Por Felipe Melo - Coordenação da CST/PSOL
Na madrugada de 12 para 13 de julho, o mundo acompanhava o desenrolar da reunião de líderes da União Europeia (UE) que ia discutir um novo plano de austeridade para a Grécia. Mesmo com um rechaço contundente da política de austeridade imposta pela Troika (UE, Banco Central Europeu - BCE - e Fundo Monetário Internacional - FMI) no referendo de 5 de julho, o primeiro ministro grego e dirigente do partido Syriza, Alex Tsipras, apresentou aos chefes de Estado da Europa uma proposta de acordo que previa mais medidas que retirariam direitos dos trabalhadores, aumentariam impostos e entregariam setores estratégicos do país à iniciativa privada.
Acordo ampliará a crise social grega
Alegando falta de confiança no Syriza, o Eurogrupo - fórum de Ministros de Finanças dos países da UE - exigiu que fossem aprovadas, já no dia 15 de julho, quatro medidas “emergenciais”. Entre as medidas, estava o aumento do imposto sobre o consumo; reforma na previdência; aprovação de leis que impõe cortes automáticos ao orçamento social caso o governo não cumpra com as metas de superávit fiscal (economia para pagar a dívida); e a privatização do setor elétrico do país.O acordo foi aprovado, garantindo um empréstimo transitório para os gregos de mais de 7 bilhões de euros, que servirão para pagar dívidas com o FMI e BCE em sua maioria.Agora, Tsipras terá mais um mês para negociar o 3º plano de resgate com a Troika para os próximos três anos: uma ajuda que pode chegar a 86 bilhões de euros. (ver no boxe ao lado as medidas impostas pela União Europeia)
Mais austeridade gera crise no Syriza
Os dois pacotes de “resgate” aos quais a Grécia esteve submetida foram aplicados pelos partidos do regime bipartidário grego, PASOK (social-democracia) e Nova Democracia (direita tradicional), e levaram o país a uma crise humanitária: o desemprego chegou a 50% entre os jovens; foram fechadas 30% das empresas; o salário caiu em cerca de 38% e as aposentadorias e pensões em uns 45%. Ao mesmo tempo, mesmo com todos esses cortes para pagar a dívida, a mesma chegou a 175% do Produto Interno Bruto (PIB).Foi justamente contra esse caos social que o Syriza venceu as eleições de 25 de janeiro, o que consideramos uma vitória do povo contra os planos de austeridade.
É neste contexto que 109 dos 201 membros do Comitê Central do Syriza lançaram um documento, na manhã de 15 de julho, chamando o partido a rechaçar no parlamento o acordo feito por Tsipras com a União Europeia. Comitês regionais também se posicionaram de forma contrária, o que levou 32 deputados do partido a votarem contra o acordo, 6 se absterem e um a não comparecer à votação.
A corrente trotskista DEA (Esquerda dos Trabalhadores Internacionalistas), parte da Plataforma de Esquerda do Syriza, afirma que Tsipras e seu governo traíram o NÃO do povo no referendo ao aceitar um acordo ainda pior. Apesar das ameaças de expulsão, eles se autodenominam como o Syriza de Esquerda e diz que vai se centralizar pelo programa fundacional do partido e não pelo acordo com a troika, pois eles não aceitam a austeridade.
O DEA também convoca a esquerda que está fora do Syriza a fazer uma unidade contra o novo memorando, o que já ocorreu no dia 15 de julho na greve geral dos servidores, e que apostamos que se intensifique com a perspectiva de fortalecimento de um campo verdadeiramente contra a austeridade.
Um debate estratégico: é possível acabar com a austeridade sem ruptura com a dívida pública e o euro?
A ilusão com a UE ainda tem muito peso na classe trabalhadora grega e conta com o reforço de Tsipras e da maioria dos setores da esquerda mundial, que cedem às confusões e não explicam de forma paciente, mesmo que fiquem em minoria, que é impossível ter justiça social, salários e aposentadorias dignas, serviços públicos de qualidade e soberania, ou seja, aplicar o programa de governo do Syriza, nos marcos de uma União Europeia que já está à serviço dos bancos e grandes empresas, sobretudo alemãs e francesas.Mesmo sendo ainda maioria a posição pelo euro, a mesma pesquisa aponta que 29% do eleitorado do Syriza avalia que o governo deveria ter rompido as negociações e abandonado o euro. Tsipras afirmou que não concorda com o acordo, mas que ele foi o único possível para manter o país no euro, e que um retorno ao Dracma - moeda grega - levaria a uma catástrofe social na Grécia. Concordamos que uma ruptura com o euro traria, em um primeiro momento, grandes dificuldades, mas, a médio e longo prazo, com uma política correta, haveria uma luz no fim do túnel, enquanto hoje a única perspectiva é maior ajuste, desemprego, cortes salariais e miséria.
Não tendo uma perspectiva estratégica de ruptura, Tsipras e o governo de Syriza veem a manutenção deste modelo econômico como um fato consumado, mesmo que tenham que se tornar os aplicadores de um novo memorando contra o povo; tudo para pagar uma dívida pública que a auditoria prévia considerou ilegal e impagável, pois foi utilizada para salvar os bancos privados.
De nossa parte, defendemos a unidade que propõe DEA de unificar todos aqueles que rejeitam o ajuste que vai ser aplicado pelo governo Tsipras e os outros partidos do regime. Seguimos defendendo o não pagamento da dívida pública ilegal e a ruptura com o euro como única saída para acabar com a austeridade. E também apontamos medidas de fundo, como a nacionalização dos bancos e das empresas privatizadas, colocando-as sob controle dos trabalhadores, para que sejam os capitalistas que paguem pela crise
Fonte: http://cstpsol.com
Mostrando postagens com marcador troika. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador troika. Mostrar todas as postagens
quinta-feira, 30 de julho de 2015
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Nota da CST/PSOL: Espetacular triunfo da esquerda na Grécia
![]() |
Deu sorte: Luciana Genro presenteia Tsipras com bandeira do PSOL em 2012. Foto: Divulgação |
Esta alegria percorre o mundo, pois o povo trabalhador e as classes médias dos setores mais empobrecidos, aqueles que estão sentindo nas costas os planos de ajuste iguais ou similares aos impostos ao povo grego, compartilham o sentimento de esperança e confiam reproduzi-lo nos seus países.
Por este motivo é que parabenizamos o povo e os trabalhadores gregos!
Não é para menos. Após anos de crise política e econômica imposta pela UE liderada pela Ângela Merkel junto com os governos subservientes e a grande burguesia grega que levaram à miséria e ao desemprego milhões de pessoas, depois de ter realizado 20 greves gerais e paralisações, mobilizações e atos de todo tipo, os gregos falaram alto para afirmar: BASTA DE AUSTERIDADE! e votaram em Syriza encabeçada por Alexis Tsipras.
Votaram pelo partido que propôs enfrentar o ajuste, aumentar os salários e anular as reformas trabalhistas anti operárias. Foi um claro voto contra a troika, contra o Memorando, o FMI e contra os candidatos e partidos que os representavam: Nova Democracia e os falsos socialistas do Pasok.
Mas o povo tem que se manter alerta e mobilizado. No Brasil temos o triste exemplo do PT e do Lula, que se elegeu em 2002 prometendo acabar com a miséria, a fome, as privatizações, o desemprego, mas governou e seu partido continua governando para os patrões e multinacionais, aplicando agora através da presidente Dilma um feroz plano de ajuste similar aos que aplicou a troika na Grécia.
Por estes antecedentes, não vemos que a burguesia imperialista europeia ou norte americana tentarão uma saída parecida com a que fizeram contra Chávez na Venezuela em 2002. Mas com os exemplos do PT e de outros partidos ou movimentos que foram de esquerda buscará negociar para cooptá-los como fizeram com Lula e o PT, hoje absolutamente domesticados. Por esta razão preocupam algumas declarações de altos dirigentes que falam em “negociar” ou em “respeitar as obrigações assumidas pela Grécia” no âmbito da União Europeia.
Mais do que nunca, o povo deve continuar com a mesma garra, se mobilizando para impor as saídas de fundo pelas quais anseia e votou!
Cabe ao novo governo de Syriza honrar o mandato dado pelo pelos trabalhadores e o povo, romper com o pagamento da injusta e imoral dívida externa, o que levará inevitavelmente ao rompimento com a União Europeia e romper com o Memorando para avançar em outras medidas anticapitalistas. Essa e a única garantia para ter emprego e salário digno, saúde aposentadoria e educação de qualidade, caso contrário a experiência histórica e recente demonstra mais uma vez que não existe outro caminho intermediário.
VIVA A LUTA E O TRIUNFO DO POVO GREGO!
----
CORRENTE SOCIALISTA DOS TRABALHADORES – CST/PSOL - 26-O1-2015
Assinar:
Comentários (Atom)