segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Sobre Trotsky, Assange e Pussy Riot: Um planeta sem passaporte


Por Júlio Miragaia


Planeta sem passaporte. Este é o nome do manifesto assinado por intelectuais e artistas em solidariedade a um “indesejado” Leon Trotsky em 1934. Na ocasião, Trotsky buscava asilo político da ditadura stalinista que deformou a experiência de por o proletariado no poder em 1917 na Rússia. Nenhum governo do mundo queria ter em seu território um dos principais dirigentes (junto com Lênin) da revolução russa.

O nome do manifesto também cairia como uma luva para a situação nos dias de hoje do fundador do Wik Leaks, Julian Assange. Atualmente, Assange representa uma pedra no caminho dos governos em todo o mundo e principalmente ao governo norte-americano, depois de vazar em seu site diversos segredos de estado. A última tentativa de Assange foi o asilo político no Equador, porém, mesmo com a permissão do governo de Rafael Correa para que receba asilo, o governo britânico está impedindo sua saída da embaixada equatoriana em Londres.

Pussy Riot. Uma jovem banda punk russa tem suas três integrantes com prisões decretadas por realizarem uma “oração punk” contra o presidente Putin numa catedral.

Planeta sem passaporte. São tempos em que a liberdade de questionamento é descaradamente censurada. O presidente norte-americano, Barack Obama, fala em democracia, porém não existe “passaporte” para os que ousam questionar os interesses de seu governo e de seus aliados. Os governos tentam calar a ferro, fogo e prisão os porta-vozes dos indignados, dos Ocuppy e das novas formas de contestação e questionamento dos ajustes dos governos. Tudo porque depois da queda de ditaduras, como no Egito e na Líbia em 2011, de rebeliões juvenis como no Chile e na Espanha e greves gerais na Grécia, é preciso tentar reprimir para poder seguir retirando direitos da classe trabalhadora e avançando com o desemprego, a miséria e a fome. Tudo para que os de baixo paguem pelos efeitos da crise econômica internacional. Para Assange e para o Pussy Riot, desejam o mesmo destino que o de Trotsky: cadeia, morte ou qualquer outra forma que os cale. Porém para o assassino governo de Bashar Al Assad na Síria, o silêncio sepulcral para as mortes de crianças, mulheres e valentes rebeldes que enfrentam heroicamente seu sanguinário governo.

O legado de Trotsky se alastrou mundo afora para desgraça dos imperialistas, burocratas e stalinistas de plantão. Hoje, a revolta contra o sistema se internacionaliza como em nenhum outro momento antes visto na história. São mineiros espanhóis, africanos, bolivianos, Jovens, mulheres e um exército cada vez maior de indignados que não aceitam viver debaixo da mesma lógica de exploração e opressão.

A adesão do neto de Trotsky a candidatura do operário trotskista Orlando Chirino nas eleições presidenciais na Venezuela reforça a idéia de que, mesmo nadando contra a corrente, como em praticamente toda a vida o velho Leon fez, é preciso construir uma projeto político que com independência reforce a necessidade da aniquiliação do atual sistema capitalista. Infelizmente hoje a candidatura de Chávez está cada vez mais aliada com as multinacionais e os interesses da burguesia bolivariana que muito ganhou em seu governo. Chávez está na contra-mão dos indignados, esteve com Piñera contra os estudantes chilenos e com Assad e Kadafi contra as revoluções árabes. Ou seja, está distante de um governo a serviço dos interesses dos trabalhadores e dos explorados.

Para entendermos melhor a importância do legado de Trotsky para o agitado mundo que vivemos entre repressões e rebeliões, vejamos a declaração de Esteban Volkov Bronstein, neto de Trotsky, em uma entrevista concedida ao jornal argentino Página 12:

“Trotsky deixou um legado muito valioso, um arsenal ideológico revolucionário de grande atualidade e extremamente fértil e útil para todas as lutas revolucionárias atuais e futuras. Não há dúvidas de que o capitalismo está demonstrando que é um sistema totalmente obsoleto e injusto e que não supre em nada as necessidades da humanidade. Pelo Contrário, o capitalismo está destruindo o planeta, está criando mais miséria, mais sofrimento. A necessidade de uma transformação é vital. Tenho certeza de que a maior parte da humanidade tomará consciência desta situação e lutará por outro mundo. É aí onde todo o arsenal ideológico de Trotsky é extremamente valioso. Hoje a mídia intoxica as massas e terminam criando isso que Marcuse chama uma mentalidade unidimensional. Porém os processos de tomada de consciência são como relâmpagos”.

Volkov está correto e basta ver os noticiários e as mobilizações que percorrem mundo afora para chegarmos e essa mesma conclusão: que os processos de tomadas de consciência são como relâmpagos. Ontem prenderam e executaram Tortsky, Che Guevara, Vitor Jara e tantos outros. Hoje perseguem Assange e bandas punks. Amanhã serão outros mais. Porém o ritmo da história demonstra que nenhum dos “homens-mercado” e seus governos conseguiram deter a primavera que se alastra permanentemente em todo o planeta. E ela (a primavera) também não usa passaporte.
 
Júlio Miragaia é estudante de jornalismo e edita o blog Rubra Pauta.

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