Até o final da semana passada, o laudo elaborado pelo Corpo de Bombeiros Militar (CBM), no início de 2014, alertando sobre as condições precárias do Pronto-Socorro Mário Pinotti, o PSM da 14, estava no Centro de Atividades Técnicas (CAT) da Corporação. Não está mais.
Um oficial do CBM, ouvido pelo DIÁRIO, denunciou que o prefeito usou de sua amizade com o governador Simão Jatene, a quem o CBM é subordinado, para recolher o laudo e mantê-lo sob os cuidados de um oficial da sua confiança. Segundo o oficial dos Bombeiros - que não quer ter a identidade revelada, por temer represálias -, tudo isso aconteceu após reunião entre o prefeito e o coronel Nahum Fernandes, comandante-geral do CBM do Pará.
Ainda de acordo com o oficial, Zenaldo está desesperado, com medo de ser acusado - e considerado culpado - pelo incêndio ocorrido no PSM da 14 na quinta-feira da semana passada, dia 25, e que acabou provocando a morte de ao menos três pessoas. Por isso, o prefeito queria ter em mãos o documento elaborado pelos Bombeiros. Ele pretendia entender todos os tópicos que o relatório indicou como problemas no hospital, para, a partir daí, convencer o CBM a emitir um laudo sobre o incêndio que aponte como causa do acidente algo que não foi previsto na Ação Civil Pública expedida pelo Ministério Público Federal (MPF), em maio do ano passado, exigindo que o prefeito reparasse diversos problemas verificados no PSM da 14.
Em bom português: se conseguir levar o comando do CBM a emitir um laudo que identifique que o incêndio foi causado por algum fator não citado pelo MPF na Ação Civil Pública, Zenaldo não poderia ser considerado culpado pela tragédia e, consequentemente, pelas três mortes que ela causou.
A tarefa será árdua. Primeiro, porque nem todos os oficiais do CBM estão dispostos a fazer parte da armação que Zenaldo supostamente tenta costurar dentro da Corporação. Há uma fatia do comando dos Bombeiros que não simpatiza com o governador Jatene e que não estaria disposta a colaborar com o esquema do prefeito. Em entrevista à imprensa, um dia após o incêndio, o major Wytting, por exemplo, confirmou a existência de fiações elétricas antigas e expostas, e próximas a material combustível, o que aumenta ainda mais o risco. Segundo, porque será muito difícil - quase impossível - encontrar uma causa para o incêndio que não tenha sido alertada pelo documento emitido pelo MPF e assinado pelos procuradores da República Melina Tostes e Alan Mansur.
Do relatório do MPF, constam nada menos do que 21 tópicos, apontando as mais graves e diversas irregularidades, principalmente em se tratando de um hospital (veja box ao lado). A lista de problemas constatados pelo MPF no PSM da 14 é grande, incluindo Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com estrutura inadequada, falta de profissionais médicos no plantão, ambientes em péssimas condições de higiene, mofo nas paredes, forro do teto quebrado, alagamentos, banheiros deteriorados, elevadores paralisados, falta de controle da validade dos medicamentos, entre outros.
Depoimentos dos próprios funcionários do hospital reforçam a preocupação do MPF. “É fato que o hospital precisa de reparos”, disse a médica cirurgiã Tais Tapajós, que estava no local no momento do incêndio. “Foi uma catástrofe”.
(Diário do Pará)
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