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quarta-feira, 4 de maio de 2016

Delcídio apresentou provas de encontros com Lula, diz Janot

Lula foi denunciado pelo procurador-geral da República ao Supremo
Lula foi denunciado pelo procurador-geral da República ao Supremo
O senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS) entregou à Procuradoria-Geral da República uma série de documentos que, segundo ele, comprovam seu encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tramar contra a Operação Lava Jato.
procurador também pediu a inclusão do petista no inquérito que investiga dezenas de políticos por suspeita de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras.
Delcídio relatou ao Ministério Público Federal que foi chamado por Lula em meados de maio de 2015, em São Paulo, para "tratar da necessidade de se evitar que Nestor Cerveró fizesse acordo de colaboração premiada".
Segundo o senador, Lula o teria incumbido de "viabilizar a compra do silêncio de Nestor" para proteger o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.
Janot anotou em manifestação ao STF: "A respeito desse fato, há diversos outros elementos, tais como e-mail com comprovante de agendamento da reunião entre Lula e Delcídio no Instituto Lula, no dia 8 de maio de 2015; comprovantes de deslocamento efetivo do senador para São Paulo compatível com esta data; outros documentos que atestam diversas outras reuniões entre Lula e Delcídio no período coincidente às negociatas envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas mantidas entre Lula e (o pecuarista) José Carlos Bumlai e entre este e Delcídio", afirma o procurador-geral da República.

STF RECEBE DENÚNCIA CONTRA LULA E DILMA

Delcídio afirmou que o filho de Bumlai, Mauricio Bumlai, pagou R$ 250 mil à família de Cerveró, "por interferência de Lula". De acordo com o senador, Lula "pediu expressamente" a Delcídio que ajudasse Bumlai, amigo do petista.

O ex-líder do governo contou em delação premiada que o ex-presidente tinha "especial preocupação" com a situação de José Carlos Bumlai porque eles ficaram muito próximos durante a primeira campanha de Lula à Presidência da República.
Segundo o senador, "Bumlai se tornou o grande conselheiro de Lula, com forte influência em diversos negócios do governo, além de ter sido avalista de um empréstimo milionário obtido pelo PT junto ao Banco Schahin e de ter ajudado a construir, estruturar e organizar o Instituto Lula, entre outros".
O procurador-geral da República ainda levou em consideração, no pedido de aditamento à denúncia contra Delcídio, as gravações captadas por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró.
Em novembro de 2015, foi entregue por Bernardo Cerveró à Procuradoria-Geral da Republica um áudio "revelador da grande trama criminosa envolvendo a obstrução da presente investigação, por meio da compra do silêncio de Nestor Cerveró".
"A partir daí as investigações ganharam novos contornos e se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Mauricio Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida nos Autos 4170/STF", afirma Janot.
"Os depoimentos de Nestor Cerveró deixam evidente que a intenção dos articuladores do silêncio de Nestor era esconder fatos ilícitos envolvendo Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai, André Esteves, Delcídio Amaral, além de outras pessoas que possivelmente também integram a organização criminosa objeto deste inquérito."

Outro Lado

A assessoria de Lula diz que a peça apresentada por Janor "indica apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova". "Trata-se de uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente na palavra de um criminoso."
Segundo a defesa, o ex-presidente não participou "nem direta nem indiretamente" de qualquer dos fatos investigados na Operação Lava Jato.
"Nos últimos anos, Lula é alvo de verdadeira devassa. Suas atividades, palestras, viagens, contas bancárias, absolutamente tudo foi investigado, e nada foi encontrado de ilegal ou irregular", afirma em nota. "O ex-presidente Lula não deve e não teme investigações."
A defesa de André Esteves reiterou que ele não cometeu nenhuma irregularidade. Já a assessoria do senador Delcídio informou que ele não irá comentar o assunto no momento.
(Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/05/04/delcidio-entregou-elementos-que-incriminam-lula-diz-janot.htm)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Tudo, ou quase, começou na África

O velho continente, os lobistas e os negócios da Petrobras


por Diego Escosteguy, com Flávia Tavares, Marcelo Rocha e Leandro Loyola
Em 19 de abril de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Acra, capital de Gana, para uma das 28 visitas diplomáticas que fez à África em seus oito anos no Planalto. Naquela manhã de sábado, Lula foi recebido no aeroporto pelo presidente ganense, John Agyekum Kufuor, que lhe entregou flores amarelas, brancas e rosa. Deu tchauzinhos, passou em revista as tropas, ouviu os hinos dos dois países e assistiu a um show de danças típicas. Depois da solenidade, seguiu para o Castle Route, palácio do governo local, para começar a tratar de negócios.
A diplomacia de negócios na África era central à política externa do governo Lula. Havia um componente ideo­lógico de esquerda na aproximação com a África. Ele se revelava no desejo de Lula e do PT em ajudar esses países a superar problemas sociais crônicos. Mas o Brasil também ganhava muito – e ninguém começou a ganhar mais que as empreiteiras brasileiras. Elas passaram a ter negócios em 70% dos países africanos. Mesmo que isso significasse, para os brasileiros, ver Lula apertar a mão de ditadores como Obiang Nguema, da Guiné Equatorial, que se mantém violentamente no poder há 35 anos, ou do líbio Muammar Khadafi, apeado do poder durante a Primavera Árabe. Em 90% das conversas, os chefes de Estado africanos pediam a presença de uma empresa brasileira em seus países: a Petrobras.
Os pedidos faziam sentido. Países como Gana detêm muita matéria-prima, sobretudo na área de energia, como campos de petróleo e gás, mas pouca experiência ou recursos para transformar riquezas naturais em dinheiro para seus povos – ou líderes políticos corruptos. Percebendo isso, o governo Lula determinou que a Petrobras buscasse oportunidades de parceria nesses países. Determinou também que o BNDES financiasse os projetos em que empreiteiras brasileiras tivessem participação.
Na numerosa comitiva que acompanhava Lula em Acra havia dois convidados especiais. Um deles era o empresário José Carlos Bumlai, um dos melhores amigos de Lula e então conselheiro da empreiteira Constran. Ao lado de Bum­lai estava Fábio Pavan, lobista da Constran em Brasília – e, naquele momento, encarregado de conseguir contratos em Gana na área de energia e biocombustíveis. Pavan ocupava, em Brasília, o cargo que, duas décadas antes, nos governos de José Sarney e de Fernando Collor de Mello, pertencera a Bumlai: prestar – e cobrar – favores a políticos que tenham relação com a Constran. Esse tipo de relação promíscua alimenta há décadas a corrupção no mundo da política, e não apenas no Brasil. Não é fortuito que, no curso da operação Lava Jato, a Polícia Federal (PF) tenha descoberto evidências de que a Constran também participara do esquema de corrupção na Petrobras liderado por Paulo Roberto Costa, ex-di­retor da Petrobras, e Alberto Youssef, um dos principais doleiros do país. E que contribuíra para campanhas políticas em 2010. A Constran nega as acusações.
Bumlai é desconhecido fora da política, mas dentro dela é uma estrela. Tinha livre acesso ao Palácio do Planalto e oferecia churrascos ao amigo Lula. Também filtrava nomeações políticas para os maiores cargos da República, como diretorias na Petrobras. “Estive com Bumlai duas vezes, pedindo ajuda para ser diretor. Era um cara muito forte no PT”, disse o lobista João Augusto Henriques, quase nomeado diretor internacional da Petrobras em 2008, por indicação do PMDB. Bumlai já foi acusado de usar a influência de Lula em favor de negócios particulares. E não só particulares. Antes que o tesoureiro petista Delúbio Soares tombasse no caso do mensalão, Bumlai mantinha frequentes contatos com ele, segundo extratos telefônicos da CPI que investigou o caso. Na Operação Vampiro, em que a Polícia Federal investigou fraudes em licitações no Ministério da Saúde, ainda no começo do governo Lula, o nome de Bumlai apareceu, em depoimentos e grampos telefônicos, como arrecadador de fundos para o PT, ao lado de Delúbio. No mais recente depoimento que prestou ao Ministério Público, o operador do mensalão, Marcos Valério de Souza, fez acusações semelhantes. Bumlai sempre negou peremptoriamente qualquer atividade ilegal. Mas nunca negou a amizade com Lula.
 
BOAS RELAÇÕES O consultor Fábio Pavan, amigo de José Carlos Bumlai, próximo a Lula. Ele foi chamado para organizar uma reunião entre companhias de petróleo de Gana e do Reino Unido com representantes da Petrobras (Foto: Marcos Serra/Esp. CB/D.A Press)
Na visita a Acra, Lula deixou claro que estava ali para tratar de um tema central: energia. Logo na chegada a Gana, criticou a indústria do petróleo e defendeu investimentos em biocombustíveis no país, com a ajuda do Brasil. Pouco depois, Fábio Pavan, que se apresentava como “diretor de desenvolvimento” da Constran, comemorou publicamente uma parceria com uma empresa local, a Northern Sugar Resources, para produzir etanol. A Constran entrava com a usina, a Northern com a cana, e o BNDES com o dinheiro para a empreitada. Pavan disse que o investimento total seria de US$ 306 milhões, dos quais US$ 260 milhões iriam do BNDES para a Northern. “É um projeto vencedor”, disse Pavan. Acrescentou que se tratava do primeiro empréstimo público concedido pelo Brasil a Gana. Um ano mais tarde, a Constran anunciava a construção de duas hidrelétricas, além da usina de etanol. Os três empreendimentos juntos deveriam somar US$ 850 milhões e ter, claro, financiamento do BNDES. Em 2009, Pavan afirmou que “Gana tem a melhor porta de entrada da África”, por causa das estabilidades política e econômica, além do “baixo nível de corrupção”. “O Brasil estava dormindo e acordou”, disse o embaixador de Gana no Brasil, Samuel Dadey.
Fábio Pavan (Foto: reprodução)
Fazer negócios na África, como sabem homens como Bumlai ou Pavan, não é nada fácil. A burocracia e a corrupção são obstáculos insuperáveis para quase todos que se aventuram por lá. Apesar das declarações triunfais de Pavan, os negócios da Constran em Gana deram errado. A Odebrecht tomou o lugar da Constran. Pavan prosseguiu em seu safári. Para fazer dinheiro em Gana, correu à Petrobras. Em outubro de 2011, segundo documentos obtidos por ÉPOCA, Pavan, ao lado do ganense Dadey, já ex-embaixador, marcou uma reunião dos diretores da empresa britânica Minexco (leia o e-mail acima) com o então diretor internacional da Petrobras, Jorge Zelada, indicado pelo PMDB. A Minexco, em parceria com a petroleira estatal de Gana, queria que a Petrobras virasse sócia na exploração do campo de Tano, no litoral ganense.
Para chegar até Zelada, Pavan e os executivos da Minexco tiveram de passar pelo crivo do lobista João Augusto Henriques, aquele que esteve com Bumlai e, como revelou ÉPOCA no ano passado, era o intermediário para qualquer negócio na área internacional da Petrobras. Marcou-se um encontro no escritório de João Augusto no Rio. João Augusto desistiu na undécima hora, segundo os envolvidos. Num lance comum nessas aventuras subterrâneas, João Augusto aproximou-se do ex-embaixador Dadey e se livrou de Pavan, o intermediário concorrente.
Mesmo com a astúcia do lobista João Augusto, a operação da Petrobras com Gana foi barrada na diretoria da estatal. Em 2011, anos depois da visita a Gana, havia na Petrobras apenas o eco dos discursos triunfalistas de Lula. A empresa, segundo documentos internos obtidos por ÉPOCA, investira bilhões de dólares em seis países africanos. As operações eram promissoras, em especial na Nigéria, mas não produziam dinheiro suficiente para que aventureiros como Pavan ou João Augusto laçassem novos negócios no continente. O caixa da Petrobras começara a secar. Eram negócios demais, seja nas refinarias de Paulo Roberto Costa, seja nas compras e vendas da turma do PMDB, liderada por João Augusto. A política de vender combustível barato ao brasileiro, tendo de importá-lo cada vez mais caro, também contribuía para o sumiço de bons negócios.
A frustração com a operação Gana talvez tenha levado João Augusto, o caçador da Petrobras na África entre 2008 e 2012, a lembrar melhores temporadas. Uma das caçadas de João Augusto aconteceu em 2009, na Namíbia. Ali, segundo disse a ÉPOCA, foi uma caçada a dois: PT e PMDB. O grupo inglês Chariot, que detinha direitos de exploração num campo offshore na Namíbia, em sociedade com a British Petroleum, estava em busca da experiência da Petrobras para extrair petróleo de águas profundas. Os ingleses vieram ao Brasil. Não sabiam em que porta bater. E bateram, segundo João Augusto, na porta do sindicalista Armando Tripodi, do PT, então chefe de gabinete de José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras.
“Na Namíbia, o assunto veio pelo chefe de gabinete do Gabrielli, o Armando. O grupo deles (dos empresários ingleses e do PT) queria vender poços na Namíbia por US$ 150 milhões”, disse João Augusto. Ele queria dizer que essa turma esperava que a Petrobras entrasse de sócia na operação, mas, para isso, se comprometesse a pagar adiantado o valor a que teria direito quando – ou se – o petróleo fosse encontrado. João Augusto conta que propôs uma alternativa mais sensata, que poderia passar pelo Conselho de Administração. “Vamos vender pelo que o negócio vale hoje e, se tiver óleo, pagam-se os US$ 150 milhões.” Exatamente o tipo de raciocínio que a Petrobras, segundo ele, deveria ter aplicado na polêmica compra da refinaria de Pasadena, em 2006. “Não sou vestal. Gosto de dinheiro. Mas nunca faria uma sacanagem como a que fizeram em Pasadena”, disse João Augusto.
A proposta prosperou, segundo ele. João Augusto firmou um contrato com a Chariot e recebeu uma parte pela intermediação. Em maio de 2009, a Petrobras anunciou a compra de 50% do bloco na Namíbia do grupo Chariot, por US$ 16 milhões. Se a operação comercial desse certo, a Petrobras pagaria um “bônus de produção” de 4,75% da parcela produzida – ou US$ 118 milhões. “Eu tinha um sucesso, um percentual. Se Namíbia desse óleo, eu estava rico”, disse João Augusto. Só ele, ou a turma do sindicalista Armando Tripodi também? “Não sei dizer. Cuido apenas do meu dinheiro. Mas quebramos a cara. Deu seco. Acontece muito.” A operação de perfuração custou US$ 86 milhões. O projeto foi abandonado.
 
NÃO JORROU O lobista João Augusto. No negócio que fechou na Namíbia, a Petrobras perdeu dinheiro. De acordo com o relatório, deu “seco” (Foto: reprodução)
Depois de tantas caçadas frustradas, a Petrobras resolveu reunir seus ativos na África e buscar um sócio disposto a investir nas operações. A ideia era fundir todas numa operação conhecida como Petroáfrica. Como antecipou ÉPOCA em abril do ano passado, o sócio escolhido foi o grupo BTG Pactual, do banqueiro André Esteves. Para conseguir fechar o negócio, o BTG contratou vários conselheiros, entre eles o lobista Hamylton Padilha – outro dos grandes caçadores da Petrobras, ao lado de João Augusto e Fábio Pavan. Bons caçadores atuam juntos. Segundo João Augusto, Padilha foi parceiro dele no lobby para que a Petrobras contratasse um navio-sonda da Vantage Drilling, por US$ 1,6 bilhão, em 2009. O negócio, segundo João Augusto, rendeu US$ 10 milhões em comissão – parte disso paga, diz ele, a deputados do PMDB. A operação Petroáfrica deu certo. Em junho do ano passado, a Petrobras se uniu ao BTG, numa nova subsidiária, não com todos, mas apenas alguns ativos, sobretudo na Nigéria. O BTG pagou US$ 1,5 bilhão por metade das operações. Técnicos da estatal ouvidos por ÉPOCA consideraram o valor baixo, levando em consideração o que a empresa já investira e quanto ela ainda poderia ter de retorno. Mesmo que o valor da operação possa ser questionado, já dá retorno à Petrobras e ao BTG. Documentos do BTG afirmam que o preço foi compatível com valores de mercado. Procurado, o BTG não se manifestou.
Fábio Pavan confirma que esteve com Bumlai e Lula na viagem a Gana. “Estava lá cuidando dos projetos da Constran, quando soube que o presidente Lula iria ao país para inaugurar o escritório da Embrapa. Decidi ficar e participar do evento. Bum­lai também foi”, diz. Procurado para falar sobre o relacionamento entre Lula e Bumlai, o Instituto Lula não respondeu até o fechamento desta edição. Pavan confirma ainda que, em 2011, Samuel Dadey, ex-embaixador de Gana no Brasil, o procurou para que articulasse uma reunião de representantes da GNPC, a estatal do petróleo de Gana, e da britânica Minexco com dirigentes da Petrobras. “Procurei alguns amigos que tinham relação com a Petrobras, mas a reunião acabou não ocorrendo”, diz. “O que me deixou bastante aborrecido.” A UTC Engenharia, controladora da Constran, informou que comprou a empresa em janeiro de 2010 e passou a administrá-la apenas em fevereiro daquele ano. Nesse perío­do, informou a assessoria da UTC, a Constran não fez negócios na África. A Petrobras informou que não comentaria o assunto. O gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobras, Armando Tripodi, ex-chefe de gabinete de Gabrielli, não foi localizado. De acordo com documentos do BTG Pactual, todas as empresas contratadas para auxiliar o banco na África, inclusive a de Padilha, eram obrigadas a assinar uma cláusula compatível com as normas internacionais anticorrupção. ÉPOCA foi à caça dos empresários Bumlai e Padilha, mas não os localizou.
 
LUCRO Navio-plataforma no campo de Agbami, na Nigéria, e documento da Petrobras quantificando as reservas no local. Finalmente um negócio que deu retorno à Petrobras e a seu sócio, o banco BTG (Foto: divulgação)
Fonte: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/04/os-lobistas-e-os-negocios-da-bpetrobras-na-africab.html

Corrupção: Amigo íntimo de Lula é peça-chave do petrolão

Bumlai, amigo íntimo do presidente Lula, pecuarista e lobista. (Cristiano Mariz/VEJA)
por Rodrigo Rangel e Adriano Ceolin

Um dos grandes pecuaristas do país, José Carlos Bumlai conta que visualizou em sonho sua aproximação com Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele era apenas aspirante à Presidência. Com a ajuda de um amigo comum, Bumlai conheceu o petista e o sonho se realizou. O pecuarista tornou-se íntimo de Lula. O sonho embutia uma profecia que ele só confidenciou a poucos: a aproximação renderia excelentes resultados para ambos. Assim foi. Lula chegou ao Planalto, e Bumlai, bom de negócios, bem-sucedido e rico, tornou-se fiel seguidor do presidente, resolvedor de problemas de toda espécie e, claro, receptador de dividendos que uma ligação tão estreita com o poder sempre proporciona. No governo, só duas pessoas entravam no gabinete presidencial sem bater na porta. Bumlai era uma delas. A outra, Marisa Letícia, mulher de Lula.

Desde 2005, sabia-se em Brasília que Bumlai também tinha delegação para tratar de interesses que envolvessem a Petrobras. Foi ele, por exemplo, um dos responsáveis por chancelar o nome do hoje notório Nestor Cerveró, um desconhecido funcionário da estatal, para o posto de diretor internacional da empresa. Em sua missão de conjugar interesses públicos e privados, Bumlai tinha seus parceiros diletos, aos quais dedicava atenção especial. Não demorou para que começassem a chegar ao governo queixas de empresários descontentes com “privilégios incompreensíveis” concedidos aos amigos do amigo do presidente.

Uma das reclamações mais frequentes envolvia justamente a Petrobras e uma empreiteira pouco conhecida até então, a UTC, que de repente passou a assinar contratos milionários com a estatal, ao mesmo tempo em que surgia como uma grande doadora de campanhas, principalmente as do PT. Gigantes da construção civil apontavam Bumlai como responsável pelos “privilégios” que a UTC estava recebendo da Petrobras. Hoje, a escalada dos negócios da UTC é uma peça importante da Operação Lava-Jato, que está desvendando o ultrajante esquema de corrupção montado no coração da estatal para abastecer as contas bancárias de políticos e partidos. A cada depoimento, a cada busca, a cada prova que se encontra, aos poucos as peças vão se encaixando. A última revelação pode ser a chave do quebra-cabeça. Bumlai, o amigo íntimo do ex-presidente que tinha entrada livre ao Palácio do Planalto, está envolvido até o pescoço no escândalo de corrupção montado na Petrobras durante o governo petista.
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(Fonte: Veja)

Mar de lama: Escândalo ronda Belo Monte

por Lúcio Flávio Pinto, para seu blog
A matéria de capa de Veja desta semana é sobre o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo “tão íntimo de Lula que tinha passe livre no [Palácio do] Planalto”, a sede da presidência da república. Rico, o empresário “até hoje resolve os mais diversos problemas do ex-presidente e de sua família. Poderoso, ele agora também é investigado no escândalo da Petrobrás”.
No meio da matéria, em apenas seis linhas, a revista faz uma citação grave. Diz que Bumlai “foi encarregado de missões complexas – a montagem do consórcio de empresas que construiriam a usina de Belo Monte, uma obra orçada em 25 bilhões de reais, foi trabalho dele. Cumpriu-as com destreza”.
E nada mais disse a revista.
A obra, a maior da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento, já está em R$ 30 bilhões. Deve encarecer ainda mais. O consórcio construtor da hidrelétrica do rio Xingu, no Pará, é controlado pela Andrade Gutierrez (18% do capital), Odebrecht e Camargo Corrêa (16% cada uma), Queiroz Galvão e OAS (11,5%), Conter e Galvão (10%).
Ou seja: as maiores empreiteiras nacionais, todas já acusadas no curso da Operação Lava-Jato da Polícia Federal, amparada pela justiça, ou ao menos referidas. Sendo que Belo Monte é obra de porte muito maior do que a das refinarias da Petrobrás.
Veja devia ter apurado mais e melhor uma informação tão grave antes de divulgá-la – ou o tratamento adequado virá na próxima edição da revista?