quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Pastor Raul é 10

Raul Batista de Souza, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), vereador da capital do estado, nascido no município de Acará, com sede do município distante a duas horas de carro (cinco de barco) de Belém do Pará, dirigente do Partido Republicano Brasileiro (PRB), daqui a dois dias fará 52 anos. Recebeu um grande presente de aniversário: foi preso na manhã de hoje, 22, pela Polícia Federal. 

Em verdade, os presenteados fomos todos nós contribuintes e trabalhadores explorados por essa quadrilha. Desta vez, o escândalo diz respeito a fraudes cometidas na concessão do seguro defeso. Mecanismo extraordinário que deveria manter a subsistência dos pescadores artesanais e garantir o período em que as espécies de peixes, como o delicioso mapará, pudessem se reproduzir. Contudo, algo cheirava muito mal, e não era o pitiú dos peixes. Aliás, o peixe, linha, tarrafa e anzol passavam muito longe dessas tenebrosas tramas, cujo um dos principais líderes era o nada nobre pastor e vereador Raul. 

A Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Arapaima e saiu à caça de peixes graúdos e médios, servidores públicos e associados, de um milionário esquema de fraudes no benefício do seguro defeso. Foram 18 mandados de prisão, incluso o do vereador, e 17 de busca e apreensão.

Arapaima

O nome científico de um dos maiores peixes de água doce da Amazônia é Arapaima gigas, o ameaçado e apreciado pirarucu. Certamente que é sugestivo que tenha sido o nome da operação, pois igualmente opulento e grandioso são os esquemas de fraudes, que há um ano, a Polícia Federal têm investigado. Estavam no foco das investidas da polícia judiciária a Superintendência Federal da Pesca no Pará (SFPA), à qual Raul Batista é ligado, Postos do Sistema Nacional de Emprego (SINE/MTE) e as agências da Caixa Econômica Federal em Belém.

70 agentes estiveram envolvidos na operação Arapaima. Ela ocorreu em  Ananindeua, Belém e Santa Isabel - Região Metropolitana de Belém (RMB); Altamira - região do rio Xingu (oeste do Pará); Cametá e Mocajuba - baixo Tocantis (nordeste do estado), e Soure - Arquipélago do Marajó. 

Engorda

Poderemos dizer que o defeso é o período da reprodução e da engorda (desenvolvimento) dos peixes. Nesse intervalo de tempo, os pescadores artesanais deveriam usufruir do benefício social do seguro-defeso. Contudo, poucos são os que de fato estavam engordando. E muito. Para a maioria da população, os pescadores, geralmente gente muito simples ou analfabeta, estava a miséria e/ou o caos. 

Lembro de uma ação de saúde do governo do estado em 2009 nas Ilhas de Paquetá, Jutuba e Cotijuba em Belém. Ana Júlia Carepa (PT) ainda era a governadora. Fui para realizar palestras e ações de mobilização social e educação em saúde no que se refere ao combate aos acidentes de motor com escalpelamento. 

O que de fato chamou-me a atenção foi perceber que nas comunidades havia um número expressivo de pescadoras e pescadores que enfrentavam problemas para conseguir o benefício do seguro-defeso. 
Gente simples, trabalhadora. Olhares profundos e gritos de lamento. Cansaço e temor pela fome. Diante da tamanha necessidade, vence a timidez e o medo e ousam pedir alguma ajuda para as "autoridades" ali presentes. 

Queriam saber como fazer para vencer as barreiras da burocracia e entender porque eles, sendo trabalhadores do ramo da pesca artesanal, só conheciam o estado através do peso da repressão ee da polícia, acaso ousassem pescar no período de defeso. 

"Mas a gente faz o quê, senhor? Se não pesca, não tem o que comer.", lamentou um dos membros da comunidade que atentamente assistira nossa conversa. 

A gente faz o quê?! Essas palavras me engasgavam como uma espinha de sarda até hoje. Lembro que o orientei a voltar novamente na Colônia de Pescadores Z10 de Icoaraci, e caso não fosse resolvido a questão, que ele procurasse a Defensoria Pública do Estado ou Ministério Público Federal. 

Uma das respostas para esses tantos pescadores artesanais lesados, bem como para toda a sociedade começou a ser dada hoje. Eles não recebiam seus direitos porque havia políticos, cargos comissionados (DAS's) e asseclas se dando muito bem em cima da dor, sofrimento e miséria alheias do povo amazônida.

Pastor Raul é 10

Após prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal e de fazer exame de corpo de delito no Instituto de Perícias Médico Legal Renato Chaves, o pastor e vereador Raul Batista de Souza foi levado para o Centro de Recuperação Especial Coronel Anastácio das Neves, no complexo de Americano, em Santa Isabel. Ele lá já chegou e está em cela especial.

O 10 na vida do abençoado pastor não é mera coincidência. Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Raul Batista obteve em 2012, quando se reelegeu vereador de Belém dentre os mais votados, 10.733 votos. Passados apenas dois anos, nas eleições de 2014, ele recebeu 104.356 votos para o cargo de deputado federal. Seu partido, o PRB, fez coligação com o Solidariedade (SD) de Wladimir Costa. O único que elegeu-se pela coligação. Batista é 1º suplente. Multiplicou os votos da eleição anterior por 10. Meteórica e espantosa ascenção, não?!  

E por quê? 
Justamente porque é desse período a ida para a Superintendência Federal da Pesca no Pará de seu amigo e também pastor, Eduardo Lopes. Igualmente filiado ao PRB. 

Cem mil apreendidos na casa do Pastor Raul

A utilização política do seguro-defeso não é de hoje e já ajudou a eleger deputados federias, estaduais e até prefeitos. Que o digam Chico da Pesca, Miriquinho Batista e o prefeito de Cametá Iracy (PT), cuja a profissão é de pescador artesanal.

Não foram só votos que o Pastor Raul levou nessa trama. Suas contas e de seus apaniguados também obtiveram vertiginoso incremento para Eduardo Cunha nenhum botar defeito.

Os agentes encontraram em sua residência nada mais, nada menos que R$ 100.000,00. E como ele gosta de um dez, ninguém duvida que não exista pelo menos 2x10 dessa quantia toda.

Traíra arisca

Nem todos os mandados de prisão foram cumpridos, segundo o redator do Além da Frase apurou. Ainda tem uns peixes graúdos a serem fisgados, como é o caso do vereador de Cametá, Cleidinho Teles (PT). Teles estaria sendo investigado por envolvimento nas fraudes do seguro-defeso através da Associação dos Pescadores Artesanais do Município de Cametá (APAMUC). 

Outro possível foragido é cidadão que responde pelo nome de "Zé" Fernandes, presidente da Colônia de Pescadores Z-16 de Cametá. Filiado ao PDT, Zé Fernandes está, ou pelo menos estava, sendo cotado para assumir, pasmem, a Secretaria Municipal de Educação de Cametá. 

O presidente da APAMUC, Amilton Alho, já estaria preso pela PF.
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Atualizado às 19h42 - 23/10/2015

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