quarta-feira, 23 de abril de 2014

Metalúrgicos do Estaleiro BRASA em greve contra a patronal e a burocracia sindical


Por Adolfo Santos*

A reconhecida combatividade dos trabalhadores metalúrgicos de Niterói/RJ não deixa de nos surpreender. Majoritariamente pertencentes às estratégicas empresas da indústria naval, ligadas à produção de navios e plataformas para a exploração do petróleo, esta importante categoria não para de lutar. Dois setores tem sido seus principais alvos. De um lado a patronal, que apesar dos suculentos contratos com o Estado brasileiro, sucateia os salários e impõe ritmos e condições de trabalho degradantes. De outro a burocracia sindical, há mais de 20 anos encastelada no sindicato e que mediante manobras legais vem prorrogando seu mandato, vencido há três anos, e ajudada por decisões judiciais vem protelando a realização de uma eleição democrática na certeza que será duramente derrotada.
Desta vez os protagonistas são os trabalhadores do estaleiro BRASA que, desde o dia 10 de abril, vêm paralisando suas atividades e realizando massivas manifestações de rua. O estopim do conflito foi o anuncio da empresa de que o pagamento da PLR - Participação nos Lucros e Resultados - seria de forma parcelada e que não reconhecia a Comissão de Fábrica, eleita pela base, como interlocutora dos trabalhadores nas negociações da Campanha Salarial, uma medida necessária para acabar com as reiteradas traições do sindicato.

Surpreendida frente à primeira paralisação com total acatamento da base e uma forte mobilização, a patronal fez um pequeno recuo e se comprometeu, frente à Comissão de Fábrica, a pagar até o dia 30 a PLR de forma integral e a abrir no dia seguinte uma discussão entre seu departamento jurídico e uma representação dos trabalhadores para avaliar um possível reconhecimento do novo organismo. Porém, na sexta feira, sob pretexto que os trabalhadores não poderiam continuar com a paralisação, a patronal rompeu o compromisso e não realizou a reunião prometida. Nesta jogada, claro, entrou o sindicato, quem fez correr uma nota onde a empresa o reconhecia como único interlocutor.

Um tiro no pé
O não reconhecimento da Comissão de Fábrica e a confirmação de manter o sindicato, com uma diretoria odiada pela base, como negociador da campanha salarial 2014, foi um verdadeiro tiro no pé. Na madrugada de segunda feira, na entrada do primeiro turno a assembleia de base foi categórica: manter a paralisação! Mas na tarde desse mesmo dia viria uma brutal resposta patronal com a intenção de quebrar o movimento: 14 cipeiros, entre os quais integrantes da Comissão de Fábrica, estavam demitidos por justa causa e os trabalhadores recebiam seu adiantamento com descontos que vão de R$ 300,00 até R$ 500,00 pelos dias parados, uma verdadeira ilegalidade, já que o adiantamento é por dias realmente trabalhados.

É importante salientar que o Estaleiro BRASA, de origem holandês, está associado à também holandesa SBM, a maior empresa do mundo especializada na construção de plataformas marítimas que por sua vez é a mesma envolvida nos escândalos de pagamentos de propina para a obtenção de contratos de aluguel de navios-plataforma para a exploração do pré-sal. Segundo a investigação produzida pela própria SBM na Holanda, funcionários da Petrobras teriam recebido pelo menos 30 milhões de dólares para favorecer contratos com a companhia holandesa. Um desses contratos, justamente, é para o armado da Plataforma Cidade de Ilhabela, que está sendo montada neste momento na Baia de Guanabara pelos operários em greve do Estaleiro Brasa. O valor deste contrato entre SBM/Brasa/Petrobrás passa dos 2 bilhões de reais. Será essa impunidade para corromper funcionários do alto escalão do governo o que encoraja esta multinacional a desrespeitar os direitos dos trabalhadores brasileiros?

Mas o BRASA não vai encontrar entre os operários a mesma moleza que obteve com os chefões da Petrobrás. A queda de braços não está resolvida. Numa nova assembleia realizada sob uma persistente chuva na manhã de terça feira 15, os trabalhadores votaram a greve o que significa que já não mais se ingressa para bater o ponto e a organização de base vai garantir a greve nos portões da empresa. O cumprimento desta medida radical começou a ser aplicada nesta quarta feira, no momento de fechar este jornal, com 100% de acatamento. A força e a continuidade da greve, serão fundamentais para obter uma vitória, para tanto é necessário o apoio e a solidariedade dos setores políticos e sindicais classistas e combativos. O SINTUFF, a Unidos pra Lutar, cipeiros e trabalhadores de outros estaleiros, companheiros da recente luta dos Garis, advogados do movimento e dirigentes do PSOL do Rio de Janeiro, já são parte desta luta. No decorrer dos dias, esperamos que novas organizações e personalidades políticas e sindicais venham a somar sua solidariedade.


CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE!

Enviar e-mail exigindo a solução do conflito com a reintegração dos demitidos, o não desconto dos dias parados e o reconhecimento da Comissão de Fábrica para:
Sinaval A/C: Estaleiro Brasa: sinaval@sinaval.org.br
Presidente do Sinaval Ariovaldo Santana da Rocha
MTE: Gerência Regional do Trabalho e Emprego em Niterói
Titular: Albino Luiz da Silva Gaspar
E-mail: albino.gaspar@mte.gov.br
Substituto: Jorge Queiroz dos Reis
E-mail: jorge.reis@mte.gov.br
Com cópia para: jesseluz@ig.com.br
______________
*Adolfo Santos é militante da CST/PSOL - RJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário