segunda-feira, 28 de março de 2011

Força Nacional "ajudará" na retirada de não-índios de terras no Pará

Por Marcus Benedito
Última atualização 29/03/2011 - 15:42h


Temos que olhar com extremada atenção para as movimentações que ocorrem no Xingu. Li esta portaria (abaixo) e a socializo com todos com preocupação, pois não é de hoje que grileiros, fazendeiros e a agricultura de negócios vem buscando avançar nas terras indígenas, principalmente aqui na Amazônia.
A postura do governo federal (Lula e Dilma/PT) e estaduais (como o de Ana Júlia/PT e agora o de Simão Jatene/PSDB), bem como da justiça nos estados e a federal, tem sido de quase que total afastamento, quando não, a resposta vem através da mais estúpida e descarada conivência.
Escritos dos primeiros cronistas, como o Frei Gaspar de Cavarjal, no que ficou conhecido como um dos primeiros contatos do índio com o branco e o reconhecimento oficial da Calha do Amazonal em 1542, fazem referência aos indígenas como sendo em grande número e distribuídos por toda a extensão do grande rio Amazonas.
Ocorre que estudos da historigrafia no Brasil apresentava um certo "pré-conceito" com os textos dos cronistas e eram reticentes em aceitá-los como fonte, pois os consideravam exagerados. No entanto, estudos recentes como o do historiador Antonio Porro, suscitam um novo olhar sobre o contato do branco com os povos da Amazônia, e mais, afirmam que até hoje o contato não foi concluído; e o que considero extremamente importante, lança questões sobre o número de indígenas que viveram por aqui, como se organizaram essas civilizações e como podem ter desaparecido muitas delas.
Hoje na História, contamos com inúmeras evidências de que a população de índios residentes em toda a região que a Portugal coube com o Tratado de Tordesilhas (praticamente a configuração atual do Brasil) estava entre um número que varia de 5,5 a 4,5 milhões de índios dividios em três grandes grupos linguísticos.
Cacique Raoni, símbolo da luta contra Belo Monte


No livro O Povo das Águas - Ensaios de etno-história amazônica, de Antonio Porro, editado pela Vozes em co-edição com a Edusp (Petrópolis, 1996), o autor corrobora com a tese de que a hisoriografia brasileira cometia um grave erro em desconsiderar como fonte os textos dos primeiros cronistas. E o mais importante, ele coloca um problema: qual a época do contato?

Para ele:  "A Amazônia tornou-se conhecida dos conquistadores muito lentamente, pois o processo de exploração e incorporação do imenso território à sociedade colonial, e depois nacional, demandou mais de quatro séculos, e na verdade ainda não terminou. Se já em 1542 Frei Gaspar de Carvajal deixou a primeira descrição do grande rio e das tribos que viviam às suas margens, os principais afluentes só iriam ser inteiramente exlorados no século XVIII, e alguns deles como o Juruá e o Purus, na segunda metade do século XIX. E seria preciso chegar ao século XX para que a implantação das linhas telegráficas, a aviação e ociclo rodoviário incorporassem grande parte da Amazônia ao mundo conhecido pela sociedade nacional. *A época do contato é, portanto, uma sucessão de momentos históricos que se desenrolam  no tempo de acordo com o avanço geográfico das frentes de expansão da sociedade neobrasileira." 

E o que considero uma questão fundamental nesse debate do que significou o "contato", que na verdade foi um grande projeto de anexação e rapina empreendido por Portugal, e depois seus credores contra os originários moradores e donos destas terras. Mais um pedaço do Porro: *"Nunca será demais repetir que as consequências da ocupação da terra pelo branco foram quase sempre catastróficas para o índio. Quaisquer que fossem as motivações e os planos dos colonos, missionários e comerciantes, o que eles deixaram atrás de si foi, na melhor das hipóteses, um processso de deterioração das condições sanitárias, demográficas, econômicas e, finalmente, culturais, das comunidades indígenas.".

Eram os índios os verdadeiros e legítimos donos de toda o terrítório brasileiro, que os invasores apelidaram de Vera Cruz.
É estarrecedor olhar para a história e perceber o verdadeiro genocídio e etnocídio que fizeram primeiramente os invasores portugueses e todas as suas doenças e missões assassinas, e depois o prórpio estado brasileiro independente, que nunca teve uma política de respeito e proteção para essas nações. Por mais que queiram dizer o contrário, balbuciar:
- Temos o Estatuto do Índio!, diz um.
- Temos, ainda, o cristalino protetivo que emana do flagoroso Estado Democrático de Direito., vomita outro.

Nada disso tem relevância! Todo o jus-natularismo vira pura retórica na boca dos magistrados e políticos na dança sequiosa das empreiteiras, corporações e toda a abjeta horda de negócios que a máquina mordaz do capitalismo é capaz de produzir, criar, inventar e distorcer só para maximizar seus lucros. Contra isso, a história dos que eram milhões, e que pela bela lógica de suas vidas, que obviamente se chocaria com a devoradora ira do capital, hoje mais uma vez estão envoltos em mais uma saga: a luta contra a destruição da Reserva do Xingu, que não precisa dizer, mas é importante ratificar, significará também a destruição de um dos mais belos rios e ricos em vida fluvial, bem como de um dos mais importantes afluentes do Amazonas; significará a destruição de nossa memória e portanto de um valioso pedaço de nossa história.
Tuíra, outro grande exemplo de combate à Belo Monte
Hoje, diversos grupos indígenas encontram-se em uma nova Epopéia. Nos primeiros contatos guerreavam contra inimigos igualmente sórdidos e cruéis. Guerreavam inicialmente contra o vírus da gripe que já chegou derrubando cerca de 1/3. Depois contra a pólvora, a sordidez do explorador e seu canhão. Guerrearam contra as Missões que os desaculturava, contra um Deus tirano, contra a cruz que se impôs através do sangue e da espada.

Agora novamente os indígenas guerrerão contra os que poderíamos chamar de seus irmãos. Afinal, são governo brasileiro e sob a complacência e anuência da Justiça, os responsáveis pela construção desses imponderáveis elefantes brancos, que a exemplo da
mortífera energia produzida pelas usinas nucleares, a bomba dessa vez se faz através do mais obsoleto, devastador e abominável modo: a edificação de famigeradas barreiras, imensas barragens que impedem o barco, impedem o peixe, impedem o caboclo, impedem o transporte, impedem o direito de ir e vir, impedem a vida. 

Belo Monte é mais um desses sanguinários exemplo. Com essa autorização de destacamento da Força Nacional para a Região do Xingu, temos que manter ainda mais a orelha em pé e seguir a lutar contra a destruição dos povos originários e populações tradicionais (índios, ribeirinhos, caboclos, descendentes de quilombos, posseiros, lavadores, assentados e acampados) da floresta. Temos que ficar atentos, pois muitas vezes já vimos esse filme na história do Brasil: em vez de não-índios, o que pode pretender o Ministério da Justiça, em acordo com Minas e energia, Casa Cilvil e empreiteiras é já ir, disfarçada ou deliberadamente, mantendo a Guarda Nacional na Região para futuros prováveis enfrentamentos, pois o governo e justiça federal já autorizaram a construção dos primeiros serviços de destruição da floresta.

Os indígenas e movimentos dos antigidos por barragens, o Movimento Xingu Vivo para Sempre, eu e milhares de brasileiros e paraenses não vamos aceitar mais esse atentado ao meio ambiente, ao Xingu, e ao país com o podre disfarce da retórica excludente, preconceituosa e burra do "desenvolvimento"

Viva o Xingu Vivo para Sempre!

*Os destaques em negrito são nossos.
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Fonte: http://www.ecorreto.org/

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