por um leito. De acordo com a irmã do paciente, Eliane Lima, ele veio do Hospital de Capanema, onde foi diagnosticado que tinha água na pleura. Ao chegar no PSM, ainda na semana passada, um médico disse que o caso dele não era grave e que deveria retornar para casa. Durante à noite da última quintafeira, Souza passou muito mal e retornou ao PSM. “Só dessa segunda vez é que diagnosticaram o que realmente ele tinha, mas agora não conseguimos leito e ele tem que ficar internado em um local que não é adequado. A referência é o Barros Barreto”, contou a irmã.
FALTA DE MÉDICOS
Ontem, novamente faltaram médicos no PSM da 14 de Março. Uma hora depois de entrar com a estudante Carolina Lima Paiva, de 21 anos, Welington Cunha dos Santos, marido dela, saiu em desespero do hospital porque foi informado que não havia médicos. “Eles mandam a gente entrar e não aparece ninguém para socorrer o paciente. Se é para morrer, vai morrer em casa”, disse. Carolina Paiva estava com uma crise de asma e febre. Ela estava com dificuldades para respirar, mas nem um aerossol lhe foi aplicado.
Raimundo Nonato, serviços gerais, também teve que procurar outra unidade de saúde. Ele estava com uma dor na coluna há três dias, que inclusive lhe impossibilitava de andar, mas não recebeu atendimento. “Disseram para eu procurar o Posto de Saúde da Pedreira e pegar um encaminhamento para a Unidade Regional Especializada da Doca. Não estou nem conseguindo andar direito e tenho que ficar me deslocando para vários lugares”.
Nos olhos da agente de limpeza Terezinha dos Nascimento, 34, percebe-se o cansaço pelas noites em que já passou em claro ao lado do filho, José Wallace Gama, 20 anos. Ele permanece há duas semanas em cima de uma cama no Pronto Socorro Municipal ‘Humberto Maradei’, no bairro do Guamá.
Com problemas de estômago, o jovem não se alimenta e tem se mantido apenas com soro, mas os vômitos são constantes. Para piorar, ele já teve comprometido o funcionamento dos rins, segundo a mãe Terezinha. Sem a atenção devida - conta apenas com o apoio do companheiro José Palheta-, a mãe afirma que já fez de tudo para tentar transferir o seu filho para um hospital especializado. “Dizem que não tem leito, só vejo gente entrando e saindo daqui para outros hospitais, e o meu filho aqui. A médica disse para eu procurar o Ministério Público para garantir leito para ele”. A assessoria de imprensa da Sesma foi procurada, mas não se manifestou. (Diário do Pará)
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