quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Ghouta de esperança

Um print da destruição promovida por Assad contra o povo de Ghouta
"Hoje começou uma operação de resgate de 29 pessoas em estado crítico em Ghouta, após vários meses de negativas do governo Assad. O genocida Assad mantém, desde 2013, o cerco a cidade de Ghouta, próximo a Damasco, um reduto que ainda é controlado pelos rebeldes. 400 mil pessoas sofrem com este criminoso cerco, os mais afetados são as crianças, onde a desnutrição severa atinge cerca 12% das crianças menores de 5 anos. Assad prefere destruir a Síria e o povo sírio a entregar o poder. A Síria tem que ser livre e justa, sem as patas de Assad, Estado Islâmico, Putin, Trump, de países imperialistas e dos governos árabes capachos. Pela autodeterminação nacional ao povo curdo!"
(Taílson Silva, professor de Geografia)

Saiba mais em site de Portugal:

http://pt.euronews.com/2017/12/27/comecou-operacao-de-salvamento-humanitario-na-regiao-de-ghouta-oriental?utm_term=Autofeed&utm_campaign=Echobox&utm_medium=Social&utm_source=Facebook#link_time=1514363733

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O que significa a ocupação de Jerusalém?

por Miguel Lamas – UIT-QI

A ordem de Trump de transferir a embaixada ianque para Jerusalém respalda a pretensão israelense de apropriar-se de toda a cidade histórica, de profunda significação cultural e religiosa, e termina de desmontar a farsa da suposta “paz” baseada nos dois Estados (Israel e Palestina).

No tratado de Oslo de 1992, Yasser Arafat, o histórico dirigente palestino (falecido em 2004, envenenado por serviços de Israel) aceitou a ideia de um futuro Estado palestino localizado nos territórios de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental (os territórios ocupados por Israel em 1967), que representam um conjunto de apenas 22% do território histórico palestino, e de reconhecer Israel em suas fronteiras anteriores a 1967, que ocupavam 78% da Palestina histórica. Um ponto importante desse acordo foi que Palestina conservaria a metade oriental de Jerusalém. Grande parte do povo palestino aceitou esse acordo, ainda perdendo muito, com a esperança de que por fim haveria paz. Porém o acordo foi uma armadilha.

Israel, com apoio imperialista, jamais aceitou na prática nenhum direito palestino a um Estado próprio, nem sequer nesses pequenos territórios. Colonizou Gaza e Cisjordânia com 400.000 colonos sionistas, ocupando as melhores terras e ficando com 95% das fontes de água e se adonou também da maior parte de Jerusalém Oriental. Ergueu um muro que está cercando os territórios habitados por 3 milhões de palestinos removendo-lhes 48% do escassos territórios que lhes sobrava, que está em sua maior parte ocupado militarmente por Israel.

Como se isso já não bastasse, periodicamente Israel lhes destrói suas fontes de água, arrancam suas oliveiras, base de sua economia agrícola, e bombardeia centrais elétricas e universidades. Em vários oportunidades bombardeou a pequena Faixa de Gaza e a submeteu a um bloqueio durante anos, afundando sua população no desemprego e na fome. Hoje já há outros 6 milhões de palestinos com seus filhos, netos e bisnetos refugiados em diversos países do Oriente Médio.
***
Traduzido por Lucas Andrade – CST-PSOL

sábado, 23 de dezembro de 2017

rio o riso


homem-peixe
homem-água
não mate a mata
seu moço
O rio Acará
O riso do menino
Guerreiro. mensageiro
Nem o estado fez
Menino fez
Mensagem de paz
Viva o rio
Viva o riso
Viva o menino!

foto e texto: marcus benedito

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Havia uma formiga no meio do caminho

por Eduardo Protázio

A caminho da Biblioteca pública, ainda na parada de ônibus, sob um sol de rachar a cuca, percebi que algo não andava bem. Para além do calor e o desconforto em suar desenfreadamente, assim melando e pregando o tecido da roupa na pele - o que seria normal, ou não, vide o já aparecimento do famoso “inverno amazônico” amenizando as temperaturas equatoriais -, algo estava distinto.
Outras sete, ou oito pessoas aguardavam seu transporte. Os borracheiros trabalhavam comumente à ilharga da via. Talvez a apreensão por carregar na bolsa um computador portátil e o temor do surrupio, já que assalto pras bandas dali têm sido constantes. Mas ainda não era isso. O tempo passa lento, arrastado. O sol e o calor certamente atrasam o relógio e a gente pena ainda mais. A espera do Tamoios, em pé, notei que havia uma formiga em mim. Exatamente. Uma formiga, dessas meio engrandecidas, grande o bastante para os parâmetros formigueiros, própria da família Formicidae e vinda do não-tão-distante reino Animália, e pertencente à ordem Hymenoptera.
Era isso que tirava a naturalidade do espaço-tempo. Mas sim, como pudera?!, justo em mim!? Não pude vê-la na hora, mas a senti. Caminhava com suas seis perninhas. Subia, descia. Prum lado, pra outro. Em meu ombro. Não, no braço. Pra lá e pra cá passeava o inóspito inseto. Noutro instante, após sacudir a camisa para enxotá-la de mim, a vi caminhando no interior da roupa, trepada em busca de uma saída, eu acho. Foi então que, para o meu espanto maior: tratava-se de uma cortadeira. Meio avermelhada, meio marrom. Agora não lembro bem, mas se confundia com o tom têxtil. No momento imediato tentei agarrá-la de maneira sutil, com um par de dedos no intuito de apenas lançá-la ao vento. Imaginei ter feito isso e logrado ao obejtivo.
Depois de um tempo breve subo no coletivo. Meio estabanado com um monte de bregueço nas mãos: bolsa, carteira, telefone móvel. Pago a passagem, ultrapasso a roleta, busco um bom lugar longe do sol. Troco de assento e me aquieto. Lendo Padura, curtos minutos depois, sinto a pequenina rival novamente caminhar em minhas entranhas. Passara pelo sovaco até se agarrar no tecido da vestimenta outra vez. Parece que sabia ter sido localizada. Sinto o seu passear e num instante prendo-a entre indicador e polegar.
Ainda em misericórdia, poupo a sua vida como antes. Solto-a e espano a camiseta com fervor. Uma simpática senhora, da outra fileira de assentos, me olha espantada. Devo ter estremecido a calmaria daquela viagem, mas o tremor da situação me exigia ações bruscas e, uma tensão maior me fazia voltar a suar descompassadamente. Não sentindo mais o pequeno ser, pensei: “deve ter saído, caído, morrido… sei lá”. Segui a leitura com Leonardo. Viagem que segue.
Em meio ao engarrafamento, na esquina das Mercês com a Almirante Barroso, o sol passara pro meu lado. Sentia-me incomodado. Tráfego parado. Aquele canto é fogo depois de uma da tarde. Foi aí que a miserável, brevemente esquecida, tornou a se mostrar. O trânsito anda. Para novamente. “Olha a água, caralho!!!!”, gritam da rua. Um vendedor pede pra subir. O motora nega. Ela me morde. Tensão. “Bora, água e refri!! Água e refri!! Água e refri!!”. Bem nas costas. Um pouco abaixo do ombro direito. Sujeitinha covarde. Indivíduazinha mais sem escrúpulos. Poderia, a partir daí, a minha vida entrar em um lento processo terminal. Seria um tiro letal? Lógico, com uma abocanhada do mal dessas.
Começo, então, inevitavelmente, a travar uma batalha mortal por minha vida e a tranquilidade que sonhara em ter numa simples ida à biblioteca. Era preciso arrancar aquelas duas pequena garras de minha carne rapidamente, antes que a gangrena chegasse. Senti a sua mordida voraz e de pronto a agarrei com força, muita força, que pode-se ouvir a quilômetros longínquos (só eu escutei, na verdade) o estalar de sua estrutura artrópode. Não tive dó, nem piedade. Esqueci da compaixão e sequer me passou pela cabeça o ditame do quinto mandamento de que fala um manuscrito religioso. Foi com tudo.
Durante uns seis, sete segundos a amassei, para vingar o que acabara de fazer. Atacar alguém por trás não é legal, não é leal e diz muito sobre o caráter de alguém. Logo vi que não caberíamos mais os dois no mundo. “Ou ela, ou eu”, pensava. Esmaguei-a rapidamente. Sacudi a roupa para lançá-la à própria sorte e cair no chão quente e metálico da condução. Pude, assim, trazer um pouco de paz à tensão que impunha o longo momento de convívio com a minúscula adversária.
Um tempo depois, ainda cogitando ser possível a vida da formiga não ter sido abalada fatalmente, pensava no que acabara de acometer: um homicídio violento a um ser que, de conjunto, nos faz bem. Mas não ali. A situação a qual me sujeitara. Naquele momento não havia como pensar na vida do planeta, no ecossistema e o equilíbrio que cada ser, mesmo os mais pequenos, produzem à natureza. Não posso descrever agora em que as formigas nos são úteis ou aliadas, mas, “aliás, nós podemos dizer que são nossas amigas.”, dizia um artigo da Fiocruz.
A saga rumo à Biblioteca seguia e um leve incômodo com o pós-mordida também. Uma coceira suave. Logo imaginava o pior: “E se aquela maldita me infectar?! Posso morrer aqui… mas assim?!, por uma mísera formiga!?. Afinal, já ouvi falar de graves infecções causadas por picada de formiga… umas que levaram até a internações hospitalares”.
Desci do ônibus e no passo apressado, quase corria para chegar o quanto antes ao banheiro da Biblioteca. Lá eu poderia tirar a camiseta e finalmente liquidar a vil formiga. Isso se a desgraçada se atrevesse a seguir em vida. Se por acaso ainda estivesse presa à roupa, e pior, viva e relutante contra seu fim, trataria de jogá-la dentro do vaso sanitário, esperaria um tempo para vê-la penar, se afogando e tentando alcançar a beira da privada para fugir da água. Assim que se aproximasse de sua esperança desesperadora, apertaria o gatilho e a água em forma de uma mini tsunami trataria de levá-la ao seu fim.
Que se vá e morra no inferno das formigas, amparada pela rainha-de-fogo, uma pixixica maior. Agonize eternamente pelo mal que fez em vida na Terra. Mas, infelizmente, para sanar a minha perversa gana, isto não procedeu. Tirei a camisa. Avistei com atenção e cuidado. Não encontrei a dita. Abanei o vestido com força. Queria ter a certeza de não mais ver o sórdido inseto novamente. Procurei em outras partes do traje. Calça, sapato. Nada. Vesti e arrumei-me às vestes. Tornei-me calmo. Busquei um assento para me acomodar e seguir com Padura. O pior havia passado. Era só uma formiga.
***

Eduardo Protázio escreve crônicas e poesias. É estudante de letras e dirigente do PSOL/PA.

FASUBRA - Manifesto de militantes, ativistas e dirigentes grevistas



Base grevista se rebela contra a direção da FASUBRA Unificar quem se manifestou contra o desmonte! Dia 10/11 começou a greve dos servidores técnico-administrativos das universidades. Uma reação diante dos ataques de Temer ao funcionalismo: PL 116 das demissões, reformas da Previdência e trabalhista, ameaça à carreira, aumento da alíquota do PSS, a EC 95 que congelou os investimentos, além da corrupção. O exemplo da UERJ, com ameaça de fechamento e privatização, levou a categoria à certeza que não tinha outra saída.

Mesmo sem os demais Servidores Públicos Federais (SPFs) na greve, e com sucessivas traições das centrais, os servidores atingiram 40 universidades paralisadas e realizaram uma marcha a Brasília. Um forte piquete no Ministério do Planejamento que obrigou o secretário e Rodrigo Maia a receber a FASUBRA e demais entidades. Este processo oxigenou a greve e mostrou que era possível fazer o governo recuar. O governo em crise política podia ser derrotado e derrubado.

Por isso, a categoria participou ativamente das manifestações do dia 5/12 mesmo com o desmonte da direção da CUT e Força Sindical. No entanto, esta disposição de luta precisou se contrapor à política da direção majoritária na FASUBRA. A direção era contra a greve e fez tudo para acabar com o movimento na plenária nacional de setembro, a direção majoritária mostrou que seu único intuito era unicamente adiar o congresso da FASUBRA. Utilizou “um calendário de luta” que não foi organizado. Já na plenária de 22/10, convocada para deflagrar a greve, a maioria da direção propôs apenas “estado de greve”.

Na direção da FASUBRA, apenas o COMBATE propôs greve imediata, e a força das assembleias obrigou o recuo da direção, que teve de marcar greve para 10/11. Apenas a DS-PT foi contra a greve na plenária. Porém, mesmo com a decisão da plenária, a maioria da direção atuou na base para evitar a greve, com discursos derrotistas ou ameaças de corte de ponto. Algumas entidades sequer entraram na greve. Outras demoravam semanas pra fazer assembleia. Para derrotar esse movimento contra a greve, foi decisiva a assembleia da UFRJ, cuja base passou por cima da direção lulista recentemente eleita no SINTUFRJ e decidiu entrar em greve, fortalecendo o movimento que cresceu até atingir as 40 bases.

Desde o início houve especulações sobre o “fim da greve” até que no dia 05/12 ele foi decretado: enquanto as bases realizavam piquetes e passeatas como parte do dia nacional de luta contra a reforma da previdência, a direção da FASUBRA passou o dia inteiro confabulando o fim da greve, aprovando essa linha no CNG. O desmonte da FASUBRA se encaixava na traição das centrais (CUT, Força, UGT). Na reunião do CNG, a delegação da UFRJ liderou a oposição juntamente com a delegação do SINTUFF, encaminhando contra o desmonte.

A categoria se manifestou contra a traição e manteve a greve Revoltada contra o inexplicável desmonte da greve, as assembleias de base foram desacatando a ordem do CNG. O CLG e a Assembleia da UFRJ foram os primeiros. No mesmo sentido se posicionou o SINTUFF e a Assembleia da UFF, bem como UFRRJ, UNIRIO, UFRGS, UFAM, UFPA, UnB, UFBA, UFU, UFMG, totalizando 31 universidades contra a orientação da direção. Apenas 8 suspenderam a greve. A direção manobrou os dados e não queria divulgar os resultados, numa atitude burocrática.

A pá de cal, que selou a derrota da direção, foi a emblemática Assembleia da UnB, onde estavam os dirigentes da FASUBRA (incluindo dois coordenadores gerais) e do sindicato (da gestão anterior e da que recém começava). A categoria decidiu manter a greve. Mesmo assim, no dia 15/12, num CNG convocado às pressas, a maioria da direção desconsiderou as assembleias de base e decretou novamente o fim da greve. E simplesmente extinguiu o CNG no mesmo dia. Na ocasião novamente os ativistas da UFRJ, do SINTUFF e da UnB foram contrários ao desmonte.

O Manifesto pela Continuidade da Greve agrupou os ativistas classistas Diante de tamanho recuo na cúpula da Federação, a greve tende a terminar antes do recesso parlamentar. Infelizmente os setores da esquerda, com os quais montamos uma chapa no último congresso, foram a parte mais ativa desse desmonte. Os companheiros do SONHAR E LUTAR, coletivo impulsionado pelo MAIS, foram as lideranças desse recuo em parceria com os lulistas. Na greve de 2016, essa direção majoritária da FASUBRA, já havia errado ao acabar com a greve antes da votação da PEC 55.

Fica evidente que não são capazes de encaminhar as lutas da categoria. Em contraponto a essa linha, surgiu um MANIFESTO pela manutenção da greve, agrupando militantes da UFRJ, UFF, Unirio, UFRRJ, UFPA, UFRA, UFRGS, UFAL, UFRPE, UFPE, UFAM, UFU, UnB, a direção do SINTUFF e o COMBATE. É preciso que cada uma das 31 assembleias de base se manifestem e ajudem a construir uma nova direção democrática, classista e combativa para nossa Federação. E nesse sentido temos que organizar os descontentes que se rebelaram nas assembleias e se agruparam ao redor do MANIFESTO pela continuidade da greve, realizando reuniões e produzindo um novo manifesto.

Temos que organizar um movimento alternativo, de oposição de esquerda, na FASUBRA. Exigir plenária nacional da FASUBRA na primeira quinzena de janeiro! Junto aos representantes do CNG e dos CLG's que não se curvaram, da Assembleia da UFRJ, Unirio e UFF propomos rejeitar o desmonte e desacatar a orientação de retorno ao trabalho no dia 19/12. Com a UFRJ propomos seguir a greve até dia 22 (último dia antes do recesso parlamentar) e, diante do desmonte exigimos uma plenária nacional da FASUBRA nos dias 13 e 14/01 para realizar um balanço da greve e organizar a luta por nossas pautas e contra a reforma da previdência em 2018.

A proposta de plenária da FASUBRA no início de janeiro já foi aprovada na UFRJ, UFF, Unirio e UFU. Assim podemos reagrupar as 31 assembléia de base e os lutadores para as novas batalhas.

Manifeste-se você também!

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sábado, 2 de dezembro de 2017

Duciomar preso. Até quando?

Imagens da prisão de Duciomar Costa (PTB), ex senador e ex prefeito de Belém. Fonte: facebook
Duciomar é um "artista". Mas acima de tudo, um bandido. Eu não duvido nada que ele tenha deixado uma cadeira de rodas de bobeira na casa, já esperando essa hora. Mas não uma qualquer. Uma motorizada. Se Duciomar realmente está doente, impossível ter pena dele. Ele é um bandido. Não duvide nada e nem se compadeça com alguém que chega no limbro de falsificar um diploma de médico. Dr. Dudu. Oftalmologista. Se fez na Barão. Tinha clínica e tudo. Adorava "abrir os olhos do povo". 

De Tracuateua pro Guamá, Duciomar Costa se fez com a pena alternativa decretada pelo juízo da Vara de Execuções Penais, há época, da Região Metropolitana de Belém. Comprou um "bonde". Oferecia de graça. Geralmente do citado bairro para o Ver-O-Peso. Passagem de graça pra todo mundo. O povo? Ah o povo... Esse é lindo, generoso e honesto. Mas que homem bom! Fama de dr. Dudu foi esquecida. Agora era Associação Comunitária Duciomar Costa. Ônibus pra galera da perifa. Não era muito. Mas era melhor que nada, diziam. Toma-te! Mais votado em 1992 para a Câmara de Vereadores de Belém. 

Aliou-se ao "Papudinho", prefeito dos "meus amigos da capital", e antes, quando governador, "e do interior". Duciomar e o "tarado por Docas". Poderia ter melhor professor? Aliás, mestre. Apesar de Dudu já ser doutor. De trambicagem. Daí em diante foi só vitórias. Um dos primeiros na eleição seguinte. Se reelegendo deputado estadual em 1998. Só perdeu em 2000. Segundo turno, quando Edmilson Rodrigues se reelege prefeito. 

Ganha, já como senador, contra a petista Ana júlia Carepa, a prefeitura da mais populosa cidade do Norte do país. Oito anos de catástrofe. Belém afundou. Os prontos socorros eram calamidade pública. Escolas caindo aos pedaços. Funcionalismo de luto. Dudu foi responsável por centenas de mortes. Crime de responsabilidade. Um assassino. 

Agora, vendo ele naquela cadeira de rodas, um farsante, ladrão de mais de 400 milhões de reais dos cofres públicos municipais, a gente até torceria para que fosse verdade. Que ele estivesse fumado de saúde. Mas como disse, para quem falsificou diploma de médico, um laudo falso nem coça. Ele já poderia ter premeditado pra enrolar a justiça. Quem mora no Greenville, tem advogado caro que fica sabendo antes da polícia, que seu cliente vai ver o sol nascer quadrado. 

Infelizmente Duciomar, se cadeirante de verdade, podre de rico tanto roubar, nunca sofrerá as agruras de viver na cidade pela qual nada fez, muito menos pela acessibilidade de portadores de necessidades especiais. Aliado do tucanato na assembleia, líder do governo Lula no Senado, Dudu entregou a prefeitura para alguém pior que ele, o tucano Zenaldo Coutinho. 

A História de Belém é uma história de catástrofes. Salvo hiato (de 1997 a 2000), o povo da "Metrópole da Amazônia" penou e pena como nunca. Esses 400 milhões fizeram falta. Ninguém duvide que seja apenas a ponta do iceberg. Parece que Dudu está em seu quarto mandato. Ninguém até hoje assitiu mudança alguma. Pelo contrário, a cidade piorou. Regrediu. A gente torce para que ele morra na cadeia. E que não tarde para que o atual alcaide, tão criminoso quanto, seja logo seu colega no presídio de segurança máxima.

Centrais sindicais traíram a luta contra Temer é a Reforma da Previdência

Burocracias sindicais desmarcam Greve Geral sem consulta às bases. Vamos manter os atos e as mobilizações contra Temer e seus capachos do Congresso!


Muito antes de saber que o projeto de Reforma da Previdência não seria votado ainda este ano, as principais centrais sindicais já trabalhavam para desmontar ou ao menos debilitar a necessária greve geral marcada para dia 05/12. Nas duas semanas prévias, nada fizeram para colocar os trabalhadores em pé de guerra contra o desprestigiado e ilegítimo governo Temer.

Utilizaram esse tempo, não para percorrer as portas de fábricas fazendo assembleias, distribuindo panfletos e discutindo com os trabalhadores a melhor forma de garantir a paralisação, mas para se reunir com os políticos corruptos do Congresso negociando a vigência do imposto sindical e alguma outra migalha para poder mostrar como cartas de triunfo. É o mesmo que fizeram em 30 de junho. A eventual postergação da votação da reforma previdenciária não pode ser pretexto para desmontar a mobilização. Primeiro porque não é seguro que não seja votada ainda neste ano, na calada da noite, como fizeram com outros projetos impopulares. Mas também porque os trabalhadores estão sofrendo todo tipo de ataques, como a reforma trabalhista, a lei das terceirizações, a EC 95/2016, a PEC 181 contra os direitos das mulheres, o desemprego, os baixos salários. Além demais, era a melhor forma de unificar todas as lutas que estão acontecendo.

Os burocratas sindicais não querem a greve geral, não faz parte do seu arsenal de guerra. Só marcam pela pressão das bases que são as que de verdade querem derrubar este governo corrupto. Esse marca e desmarca é criminoso porque acaba banalizando uma medida fundamental para defender nossos direitos, gerando descrédito e ceticismo frente a novas convocações.

É o que vem acontecendo desde a vitoriosa greve de 28 de abril e a combativa marcha a Brasília com mais de 150 mil trabalhadores onde a classe mostrou sua força e disposição de luta. A burocracia tomou um susto, já que privilegia a negociação e não a ação. Por isso boicotaram os atos unificados e sumiram durante as votações das denúncias contra Temer na Câmara. Negociam imposto sindical, como vimos nas reuniões das direções da Força, UGT e CTB com Temer em Brasília. Ou tem como prioridade defender e eleger Lula em 2018, como é o caso da direção petista da CUT.

Essa burocracia sindical é parte de um grande acordo nacional, com o executivo, o legislativo, o STF, PMDB, PSDB e PT visando manter Temer na presidência, salvar Aécio, manter impune Lula e demais políticos corruptos. Por isso sua prioridade não é a defesa inquebrantável dos interesses dos trabalhadores, mas as negociações que lhe garantam benesses para se manter em seus cargos indefinidamente. Sem dúvida esse é o maior problema que os trabalhadores possuem: as direções majoritárias do movimento estão traindo nossas lutas. E é por isso que esse governo em crise e com baixa popularidade e esse congresso sem qualquer moral ainda tem capacidade de aprovar medidas que retiram direitos.

Porém, e apesar desses dirigentes traidores, a classe trabalhadora continua lutando. Exemplo disso são os educadores do Rio Grande do Sul que estão em greve há mais de três meses contra o corrupto governo Sartori, do PMDB. Assim como os trabalhadores da saúde do Rio de Janeiro que, com paralisações e mobilizações, obrigaram o governo Crivella a sentar para discutir os problemas da categoria. Os trabalhadores do Supermercado Mundial, numa rebelião histórica, estão lutando por seus direitos, contra a aplicação da reforma trabalhista. Os metalúrgicos da Cherry no Vale de Paraíba, após de 30 dias de greve, impediram a aplicação da reforma trabalhista nessa fábrica. A poderosa greve da FASUBRA já conta com a adesão de 39 universidades, em defesa da carreira, contra as MPs e PL que atacam os servidores e pelo Fora Temer! Esses processos de luta nos demonstram que não é momento de esmorecer. Não é a atitude pelega das direções majoritárias o que determina a ação e sim a necessidade de derrotar os ataques do governo Temer e sua quadrilha do Congresso. Temos que tomar as lutas em nossas mãos e passar por cima das direções traidoras. É necessário que a CSP-Conlutas, a Intersindical, os comandos de greve, as correntes e sindicatos combativos e os sindicatos de base e federações dessas centrais pelegas, que não foram consultadas, assumam essa tarefa para garantir atos e manifestações de protestos no dia 5 de dezembro. Essas organizações têm que se propor a unificar as lutas em curso e rodear de solidariedade todas aquelas que surjam ao calor deste enfrentamento contra o governo e os patrões. Nesse processo será possível o surgimento de uma nova direção. Para tanto achamos necessária a convocatória de plenárias regionais para organizar as atividades do dia 5 e que depois confluam numa grande plenária nacional de trabalhadores para organizar a luta contra as brutais medidas de ajuste do governo e pelo Fora Temer!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Pesquisadores que estudam impactos da mineradora Belo Sun denunciam intimidação

Estudantes e professores universitários fizeram denúncia ao MPF depois de tentarem apresentar resultados de pesquisa na UFPA e serem impedidos por prefeito favorável à mineradora

por ASCOM-MPF

Um grupo de pesquisadores apresentou denúncias de intimidação e ameaças ontem ao Ministério Público Federal (MPF) em Belém, depois de terem sido, segundo os relatos, impedidos de apresentar resultados de pesquisa no evento Veias Abertas da Volta Grande do Xingu, que ocorreria dentro do campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém. As denúncias foram apresentadas ao procurador regional dos Direitos do Cidadão, Felipe Moura Palha.

 Os pesquisadores, acompanhados de ativistas e moradores da região da Volta Grande do Xingu, relataram que o evento acadêmico foi interrompido antes mesmo de começar, com a chegada do prefeito de Senador José Porfírio, Dirceu Biancardi (PSDB), acompanhado de um grupo de cerca de 40 pessoas, trazidas por ele de ônibus até Belém, vindos do município que fica às margens do rio Xingu, no oeste do Pará.

O prefeito se posicionou em defesa da empresa canadense Belo Sun, que planeja instalar a maior mineração de ouro do país na região. Se dizendo favorável ao empreendimento, o prefeito, de acordo com os relatos dos estudantes e professores presentes ao evento, liderou palavras de ordem contra organizações não-governamentais e teria incitado a violência contra os participantes, impedindo que as pesquisas que tratavam dos impactos de Belo Sun fossem discutidas.

A professora Rosa Acevedo Marin, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPA, que coordenava o evento, resolveu encerrá-lo diante da falta de condições, mas foi agredida e obrigada a ficar no local. Pessoas ligadas ao prefeito empurraram a professora e fecharam as portas do recinto, impedindo a saída de todos. A professora registrou boletim de ocorrência na Polícia Federal. A defensora pública do estado do Pará, Andrea Barreto, que também participaria do evento acadêmico, relatou que tentou contornar a situação apresentando seus questionamentos jurídicos ao empreendimento da Belo Sun, mas o prefeito sentou-se à mesa e tomou a palavra, em defesa da empresa.

Posteriormente, o deputado estadual Fernando Coimbra (PSD) chegou no auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, onde ocorria o debate, e sentou à mesa em apoio ao prefeito Dirceu Biancardi e à mineradora canadense. Tensão na Volta Grande - No relato que fizeram ao MPF, os pesquisadores também informaram que a tensão na região da Volta Grande está crescendo, por conta dos problemas fundiários relacionados ao empreendimento da Belo Sun e pela postura do prefeito.

Na semana passada, em 23 de novembro, os pesquisadores haviam tentado apresentar o estudo sobre o impacto da mineradora no município de Senador José Porfírio, ao lado de integrantes do Movimento Xingu Vivo para Sempre e também foram intimidados pelo prefeito. “Houve ameaças aos integrantes do Xingu Vivo tanto na UFPA quanto no Xingu. Ameaçaram diretamente a dona Antônia Melo”, informaram os denunciantes. Antônia Melo é a principal liderança do Movimento Xingu Vivo e recentemente recebeu um prêmio internacional pelo seu trabalho em defesa dos atingidos por Belo Monte e Belo Sun.

O advogado da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, Marco Apolo Santana Leão, apresentou um documento denunciando o que ocorreu em Senador José Porfírio no dia 23 de novembro. “Foi um desrespeito com a universidade e com os pesquisadores. A UFPA foi impedida de cumprir com a sua função social que é pesquisar e apresentar o resultado de suas pesquisas à sociedade, e o mais grave é que isso ocorreu dentro do próprio campus universitário”, relatou uma das denunciantes.

Os nomes das pessoas que fizeram os relatos serão mantidos no anonimato por segurança. Muitos se dizem ameaçados e uma das providências que o MPF vai tomar é verificar a necessidade de providenciar proteção a pessoas ameaçadas na região do Xingu. Investigação - O MPF abriu procedimentos de investigação, tanto para apurar o que ocorreu na UFPA quanto para garantir a segurança das pessoas que se sentiram ameaçadas nos eventos recentes.

O MPF já tem dois processos judiciais contra a mineradora Belo Sun e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) por irregularidades no licenciamento da mineradora. Atualmente, a licença da instalação concedida pelo governo do Pará à empresa canadense está suspensa por ordem do Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF1).

Cercado de acusações de irregularidades fundiárias e ambientais, o empreendimento da Belo Sun foi objeto de um estudo realizado pela ong Repórter Brasil, que seria lançado em Senador José Porfírio e em Belém, justamente nos eventos interrompidos pelo prefeito Dirceu Biancardi. O estudo também foi entregue ao MPF para análise.

Fonte: Ministério Público Federal no Pará

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Não era história de pescador


O Lord Byron existe, assim como o Peter Pan, Príncipe Aladin e tantos outros iates regionais, que em Ponta de Pedras, no Arquipélago do Marajó, têm esses nomes interessantes. Quem haveria de pensar que um caboclo marajoara, gente das ilhas, poderia conhecer Lord Byron?
Oras se não! Dessas bandas já saiu caudalosa poesia das artes.
Chama atenção como pronunciam o nome do barco. Simples como se lê: Lord Birôn.

Foi a vez que fomos fazer campanha de prevenção e combate ao escalpelamento e hepatites virais nesse município, depois de ter passado por Muaná, São Sebastião da Boa Vista, Curralinho, Breves, não necessariamente nesta ordem. O fato é que, campanha encerrada, precisávamos voltar pra casa.

Só que não é todo dia que tem barco ou navio de linha que faz Belém x Ponta de Pedras x Belém. E agora? Tem que haver uma saída, pensei.
Saí com um casal de colegas do trabalho a perguntar pelas alternativas.
Não é possível que a gente esteja literalmente ilhado.
A maioria das pessoas deram uma luz. Ufaa! Brilho nos olhos. Viva! Tem uma alternativa...

O Peter, o Lord, outros nomes que não recordo. Barcos que transportam todos os dias centenas e centenas de paneiros de açaí dessa reigião para a Feira do Açaí do Complexo do Ver-O-Peso em Belém.
Problema! Aaaah... Tinha que convencer uma dessas embarcações a ti permitir viajar.

Ou não tinham visto para tal ou estavam, geralmente, com a lotação completa. Bastava vir uns parentes, que já era. Parecia que teríamos mesmo que ficar mais um dia no querido Marajó. Pra quem lê assim, parece até frescura, mas não é pra quem já está fora do seu aconchego por cerca de 30 dias.

Amo passear. Mas passeio é diferente de trabalho. No trabalho você até se diverte. Mas nunca relaxa. Por isso nada melhor do que chegar na tua cama, colo de família, amigos, luta de classes. Relaxar.
Mas eis que perdido um iate, dado de cara na negativa em outros dois, um quarto aceitou cobrar e nos levar de volta para casa. Uhuuu!!!

Mais duas paradas para mais açaí. Furos lindos, que desembocam no rio principal que banha a cidade. Enfim Baía. Tem uma estátua fincada nas pedras. Muitas pontas. Expostas. Ponta de Pedras. Lugar de água, terra, bicho, vegetal e gente. De quem sabe que navegar é preciso. Realmente a baía não é pra qualquer um. Este povo resiste a tudo.

Foi aí que mil e quinhentas pessoas, segundo o repórter Carlos Mendes em matéria para a Agência Estado dia 12 de setembro de 1999, tacaram fogo no prédio da prefeitura e da câmara municipal. Tudo porque a população se revoltou com o prefeito, José de Nazaré Chiappetta (na época PFL, atual DEM). Foi notícia nacional a inédita cassação de um título de médico pelo Conselho Regional de Medicina no Pará. Além de ser acusado de desviar mais de R$ 2 Milhões dos cofres municipais, pesava contra ele sua ausência constante do município e o grave fato ser preso, após investigação do Ministério Público do Estado, pelo crime de deixar centenas de mulheres estéreis. Mais desgraçadamente ainda: troca de votos. Fazia laqueadura de trompas e abortos clandestinos em um açougue de sua propriedade em Belém, que a imprensa e o próprio chamavam de clínica.

Mas isso é outra História. Falávamos do encantamento, alegria, medo, sabor e desabor que é precisar navegar por essa magnífica região de campos e várzea do Marajó.

Quando chegamos no barco, chamou atenção uma máquina de bater açaí. Firme. Quem não gosta?! Quando vi toda aquela amarração nela, tive noção do que nos aguardava. Maresia. E a baía do rio Pará ou do Marajó, que em Abaetetuba ganha outro nome, tem hora do dia que está muito agitada. Não deu em outra. Haja maresia... Vento... Água espirrando de todos os lados... Olhei lá pra dentro, meus colegas estavam deitados em uns bancos de madeira. O banzeiro dá esses enjoos em quem não tem costume. É como aqueles brinquedos do Centro Ita. Só que num balanço de três, quatro longas horas... Depende da maré. Do vento. Maresia.

Por incrível que pareça, o gingado foi maior ainda. Outra baía. A do Guajará. Eu gosto.
Já se via as luzes da cidade. Por volta de sete e pouco da noite atracamos na Feira.

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Valeu, Vidoca! A morte bela de uma Árvore

Minha vovó Raimunda Lopes Ferreira, mais conhecida como Vidoca, se foi hoje (01/11/2017). Morte natural. Serena, como as águas do rio Maúba, lugar que fundou, junto ao vovô Pedro, comunidade de mesmo nome.

Com 104 anos, Vidoca amou e viveu na vida. Abaetetubense mais antiga, por ocasião de seus 100 anos, até o Papa enviou-lhe cumprimentos e um terço de lembrança. Foi uma verdadeira Festa na Assembleia. Dançou como se fosse seu último baile. Ainda que mais quatro primaveras lhe abraçariam.

Profunda conhecedora da terra, cultivava com zelo suas plantinhas e ervas. Tinha planta pra tudo o quanto era doença do corpo, e segundo dizem, da alma. De todo canto de Abaeté aparecia gente para pedir, em nome de uma avó qualquer, uma ervinha.
"Quem é tua vó, meu filho?", ela indagava.
O pequenozinho dizia algum nome.
Por mais que ela não recordasse a dona da viagem, entregava o planta de bom grado. Parecia que seu pagamento era o fato de ela ser lembrada por pessoas dos quatro cantos do lugar.

Ainda ontem, quando mamãe tomava sua benção e se despedia para voltar a Belém, ela segurou com todas as forças suas mãos e beijou de forma repetida. Se tinha uma coisa que Vidoca fazia com maestria era retribuir o carinho que recebia.

Quando penso nela, me vem a memória sua casa na Vila Bexó. Quintal grande. Aroma de flores em tudo. Apesar de que sua vida não começou como um mar de rosas. Cearense de nascimento, perdeu sua mãe ainda no parto. Trazida no tempo dos Soldados da Borracha para o Pará, foi criada pela madrinha, a quem coube lhe passar, enfim, amor, alfabetização e carinho.

Benzedeira, fumentadora de mãos abençoadas, militava no Apostolado da Oração. Coração generoso, foi ela quem me concedeu o apelido de "Coração". Tudo porque, gordinho, um vizinho queria me chamar de "Bobó de Boi". "Bobó não, vizinho! Se tem bobó, também tem coração!" E assim ficou.

Árvore, para ela a gente foi galho, folha, fruto. Cada qual com seu apelido e forma. Fiquei sendo para sempre seu Neto de Vó ou Pão da Nini. E era assim. Vidoca era a especialidade em pessoa. Talvez essa seja a última grande reunião desse batalhão chamado família. Estou encontrando parente que talvez nunca mais veria. Mais um ato de grandeza dessa guerreira, que teve o superlativo como marca. Desde os tempos da abundância de toneladas de maparás na feitoria do sítio na "casa grande". Das lenhas para assar o peixe. Do amontoado de paneiro. Até seu descanso final no Cristo Redentor, casa da tia Tóia, filha mais nova, que também cuidou dela, literalmente, até seu último suspiro. No dia de todos os santos.

sábado, 28 de outubro de 2017

Uma prosa sobre Manaus

por Marcus Benedito

Cheiro de pipoca. Fila pra entrar no Teatro. Sino da igreja de São Sebastião. No boteco, lá embaixo, o cara canta em inglês. Entre aqui e lá, fileiras de bancos de praça. Conservados. Tudo ocupado. Crianças. Responsáveis. Casais de jovens. Crianças.

Tem até uma obra de arte em forma de bola que elas adoram se pendurar. Tipo globo da morte. Pequenozinhos ainda bem gititos. Nem falam como a gente, mas seus buan, buãns, correndo, apontando, famoso toquinho de amarrar onça, sabe conquistar. Quem não chora?... Ora senão...

Gente pra lá e prá cá. De todo tipo e qualidade. Da desqualidade, por exemplo, de Amazonino. Ele é 12. Partido de Ciro, o Gomes. Slogan desse velho safado era "Ama" acompanhado de um coração. Só se for a sujeirada. A roubalheira. A sacanagem. Tá explicado.

O bom é que a gente daqui, o povo mesmo, esse tem cor de chuva. Ainda que o vento esteja parado. Sensação de breado. A tal da cara de pupunha. O cheiro da pipoca... Minérios delas. Lá embaixo e em cima. Perto da fila do Teatro Amazonas. Que aumentou. Curioso por saber quem se apresenta aqui. Mas a vista quer apreender tudo. Nos encanta o não visto. O desconhecido.

O bom é que aqui quase não tem esses horrorosos espigões que arranham o meio ambiente, estressando a gente, atravancando a paisagem. Aqui tem um mundo cercado de água. Tem também gente de todo o mundo. É gringo pra todo lado. Hotéis sempre ocupados. Gente bonita e feia. Como em qualquer canto. Mas pessoas que gostam de viver a poesia. Da dor, olor, sofrimento. Se vive com certa calma. Até pras ondas mais bravas. Mas uma hora esse rio, de raivas, como o Teatro, vira Amazonas. Pororoca de energia e mudança. De vida que se renova. Rebenta lá pras bandas do Amapá com Pará.

Como diria Chico de Holanda, enchente amazônica. Explosão atlântica. E com uma hora adiantado.

sábado, 21 de outubro de 2017

Helder Barbalho leva ovada em Cametá

Foto da solenidade minutos antes da ovada. Fonte: Facebook.
Na manhã deste sábado (21/10), quando o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho (PMDB), assinava convênio com a prefeitura de Cametá/PA, dirigida pelo prefeito igualmente denunciado e condenado por falcatruas na justiça,  Waldoli Valente (DEM), para a suposta construção do cais da cidade, uma ativista do movimento estudantil conhecida como Ana Paula, atirou dois ovos certeiros no nefasto ministro. Um pegou no rosto e outro no peito. Pelo ato, Ana Paula foi detida pelos seguranças e está presa na delegacia de polícia.

A atitude da manifestante é mais do que justificada. É reflexo de uma população que não aguenta mais tanto fisiologismo e politicagem de dirigentes rodeados de suspeitas e denúncias de corrupção.
Rapidamente a informação do protesto tomou as redes sociais.

Ainda não conseguimos fotos do valoroso instante em que o facínora foi alvejado. Mas temos o texto (divulgado no Facebook) do professor Dr. da Universidade Federal do Pará (campus de Cametá), Marcel Padinha, que fala muito sobre a revolta desse povo indignado com a podridão das instituições, com a corrupção generalizada, bem como da solidariedade correta que devemos ter pela coragem da jovem Ana Paula:

Não foi uma ovada na cara, foi um grito de indignação de milhões de brasileiros que não aguentam mais viver em um país onde a sociedade é quem come o resto dos ratos; Não foi um protesto isolado, foi um manifesto nacional de todos aqueles que têm vergonha na cara e que não mais aceitam serem governados por bandidos; Não foi um ato sem cabimento, mas sim uma resposta a um governo sem cabimento algum. Não foi só um FORA TEMER, foi um FORA fanáticos, FORA homofóbicos, um FORA  ruralistas sonegadores e assassinos, foi um FORA  rentistas, foi um FORA aos cortes de direitos sociais há muito conquistados, em síntese... foi um FORA Fascistas!!!

Obrigado Ana Paula 😊

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O liberalismo da privação

por Eduardo Protázio

Está lá: nos co-LE-ti-VOS metropolitanos manifestam-se altas doses do individualismo
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Chega à parada, para!
Em meio a outros tantos, aguarda
Espera... O tráfego cessa. Nada.
O sol nessa hora já pela
o suor já mela aquela bela blusa social
"água!!!!", alguém apela em voz baixa.
Avista-se de longe o grande quilópode do reino dos metais vir d'encontro
Se aproxima. Todos que pela espera espreitam-se, também, apertam-se
Alguém vislumbra uma fila (que é pra melhor organizar a subida)
Outros não pensam assim
Empurrar, espremer, lhes parece ser parte de uma disputa necessária
Tudo a despeito do tempo. Espaço. Salário. Do ponto, a não-falta.
Enfim, da parada sobem todas.
Pelo interior o calor afaga
O espaço comprime
E a Dona Generosa dessa vez não veio - ficou de ir à missa e por lá quedou-se -
Uns se entreolham
Buscam ajuda... 
com as compras do mercado, quiçá
com a bolsa de pesados valores
Uma pasta ou a criança que cansa.
Outros, no entanto, estes por ora sentados, fogem as suas retinas
escondem em cortinas
de cinismo ou na vergonha de apenas ajudar.
Ao que consta: se conta que o liberalismo as tornou privadas de noção
impedidas de razão
à ração e ao repetido maquinário fadadas estão
Liberou serotonina de solidão, o desapego se fez
privou da compaixão, sensatez
assim, lhes acumulou egoísmo e a dita-liberdade - apenas dita - se esvaiu, em vão...
Então, no âmago da competição esquecem: o único que não vai no busão, o patrão, lhes faz acreditar nessa falácia-ilusão.
De fato, o modelo atual - vendido e liberado nas bancas de revista, na tevê e nuvens do mercado - provou e (des)incorporou dos dias-a-dias até o "e aí, como vão?"
Transformou-se, portanto, num belo e asqueroso: liberalismo da privação.
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Eduardo Protázio é estudante, membro do coletivo Vamos à Luta e militante da Corrente Socialista dos Trabalhadores, tendência interna do PSOL.

Amor e silêncio no velório de minha avó

por Ericson Aires

Eu nunca fui de não gostar das pessoas, mas quando eu morava em Igarapé-Miri, ainda adolescente, tinha uma senhora que eu não suportava, e ela,  idem.  Antes da minha vó morrer, descobrir que  ambas trabalharam juntas e, por um motivo qualquer, também não se davam bem.

No dia do velório da minha vó, essa senhora apareceu em casa, de longe eu fitava-a. Não a queria ali.

Em cidade pequena velório é aquela coisa, às vezes mais parece festa. Já vi vezes que se mata boi inteiro para dar de comer para os que vão chorar o morto. Lá em casa, enquanto todo mundo chorava a morta, essa senhora apenas  trabalhava.

Fez comida, café, arrumou a casa e tudo mais que ela podia fazer. Trabalhou por mais de dez. No decorrer do dia esqueci-me dela. Já na madrugada, quando as coisas estavam mais calmas, fui à cozinha e ela estava lá, exausta, dormindo em uma cadeira. 

Muitas das minhas lembranças viraram pó, mas essa, essa não. Aquilo ali, para mim, foi uma das coisas mais marcantes da minha vida.

Sem uma só palavra, aquela senhora, me diz até hoje: a voz do silêncio ainda é a melhor forma de falar de amor.
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Ericson Aires é livreiro, vive em Santarém, oeste do Pará e é idealizador de diversos projetos, como o Sebo Porão Cultural, que ajudam a despertar o interesse das pessoas pela leitura.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Dia da Visibilidade Lésbica - Mulheres na luta contra o machismo e a lesbofobia!


Nota da juventude Vamos à Luta

Dia 29 de agosto é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Criado em 1996, no primeiro Seminário Nacional de Lésbicas, o dia é um marco na luta pela vida e pelos direitos das mulheres lésbicas. Hoje, mais de 20 anos após a criação da data, ainda temos que avançar muito pra que nossas vidas, desejos e demandas sejam visibilizadas e respeitadas.
Na nossa sociedade, o machismo, a lesbofobia e o racismo andam juntos subjugando e oprimindo as mulheres. A sociedade patriarcal e heteronormativa nos determina lugares, fazendo com que sejamos constantemente inferiorizadas, responsabilizadas pelo cuidado da casa e dos filhos, violentadas por familiares e companheiros, trabalhemos em condições mais precárias e ganhando salários inferiores. A relação afetiva entre mulheres foge do padrão imposto socialmente, o que nos faz sermos ainda mais oprimidas. Muitas vezes, precisamos esconder e negar nossa sexualidade e afetos, somos constantemente fetichizadas por homens, e inferiorizadas e agredidas.
A lesbofobia é uma realidade que atinge às mulheres lésbicas em todo o país. Entretanto, sabemos que a violência LGBTfóbica atinge mais intensamente áreas periféricas e marginalizadas. Assim, mulheres pobres e negras são as mais atingidas, revelando um grande descaso com sua segurança e saúde.
Como a violência contra a população LGBT não é considerada crime no Brasil, os números dessa violência são difíceis de serem computados. Segundo o Ministério da Saúde, a população LGBT é mais vulnerável a violência física e psicológica. Além disso, as mulheres lésbicas sofrem com os chamados “estupros corretivos”, práticas de violência sexual que teriam como objetivo “corrigir” a sexualidade da mulher e que são, em geral, praticados por pessoas próximas a essas mulheres.
Além disso, há um grande descaso com a saúde das mulheres que se relacionam sexualmente com outras mulheres. Por medo do preconceito, acessam menos os serviços de saúde e, quando acessam, os profissionais de saúde não são capacitados para atender essa população, não podendo intervir sobre as situações de vulnerabilidade das mulheres. Ainda acredita-se que a prática sexual entre mulheres não representa risco de transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis e, com isso, muitas mulheres deixam de ser examinadas, rastreadas e medicadas, tendo maiores chances de desenvolver doenças, como câncer de cólo de útero. Além disso, o enfrentamento do preconceito, do machismo e da lesbofobia tem efeitos nocivos sobre a saúde mental das mulheres lésbicas, sendo muitos os casos de suicídio entre essa população.
Embora tenhamos conquistados alguns avanços nos últimos anos, como a união estável entre pessoas do mesmo sexo e a possibilidade de adoção entre casais homoafetivos, estes foram fruto de muita luta e ainda são poucos frente a realidade que vivemos. Os últimos governos não estiveram comprometidos com políticas que ampliassem os direitos da população LGBT ou que combatessem a violência que sofremos. Enquanto a bancada conservadora cresce nas casas legislativas, nossos direitos servem como moeda de troca para garantia de apoio aos governos. O kit anti-homofobia foi vetado pela ex-presidente Dilma em 2011, assim como a campanha de prevenção no carnaval voltado a população LGBT em 2012. Em 2013, foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos o pastor Marco Feliciano, figura machista, misógina, LGBTfóbica e racista, que tentou aprovar um projeto de “cura gay”.
Assim, o dia da Visibilidade Lésbica é um dia de luta! A pauta LGBT precisa ser cada vez mais incorporada pela esquerda, mobilizando a população por uma forte luta que retire as mulheres lésbicas da marginalidade e construa saídas para dar fim a opressão que sofremos. Precisamos avançar na luta contra o machismo, o racismo e a LGBTfobia, em conjunto com a luta da classe trabalhadora e da juventude contra a retirada de direitos!
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Extraído da página da juventude Vamos à Luta.

domingo, 27 de agosto de 2017

Por que não VAMOS?

A Frente Povo Sem Medo lança neste sábado 26 de agosto, em São Paulo, o primeiro debate da plataforma VAMOS! O objetivo, segundo Guilherme Boulos, um dos principais dirigentes dessa iniciativa, é construir um projeto para tirar o Brasil da crise. Os temas em debate serão: a democratização da economia; da política e do poder; da cultura e das comunicações; dos territórios e meio ambiente; e um programa negro, feminista e LGBT. Entre os principais debatedores e, portanto, proponentes estarão o próprio Boulos, Marcelo Freixo, Tarso Genro, a presidente do PT Gleisi Hoffman e o presidente da CUT Vagner Freitas, entre outros.
Não VAMOS! com o PT
Em recente matéria publicada na Carta Capital, anunciando o lançamento da plataforma VAMOS! Boulos afirma: “O Brasil está afundado numa de suas maiores crises […] na qual os remédios da austeridade levaram o País à UTI […] é também uma crise de representação política, com o Congresso desmoralizado, um governo ilegítimo e, sobretudo, um sistema falido e sem credibilidade. Um diagnóstico até correto, porém, ao não analisar a gêneses desta catástrofe, que tenta remediar, acaba buscando caminhos para sair do labirinto nas mãos daqueles que nos introduziram nele. Não vamos nos enganar, Gleisi Hoffman, Lindbergh Farias e Vagner Freitas, impulsionadores do VAMOS! são do time que quer ver Lula presidente em 2018. Gleisi Hoffman é a cara de Lula na plataforma VAMOS! Trabalha estritamente para o projeto de Lula 2018 e seu papel será levar esse debate a um pântano.
Sem romper, clara e publicamente, com o lulopetismo, não existe nenhuma possibilidade de iniciar um debate serio para construir um projeto de esquerda para o Brasil. Na última década, as propostas da maioria da esquerda bateram de frente com as políticas defendidas pelo PT. A crise econômica profunda é parte da crise gerada pelos governos petistas encabeçados por Lula e Dilma. Prova disso é Henrique Meirelles, um homem do mercado financeiro internacional, figura protagônica da área econômica durante o governo Lula, que hoje é o timoneiro das políticas de ajuste e das reformas contra a classe trabalhadora. Não por acaso, em recente entrevista no rádio, Lula declarou: “… devo muita gratidão ao Meirelles. Muita. […] Acho que o Meirelles teria contribuído para a Dilma”. Salvando a brutalidade para aprovar algumas medidas do atual ajuste, não houve uma ruptura da estrutura econômica na transição de Dilma/PT para Temer/Meirelles.
Não é crível que um dos setores responsáveis pela miséria e pelo “inédito nível de regressão social e dos direitos” de nossa classe possa nos ajudar a sair da crise. Mas, a plataforma do VAMOS! faz questão de contar com a presença dos petistas para discutir esse programa. O PT, que surfou por longos anos nos altos preços das commodities, não teve nenhuma política para reverter essa crise nem mudar a estrutura econômica do país a serviço dos banqueiros, do agronegócio, das empreiteiras e das multinacionais. Os excedentes econômicos dessa época de “vacas gordas” não serviram para promover a reforma agrária e urbana, desenvolver tecnologia, investir na saúde e educação pública ou em projetos sociais duradouros, sua principal preocupação foi manter um elevado superávit primário para pagar a dívida pública.
Tampouco este Congresso e este sistema são radicalmente diferentes dos que governaram, por longos anos, com Lula e Dilma, como diz Boulos. São os mesmos picaretas que Lula denunciava em 1993 e que renderam uma música popularizada por “Os Paralamas do Sucesso”. Porém, ao chegar ao governo, 10 anos depois, Lula e o PT adotaram esses picaretas que, de Sarney a Jader Barbalho e de Renan Calheiros a Temer, se integraram numa grande família para compartilhar o banquete do mensalão e de tantos outros atos escusos, que os manteve unidos por longos anos, os anos que o PT ainda detinha o controle do movimento de massas e era útil ao grande capital. Para tanto teve de atacar direitos e conquistas democráticas da classe como aconteceu com a reforma da previdência, a mudança no seguro desemprego, a criminalização do protesto, a lei anti terrorista, e privilegiou as relações com o agronegócio e as empreiteiras sobre os interesses dos povos indígenas para a construção de hidroelétricas e na demarcação de terras, entre outras medidas exigidas pelo mercado.
Não VAMOS acreditar que se pode construir com o PT um programa para democratizar a economia, as comunicações ou o meio ambiente. Por mais de uma década a direção desse partido se manteve unido governando para os mercados, promovendo privatizações e entregando parte de nossas riquezas como aconteceu nos leilões do pré-sal; negou-se a aprovar a auditoria da dívida pública; nunca questionou os interesses da Globo e provocou um dos maiores desmatamentos que se tem conhecimento, sob a condução de uma liderança do agronegócio chefiando o Ministério da Agricultura. Que poderia aportar a direção petista num programa para os negros, as feministas ou os grupos LGBT? O maior símbolo de discriminação racial hoje, a injustificável prisão do companheiro Rafael Braga, é da época do governo Dilma. Deu as costas às reivindicações feministas, principalmente à legalização do aborto e enquanto as comunidades LGBT sofriam brutais ataques, o governo petista cedia à pressão da bancada evangélica retirando projetos de educação sexual nas escolas.
Não VAMOS! com um programa sem identidade de classe
Mas, além da inviabilidade de debater um programa de esquerda para tirar o Brasil da crise com o PT, a plataforma do VAMOS! não tem identificação de classe. Para que interesses a esquerda se propõe a debater um programa?“A idéia é realizar uma discussão ampla, nas redes e nas praças, que contemple a diversidade de representações e de posicionamentos políticos […] Todos poderão apresentar propostas pela plataforma colaborativa e participar dos debates públicos” escreve Boulos, deixando aberta a velha política petista de “governar para todos”. A esquerda deve construir um programa que contemple os interesses da classe trabalhadora e os setores oprimidos. Fazemos um programa para governar para um setor determinado, a classe trabalhadora e seus aliados, contrariando os interesses dos de cima. Não é isso que propõe o VAMOS!
Não VAMOS! com a candidatura de Lula porque não representa os interesses da classe trabalhadora. “Nós, particularmente no MTST, temos profundo respeito pelo ex-presidente e por sua trajetória. É inegavelmente a maior liderança social deste País”, continua Boulos, com exagerada admiraçãoCom todo o respeito que temos com a opinião dos companheiros do MTST, não coincidimos com essa apreciação. Como outros setores da esquerda, deixamos de ter respeito pela trajetória de Lula faz muitos anos, desde que “atravessou o Rubicão” para governar com e para o grande capital, traindo a confiança de nossa classe. A trajetória de Lula, não é uma linha reta, está cheia de meandros, nos quais foi se afastando da classe trabalhadora para se abraçar com seus inimigos. É o que faz agora nessa caravana eleitoreira, montando palanque com os Calheiros em Pernambuco e com o governador de Sergipe Jackson Barreto (PMDB), criando tanto constrangimento que um setor do PT e os dirigentes locais da CUT se retiraram do ato. A esquerda deve questionar, não enaltecer “…a maior liderança social deste País” Muitos inimigos dos interesses da classe foram por anos lideranças eleitorais de massas e ganharam eleições a fio, mas não o fizeram para favorecer os explorados.
Tampouco é correto o argumento de que a esquerda faz anos que não debate ou não tem propostas programáticas, como expressam alguns. Temos debatido muito com o PT, dentro e fora dele. O primeiro grande debate que fizemos, desde a esquerda, foi quando o PT chegou ao governo e defendeu Sarney para presidir o senado e Henrique Meirelles para presidir o Banco Central com status de Ministro. Foi um debate sobre o caráter de classe do governo, ao qual Lula fez ouvidos moucos. Mas a “mãe das batalhas” político/programáticas, foi contra a proposta de reforma da previdência no ano de 2003. Qual foi o debate que fez a cúpula do PT com as dezenas de milhares de funcionários públicos que se mobilizaram Brasil afora? Nenhum! Pior ainda, expulsou sumariamente os parlamentares rebeldes Heloísa Helena, Luciana Genro, Babá e João Fontes por ficar do lado dos trabalhadores e contra as exigências do mercado.
Em todos estes anos fizemos inúmeros debates programáticos contra as políticas da direção do PT. Pela auditoria e suspensão dos pagamentos da dívida pública; por não avançar na reforma agrária e urbana; por uma Petrobras 100% estatal, contra as privatizações de portos aeroportos e os leilões do pré-sal; pela legalização das drogas, pela legalização do aborto para proteger a vida das mulheres; contra a criminalização dos protestos; por aumento de salários e contra as demissões; por verbas para educação, saúde e transporte público e não para a Copa e as Olimpíadas, só para lembrar de alguns grandes debates que foram colocados nestes anos sob o silêncio cúmplice do PT e suas direções satélites. Porque, o que é um programa, senão as tarefas que a classe trabalhadora se propõe para superar seus problemas, vinculado aos seus interesses históricos?
Na verdade, os que nunca promoveram o debate são alguns dos que hoje se alistam para debater um projeto, que depois vão querer apresentar, ainda que seja de fachada, defendendo a candidatura de Lula com o filho do falecido mega empresário José Alencar como vice. Mas, que debates fizeram a direção do PT e da CUT, quando os trabalhadores necessitavam derrotar as políticas do lulopetismo quando esta era governo e o ajuste e as contra reformas de Temer/Meirelles na atualidade? Março, abril, maio e junho foram meses de grandes mobilizações, lutas e protestos, mas a classe trabalhadora ficou praticamente órfã e sem possibilidades de debater um verdadeiro plano de lutas com essas direções para derrotar Temer. Em dezembro de 2016 deixaram passar MPs com brutais ataques aos trabalhadores do serviço público, o mesmo aconteceu em março deste ano com o projeto das terceirizações no qual brilharam pela sua ausência, nunca fizeram assembléias de base para discutir a luta, se acovardaram durante a vitoriosa Marcha a Brasília e desmontaram a greve geral marcada para 30 de junho.
São essas direções, que ainda tem o controle dos grandes aparatos, atuando como satélites das políticas petistas, que impedem o avanço da classe trabalhadora e seus aliados. O que explica que, depois da maior greve geral do Brasil em dezenas de anos, quando cruzaram os braços mais de 40 milhões de trabalhadores, depois da vitoriosa Marcha a Brasília, onde os manifestantes conseguiram quebrar a barreira policial apesar do recuo das direções burocráticas, não tenha acontecido a greve geral de 30 de junho, onde os trabalhadores aspiravam nocautear o governo Temer? A única explicação é a política nefasta das direções petistas. A política do lulopetismo não foi nem é derrubar Temer. É parte de um acórdão com os tucanos, o PMDB e setores do STF para chegar com menos conflitos às eleições de 2018. Para isso desmontam as lutas, frustrando as aspirações de milhões de trabalhadores, na tentativa de quebrar o impulso da mobilização. O centro dessas direções é investir na caravana de Lula 2018 e não na derrota do governo. Infelizmente, a plataforma VAMOS! acabará sendo parte desse contexto eleitoreiro e de conciliação de classes.
Não é possível “ampliar a mobilização popular e construir uma massa crítica pela esquerda” com essas direções. Nem fazer “Uma discussão sintonizada com o trabalho de base dos movimentos das periferias, com ativismos de redes e ruas, que seja capaz de reencontrar um fio de esperança”. Não há saída para a crise do país com essas cúpulas colaboracionistas que já traíram a confiança dos explorados. A crise é grave! Não há tempo a perder com quem não tem os mesmos objetivos e só quer amarrar a esquerda à um programa de conciliação de classes para 2018. O MTST e os dirigentes do PSOL que impulsionam o VAMOS! devem romper com a direção do PT e da CUT e chamar à unidade com o PSTU, o PCB, a CSP-Conlutas, os trabalhadores em luta, os sindicatos combativos, os movimentos das periferias, os setores que se organizam contra as opressões, a juventude e os ativistas das redes e das ruas para impulsionar a luta para derrotar o governo Temer e seu plano de ajuste. Nesse processo iremos construindo o programa. Há suficiente acúmulo em nosso partido e em outros setores da esquerda para elaborar um verdadeiro programa de esquerda, anticapitalista, socialista, que defenda os interesses dos explorados e que reveja as medidas econômicas, políticas e sociais votadas contra os de baixo. Só assim, longe das direções que foram responsáveis pelo atual desastre que vive nosso país, poderemos começar a reencontrar um fio de esperança.
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A CST ajudou a fundar o PSOL após o PT expulsar Babá, Luciana Genro, Heloisa Helena e João Fontes em 2003. Foram punidos por manterem a coerencia e votarem contra a criminosa Reforma da Previdência de Lula.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

A feminização da pobreza é parte do legado do Chavismo

por Adriana Cantaura

Muito têm se falado sobre as sequelas nefastas das políticas governamentais do finado Presidente Hugo Chávez, as mais relevantes são a escassez de comida e remédios. Porém, até agora, pouco têm se falado acerca da agressão e dos prejuízos que essas políticas têm provocado em um setor social tão particular como o nosso, de mulheres.  A atual crise que atravessa o país afeta a todos, disso não temos dúvida, mas se fizéssemos o exercício de humanizar a pobreza, se pudéssemos personificar a crise, se estampássemos um rosto e um nome, lhes asseguro:  este rosto seria o de uma mulher, esse nome seria o de uma mulher.

As filas para adquirir os produtos regulados e as de comprar pão, estão repletas de mulheres; as intermináveis jornadas para buscar os remédios dos avós, pais, filhos, são feitas por mulheres. Nesta sociedade profundamente machista e patriarcal, que por aprendizagem cultural delega maior parte das responsabilidades familiares às mulheres –  o que limita consideravelmente nosso desenvolvimento profissional e de trabalho -, e na qual já está estabelecida a nossa vulnerabilidade, traz conseqüências específicas do ajuste aplicado pela via do corte de importações e do corte de gastos em saúde. Até alguns meses atrás, conseguir um absorvente já era uma proeza, a alternativa do copo menstrual era impagável para muitas, incluindo-me, em um país onde o salário mínimo ronda os 50 dólares mensais. Fazer um exame médico de rotina (citologia, ultra-som, mamografia) é um luxo nesse país, e não somente pela questão econômica, mas também pela falta de insumos médicos, e nisso nem as clínicas privadas se salvam. Mas nada se compara a situação das que se tornam mães, e me desculpo pelo tom trágico, porque não é contra a maternidade que aponto esta flecha, mas contra o Estado venezuelano que pouco ou nada faz para resguardar a integridade das mulheres, e menos ainda a das mães.

Bem, comecemos por nosso direito ao controle de natalidade. Entre as muitas coisas que faltam estão os contraceptivos (pílulas, implantes, DIU, anéis e preservativos). A angustiante situação que vivemos as mulheres venezuelanas nos últimos 3 anos, para ter acesso aos contraceptivos “disponíveis” no mercado e nas redes ambulatoriais públicas e privadas é, sem dúvida alguma, uma forma de violência de gênero orquestrada pelo mesmíssimo Estado venezuelano. O que torna essa escassez ainda mais perversa, diante da falta de contraceptivos e um iminente risco de uma gravidez indesejada, é o fato de que neste país o aborto é criminalizado. Com ou sem criminalização os abortos ocorrem clandestinamente e as histórias a respeito são aterradoras, pois é uma experiência verdadeiramente traumática em condições pouco seguras e sem nenhuma garantia de atenção médica adequada. O certo é que apesar do discurso “feminista” do governo, este segue reproduzindo a lógica patriarcal e impondo estas posturas conservadoras.

Por outro lado, aproveito para esclarecer que não promovo o aborto, mas acredito que é necessário descriminalizar sua prática, porque até agora o resultado da criminalização é que algumas poucas o façam de maneira segura, enquanto a muitas outras pode custar a vida, já que a penalização do aborto é uma outra forma de segregação social devido ao gênero, e é nesse sentido que faço a minha crítica.

Agora veja, se a mulher decidir seguir com esta gravidez não desejada, esta mulher enfrentará mais uma vez, os perversos alcances desta crise, pois não terá acesso às vitaminas pré-natais, pela simples razão de que não tem; tampouco contará com um pré-natal adequado, já que a história de cada hospital público deste país é “não estamos fazendo  ultra-som, pois a máquina não serve”, ou então “não temos reagentes para realizar os exames laboratoriais” e a crise é tão profunda que já atinge algumas clínicas particulares. A escassez e seus “não tem”, “não serve” e “não se consegue” atingiu a todas.

Essas conseqüências políticas, econômicas e sociais que nos deixou 18 anos de chavismo, representam um ataque sistemático às mulheres, e, por favor, peço às companheiras chavistas que guardem os discursos de livreto e as referências às leis promulgadas nos últimos anos, porque reconheço que algumas representam uma reivindicação simbólica, mas na prática, minhas irmãs, na prática só vemos ataques aos nossos direitos mais elementares, como é o controle sobre os nossos corpos. Por favor, guardem também as referências às práticas ancestrais de anticoncepção, como conhecer nosso ciclo e identificar as datas da ovulação. Adotá-los deve ser uma decisão pessoal de cada mulher, porque ainda que eu respeite e adote os citados métodos, e faço com convicção, é uma decisão individual que cabe a cada uma e que vai depender de muitos fatores, entre eles o conhecimento e o acesso a informação sobre estes métodos, e vocês sabem que desta pata manca seu governo.

As sistemáticas agressões que o gênero feminino vem sofrendo neste país é algo como um produto de “Tele Compra”, desses que passam à noite depois do noticiário: quando você acha que não pode agregar mais nada à oferta, surge um novo elemento que te deixa boquiaberta. Bom, o mesmo acontece com as mulheres venezuelanas, não é apenas o fato do estado não garantir acesso aos contraceptivos, de penalizar o aborto, de não prover vitaminas pré-natais às gestantes, ou não garantir tampouco o controle pré-natal, mas também, quando a mulher mãe e a criatura que gerou conseguem passar por todas essas vicissitudes, ocorre que não há fraldas, nem vacinas e se esta mulher com muito esforço pôde se alimentar bem e trazer ao mundo um bebê saudável, agora deve continuar a batalha por uma boa alimentação que a permita amamentar sem ficar desnutrida. Não é qualquer coisa o que digo, basta ver as estatísticas de desnutrição de mulheres gestantes e bebês recém nascidos que divulgou aquela Ministra de Saúde (Antonieta Caporale) que logo foi destituída.

As companheiras chavistas poderão responder que “as fraldas ecológicas são uma solução”, mas há que se levar em conta a realidade, como por exemplo que o serviço de distribuição de água (também competência do Estado) é uma verdadeira calamidade, e que há setores em La Guaira-Estado Vargas, onde moro, que passam 45 dias sem água. Que mãe vai acumular 45 dias de fraldas sujas? Então me digam: há ou não há uma sistemática agressão à mulher? Não é verdade que o chavismo trocou as esperanças e sonhos da luta feministas por migalhas? Cabe destacar também que ao fato de ser mulher, se adiciona o fato de ser pobre – aí sim, você jogou todos os números da rifa! Porque afinal de contas o que vai marcar a diferença entre ter acesso ou não aos contraceptivos, contar ou não com aborto seguro, ingerir ou não vitaminas pré-natais, gozar ou não de controle pré-natal, ter ou não fraldas descartáveis ou ecológicas, alimentar-se bem ou não para amamentar, é o poder aquisitivo da mulher. A isso se resume o “legado de Chávez”, à demagogia de um governo com discurso inclusivo e práticas excludentes que têm aumentado o fosso entre as classes e aprofundado as desigualdades de gênero, atacando implacavelmente a todas nós.

Fonte: CST/PSOL