terça-feira, 30 de junho de 2009

O desespero humano

Por Marcus Benedito
Belém - Nesta terça-feira os jornais estamparam o que chamaram de 'dia de fúria' em relação às cenas de desespero que ontem percorreram o país, colocando Belém nas páginas e telas nacionais em virtude de sua epidedêmica crise na saúde.
O martírio, a dor, o sofrimento e o descaso com que os governos de Duciomar Costa - PTB, o Dudu (julgado e condenado por ter falsificado diploma de médico, o qual se beneficiou com a demora da instrução da pena) e de Ana Júlia Carepa do PT (governo sob o qual pesa lista sem fim de irregularidades e denúncias por desviar recursos da saúde, obras superfaturadas, mal planejadas, etc.) tem institucionalizado o desespero.

Cena comum no estado: José Tavares de Moura, de 78 anos, teve que ser conduzido devido a um AVC, após uma longa viacrusis dos seus familiares em busca de ambulância que pudesse transferí-lo do município de Inhangapi para a capital paraense. Após seu retorno ao PSM e após o descaso estampado, seus familiares forçaram a porta do Hospital. infelizmente essa é a dura realidade dos que buscam auxílio através do SUS - Sintema Único de Saúde.

Rotina de humilhação


É mais do que conhecida a defiência dos serviços de saúde no interior do Pará. Todos os dias o intenso vai e vem de ambulâncias e de veículos particulares, como carros comuns, táxis, e até boleas de caminhões são desgraçadamente rotineiros nas estradas que conduzem a Belém, na tentativa desses cidadãos encontrarem cura para suas doenças. Talvez pior do quem busque condução à capital pelas péssimas estradas, seja o sofrimento de quem enfrenta a distância e demora nas viagens de embarcação. Um paciente grave, que não tenha condições financeiras (a esmagadora maioria - cerca de 4,4 dos quase 7 milhões de paraenses vive na miséria absoluta) de ser deslocado de avião para Belém, levará dois dias para chegar vindo de Santarém, no oeste do estado, em um navio; por exemplo.
A falta de condições de atendimento e a viagem de 12h (de Breves para Belém) enfrentada por uma dona de casa, é mais um exemplo do sofrimento a que são subemetidos milhares de paraenses. No mes de março, essa dona de casa buscou atendimento no Navio Auxiliar Pará, que a serviço do governo do estado, leva médicos, odontólogos, e os mais "variados" serviços de saúde aos municípios do estado com piores indicadores no IDH - índice de desenvolvimento humano.
Mas apesar de todo estardalhaço e campanha midiática que o governo faz em torno dessa clientelista e inócua ação chamada Rios de Saúde, a mesma não pode sequer considerar-se um paliativo.
O Hospital Regional do Marajó em Breves, em construção desde 2003, ainda não pode salvar vidas devido a incompetência da SESPA e do Governo Ana Júlia (PT/PMDB). A falta de esgoto foi a desculpa utilizada para o retardamento das atividades. Se este hospital de alta e média complexidade já estivesse funcionando, certamente a vida da dona de casa que morreu a caminho de Belém no mês de março/2009 e tantas outras vidas teriam sido poupadas. infelizmente ela foi obrigada a fazer sua última viagem.
Histórias como essa tentam nos dar uma pista do que fez com que pessoas enfrentassem na segunda-feira (29/06) a violência da Guarda Municipal e da PM. É o assombro de quem clama por saúde.
Um filme de terror
Apesar das cenas de terror e das infindáveis histórias, como as já tocadas aqui, nada ou quase nada tem mudado. Na verdade as coisas tem piorado muito. Pensavamos já ter atingido o fundo do poço após as mortes de mais de 150 bebês na principal maternidade pública do estado, a Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - FSCMPA no ano passaso, todavia as tragédias não pararam por aí.
Em agosto do ano passado parte do telhado do maior pronto socorro de Belém caiu, feriu e matou paciente que aguardava atendimento em virtude de múltiplos AVC's. E no mesmo PSM Humberto Maradei, bairro do Guamá, paciente morreu de fome. Enfim, são enredos da barbárie. Tudo o que preconiza o SUS é pura quimera em Santa Maria do Grão Pará, como na maior parte do Brasil.
histórias de horror não faltam para compor esse enredo, como as péssimas instalações, falta de medicamentos e o fato de que nenhuma máquina de radioterapia esteja funcionando no Hospital Ophir Loyola, que trata de pacientes com câncer.
A empresa Estacom (de propriedade do marido da ex-secretária de saúde do Pará e membra da quadrilha de Jáder Barbalho, Laura Rosseti) está sendo investigada pelo MPF por superfaturamento nas obras de ampliação do Ophir Loyola, por isso o enorme atraso nas obras de uma nova ala, a de oncologia pediátrica.
A ocupação do PSM Humberto Maradei
Cenas que lembram muito os campos de concentração. Pessoas gravíssimas, inclusive com tuberculose (doença contagiosa) são jogadas em macas, deixadas pelos corredores. E fantasticamente a prefeitura, governos e direções de hospitais tentam criminalizar os profissionais de saúde, e muitas vezes ainda entram com representação na polícia os acusando de omissão.
Mas o que fazer sem recursos materiais? e até mesmo humanos?! Há anos não se tem concurso para a área da saúde e educação em Belém e é raro se encontrar algumas especialidades como neurocirurgiões e traumatos nesses estabelecimentos públicos. Os profissionais da saúde sofrem junto com a população o desespero humano de se travar sem condições materiais a luta diária contra a certeza da morte. Crime e omissão cometem Lula, Ana Júlia e Duciomar Costa por gestarem essa situação!
Foi isso que levou os familiares de José de Moura a ocupar o Pronto Socorro Municipal do Guamá, após 12h sem qualquer notícia sobre o estado de saúde do pacienter, o qual estava pela segunda vez no PSM. Fez uma cirurgia no pulmão, retornou para Inhangapi, depois teve que voltar novamente a Belém em virtude de um AVC - Acidente Vascular Cerebral.

Em meio à confusão e o empurra-empurra, a filha de João acabou desmaiando, pois já passava das 11h e eles ainda não haviam recebido o boletim médico que deveria ter saído às 08h. Os familiares se revoltaram porque sabem do caos que são os PSM da cidade. Motivo pelo qual, de forma escabrosa, muitas pessoas de baixa renda e da periferia da cidade não buscam mais atendimento nos prontos-socorros e nas unidades do município. Um estranho fenômeno que é resultante das péssimas condições dessas unidades, onde não há profissionais suficientes, medicamentos e material técnico.

Os trabalhadores da Saúde do município de Belém fizeram importante greve de mais de 20 dias neste semestre, onde foi denunciado o descaso com que o falso médico vem trantando da saúde na capital da "metrópole da Amazônia".

Marx em o 18 Brumário de Luís Bonaparte faz brilhante análise sobre essas figuras grotescas, toscas, rudes e corruptas, que vira e mexe são alçadas pela burguesia de um pântano bem imundo, para servir aos seus propósitos de rapina. E sobre esse ser grotesco, recomendo brilhante matéria do jornalista Lúcio Flávio Pinto em seu Jornal Pessoal.
Só a luta e a organização dos trabalhadores, juventude e povo pobre pode mudar essa realidade

Precisamos seguir mobilizados. Só haverá mudança nesse quadro de tragédias anunciadas se fizermos muita luta. Precisamos desde o PSOL, da Conlutas, Intersindical Nacional coordenar uma jornada de lutas nesse segundo semestre, e que possa chamar a população a se mobilizar. Temos que exigir cadeia para Duciomar e seus sócios majoritários e minoritários. Já basta de corrupção!

Em Belém está em curso uma CPI da saúde. Mas a bandidagem, o clima de impunidade que emana desde Brasília e de seus atos secretos, tem ganhado força na Câmara Municipal. Foi necessário determinação da justiça para que o Presidente da Casa, vereador Walter Arbage, do mesmo partido do prefeito (PTB) e obviamente sócio do mesmo nos saques ao erário, fez de tudo para retardar a instalação da Comissão. Vale lembrar que uma empresa de Arbage, a Transterra Terraplenagem LTDA recebeu, em contrato com dispensa de licitação no ano de 2005, quando então já era vereador, mais de R$ 5 milhões. O que levou o Ministério Público Federal a denunciá-lo, bem como ao prefeito por crime de Responsabilidade.

Mais do que nunca temos que exigir cadeia para esses senhores. Não há como tolerar tanto desrespeito à população pobre e trabalhadora. É preciso unificar as lutas e exigir melhorias na saúde urgente! O que não pode é a prefeitura entrar com representação contra as suas vítimas em virtude de buscarem informações sobre o estado de seus familiares.
Não bastasse a barbárie que pacientes e profissionais da saúde sofrem diariamente na luta em defesa da vida, agora o governo quer qualificá-los de bandidos. O desespero e o medo da perda levou os familiares de José Tavares de Moura a ocupar a recepção do Hospital, e por isso foram presos.
O neto da vítima ao ser indagado sobre o motivo de sua detenção pela Polícia Militar do Pará, respondeu: "fui preso porque tentei salvar minha mãe que caiu nochão".
Tudo isso poderia ser evitado, caso tivéssemos representantes que respeitassem o povo. Mas esse regime gera corrupção e mais corrupção. Dinheiro existe para o povo ser atendido, mas é drenado pelos ricos e poderosos, vide o assombro presente na óbvia constatação da ONU, que diz que só no ano passado os donos de bancos receberam mais do que os pobres receberam em 50 anos. Essa sangria é responsável pelo caos da saúde, da segurança pública, o terror e as péssimas condições das carceragens país afora.
Exemplos de sobra temos para não confiar nessas CPI's que sempre terminam em uma indigesta pizza! Basta olharmos que, afinal os investigadores não tem lá muito interesse e nem são exemplos de ética para condenarem alguém. Por exemplo: um dos investigadores, o ex-senador Ademir Andrade (vereador pelo PSB) saiu pelas portas dos fundos e com algemas no pulso por fraudar licitações quando foi superintentende da Companhia Docas do Pará (já na gestão de Lula da Silva). Só a mobilização popular, os trabalhadores da saúde, usuários e movimentos sociais coordenados podem pressionar para que se puna de fato os responsáveis por esse caos.
Nenhum dinheiro aos banqueiros e empresários!
Suspensão do pagamento das dívidas públicas já!
Pelo fim da Lei de Responsabilidade Fiscal e da Desvinculação das Receitas da União!
Dinheiro para saúde, segurança e educação!!!!

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