quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Navegar é preciso!

por Marcus Benedito

Fim de 2018 chegando. E quase eu coloco 2019. É o “vaaai tempo!”. E quando a gente quer que o tempo voe é porque não vivemos tempos bons. É o caso deste blog nos últimos doze meses. 2018 foi um ano que demos pouco as caras por aqui. E tem uma série de fatores. Principalmente as condições físico-químicas, materiais, políticas e sociais de seu editor. 

Ainda assim, mantivemos discreta regularidade nas opiniões e debates imersos nas principais redes (ou mídias) sociais. O que não é tudo, muito menos suficiente. Porque navegar é preciso! Falar, amar, pintar, colorir e desconstruir; tingir, fingir, desconcretizar, descolonizar, despoluir, ruir, criar e erigir, bem como uma infinidade de infinitivos podem e devem ser explorados em todos os meios que a capacidade e a inventividade da natureza humana demandar.

Pelo sistema hipertextual que opera através da internet, ou simplesmente a www (World Wide Web), isso adquiri muita coisa. A internet é vulcânica, oceânica. Parece uma trovoada de madrugada num popopo atravessando a baía do Arrozal no rio Pará. Parece que não tem fim. E pode ser o fim. E nela tem de tudo. Pau, pedra, início e fim de caminho. A internet disponibiliza de forma quase gratuita o que parecia imponderável: o direito à fala, à liberdade de expressão, à comunicação. Porque, como diriam as erveiras do Ver-o-Peso, tu vens com bit, eu vou com byte. E foi por isso que nasceu o Além da Frase em junho de 2009. Porque combater é preciso. E nascemos na luta contra a barbárie.

Os tempos são de reflexão, indignação e resistência. Mas sobretudo de muita paciência, debate e unidade na luta. Em 2018 eles ousaram matar Marielle Franco (PSOL), nossa aguerrida vereadora do Rio de Janeiro. Pensaram que iriam calar as vozes de milhões de rosas negras. Marias, Maras, Marins, Dandaras, cunhantãs como era a Marielle. Batalhadoras como Anderson Gomes. Mas eles se enganaram. Atiçaram os formigueiros. A mulherada foi para a rua e disse #EleNão. Duas vezes. Em dezenas de lugares, shows e arquibancadas. Como vai ser daqui para a frente. Porque lutar é preciso. E vida com dignidade e justiça social também são necessárias.

O que nos move é a convicção calcada no pensamento do socialismo científico, de que tudo que é sólido desmancha no ar, e de que, conforme Marx e Engels escreveram no Manifesto Comunista: a história da humanidade é a história da luta de classes. Portanto, nada poderá nos impedir no caminho de construção de dias melhores e mais dignos para a classe trabalhadora a nível internacional. Nada! O Além da Frase já presenciou eventos que confirmam essa assertiva: Primavera Árabe, Jornadas de Junho de 2013, Greve Geral de 2017, dia mundial contra Trump, rebeliões na Nicarágua, II Intifada Palestina, explosões sociais na França com os Coletes Amarelos e as convulsões recentes nas ruas da Hungria contra a moderna escravidão proposta pelo governo de ultra direita. 

Nascemos acreditando que Belo Monte iria cair. Foi esta aberração criada e inaugurada por Lula da Silva e Dilma Rousseff, respectivamente, que nos impulsionou a criar este espaço de opinião e informação pública em defesa da Amazônia e de toda a sua sócio biodiversidade. Infelizmente Belo Monte está aí. É doloroso olhar esse monumento à destruição fruto da nefasta traição do PT. Ajudou a matar o rio Xingu, a Volta Grande, seu povo.

Mas a luta não parou e não para. Segue viva na região. Agora contra a pá de cal, a mineradora canadense Belo Sun, que quer roubar ouro, acabar de poluir os rios e enterrar os povos. Exatamente como fazem a Hydro Alunorte e CIA Ltda., em Barcarena, e a Vale contra o rio e os índios xikrin em processo de extermínio, etnocídio e extinção, em Redenção, região sul do estado.

O Pará é um caldeirão que fervilha há mais de 500 anos. Falar da Amazônia, na Amazônia, sendo amazônida, caboclo e ribeirinho é preciso. Prometo que vou me esforçar para continuar mais perto neste espaço, contudo, uma coisa não precisa de promessa: vamos permanecer na luta, nas ruas, nos bits e bytes, em defesa da democracia, contra os corruptos de turno e seus lacaios.

Vamos precisar de todo mundo e da máxima unidade dos movimentos sociais, partidos de esquerda e centrais sindicais para nos defender das ameaças de retiradas de direitos e ataques vindos de Zenaldos, Barbalhos, Bolsonaros. Vamos enfrentar, nas mobilizações, as políticas higienistas socialmente, o genocídio do povo negro, a violência contra indígenas e as comunidades quilombolas. Organizar greves e piquetes em defesa do serviço públicos, gratuitos e de qualidade. Combater a corrupção, as privatizações e o desmonte dos investimentos nas áreas sociais.

Não vai ser fácil, mas unidos somos mais e mais fortes. Uma coisa já se sabe: nada pode parecer impossível de mudar, porque bem disse o velho barbudo de Trier; “antes a frase ia além do conteúdo; agora é o conteúdo que vai além da frase”. Vamos à luta!

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