quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Bolsonaro: um novo governo com velhas práticas


Jair Bolsonaro (PSL) dormindo em plena sessão da Câmara dos Deputados (Foto: Reprodução).
Um dos principais pilares sobre o qual o novo presidente Jair Bolsonaro montou sua campanha eleitoral que o levou à vitória, foi a luta contra a corrupção. Soava estranho para quem transitou por quase 30 anos de sua carreira política em partidos como o PP, uma sigla recheada de processos e que conta nas suas fileiras com Paulo Maluf, um dos políticos mais corruptos deste país. Bolsonaro nunca se importou com isso, ao menos, nunca fez uma denuncia contra seus colegas de partido. Mas agora, as denuncias que começam a surgir sobre sua família e membros de seu futuro gabinete, se confirmadas, além de tirar a máscara do novo presidente, podem configurar um novo estelionato eleitoral.
O primeiro alvo foi o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM/RS), elevado ao cargo de ministro da Casa Civil. Ele mesmo declarou ter recebido R$ 100 mil da JBS dos irmãos Joesley e Wesley Batista, beneficiados pelos governos do PT e de Temer a troca de propina. Porém as denuncias apontam outros repasses ao futuro ministro. É dinheiro de caixa dois, um crime que, segundo declarações do super ministro da justiça, Sergio Moro, é pior que corrupção. Mas ao ser questionado sobre o caso, demonstrando um completo cinismo, Moro declarou: “Onyx já admitiu e pediu desculpas”.
Mais dois casos do novo gabinete estão sob suspeita. A futura ministra de Agricultura, Tereza Cristina (DEM/MS), admitiu que como Secretária Estadual de Desenvolvimento Agrário de MS, concedeu incentivos fiscais ao grupo JBS, sendo que mantinha parcerias comerciais com esse grupo a quem arrendava uma propriedade. Ou seja, legislou em causa própria já que se favorecia com essa medida de governo. Essa denuncia foi feita em 2017 no acordo de delação premiada dos Batista com a PGR e homologada pelo STF.
Finalmente, o nomeado ministro de Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles, um personagem de ultra direita que durante a campanha a deputado pelo Partido Novo (não se elegeu), defendeu o uso de armas contra a esquerda, o MST e a “bandidagem do campo”, está em apuros. Este ex-secretario do governo Alckmin foi denunciado pelo Ministério Público por improbidade administrativa e adulterar mapas do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental Várzea do Rio Tietê, para beneficiar setores econômicos. O valor da ação, segundo O Globo, é de R$ 50 milhões. Teremos um novo governo com velhas práticas.
O milagre de multiplicar patrimônios

Se sobre o governo Bolsonaro paira um cheiro ruim, na sua família os indícios de corrupção estão sendo muito mal explicados. Os primeiros dados de um crescimento espetacular do patrimônio de Jair Bolsonaro e seus filhos Flavio, Eduardo e Carlos, podem ser apenas a ponta de um iceberg que esconde uma massa muito maior. Para quem, há menos de 30 anos, declarou ao assumir o cargo de vereador: uma moto, um carro Fiat Panorama e dois lotes de pequeno valor em Resende (RJ), ter hoje um patrimônio em torno de R$ 15 milhões, havendo se dedicado exclusivamente à vida parlamentar, é um verdadeiro milagre.
Parte desse milagre começou a ser desvendado nestes dias quando se descobriu o “esquema Bolsonaro-Queiroz”, mediante o qual este último fazia repasses de dinheiro para a família Bolsonaro. As origens dos repasses não estariam esclarecidas, “ele tem que explicar. Pode ser e pode não ser, ele que explica…” respondeu confuso o futuro presidente ao ser perguntado sobre os depósitos realizados pelo policial militar Fabrício José Carlos de Queiroz, ex assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro, em contas de sua família. Uma resposta evasiva para quem prometia de forma contundente acabar com a corrupção.
As movimentações de mais de R$ 1,2 milhões por parte de Fabrício Queiroz, homem de confiança do presidente que atualmente é motorista de Flávio, chamaram a atenção da Coaf (Conselho de Controle de Atividade Financeira). Queiroz recebia depósitos de funcionários lotados no gabinete de Flavio e depois movimentava essa conta em diferentes direções. Uma das favorecidas com R$ 24 mil foi Michelle Bolsonaro, futura primeira-dama. Tanto a filha como a mulher de Queiroz alternaram funções nos gabinetes de Flávio e do próprio Jair. Entre janeiro de 2016 e o mesmo mês de 2017 fizeram depósitos em torno de R$ 100 mil na conta movimentada por Queiroz. Estas denúncias aparecem como parte da Operação Furna da Onça que levou dez deputados estaduais à prisão por receber propina, que poderiam ser uma das fontes do dinheiro aparecido nessa conta.
Ainda há muito para ser revelado sobre os esquemas que permitiram um salto espetacular no patrimônio da família Bolsonaro. Ninguém acredita que vivendo apenas dos salários do legislativo tenham acumulado um patrimônio de mais de R$ 15 milhões em imóveis localizados nas áreas mais nobres do Rio de Janeiro como Copacabana, Barra da Tijuca ou a Urca. Segundo a Folha de S.Paulo, “as transações que resultaram na compra da casa em que Bolsonaro vive na Barra, têm, em tese, indícios de uma operação suspeita de lavagem de dinheiro”. A casa, onde Bolsonaro realiza seus encontros políticos, foi adquirida pelos antigos donos por R$ 580 mil. Essa casa, ainda foi reformada e depois vendida para Bolsonaro por um valor 31% menor (!?) o que para a Cofeci (Conselho Federal dos Corretores de Imóveis) configura serio indício de lavagem de dinheiro.
O ex-juiz e futuro Ministro da Justiça Sergio Moro, “paladino” contra a corrupção, ainda não se manifestou sobre este caso. Aquele que ao ser nomeado foi descrito por Bolsonaro como “um soldado, que está indo para a guerra sem medo de morrer”, está morrendo de medo de investigar seu próprio chefe. Diz que não cabe a ele dar explicações sobre relatórios da Coaf. Não poderia ser diferente, é a justiça seletiva, a justiça dos ricos, a que manda milhares de pobres e negros das periferias para a cadeia e poupa os poderosos. Moro sabe perfeitamente que com um salário bruto de R$ 33,7, Bolsonaro nunca poderia ter esse patrimônio. Mas isso que importa? Importa que ele no Ministério da Justiça, da mão de Bolsonaro, está-se preparando para dar o pulo para uma cadeira no STF.
Denunciamos Bolsonaro como a pior escolha para presidir o país. Estaremos diante de um governo de extrema-direita, ultrarreacionário em relação às liberdades democráticas e os direitos civis e ultraliberal em relação à economia. E está claro que também será um governo que acobertará a corrupção. Foi uma escolha ruim e equivocada dos trabalhadores que desesperançados dos governos anteriores, optaram por votar em Bolsonaro.
Ao não cumprir suas promessas, ao menos no referente à corrupção, o governo Bolsonaro estará cometendo um novo estelionato eleitoral, além de estar disposto a criar sérias dificuldades e grandes sofrimentos ao povo, como demonstram suas propostas. Temos que nos unificar nas lutas, independente de em quem cada um votou, em defesa de nossos direitos e na denuncia implacável deste governo que atacará o povo trabalhador, que encobrirá a corrupção e que governará a serviço dos interesses dos ricos e poderosos e do imperialismo norte americano.
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Fonte: CST/PSOL

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