Uma semana após chegar à Casa Branca, Trump assinou o decreto "Proteger a Nação da entrada de terroristas estrangeiros nos Estados Unidos", que prevê a suspensão total, durante 120 dias, do programa de admissão de refugiados, assim como o congelamento, por três meses, da entrada no país de pessoas provenientes de sete países muçulmanos: Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen.
Numa entrevista ao canal Christian Broadcasting Network, Trump disse que dará prioridade na solicitação de refúgio a cristãos sírios. A preferência aos cristãos e a exclusão dos muçulmanos é uma medida de caráter discriminatória contra os povos que professam religiões não ocidentais, baseada no orientalismo moderno (islamofobia) e no choque de civilizações.
Para o intelectual palestino Edward Said "a relação entre Ocidente e o Oriente é uma relação de poder, de dominação, de graus variáveis de uma hegemonia complexa. O orientalismo, não foi, portanto, apenas o resultado de ocupações militares. Foi principalmente um investimento continuado que criou um sistema de conhecimento sobre o Oriente, uma rede aceita para filtrar o Oriente na consciência ocidental, assim como o mesmo investimento multiplicou - na verdade, tornou verdadeiramente produtivas - as afirmações que transitam do Orientalismo para a cultura em geral."
Segundo o cientista político norte-americano Samuel Huntington a teoria do choque de civilizações discute que as identidades culturais e religiosas dos povos serão as principais fontes de conflito no mundo pós Guerra Fria. Para Huntington os conflitos de grandes proporções não sucederão entre as classes sociais e sim entre os povos pertencentes a diferentes entidades culturais e religiosas.
Os confrontos e disputas religiosas, ideológicas e políticas constantes entre as civilizações ocidentais e islâmicas, ocorrem pelo fato das mesmas serem as únicas a possuirem desígnios de desenvolvimento e ambições universalistas. Uma teoria que prega a supremacia da sociedade ocidental sobre os povos do oriente.
Com o atentado em 11 de setembro de 2001, a burguesia ocidental em conjunto com a imprensa ocidental precisavam justificar a política belicista do novo século americano de George W. Bush sobre o oriente médio. Ou seja, foram as teorias do orientalismo e do choque de civilizações que construíram os consensos que permitem e legitimam as atrocidades americanas no Oriente Médio, em busca do saque das riquezas desses países e da estabilidade pró yankee na região. Da mesma forma se dá com o Estado de Israel, formado por uma ideologia ocidental: o sionismo, para impor a colonização da palestina histórica. Israel serve-se da teoria orientalista, para submeter de maneira brutal os palestinos dentro e fora do seu território.
A partir de 2001, a imprensa ocidental criou em nossas cabeças um modelo idealizado dos árabes durante o último ciclo de invasões americanas no Oriente Médio: O árabe ou muçulmano como terrorista! Toda semana as notícias que envolvem o mundo árabe ou muçulmano retratam de forma descriminatória os povos desses países com um forte teor orientalista que nos rementem a ideia de povos atrasados, fanáticos religiosos e terroristas. Fantasia vestida em cada palestino que resiste contra a agressão sionista.
A islamofobia ganhou novos contornos com os recentes atentados terroristas de autoria de grupos jihadistas na Europa. Assim como, com a explosão de conflitos políticos e territoriais no norte da África e no oriente médio, que produziriam a maior leva de refugiados no mundo desde a 2° Guerra Mundial: 65 milhões em 2016 segundo a ONU. Toda semana milhares de mortes no mediterrâneo e a imprensa ocidental fazendo vista grossa sobre o crescimento das barreiras (muros) e das políticas anti-imigração por parte dos governos da Europa.
Nunca se posicionando de forma contundente contra as políticas destes governos, ao passo que a cada ataque terrorista, destilava rios de xenofobia e de islamofobia, o que paulatinamente foi produzindo condições ideológicas para o crescimento entre a população, das idéias reacionárias da extrema direita e do nacionalismo europeu, norte-americano e ocidental. Processo que ajudou a levar Trump a Casa Branca e que de repente assusta a imprensa orientalista ocidental.
Será uma preocupação de fato ou será uma oposição fake para tentar conter os ânimos dos lutadores do planeta, numa estratégia de preservar estrutura capitalista mundial? Nossa resposta a islamofobia, ao orientalismo, ao choque de civilizações e a xenofobia deve ser a solidariedade e a exigência aos governos europeus e do mundo, do fim das fronteiras, das deportações e a garantia de legalização aos refugiados e imigrantes, que querem reconstruir suas vidas em qualquer parte do nosso mundo!
****
Tailson Silva é professor de Geografia da rede pública e militante da CST/PSOL.
Nenhum comentário:
Postar um comentário