A relação entre o público e o privado
Devemos começar refletindo sobre porquê as carteirinhas (registro de
aluno, ou RA) da Unicamp têm hoje essa vinculação com o Santander. Sobre pra
quê um banco faz esse tipo de convênio com uma universidade pública, e qual o
seu interesse real para com uma instituição de ensino público. Não é
novidade, e mesmo os que se declaram a favor do “RA-Santander” concordam que o
banco tem como objetivo o lucro. Porém, muitos acreditam no discurso enganoso
do reitor e do banco, de que a “parceria” pode ser proveitosa “para todos”,
onde os estudantes concorreriam a bolsas de estudo que serviriam de apoio à
pesquisa científica. E isso não é nem de longe verdade.
Propaganda da política privatista disfarçada de apoio à pesquisa
científica
Nas palavras do reitor José Tadeu e do diretor-geral do Santander
Universidades, Jamil Hannouche, na Unicamp em 2014,
o convênio com o banco “ajuda a fortalecer a pesquisa da Universidade”. Com
este argumento, o reitor tenta fazer crescer a aceitação da política privatista
entre os estudantes. Não é diferente do discurso da implementação da EBSERH
feito por reitores de outras universidades, onde as “Organizações Sociais”
(OSs), que são privadas, buscam administrar os Hospitais Universitários
lucrando com o trabalho gratuito dos estudantes, restringindo a autonomia
universitária para realização de projetos de pesquisa e extensão.
Os dois principais programas de bolsa oferecidos pelo banco são
falaciosos. Os programas “TOP” e o “Fórmula Santander” iludem os
universitários. Para o “TOP China“,
as três semanas de viagem com tudo pago são para assistir um irrelevante curso
chamado “China e Brasil, um resumo de Política, Economia e Cultura”. Uma viagem
para a China, somente para ver um “resumo”. O caso do “TOP España”
é mais intrigante. O estágio de três semanas se trata de um curso de espanhol
fast-food.
Já o “Fórmula Santander”
obriga os estudantes a disputarem migalhas. Em um universo de mais de 18 mil
estudantes de graduação da Unicamp, apenas três foram escolhidos em 2015.
Enquanto isso, esse ano 3.320 mil calouros e calouras não tiveram a opção senão
carregar a logotipo do banco nos seus RAs, e nem sequer sabem quais de seus
dados pessoais foram divulgados ao banco.
A verdadeira relação dos bancos com a Educação Pública
O Santander, na posição de quarto maior banco do país, e os seus
semelhantes, Itaú, Bradesco, dentre outros bancos e fundos de investimento,
batemrecordes de
lucro no Brasil em plena crise, vindo grande parte do pagamento dos juros de
títulos da dívida pública, que a cada ano chegam a 47% do PIB, consumindo quase
R$ 1 trilhão por ano do orçamento público. Sendo que, a educação e saúde
recebem juntas apenas 8%. O Brasil entrou de vez na crise econômica mundial. O
Governo Dilma (PT) aplica um ajuste fiscal que demite os trabalhadores e retira
direitos, promete a volta CPMF, que é uma tributação sobre todas as
movimentações bancárias, e quer fazer uma nova Reforma da Previdência.
Em 2015, o governo do PT cortou R$ 10,5 bilhões do
orçamento da Educação, nada menos que 20% de todo o recurso da área; Saúde,
Transportes e Ciência também foram gravemente afetados.
Agora em 2016, as mesmas áreas tiveram ainda mais cortes federais
bilionários. O ajuste aplicado também pelo governador Alckmin (PSDB) diretamente
sobre a Unicamp, USP e Unesp soma R$ 457 milhões nos
dois anos. Todo esse ajuste sempre para garantir o lucro dos
banqueiros, como o Santander. Não é a toa que esse ano Dilma vetou a
emenda no Projeto do Plano Plurianual (PPA), proposta do PSOL, que previa a
realização de auditoria da dívida pública com participação da sociedade civil.
Resumindo: na prática, o investimento do banco nas bolsas serve apenas
para sua própria propaganda e não acrescenta em nada para o desenvolvimento
acadêmico e conhecimento científico dos estudantes. A política privatista que a
reitoria, governo Dilma e Alckmin apresentam não é a solução dos problemas. A
Educação tem que ser um direito público, assegurado pelo governo, e não são os
bancos que devem realizar programas e projetos para a universidade pública. O
conhecimento produzido na Unicamp não pode estar a serviço dos interesses dos
bancos, mas sim da maioria da sociedade que é a classe trabalhadora, que é quem
mais precisa do conhecimento.
É através dos juros e da dívida pública que os banqueiros lucram. É com
a miséria e a exploração do povo trabalhador e da juventude. Se não pagássemos
metade do PIB para esses bancos, poderíamos dobrar o orçamento da Educação,
Saúde, Saneamento e outras áreas de relevância. Só com a auditoria e suspensão
da Dívida Pública conseguiremos ter universidades públicas de qualidade,
assistência estudantil para todos, a garantia dos estudos de iniciação
científica.
Seguir mobilizando os estudantes para garantir o caráter público da
universidade
No retorno das aulas de 2016 os estudantes da UNICAMP foram
surpreendidos com o logo do Santander em seus RAs. Isso gerou bastante
indignação, e logo o DCE organizou um catracaço no
Bandejão. Estivemos no ato e achamos uma atividade bastante
importante, mas vemos a necessidade de que se façam debates, atividades,
panfletagens para que os estudantes e os CAs ampliem o debate sobre o que há
por trás das “parcerias” do reitor. Assim, fortalecendo o debate e a
argumentação, cada vez mais estudantes tomarão consciência da importância de se
mobilizar em defesa do caráter público da UNICAMP.
É necessário seguir o exemplo de luta do catracaço! É com mobilização que podemos barrar a política privatista da reitoria e do governo, contra as parcerias que são impostas para servir não a maioria da sociedade, mas a bancos e grandes empresas. É lutando contra o ajuste fiscal de Dilma e Alckmin que conseguiremos mais verbas para a UNICAMP.
É necessário seguir o exemplo de luta do catracaço! É com mobilização que podemos barrar a política privatista da reitoria e do governo, contra as parcerias que são impostas para servir não a maioria da sociedade, mas a bancos e grandes empresas. É lutando contra o ajuste fiscal de Dilma e Alckmin que conseguiremos mais verbas para a UNICAMP.
Fonte: Vamos à Luta Campinas/SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário