por Alexandre Araújo
Costa*
Sra. Dilma Rousseff
Gostaria de responder
à sua pergunta, por mais que tenha sido ela meramente retórica e carregada da
tentativa de ironizar e desqualificar visões diferentes da sua.
Se só existissem,
realmente, duas opções, ou seja, apagar a luz e impedir que os povos do Xingu
continuassem a viver, eu apagaria a luz. Se só existissem duas opções, entre
aumentar as verbas da educação e jogar toneladas de carbono para a atmosfera acelerando a
inviabilização das condições de sobrevivência das gerações futuras, eu ainda
assim me manteria fiel à causa pétrea de manter petróleo e carvão, em sua
maioria, no subsolo.
Mas o mundo não é
assim, binário e, portanto, permita-me não aceitar a sua chantagem. Sim, a
palavra é essa: chantagem!
Não precisamos
"apagar a luz". Podemos reorganizar nossa matriz energética,
democratizando-a, barateando-a para o usuário final, com ênfase nas mais
modernas tecnologias de energias renováveis, privilegiando a geração elétrica
via solar residencial, aumentando a eficiência energética e reduzindo o ritmo
tresloucado de aumento perdulário da demanda.
Energia solar sim;
Belo Monstro não. Eólicas, desde que respeitando
nossas comunidades costeiras, sim; Termelétricas não. Energia das ondas e
marés, com estudos adequados para minimizar o impacto no litoral e estuários,
sim; Nuclear não.
Você, presidenta, e os
partidos que a sustentam, juntaram-se vergonhosamente, num único discurso, a
velhacos como os CEOs das petroquímicas que se tornaram dona do petróleo junto
à costa brasileira (vide resultado dos leilões do petróleo): Shell, Total,
chinesas, Exxon, BP, Chevron... É o blablablá de que o futuro da Educação e
Saúde em nosso País está ligado à extração de petróleo, principalmente no
pré-sal. Nada mais falso, quando sabemos que a "parte do leão" ficará
com as corporações e que os recursos desse crime climático que ficarem com o
Estado brasileiro serão insuficientes.
Por que a senhora não
fala em auditar uma dívida que restringe a aplicação de quase metade do
orçamento da União nos serviços públicos? Por que a senhora não fala de outras fontes de recurso? Se só houvesse
como financiar a Educação destruindo toda a Amazônia e oficializando o trabalho
escravo infantil, a senhora optaria por esta última? Então como aceitar que 2
ppm de CO2 sejam leiloados num único dia, como uma cota "generosa" do
Brasil à catástrofe climática que se avizinha?
Quero energia
elétrica para todos, educação para todos, quero respeito e direito para os
indígenas, quero zelo pelo ambiente e medidas urgentes para proteger o sistema
climático terrestre. Nada disso é (mutuamente) incompatível. Mas tudo isso é
incompatível com os hiperlucros do agronegócio, empreiteiras, bancos e
petroquímicas.
Portanto, pensemos
quem de fato apaga a luz, todo santo dia. Quem apaga a luz da honestidade
intelectual e sofre de um apagão mental típico de quem transmutou-se de
guerrilheira e combatente contra a ditadura em serva desses setores?
Em tempo: Como diria Lenine (a quem talvez
cite mais do que a Lenin), "o último a sair do breu, acenda a luz".
Mas eu entendo que a senhora prefira a companhia da Breu...
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*Alexandre Araújo
Costa é professor titular da Universidade Federal do Ceará. É Bacharel (1992) e
Mestre em em Física pela
Universidade Federal do Ceará (1995), Doutor em Ciências Atmosféricas pela
Colorado State University (2000), com Pós-Doutorado pela Universidade de Yale
(2004-2005).
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