quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Elis para sempre: alegre, viva, cantando a liberdade!

Hoje faz 30 anos que Elis Regina faleceu.
Mas parece que não.
Tenho a impressão de que ela está vivíssima da Silva.
Talvez porque esteja mesmo. Afinal as ondas sonoras nunca morrem.
Ficam por aí reverberando de CD em DVD, nos bites e bytes da internet, para sempre, para eternidade...

Elis, que cantou a luta contra a insanidade e o barbarismo da Ditadura, que embalou a Anistia, continuará alimentando nossa luta por justiça, socialismo e liberdade!

Eu, que nasci, quando ela partia, nunca senti saudades dela, pois sempre tive a impressão de a ter conhecido e tomado uma cachaças por aí.
Mas que bobagem essa minha, claro que a conheci! Na maioria dessas festas, ela era fazendo show particular pra mim.
Diferente do texto abaixo, nunca pensei em Elis representando alguma derrota, mas o contrário disto. Com ela, brindaremos sempre a vitória!

Elis, presente!
(M.B.)
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Um “Deus lhe pague” de ódio e revolta!




Por Tania Pacheco

Quando penso em postar algo de Elis, é sempre uma mesma música, de uma mesma apresentação, a que me ocorre. Porque é a que mais me toca. O vídeo acima, entretanto, foi garimpado cuidadosamente, porque tem muito mais a ver com uma Elis pouco conhecida, assim como tem muito mais a ver com meu sentimento neste instante e com a temática subversiva deste blog. E é a partir dele que quero recordar e reverenciar Elis, ao meu jeito.

Era o início da ditadura. Os estudantes estavam nas ruas, assim como a polícia, em geral montada a cavalo. As boles de gude foram a grande “invenção” da época, fazendo escorregar e jogando ao chão cavalos e cavaleiros. Era o início da ditadura. No Rio de Janeiro, como uma “resposta” ao incêndio do prédio da UNE, algo de novo nascia. Nara Leão, a “menina rica da zona sul carioca”, se juntava ao negro favelado Zé Keti e ao negro sem terra maranhense João do Valle para cantar o show que levaria o nome de um novo teatro: Opinião. Depois, viriam as peças: ”Liberdade, liberdade”, “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come” e tantas outras. No Arena, em São Paulo, a chamada turma da Cultura também protestava. “Arena conta Zumbi”, “Arena conta Tiradentes” etc eram formas de autores e atores usarem do Teatro para falar através de metáforas.

Brasil afora e em muitos outros espaços, na maioria universitários, eram comuns shows e peças terminarem com leituras de manifestos. Porque também no que dizia respeito à música, as palavras de ordem eram igualmente os protestos. Das faculdades, surgia gente como Chico Buarque, Edu Lobo e tantos outros, ainda imaturos mas dando início ao seu aprendizado político, paralelo ao seu crescimento musical e artístico. Muitas vezes os shows eram apresentados nos salões das faculdades, com a maioria da platéia sentada no chão, mas todos unidos numa mesma emoção. Foi numa dessas apresentações, no salão da UFRJ na Praia Vermelha, que em dado momento foi apresentada à platéia uma mocinha gaúcha que chegara há pouco ao Rio. Não me recordo o que ela cantou. Mas lembro perfeitamente a emoção que senti. Ao contrário dos outros artistas que se apresentavam, ela não era uma universitária. Vinha, sim, de uma família bem pobre e sem estudos, e buscava seu espaço entre nós, de alguma forma privilegiados.

Durou muitíssimo pouco tempo essa busca. O reconhecimento e o sucesso chegariam logo, mas a mocinha gaúcha percorreria um duro caminho, no seu despreparo para a vida. Ganharia e perderia muitas vezes. De uma criticada apresentação para o Exército, para a qual as mais diversas justificativas já foram apresentadas, à sua decisiva participação na luta pela Anistia, transformando em hino “O bêbado e a equilibrista”, de Aldir Branco e João Bosco. E cantávamos com ela aos berros as menções ao irmão do (maravilhoso e saudoso) Henfil e às Marias e Clarisses - que talvez hoje pouca gente saiba eram, respectivamente, as viúvas do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Wladimir Herzog, ambos assassinados sob tortura no DOI CODI do II Exército, em São Paulo. Se mencioná-los era proibido, felizmente a ignorância dos censores (capazes de mandar prender Bertolt Brecht, não me recordo por qual peça, e Sófocles, por “Antígona”), permitia que eles fosse lembrados e homenageados através dos nomes de suas mulheres.

“Elis Regina de Carvalho Costa” talvez tenha sido o mais belo e emocionante de seus shows. É nele que ela faz a apresentação para mim insuperável de “Atrás da porta”, com uma força e uma dor que, na sua intensidade, prenunciam, talvez, o que estava por vir. Depois de um dos maiores sucessos, a última e definitiva derrota ocorreria, há exatos 30 anos. Até hoje, penso que de alguma forma naquela manhã de 19 de janeiro fomos tod@s também um pouco derrotad@s.

Mas não quero terminar este texto assim, triste. Por isso, recorro a um presente que me foi enviado, também garimpado. Socializo, abaixo, um outro belo momento de Elis, enviado por José Carlos:

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