sexta-feira, 11 de março de 2016

Relação do Santander com a UNICAMP: o problema está apenas na carteirinha?

A relação entre o público e o privado

Devemos começar refletindo sobre porquê as carteirinhas (registro de aluno, ou RA) da Unicamp têm hoje essa vinculação com o Santander. Sobre pra quê um banco faz esse tipo de convênio com uma universidade pública, e qual o seu interesse real para com uma instituição de ensino público. Não é novidade, e mesmo os que se declaram a favor do “RA-Santander” concordam que o banco tem como objetivo o lucro. Porém, muitos acreditam no discurso enganoso do reitor e do banco, de que a “parceria” pode ser proveitosa “para todos”, onde os estudantes concorreriam a bolsas de estudo que serviriam de apoio à pesquisa científica. E isso não é nem de longe verdade.
Propaganda da política privatista disfarçada de apoio à pesquisa científica
Nas palavras do reitor José Tadeu e do diretor-geral do Santander Universidades, Jamil Hannouche, na Unicamp em 2014, o convênio com o banco “ajuda a fortalecer a pesquisa da Universidade”. Com este argumento, o reitor tenta fazer crescer a aceitação da política privatista entre os estudantes. Não é diferente do discurso da implementação da EBSERH feito por reitores de outras universidades, onde as “Organizações Sociais” (OSs), que são privadas, buscam administrar os Hospitais Universitários lucrando com o trabalho gratuito dos estudantes, restringindo a autonomia universitária para realização de projetos de pesquisa e extensão.
Os dois principais programas de bolsa oferecidos pelo banco são falaciosos. Os programas “TOP” e o “Fórmula Santander” iludem os universitários. Para o “TOP China“, as três semanas de viagem com tudo pago são para assistir um irrelevante curso chamado “China e Brasil, um resumo de Política, Economia e Cultura”. Uma viagem para a China, somente para ver um “resumo”. O caso do “TOP España” é mais intrigante. O estágio de três semanas se trata de um curso de espanhol fast-food.
Já o “Fórmula Santander” obriga os estudantes a disputarem migalhas. Em um universo de mais de 18 mil estudantes de graduação da Unicamp, apenas três foram escolhidos em 2015. Enquanto isso, esse ano 3.320 mil calouros e calouras não tiveram a opção senão carregar a logotipo do banco nos seus RAs, e nem sequer sabem quais de seus dados pessoais foram divulgados ao banco.
A verdadeira relação dos bancos com a Educação Pública
O Santander, na posição de quarto maior banco do país, e os seus semelhantes, Itaú, Bradesco, dentre outros bancos e fundos de investimento, batemrecordes de lucro no Brasil em plena crise, vindo grande parte do pagamento dos juros de títulos da dívida pública, que a cada ano chegam a 47% do PIB, consumindo quase R$ 1 trilhão por ano do orçamento público. Sendo que, a educação e saúde recebem juntas apenas 8%. O Brasil entrou de vez na crise econômica mundial. O Governo Dilma (PT) aplica um ajuste fiscal que demite os trabalhadores e retira direitos, promete a volta CPMF, que é uma tributação sobre todas as movimentações bancárias, e quer fazer uma nova Reforma da Previdência.
Em 2015, o governo do PT cortou R$ 10,5 bilhões do orçamento da Educação, nada menos que 20% de todo o recurso da área; Saúde, Transportes e Ciência também foram gravemente afetados. Agora em 2016, as mesmas áreas tiveram ainda mais cortes federais bilionários. O ajuste aplicado também pelo governador Alckmin (PSDB) diretamente sobre a Unicamp, USP e Unesp soma R$ 457 milhões nos dois anos. Todo esse ajuste sempre para garantir o lucro dos banqueiros, como o Santander. Não é a toa que esse ano Dilma vetou a emenda no Projeto do Plano Plurianual (PPA), proposta do PSOL, que previa a realização de auditoria da dívida pública com participação da sociedade civil.
Resumindo: na prática, o investimento do banco nas bolsas serve apenas para sua própria propaganda e não acrescenta em nada para o desenvolvimento acadêmico e conhecimento científico dos estudantes. A política privatista que a reitoria, governo Dilma e Alckmin apresentam não é a solução dos problemas. A Educação tem que ser um direito público, assegurado pelo governo, e não são os bancos que devem realizar programas e projetos para a universidade pública. O conhecimento produzido na Unicamp não pode estar a serviço dos interesses dos bancos, mas sim da maioria da sociedade que é a classe trabalhadora, que é quem mais precisa do conhecimento.
É através dos juros e da dívida pública que os banqueiros lucram. É com a miséria e a exploração do povo trabalhador e da juventude. Se não pagássemos metade do PIB para esses bancos, poderíamos dobrar o orçamento da Educação, Saúde, Saneamento e outras áreas de relevância. Só com a auditoria e suspensão da Dívida Pública conseguiremos ter universidades públicas de qualidade, assistência estudantil para todos, a garantia dos estudos de iniciação científica.
Seguir mobilizando os estudantes para garantir o caráter público da universidade
No retorno das aulas de 2016 os estudantes da UNICAMP foram surpreendidos com o logo do Santander em seus RAs. Isso gerou bastante indignação, e logo o DCE organizou um catracaço no Bandejão. Estivemos no ato e achamos uma atividade bastante importante, mas vemos a necessidade de que se façam debates, atividades, panfletagens para que os estudantes e os CAs ampliem o debate sobre o que há por trás das “parcerias” do reitor. Assim, fortalecendo o debate e a argumentação, cada vez mais estudantes tomarão consciência da importância de se mobilizar em defesa do caráter público da UNICAMP.
É necessário seguir o exemplo de luta do catracaço! É com mobilização que podemos barrar a política privatista da reitoria e do governo, contra as parcerias que são impostas para servir não a maioria da sociedade, mas a bancos e grandes empresas. É lutando contra o ajuste fiscal de Dilma e Alckmin que conseguiremos mais verbas para a UNICAMP.

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